À margem da História

Opinião|‘Quem mandou matar Marielle?’ não foi respondido por Flávio Dino enquanto ministro da Justiça


Só neste ano 22 políticos e lideranças sociais foram assassinados no País. Tradição brasileira de mortes por motivações políticas continua em alta

Por Leonencio Nossa
Atualização:

Era uma questão de honra responder a um desafio exposto nas redes sociais. “Quem mandou matar Marielle?” No seu discurso de posse no cargo de ministro da Justiça, a 2 de janeiro, Flávio Dino assumiu a responsabilidade. “É uma questão de honra do Estado brasileiro empreender todos os esforços possíveis e cabíveis, e a PF assim atuará, para que nós saibamos quem matou Marielle e quem mandou matar Marielle Franco naquele dia no Rio de Janeiro”, afirmou.

A vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados há mais de cinco anos. Em julho deste ano, a elucidação do caso parecia estar próxima. Na linha da investigação do Ministério Público, a Polícia Federal apontou os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz como o autor dos disparos e o motorista que dirigia o carro do matador respectivamente. Ficou nisso. Até agora, a História desse duplo homicídio político tem um capítulo idêntico ao da maioria absoluta dos processos de assassinatos políticos que ocorrem no País: a polícia não chega ao mandante.

A vereadora Marielle Franco (PSOL) foi assassinada a tiros, na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, no Centro do Rio. O motorista, que guiava o carro, Anderson Gomes, também foi morto.  Foto: Renan Olaz/CMRJ
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Ao longo de quatro anos, Jair Bolsonaro governou focado nas redes. Quase todos os dias os brasileiros acordavam com uma crise, uma frase de efeito destrutiva, algum engodo do então presidente. A convulsão construída por ele se estendia ao longo da manhã e da tarde e, no dia seguinte, uma outra turbulência era inventada. Estava consolidada a Era de um influenciador digital na vida política real, uma personalidade que alimentava lobos na internet, lançava debates que interessavam apenas às redes e confundia os mais diversos setores da política e da opinião pública.

Com Luiz Inácio Lula da Silva no poder, a fascinante possibilidade de fazer política nas redes não foi ignorada pelos políticos que assumiram postos na Esplanada dos Ministérios. Flávio Dino soube fazer isso, a ponto de provocar ciúmes entre os aliados do presidente. Longe de ser um propagador do ódio e da intolerância contumaz como Bolsonaro, Dino não escapou, porém, do personalismo nas redes, que nem sempre significa mais qualidade para o debate público.

Na condição de ministro da Justiça era previsível que Dino entrasse no caso Marielle. Mas ele foi além e resolveu dialogar diretamente com as redes ao repetir a pergunta sobre quem mandou matar a vereadora e prometer empenho máximo numa investigação complexa. Agora, ele deixa a pasta e segue para o Supremo Tribunal Federal sem cumprir a meta que estipulou em público. Talvez seja isso que deve ficar na História de sua breve passagem pelo mais tradicional ministério do governo. A vaidade do novo ministro da Corte terá que conviver com esse legado de inação. Paciência. As redes esquecem compromissos; a História costuma contar trajetórias políticas e de vida.

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Uma manifestação em frente à Câmara Municipal do Rio, em março, marcou os cinco anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

É ilustrativo que Dino tenha se cercado no Ministério da Justiça de pessoas com mais conhecimento em redes sociais que em política de segurança pública. O secretário-executivo da pasta, número dois do ministro, função que costuma organizar o dia a dia do órgão, é um jornalista de formação. Ricardo Cappelli tem experiência nas áreas de esporte, juventude e comunicação. Nos últimos meses, enquanto políticos e muitos cidadãos comuns morriam País afora, Cappelli estava focado em discussões na internet, em panfletagem partidária e ataques a jornalistas.

Há quem considere que, nestes tempos de redes sociais, frases podem ser ditas sem pensar, que na manhã seguinte serão esquecidas. Mas isso não deveria ocorrer quando o influenciador é, em especial, uma autoridade pública, está num cargo para o qual foi eleito nas urnas ou nomeado. Meta de uma autoridade continua sendo uma promessa que deve ser cumprida.

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Não é apenas a meta de elucidar o caso Marielle que Flávio Dino deixa em aberto. O ministro não entrega ações concretas na área da violência política. O pacote de medidas para a segurança pública anunciado em julho foi um bom ensaio na busca de soluções para os assassinatos de lideranças, um tema que só entra na agenda pública em casos de comoção nacional. Um dos eixos do pacote era justamente o combate a atentados contra a vida de autoridades e aos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Ainda em discussão, as medidas se limitam a casos de atentados contra os presidentes dos poderes da República, não chegam à base da representação política. A propósito, a matança no setor atinge principalmente prefeitos, vereadores, secretários municipais, assessores e lideranças comunitárias e sociais.

