À margem da História

Opinião|Assassinato de Chico Mendes faz 35 anos e País não conta com grande partido de defesa da Amazônia


Em Xapuri, no Acre, o líder seringueiro foi morto com tiro no peito e inspirou uma geração de ambientalistas, mas preservação da floresta está fora da agenda principal das grandes legendas

Por Leonencio Nossa
Atualização:

Era noite de 22 de dezembro de 1988. Chico Mendes pôs um toalha no ombro e caminhou para a porta dos fundos da pequena casa de madeira onde morava, em Xapuri, no Acre, para tomar banho num chuveiro do lado de fora. Ele comentou com a mulher, Ilzamar, que precisava instalar uma lâmpada no quintal. À espera, na escuridão, um homem com uma escopeta alvejou o peito do líder seringueiro. O matador Darci Alves tinha recebido ordens do pai, o fazendeiro Darly Alves.

A morte do ambientalista, de 44 anos, comoveu entidades e personalidades no exterior. Ele tinha feito um périplo por fóruns internacionais para denunciar que o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) financiavam o desmatamento. Dois meses antes do assassinato, o Estadão descreveu, na reportagem “Seringueiros preservam a mata”, o movimento de Chico. “Nós lutamos muito para nos livrar do trabalho escravo. Agora, não podemos perder a floresta”, disse o líder seringueiro ao repórter Valdir Sanches.

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Francisco Alves Mendes Filho nasceu num seringal em 1944. Passou a infância e a juventude sob o regime da exploração dos seringalistas. Quando ele chegou à fase adulta, a borracha tinha perdido preço no mercado internacional e os seringais viraram alvo de cobiça de madeireiros e criadores de bois. Grupos econômicos passaram a concentrar terras, sempre com apoio dos bancos federais e internacionais. A vida dos seringueiros que já era difícil tornou-se dramática.

Brasil, Xapuri, AC. 30/10/1988. Chico Mendes liderou os seringueiros na defesa da floresta e inspirou luta dos brasileiros na defesa da Amazônia Foto: Carlos Ruggi/Estadão

Em 1977, ele ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. Depois foi eleito vereador pelo MDB. Em julho de 1980, o amigo e sindicalista de Brasiléia Wilson de Souza Pinheiro foi assassinado. Num evento na cidade do Acre, Chico e o então líder metalúrgico Luiz Inácio da Silva, que até então não assinava Lula no nome, cobraram resposta às autoridades.

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Em meio a ameaças de grileiros e madeireiros, Lula disse que os seringueiros não podiam continuar vivendo naquela situação e que era “hora da onça beber água”. A frase foi tirada do contexto e levou Lula e Chico Mendes a serem enquadrados na famigerada Lei de Segurança Nacional. Associaram a declaração do petista à morte, naqueles dias, de um dos suspeitos do assassinato de Wilson.

Nessa época, Chico Mendes reunia famílias para os “empates”, movimentos pacíficos de resistência contra empresários que ocupavam os seringais para criar bois. Crianças e adultos abraçavam as árvores e tentavam impedir o avanço dos tratores. O lema era preservar a floresta e garantir um desenvolvimento sustentável para as famílias.

Ele ajudou a criar o PT no Acre. Pelo partido, tentou sem sucesso se eleger deputado estadual em 1982. Fazendeiros e grileiros fizeram uma campanha difamatória para tirá-lo do jogo. Em 1986, o ambientalista subiu ao palanque outra vez para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa, numa chapa com Marina Silva, companheira de “empates”, como candidata a deputada federal. Não foram eleitos.

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Chico Mendes posa com a esposa Ilzamar Mendes e os filhos em Xapuri (AC), em 23/12/1998 Foto: Carlos Ruggi/Estadão

Chico fazia planos de se lançar candidato a deputado pelo PV. O assassinato interrompeu um projeto político vinculado à questão ambiental. Trinta e cinco anos após o assassinato do defensor da floresta mais conhecido no exterior, o Brasil não conseguiu consolidar um grande partido voltado à preservação. O desmatamento avançou em Xapuri e na Amazônia. O projeto de desenvolvimento sustentável do líder seringueiro foi, aos poucos, substituído pela pecuária e pela extração de madeira.

No pós-Chico Mendes, o País viu surgir uma importante geração de políticos ambientalistas. É uma lista que inclui Marina, Alfredo Sirkis – morto em acidente de trânsito em 2020 –, Carlos Minc, hoje deputado do PSB, no Rio, Chico Alencar, deputado federal pelo PSOL, também do Rio, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Luiz Pena e João Paulo Capobianco, atual secretário-executivo da pasta do Meio Ambiente.