Desde que Flávio Dino assumiu a pasta da Justiça, o Brasil registrou 24 assassinatos por motivações políticas. O Monitor de Assassinatos Políticos do Estadão, o primeiro do gênero no País, registra 2.066 mortes na área desde a Lei de Anistia, em 1979. A morte mais recente ocorreu na última segunda-feira. O empresário Cid Migoto, pré-candidato à prefeitura de Tremembé, no Vale do Paraíba, em São Paulo foi executado com um tiro no rosto. Cidão da Casa da Ração, como era chamado, presidia o PRTB no município e antecipava o jogo eleitoral de 2024 na cidade.

Mesmo não sendo um ano de eleições, 2023 deixa uma série de mortes políticas. No final do mês passado, o ex-vereador e ex-secretário de Segurança Pública de Mocajuba, no Pará, Jadielson Meireles, foi morto com seis tiros a queima roupa por homens que estavam numa motocicleta. Em outubro, o líder quilombola José Alberto Moreno Mendes, de Itapecuru-Mirim, no Maranhão, o Doka, entrou para uma lista de 32 quilombolas assassinados no País desde 2018, segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, a Conaq. A relação dos mortos políticos recentes inclui uma testemunha do caso Marielle. No mês de agosto, o ex-vereador do Rio Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana, do PHS, e seu irmão Jorge Tavares, foram executados numa padaria da zona norte da cidade. Zico chegou a ser investigado pela CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa. Ainda em abril, o prefeito reeleito da cidade potiguar de São José do Campestre, Joseilson Borges da Costa, o Neném Borges, do MDB, foi assassinado com três tiros no rosto.

Era uma questão de honra responder a um desafio exposto nas redes sociais. “Quem mandou matar Marielle?” No seu discurso de posse no cargo de ministro da Justiça, a 2 de janeiro, Flávio Dino assumiu a responsabilidade. “É uma questão de honra do Estado brasileiro empreender todos os esforços possíveis e cabíveis, e a PF assim atuará, para que nós saibamos quem matou Marielle e quem mandou matar Marielle Franco naquele dia no Rio de Janeiro”, afirmou.

A vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados há mais de cinco anos. Em julho deste ano, a elucidação do caso parecia estar próxima. Na linha da investigação do Ministério Público, a Polícia Federal apontou os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz como o autor dos disparos e o motorista que dirigia o carro do matador respectivamente. Ficou nisso. Até agora, a História desse duplo homicídio político tem um capítulo idêntico ao da maioria absoluta dos processos de assassinatos políticos que ocorrem no País: a polícia não chega ao mandante.

A vereadora Marielle Franco (PSOL) foi assassinada a tiros, na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, no Centro do Rio. O motorista, que guiava o carro, Anderson Gomes, também foi morto.  Foto: Renan Olaz/CMRJ

Ao longo de quatro anos, Jair Bolsonaro governou focado nas redes. Quase todos os dias os brasileiros acordavam com uma crise, uma frase de efeito destrutiva, algum engodo do então presidente. A convulsão construída por ele se estendia ao longo da manhã e da tarde e, no dia seguinte, uma outra turbulência era inventada. Estava consolidada a Era de um influenciador digital na vida política real, uma personalidade que alimentava lobos na internet, lançava debates que interessavam apenas às redes e confundia os mais diversos setores da política e da opinião pública.

Com Luiz Inácio Lula da Silva no poder, a fascinante possibilidade de fazer política nas redes não foi ignorada pelos políticos que assumiram postos na Esplanada dos Ministérios. Flávio Dino soube fazer isso, a ponto de provocar ciúmes entre os aliados do presidente. Longe de ser um propagador do ódio e da intolerância contumaz como Bolsonaro, Dino não escapou, porém, do personalismo nas redes, que nem sempre significa mais qualidade para o debate público.

Na condição de ministro da Justiça era previsível que Dino entrasse no caso Marielle. Mas ele foi além e resolveu dialogar diretamente com as redes ao repetir a pergunta sobre quem mandou matar a vereadora e prometer empenho máximo numa investigação complexa. Agora, ele deixa a pasta e segue para o Supremo Tribunal Federal sem cumprir a meta que estipulou em público. Talvez seja isso que deve ficar na História de sua breve passagem pelo mais tradicional ministério do governo. A vaidade do novo ministro da Corte terá que conviver com esse legado de inação. Paciência. As redes esquecem compromissos; a História costuma contar trajetórias políticas e de vida.

Uma manifestação em frente à Câmara Municipal do Rio, em março, marcou os cinco anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

É ilustrativo que Dino tenha se cercado no Ministério da Justiça de pessoas com mais conhecimento em redes sociais que em política de segurança pública. O secretário-executivo da pasta, número dois do ministro, função que costuma organizar o dia a dia do órgão, é um jornalista de formação. Ricardo Cappelli tem experiência nas áreas de esporte, juventude e comunicação. Nos últimos meses, enquanto políticos e muitos cidadãos comuns morriam País afora, Cappelli estava focado em discussões na internet, em panfletagem partidária e ataques a jornalistas.

Há quem considere que, nestes tempos de redes sociais, frases podem ser ditas sem pensar, que na manhã seguinte serão esquecidas. Mas isso não deveria ocorrer quando o influenciador é, em especial, uma autoridade pública, está num cargo para o qual foi eleito nas urnas ou nomeado. Meta de uma autoridade continua sendo uma promessa que deve ser cumprida.

Não é apenas a meta de elucidar o caso Marielle que Flávio Dino deixa em aberto. O ministro não entrega ações concretas na área da violência política. O pacote de medidas para a segurança pública anunciado em julho foi um bom ensaio na busca de soluções para os assassinatos de lideranças, um tema que só entra na agenda pública em casos de comoção nacional. Um dos eixos do pacote era justamente o combate a atentados contra a vida de autoridades e aos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Ainda em discussão, as medidas se limitam a casos de atentados contra os presidentes dos poderes da República, não chegam à base da representação política. A propósito, a matança no setor atinge principalmente prefeitos, vereadores, secretários municipais, assessores e lideranças comunitárias e sociais.

Desde que Flávio Dino assumiu a pasta da Justiça, o Brasil registrou 24 assassinatos por motivações políticas. O Monitor de Assassinatos Políticos do Estadão, o primeiro do gênero no País, registra 2.066 mortes na área desde a Lei de Anistia, em 1979. A morte mais recente ocorreu na última segunda-feira. O empresário Cid Migoto, pré-candidato à prefeitura de Tremembé, no Vale do Paraíba, em São Paulo foi executado com um tiro no rosto. Cidão da Casa da Ração, como era chamado, presidia o PRTB no município e antecipava o jogo eleitoral de 2024 na cidade.

Mesmo não sendo um ano de eleições, 2023 deixa uma série de mortes políticas. No final do mês passado, o ex-vereador e ex-secretário de Segurança Pública de Mocajuba, no Pará, Jadielson Meireles, foi morto com seis tiros a queima roupa por homens que estavam numa motocicleta. Em outubro, o líder quilombola José Alberto Moreno Mendes, de Itapecuru-Mirim, no Maranhão, o Doka, entrou para uma lista de 32 quilombolas assassinados no País desde 2018, segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, a Conaq. A relação dos mortos políticos recentes inclui uma testemunha do caso Marielle. No mês de agosto, o ex-vereador do Rio Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana, do PHS, e seu irmão Jorge Tavares, foram executados numa padaria da zona norte da cidade. Zico chegou a ser investigado pela CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa. Ainda em abril, o prefeito reeleito da cidade potiguar de São José do Campestre, Joseilson Borges da Costa, o Neném Borges, do MDB, foi assassinado com três tiros no rosto.

Era uma questão de honra responder a um desafio exposto nas redes sociais. “Quem mandou matar Marielle?” No seu discurso de posse no cargo de ministro da Justiça, a 2 de janeiro, Flávio Dino assumiu a responsabilidade. “É uma questão de honra do Estado brasileiro empreender todos os esforços possíveis e cabíveis, e a PF assim atuará, para que nós saibamos quem matou Marielle e quem mandou matar Marielle Franco naquele dia no Rio de Janeiro”, afirmou.

A vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados há mais de cinco anos. Em julho deste ano, a elucidação do caso parecia estar próxima. Na linha da investigação do Ministério Público, a Polícia Federal apontou os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz como o autor dos disparos e o motorista que dirigia o carro do matador respectivamente. Ficou nisso. Até agora, a História desse duplo homicídio político tem um capítulo idêntico ao da maioria absoluta dos processos de assassinatos políticos que ocorrem no País: a polícia não chega ao mandante.

A vereadora Marielle Franco (PSOL) foi assassinada a tiros, na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, no Centro do Rio. O motorista, que guiava o carro, Anderson Gomes, também foi morto.  Foto: Renan Olaz/CMRJ

Ao longo de quatro anos, Jair Bolsonaro governou focado nas redes. Quase todos os dias os brasileiros acordavam com uma crise, uma frase de efeito destrutiva, algum engodo do então presidente. A convulsão construída por ele se estendia ao longo da manhã e da tarde e, no dia seguinte, uma outra turbulência era inventada. Estava consolidada a Era de um influenciador digital na vida política real, uma personalidade que alimentava lobos na internet, lançava debates que interessavam apenas às redes e confundia os mais diversos setores da política e da opinião pública.