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Foi uma escolha que marcou a História da esquerda e da Amazônia. Em 2003, Marina foi nomeada, no primeiro mandato presidencial de Lula, para o cargo de ministra do Meio Ambiente. O presidente pretendia sinalizar aos investidores internacionais a disposição de buscar um desenvolvimento mais humano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre as ministras, Marina Silva, do Meio Ambiente, e Dilma Rousseff, Casa Civil, em 2008 Foto: Roberto Jayme/Reuters

Cinco anos depois, Marina e a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, travaram um dos embates mais intensos do primeiro escalão na História de Brasília. Lula optou pela gestora das obras do PAC. A preferência do presidente pela ministra desenvolvimentista marcou o afastamento da esquerda hegemônica em relação a Marina e, consequentemente, à causa ambiental. Veio o tempo dos canteiros das usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau.

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Em 2018, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro esteve no Acre para propor, com um tripé de câmera na mão, como quem segura uma arma, “fuzilar” a “petralhada”, termo criado pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Eleito, tentou flexibilizar as regras ambientais e desmontar a rede de proteção ambiental. Ele deixou um trágico legado na área.

Ao assumir neste ano um terceiro mandato, Lula trouxe Marina de volta ao jogo político — ela já havia disputado três vezes a Presidência, quando ajudou a nacionalizar o tema ambiental. É uma espécie de reparação. O destino da ministra no governo, porém, ainda pode ser considerado uma incógnita. No debate da exploração de petróleo na foz do Amazonas, uma das frentes mais complexas, o presidente, mais uma vez, terá que optar entre o seu principal nome na área ambiental e mais uma inclinada contra a floresta.

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Rebanho de gado pasta em uma fazenda as margens da BR-317, que liga Rio Branco a Xapuri; 22/12/2013  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Da morte de Chico Mendes para cá, o País testemunhou o surgimento de uma série de lideranças que se apresentavam como herdeiros da luta da preservação ambiental. Muitas se constituíram em projetos políticos de frágil vinculação com o tema. Os irmãos Jorge e Tião Viana, no Acre de Chico Mendes, divulgaram seus mandatos como governos da “floresta”. Em 20 anos que estiveram no poder, incluindo quatro anos do apadrinhado Binho Marques, a boiada avançou pela mata.

Só no governo de Jorge, de 1999 a 2007, o rebanho passou de um milhão de cabeças para 1,8 milhão. Entre 2008 e 2018, período também dominado pelos Viana, o estado perdeu 13,8 milhão de floresta, segundo monitoramento do MapBiomas. Até 1985, o Acre mantinha 97% de sua cobertura nativa. No ano passado, o percentual havia reduzido para 86% — um dado que pode ser considerado alto, mas é veloz o avanço do fogo. Em Xapuri, o índice de desmatamento ultrapassa 22% das terras.

No ano passado, Jorge tentou voltar ao governo do Estado com o discurso de defesa de um “agronegócio sustentável”. O marketing não deu certo e ele foi derrotado pelo bolsonarista Gladson Cameli. Atualmente, O ex-senador e ex-governador comanda a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ApexBrasil. Durante uma viagem à China em abril, chegou a dizer que ruralistas criam gado em terra desmatada. Há tempo ele perdeu o discurso do desenvolvimento sustentável.

Quem tenta se catapultar agora como líder da preservação ambiental é o governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB, nova liderança de um velho clã do Norte. O anfitrião da COP-30, que será realizada em Belém, em 2025, e sua família não têm muito o que contar sobre a proteção da floresta.

Nos anos 1980 e 1990, pai dele, o senador Jader Barbalho, governou o Pará. Pôs a polícia para perseguir lideranças camponesas, como o lendário Gatilheiro Quintino, que enfrentavam grileiros e madeireiros no noroeste do estado. Mas foi no sudeste, na região de Marabá, que Jader deu sua maior contribuição ao desmatamento. Ele autorizou a derrubada dos castanhais pelos pecuaristas. Assim, a região viveu uma mudança brusca em seu sistema econômico, baseado até então no extrativismo.

Não há registros de que o filho Helder tenha se desdobrado para fazer um governo em defesa da floresta. Ao menos é justo lembrar que, nas eleições de 2018, Helder declarou neutralidade na disputa presidencial. Foi um ato destoante. A maioria absoluta dos governadores do Norte mergulhou na campanha de Jair Bolsonaro. Naquele momento, a onda bolsonarista, que pregava o fim dos órgãos ambientais, tinha conquistado os criadores de gado e mineradores.

A votação no Congresso que derrubou, no último dia 14, o veto de Lula ao marco temporal que inviabiliza demarcações indígenas, sugere que Helder não move todas as suas forças pela causa da preservação, nem contra. Dos sete deputados do seu grupo político na Câmara, apenas dois votaram para acabar com o marco. Três se ausentaram e dois votaram a favor da derrubada do veto. Sob certo ângulo, é interessante perceber, claro, o movimento de um grupo político que sempre operou pelo desmatamento com um discurso mais arejado. Os marqueteiros de campanha, porém, vão ter muito trabalho para transformar o governador numa liderança nacional voltada à defesa da floresta e de seus moradores.

Na matemática de um Congresso contra a preservação da Amazônia, a divisão da bancada de Helder é um bom sinal. Mas a situação ambiental nas duas casas legislativas nunca foi tão difícil. Os partidos tradicionalmente de defesa do setor somam pouco, e o esforço da legenda influente desse campo, o PT, não é total — doze deputados petistas não compareceram à votação do marco temporal.

A Rede Sustentabilidade, criada por Marina há dez anos, não se transformou numa legenda influente. Os números de assentos no Congresso dão um retrato do partido. Na Câmara, a Rede conta apenas com Túlio Gadelha, de Pernambuco — Marina, também eleita deputada, por São Paulo, se licenciou para comandar o Ministério. Recentemente, a sigla perdeu o seu único senador. Randolfe Rodrigues, do Amapá, que controlava o partido, pulou fora quando a ministra se posicionou contra o projeto da Petrobrás na Foz do Rio Amazonas. Ele ficou ao lado do senador Davi Alcolumbre (União-AP) e toda da bancada ruralista do Norte.

Por sua vez, o PV tem seis deputados federais. Há tempo, o verde só está no nome. Na votação do marco temporal, nem todos parlamentares da legenda se posicionaram pela causa indígena. O pecuarista Luciano Amaral (AL), por exemplo, votou pela derrubada do veto.

Do lado da direita, a falta de liga com a questão ambiental marca a atuação de lideranças e partidos. O PL, de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, o União, o PP e o Novo e parlamentares de grupos como o MBL se superam numa visão ultrapassada de país. O último estrago provocado pelo grupo foi a aprovação, na noite de terça-feira passada, por 311 votos contra 103, de um projeto de lei que afrouxou as regras de licenciamento ambiental na pavimentação da BR-319, entre Manaus e Porto Velho, área de uma frente dramática de destruição da floresta. O relator do projeto foi Alberto Neto, do PL, do Amazonas.

Chico Mendes e uma geração de ambientalistas sempre apostaram que o Brasil não precisa passar a “boiada” para manter seu crescimento. O desenvolvimento é também a mata em pé, com a permanência de seus homens, mulheres e crianças. Não é o que pensa a maioria do Congresso. O parlamento lidera uma ofensiva para derrubar uma legislação construída ao longo das últimas três décadas por uma força multipartidária, que teve como inspiração um homem que sabia a importância da floresta para garantir, na Amazônia, uma vida menos difícil.

Era noite de 22 de dezembro de 1988. Chico Mendes pôs um toalha no ombro e caminhou para a porta dos fundos da pequena casa de madeira onde morava, em Xapuri, no Acre, para tomar banho num chuveiro do lado de fora. Ele comentou com a mulher, Ilzamar, que precisava instalar uma lâmpada no quintal. À espera, na escuridão, um homem com uma escopeta alvejou o peito do líder seringueiro. O matador Darci Alves tinha recebido ordens do pai, o fazendeiro Darly Alves.

A morte do ambientalista, de 44 anos, comoveu entidades e personalidades no exterior. Ele tinha feito um périplo por fóruns internacionais para denunciar que o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) financiavam o desmatamento. Dois meses antes do assassinato, o Estadão descreveu, na reportagem “Seringueiros preservam a mata”, o movimento de Chico. “Nós lutamos muito para nos livrar do trabalho escravo. Agora, não podemos perder a floresta”, disse o líder seringueiro ao repórter Valdir Sanches.

Francisco Alves Mendes Filho nasceu num seringal em 1944. Passou a infância e a juventude sob o regime da exploração dos seringalistas. Quando ele chegou à fase adulta, a borracha tinha perdido preço no mercado internacional e os seringais viraram alvo de cobiça de madeireiros e criadores de bois. Grupos econômicos passaram a concentrar terras, sempre com apoio dos bancos federais e internacionais. A vida dos seringueiros que já era difícil tornou-se dramática.