Com Luiz Inácio Lula da Silva no poder, a fascinante possibilidade de fazer política nas redes não foi ignorada pelos políticos que assumiram postos na Esplanada dos Ministérios. Flávio Dino soube fazer isso, a ponto de provocar ciúmes entre os aliados do presidente. Longe de ser um propagador do ódio e da intolerância contumaz como Bolsonaro, Dino não escapou, porém, do personalismo nas redes, que nem sempre significa mais qualidade para o debate público.

Na condição de ministro da Justiça era previsível que Dino entrasse no caso Marielle. Mas ele foi além e resolveu dialogar diretamente com as redes ao repetir a pergunta sobre quem mandou matar a vereadora e prometer empenho máximo numa investigação complexa. Agora, ele deixa a pasta e segue para o Supremo Tribunal Federal sem cumprir a meta que estipulou em público. Talvez seja isso que deve ficar na História de sua breve passagem pelo mais tradicional ministério do governo. A vaidade do novo ministro da Corte terá que conviver com esse legado de inação. Paciência. As redes esquecem compromissos; a História costuma contar trajetórias políticas e de vida.

Uma manifestação em frente à Câmara Municipal do Rio, em março, marcou os cinco anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Foto: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO

É ilustrativo que Dino tenha se cercado no Ministério da Justiça de pessoas com mais conhecimento em redes sociais que em política de segurança pública. O secretário-executivo da pasta, número dois do ministro, função que costuma organizar o dia a dia do órgão, é um jornalista de formação. Ricardo Cappelli tem experiência nas áreas de esporte, juventude e comunicação. Nos últimos meses, enquanto políticos e muitos cidadãos comuns morriam País afora, Cappelli estava focado em discussões na internet, em panfletagem partidária e ataques a jornalistas.

Há quem considere que, nestes tempos de redes sociais, frases podem ser ditas sem pensar, que na manhã seguinte serão esquecidas. Mas isso não deveria ocorrer quando o influenciador é, em especial, uma autoridade pública, está num cargo para o qual foi eleito nas urnas ou nomeado. Meta de uma autoridade continua sendo uma promessa que deve ser cumprida.

Não é apenas a meta de elucidar o caso Marielle que Flávio Dino deixa em aberto. O ministro não entrega ações concretas na área da violência política. O pacote de medidas para a segurança pública anunciado em julho foi um bom ensaio na busca de soluções para os assassinatos de lideranças, um tema que só entra na agenda pública em casos de comoção nacional. Um dos eixos do pacote era justamente o combate a atentados contra a vida de autoridades e aos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Ainda em discussão, as medidas se limitam a casos de atentados contra os presidentes dos poderes da República, não chegam à base da representação política. A propósito, a matança no setor atinge principalmente prefeitos, vereadores, secretários municipais, assessores e lideranças comunitárias e sociais.

Desde que Flávio Dino assumiu a pasta da Justiça, o Brasil registrou 24 assassinatos por motivações políticas. O Monitor de Assassinatos Políticos do Estadão, o primeiro do gênero no País, registra 2.066 mortes na área desde a Lei de Anistia, em 1979. A morte mais recente ocorreu na última segunda-feira. O empresário Cid Migoto, pré-candidato à prefeitura de Tremembé, no Vale do Paraíba, em São Paulo foi executado com um tiro no rosto. Cidão da Casa da Ração, como era chamado, presidia o PRTB no município e antecipava o jogo eleitoral de 2024 na cidade.

Mesmo não sendo um ano de eleições, 2023 deixa uma série de mortes políticas. No final do mês passado, o ex-vereador e ex-secretário de Segurança Pública de Mocajuba, no Pará, Jadielson Meireles, foi morto com seis tiros a queima roupa por homens que estavam numa motocicleta. Em outubro, o líder quilombola José Alberto Moreno Mendes, de Itapecuru-Mirim, no Maranhão, o Doka, entrou para uma lista de 32 quilombolas assassinados no País desde 2018, segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, a Conaq. A relação dos mortos políticos recentes inclui uma testemunha do caso Marielle. No mês de agosto, o ex-vereador do Rio Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana, do PHS, e seu irmão Jorge Tavares, foram executados numa padaria da zona norte da cidade. Zico chegou a ser investigado pela CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa. Ainda em abril, o prefeito reeleito da cidade potiguar de São José do Campestre, Joseilson Borges da Costa, o Neném Borges, do MDB, foi assassinado com três tiros no rosto.

Opinião por Leonencio Nossa

Editor de especiais do Estadão. Mestre em história e política. Autor dos livros “As guerras da Independência do Brasil”, “Roberto Marinho, o poder está no ar” e “Mata! O Major Curió e as guerrilhas no Araguaia”. Escreve aos sábados.

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