Brasil, Xapuri, AC. 30/10/1988. Chico Mendes liderou os seringueiros na defesa da floresta e inspirou luta dos brasileiros na defesa da Amazônia Foto: Carlos Ruggi/Estadão

Em 1977, ele ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. Depois foi eleito vereador pelo MDB. Em julho de 1980, o amigo e sindicalista de Brasiléia Wilson de Souza Pinheiro foi assassinado. Num evento na cidade do Acre, Chico e o então líder metalúrgico Luiz Inácio da Silva, que até então não assinava Lula no nome, cobraram resposta às autoridades.

Em meio a ameaças de grileiros e madeireiros, Lula disse que os seringueiros não podiam continuar vivendo naquela situação e que era “hora da onça beber água”. A frase foi tirada do contexto e levou Lula e Chico Mendes a serem enquadrados na famigerada Lei de Segurança Nacional. Associaram a declaração do petista à morte, naqueles dias, de um dos suspeitos do assassinato de Wilson.

Nessa época, Chico Mendes reunia famílias para os “empates”, movimentos pacíficos de resistência contra empresários que ocupavam os seringais para criar bois. Crianças e adultos abraçavam as árvores e tentavam impedir o avanço dos tratores. O lema era preservar a floresta e garantir um desenvolvimento sustentável para as famílias.

Ele ajudou a criar o PT no Acre. Pelo partido, tentou sem sucesso se eleger deputado estadual em 1982. Fazendeiros e grileiros fizeram uma campanha difamatória para tirá-lo do jogo. Em 1986, o ambientalista subiu ao palanque outra vez para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa, numa chapa com Marina Silva, companheira de “empates”, como candidata a deputada federal. Não foram eleitos.

Chico Mendes posa com a esposa Ilzamar Mendes e os filhos em Xapuri (AC), em 23/12/1998 Foto: Carlos Ruggi/Estadão

Chico fazia planos de se lançar candidato a deputado pelo PV. O assassinato interrompeu um projeto político vinculado à questão ambiental. Trinta e cinco anos após o assassinato do defensor da floresta mais conhecido no exterior, o Brasil não conseguiu consolidar um grande partido voltado à preservação. O desmatamento avançou em Xapuri e na Amazônia. O projeto de desenvolvimento sustentável do líder seringueiro foi, aos poucos, substituído pela pecuária e pela extração de madeira.

No pós-Chico Mendes, o País viu surgir uma importante geração de políticos ambientalistas. É uma lista que inclui Marina, Alfredo Sirkis – morto em acidente de trânsito em 2020 –, Carlos Minc, hoje deputado do PSB, no Rio, Chico Alencar, deputado federal pelo PSOL, também do Rio, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Luiz Pena e João Paulo Capobianco, atual secretário-executivo da pasta do Meio Ambiente.

Foi uma escolha que marcou a História da esquerda e da Amazônia. Em 2003, Marina foi nomeada, no primeiro mandato presidencial de Lula, para o cargo de ministra do Meio Ambiente. O presidente pretendia sinalizar aos investidores internacionais a disposição de buscar um desenvolvimento mais humano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre as ministras, Marina Silva, do Meio Ambiente, e Dilma Rousseff, Casa Civil, em 2008 Foto: Roberto Jayme/Reuters

Cinco anos depois, Marina e a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, travaram um dos embates mais intensos do primeiro escalão na História de Brasília. Lula optou pela gestora das obras do PAC. A preferência do presidente pela ministra desenvolvimentista marcou o afastamento da esquerda hegemônica em relação a Marina e, consequentemente, à causa ambiental. Veio o tempo dos canteiros das usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau.

Em 2018, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro esteve no Acre para propor, com um tripé de câmera na mão, como quem segura uma arma, “fuzilar” a “petralhada”, termo criado pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Eleito, tentou flexibilizar as regras ambientais e desmontar a rede de proteção ambiental. Ele deixou um trágico legado na área.

Ao assumir neste ano um terceiro mandato, Lula trouxe Marina de volta ao jogo político — ela já havia disputado três vezes a Presidência, quando ajudou a nacionalizar o tema ambiental. É uma espécie de reparação. O destino da ministra no governo, porém, ainda pode ser considerado uma incógnita. No debate da exploração de petróleo na foz do Amazonas, uma das frentes mais complexas, o presidente, mais uma vez, terá que optar entre o seu principal nome na área ambiental e mais uma inclinada contra a floresta.

Rebanho de gado pasta em uma fazenda as margens da BR-317, que liga Rio Branco a Xapuri; 22/12/2013  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Da morte de Chico Mendes para cá, o País testemunhou o surgimento de uma série de lideranças que se apresentavam como herdeiros da luta da preservação ambiental. Muitas se constituíram em projetos políticos de frágil vinculação com o tema. Os irmãos Jorge e Tião Viana, no Acre de Chico Mendes, divulgaram seus mandatos como governos da “floresta”. Em 20 anos que estiveram no poder, incluindo quatro anos do apadrinhado Binho Marques, a boiada avançou pela mata.

Só no governo de Jorge, de 1999 a 2007, o rebanho passou de um milhão de cabeças para 1,8 milhão. Entre 2008 e 2018, período também dominado pelos Viana, o estado perdeu 13,8 milhão de floresta, segundo monitoramento do MapBiomas. Até 1985, o Acre mantinha 97% de sua cobertura nativa. No ano passado, o percentual havia reduzido para 86% — um dado que pode ser considerado alto, mas é veloz o avanço do fogo. Em Xapuri, o índice de desmatamento ultrapassa 22% das terras.

No ano passado, Jorge tentou voltar ao governo do Estado com o discurso de defesa de um “agronegócio sustentável”. O marketing não deu certo e ele foi derrotado pelo bolsonarista Gladson Cameli. Atualmente, O ex-senador e ex-governador comanda a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ApexBrasil. Durante uma viagem à China em abril, chegou a dizer que ruralistas criam gado em terra desmatada. Há tempo ele perdeu o discurso do desenvolvimento sustentável.

Quem tenta se catapultar agora como líder da preservação ambiental é o governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB, nova liderança de um velho clã do Norte. O anfitrião da COP-30, que será realizada em Belém, em 2025, e sua família não têm muito o que contar sobre a proteção da floresta.

Nos anos 1980 e 1990, pai dele, o senador Jader Barbalho, governou o Pará. Pôs a polícia para perseguir lideranças camponesas, como o lendário Gatilheiro Quintino, que enfrentavam grileiros e madeireiros no noroeste do estado. Mas foi no sudeste, na região de Marabá, que Jader deu sua maior contribuição ao desmatamento. Ele autorizou a derrubada dos castanhais pelos pecuaristas. Assim, a região viveu uma mudança brusca em seu sistema econômico, baseado até então no extrativismo.

Não há registros de que o filho Helder tenha se desdobrado para fazer um governo em defesa da floresta. Ao menos é justo lembrar que, nas eleições de 2018, Helder declarou neutralidade na disputa presidencial. Foi um ato destoante. A maioria absoluta dos governadores do Norte mergulhou na campanha de Jair Bolsonaro. Naquele momento, a onda bolsonarista, que pregava o fim dos órgãos ambientais, tinha conquistado os criadores de gado e mineradores.

A votação no Congresso que derrubou, no último dia 14, o veto de Lula ao marco temporal que inviabiliza demarcações indígenas, sugere que Helder não move todas as suas forças pela causa da preservação, nem contra. Dos sete deputados do seu grupo político na Câmara, apenas dois votaram para acabar com o marco. Três se ausentaram e dois votaram a favor da derrubada do veto. Sob certo ângulo, é interessante perceber, claro, o movimento de um grupo político que sempre operou pelo desmatamento com um discurso mais arejado. Os marqueteiros de campanha, porém, vão ter muito trabalho para transformar o governador numa liderança nacional voltada à defesa da floresta e de seus moradores.

Na matemática de um Congresso contra a preservação da Amazônia, a divisão da bancada de Helder é um bom sinal. Mas a situação ambiental nas duas casas legislativas nunca foi tão difícil. Os partidos tradicionalmente de defesa do setor somam pouco, e o esforço da legenda influente desse campo, o PT, não é total — doze deputados petistas não compareceram à votação do marco temporal.

A Rede Sustentabilidade, criada por Marina há dez anos, não se transformou numa legenda influente. Os números de assentos no Congresso dão um retrato do partido. Na Câmara, a Rede conta apenas com Túlio Gadelha, de Pernambuco — Marina, também eleita deputada, por São Paulo, se licenciou para comandar o Ministério. Recentemente, a sigla perdeu o seu único senador. Randolfe Rodrigues, do Amapá, que controlava o partido, pulou fora quando a ministra se posicionou contra o projeto da Petrobrás na Foz do Rio Amazonas. Ele ficou ao lado do senador Davi Alcolumbre (União-AP) e toda da bancada ruralista do Norte.

Por sua vez, o PV tem seis deputados federais. Há tempo, o verde só está no nome. Na votação do marco temporal, nem todos parlamentares da legenda se posicionaram pela causa indígena. O pecuarista Luciano Amaral (AL), por exemplo, votou pela derrubada do veto.

Do lado da direita, a falta de liga com a questão ambiental marca a atuação de lideranças e partidos. O PL, de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, o União, o PP e o Novo e parlamentares de grupos como o MBL se superam numa visão ultrapassada de país. O último estrago provocado pelo grupo foi a aprovação, na noite de terça-feira passada, por 311 votos contra 103, de um projeto de lei que afrouxou as regras de licenciamento ambiental na pavimentação da BR-319, entre Manaus e Porto Velho, área de uma frente dramática de destruição da floresta. O relator do projeto foi Alberto Neto, do PL, do Amazonas.

Chico Mendes e uma geração de ambientalistas sempre apostaram que o Brasil não precisa passar a “boiada” para manter seu crescimento. O desenvolvimento é também a mata em pé, com a permanência de seus homens, mulheres e crianças. Não é o que pensa a maioria do Congresso. O parlamento lidera uma ofensiva para derrubar uma legislação construída ao longo das últimas três décadas por uma força multipartidária, que teve como inspiração um homem que sabia a importância da floresta para garantir, na Amazônia, uma vida menos difícil.

Era noite de 22 de dezembro de 1988. Chico Mendes pôs um toalha no ombro e caminhou para a porta dos fundos da pequena casa de madeira onde morava, em Xapuri, no Acre, para tomar banho num chuveiro do lado de fora. Ele comentou com a mulher, Ilzamar, que precisava instalar uma lâmpada no quintal. À espera, na escuridão, um homem com uma escopeta alvejou o peito do líder seringueiro. O matador Darci Alves tinha recebido ordens do pai, o fazendeiro Darly Alves.

A morte do ambientalista, de 44 anos, comoveu entidades e personalidades no exterior. Ele tinha feito um périplo por fóruns internacionais para denunciar que o Banco Mundial (BIRD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) financiavam o desmatamento. Dois meses antes do assassinato, o Estadão descreveu, na reportagem “Seringueiros preservam a mata”, o movimento de Chico. “Nós lutamos muito para nos livrar do trabalho escravo. Agora, não podemos perder a floresta”, disse o líder seringueiro ao repórter Valdir Sanches.

Francisco Alves Mendes Filho nasceu num seringal em 1944. Passou a infância e a juventude sob o regime da exploração dos seringalistas. Quando ele chegou à fase adulta, a borracha tinha perdido preço no mercado internacional e os seringais viraram alvo de cobiça de madeireiros e criadores de bois. Grupos econômicos passaram a concentrar terras, sempre com apoio dos bancos federais e internacionais. A vida dos seringueiros que já era difícil tornou-se dramática.

Brasil, Xapuri, AC. 30/10/1988. Chico Mendes liderou os seringueiros na defesa da floresta e inspirou luta dos brasileiros na defesa da Amazônia Foto: Carlos Ruggi/Estadão

Em 1977, ele ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. Depois foi eleito vereador pelo MDB. Em julho de 1980, o amigo e sindicalista de Brasiléia Wilson de Souza Pinheiro foi assassinado. Num evento na cidade do Acre, Chico e o então líder metalúrgico Luiz Inácio da Silva, que até então não assinava Lula no nome, cobraram resposta às autoridades.

Em meio a ameaças de grileiros e madeireiros, Lula disse que os seringueiros não podiam continuar vivendo naquela situação e que era “hora da onça beber água”. A frase foi tirada do contexto e levou Lula e Chico Mendes a serem enquadrados na famigerada Lei de Segurança Nacional. Associaram a declaração do petista à morte, naqueles dias, de um dos suspeitos do assassinato de Wilson.

Nessa época, Chico Mendes reunia famílias para os “empates”, movimentos pacíficos de resistência contra empresários que ocupavam os seringais para criar bois. Crianças e adultos abraçavam as árvores e tentavam impedir o avanço dos tratores. O lema era preservar a floresta e garantir um desenvolvimento sustentável para as famílias.

Ele ajudou a criar o PT no Acre. Pelo partido, tentou sem sucesso se eleger deputado estadual em 1982. Fazendeiros e grileiros fizeram uma campanha difamatória para tirá-lo do jogo. Em 1986, o ambientalista subiu ao palanque outra vez para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa, numa chapa com Marina Silva, companheira de “empates”, como candidata a deputada federal. Não foram eleitos.

Chico Mendes posa com a esposa Ilzamar Mendes e os filhos em Xapuri (AC), em 23/12/1998 Foto: Carlos Ruggi/Estadão

Chico fazia planos de se lançar candidato a deputado pelo PV. O assassinato interrompeu um projeto político vinculado à questão ambiental. Trinta e cinco anos após o assassinato do defensor da floresta mais conhecido no exterior, o Brasil não conseguiu consolidar um grande partido voltado à preservação. O desmatamento avançou em Xapuri e na Amazônia. O projeto de desenvolvimento sustentável do líder seringueiro foi, aos poucos, substituído pela pecuária e pela extração de madeira.

No pós-Chico Mendes, o País viu surgir uma importante geração de políticos ambientalistas. É uma lista que inclui Marina, Alfredo Sirkis – morto em acidente de trânsito em 2020 –, Carlos Minc, hoje deputado do PSB, no Rio, Chico Alencar, deputado federal pelo PSOL, também do Rio, Fábio Feldman, Fernando Gabeira, José Luiz Pena e João Paulo Capobianco, atual secretário-executivo da pasta do Meio Ambiente.

Foi uma escolha que marcou a História da esquerda e da Amazônia. Em 2003, Marina foi nomeada, no primeiro mandato presidencial de Lula, para o cargo de ministra do Meio Ambiente. O presidente pretendia sinalizar aos investidores internacionais a disposição de buscar um desenvolvimento mais humano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre as ministras, Marina Silva, do Meio Ambiente, e Dilma Rousseff, Casa Civil, em 2008 Foto: Roberto Jayme/Reuters

Cinco anos depois, Marina e a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, travaram um dos embates mais intensos do primeiro escalão na História de Brasília. Lula optou pela gestora das obras do PAC. A preferência do presidente pela ministra desenvolvimentista marcou o afastamento da esquerda hegemônica em relação a Marina e, consequentemente, à causa ambiental. Veio o tempo dos canteiros das usinas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau.

Em 2018, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro esteve no Acre para propor, com um tripé de câmera na mão, como quem segura uma arma, “fuzilar” a “petralhada”, termo criado pelo jornalista Reinaldo Azevedo. Eleito, tentou flexibilizar as regras ambientais e desmontar a rede de proteção ambiental. Ele deixou um trágico legado na área.

Ao assumir neste ano um terceiro mandato, Lula trouxe Marina de volta ao jogo político — ela já havia disputado três vezes a Presidência, quando ajudou a nacionalizar o tema ambiental. É uma espécie de reparação. O destino da ministra no governo, porém, ainda pode ser considerado uma incógnita. No debate da exploração de petróleo na foz do Amazonas, uma das frentes mais complexas, o presidente, mais uma vez, terá que optar entre o seu principal nome na área ambiental e mais uma inclinada contra a floresta.

Rebanho de gado pasta em uma fazenda as margens da BR-317, que liga Rio Branco a Xapuri; 22/12/2013  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Da morte de Chico Mendes para cá, o País testemunhou o surgimento de uma série de lideranças que se apresentavam como herdeiros da luta da preservação ambiental. Muitas se constituíram em projetos políticos de frágil vinculação com o tema. Os irmãos Jorge e Tião Viana, no Acre de Chico Mendes, divulgaram seus mandatos como governos da “floresta”. Em 20 anos que estiveram no poder, incluindo quatro anos do apadrinhado Binho Marques, a boiada avançou pela mata.

Só no governo de Jorge, de 1999 a 2007, o rebanho passou de um milhão de cabeças para 1,8 milhão. Entre 2008 e 2018, período também dominado pelos Viana, o estado perdeu 13,8 milhão de floresta, segundo monitoramento do MapBiomas. Até 1985, o Acre mantinha 97% de sua cobertura nativa. No ano passado, o percentual havia reduzido para 86% — um dado que pode ser considerado alto, mas é veloz o avanço do fogo. Em Xapuri, o índice de desmatamento ultrapassa 22% das terras.

No ano passado, Jorge tentou voltar ao governo do Estado com o discurso de defesa de um “agronegócio sustentável”. O marketing não deu certo e ele foi derrotado pelo bolsonarista Gladson Cameli. Atualmente, O ex-senador e ex-governador comanda a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ApexBrasil. Durante uma viagem à China em abril, chegou a dizer que ruralistas criam gado em terra desmatada. Há tempo ele perdeu o discurso do desenvolvimento sustentável.

Quem tenta se catapultar agora como líder da preservação ambiental é o governador do Pará, Helder Barbalho, do MDB, nova liderança de um velho clã do Norte. O anfitrião da COP-30, que será realizada em Belém, em 2025, e sua família não têm muito o que contar sobre a proteção da floresta.

Nos anos 1980 e 1990, pai dele, o senador Jader Barbalho, governou o Pará. Pôs a polícia para perseguir lideranças camponesas, como o lendário Gatilheiro Quintino, que enfrentavam grileiros e madeireiros no noroeste do estado. Mas foi no sudeste, na região de Marabá, que Jader deu sua maior contribuição ao desmatamento. Ele autorizou a derrubada dos castanhais pelos pecuaristas. Assim, a região viveu uma mudança brusca em seu sistema econômico, baseado até então no extrativismo.

Não há registros de que o filho Helder tenha se desdobrado para fazer um governo em defesa da floresta. Ao menos é justo lembrar que, nas eleições de 2018, Helder declarou neutralidade na disputa presidencial. Foi um ato destoante. A maioria absoluta dos governadores do Norte mergulhou na campanha de Jair Bolsonaro. Naquele momento, a onda bolsonarista, que pregava o fim dos órgãos ambientais, tinha conquistado os criadores de gado e mineradores.

A votação no Congresso que derrubou, no último dia 14, o veto de Lula ao marco temporal que inviabiliza demarcações indígenas, sugere que Helder não move todas as suas forças pela causa da preservação, nem contra. Dos sete deputados do seu grupo político na Câmara, apenas dois votaram para acabar com o marco. Três se ausentaram e dois votaram a favor da derrubada do veto. Sob certo ângulo, é interessante perceber, claro, o movimento de um grupo político que sempre operou pelo desmatamento com um discurso mais arejado. Os marqueteiros de campanha, porém, vão ter muito trabalho para transformar o governador numa liderança nacional voltada à defesa da floresta e de seus moradores.

Na matemática de um Congresso contra a preservação da Amazônia, a divisão da bancada de Helder é um bom sinal. Mas a situação ambiental nas duas casas legislativas nunca foi tão difícil. Os partidos tradicionalmente de defesa do setor somam pouco, e o esforço da legenda influente desse campo, o PT, não é total — doze deputados petistas não compareceram à votação do marco temporal.

A Rede Sustentabilidade, criada por Marina há dez anos, não se transformou numa legenda influente. Os números de assentos no Congresso dão um retrato do partido. Na Câmara, a Rede conta apenas com Túlio Gadelha, de Pernambuco — Marina, também eleita deputada, por São Paulo, se licenciou para comandar o Ministério. Recentemente, a sigla perdeu o seu único senador. Randolfe Rodrigues, do Amapá, que controlava o partido, pulou fora quando a ministra se posicionou contra o projeto da Petrobrás na Foz do Rio Amazonas. Ele ficou ao lado do senador Davi Alcolumbre (União-AP) e toda da bancada ruralista do Norte.

Por sua vez, o PV tem seis deputados federais. Há tempo, o verde só está no nome. Na votação do marco temporal, nem todos parlamentares da legenda se posicionaram pela causa indígena. O pecuarista Luciano Amaral (AL), por exemplo, votou pela derrubada do veto.

Do lado da direita, a falta de liga com a questão ambiental marca a atuação de lideranças e partidos. O PL, de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, o União, o PP e o Novo e parlamentares de grupos como o MBL se superam numa visão ultrapassada de país. O último estrago provocado pelo grupo foi a aprovação, na noite de terça-feira passada, por 311 votos contra 103, de um projeto de lei que afrouxou as regras de licenciamento ambiental na pavimentação da BR-319, entre Manaus e Porto Velho, área de uma frente dramática de destruição da floresta. O relator do projeto foi Alberto Neto, do PL, do Amazonas.

Chico Mendes e uma geração de ambientalistas sempre apostaram que o Brasil não precisa passar a “boiada” para manter seu crescimento. O desenvolvimento é também a mata em pé, com a permanência de seus homens, mulheres e crianças. Não é o que pensa a maioria do Congresso. O parlamento lidera uma ofensiva para derrubar uma legislação construída ao longo das últimas três décadas por uma força multipartidária, que teve como inspiração um homem que sabia a importância da floresta para garantir, na Amazônia, uma vida menos difícil.

Opinião por Leonencio Nossa

Editor de especiais do Estadão. Mestre em história e política. Autor dos livros “As guerras da Independência do Brasil”, “Roberto Marinho, o poder está no ar” e “Mata! O Major Curió e as guerrilhas no Araguaia”. Escreve aos sábados.

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