BRASÍLIA - Na semana em que se espera o anúncio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre quem ele apoiará para sua sucessão, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), afirma que os petistas prezam por uma “unidade muito forte”.
“O PT vai buscar que sejam preservadas duas coisas que construímos a duras penas: parceria com o Executivo, respeitando a autonomia, e compromisso com a democracia e com as pautas de interesse do País, como fizemos na área econômica”, disse Guimarães, em entrevista Estadão/Broadcast nesta quarta-feira, 28.
Os três principais nomes na disputa são Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil, Antonio Brito (BA), líder do PSD, e Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos. Correm por fora Hugo Motta (PB), líder do Republicanos, Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB, e Dr. Luizinho (RJ), líder do PP.
Considerado o favorito de Lira, Elmar sofre resistência de petistas por atritos com o PT na Bahia, além de já ter se referido ao partido como “organização criminosa” e de ter chamado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “ladrão”.
Guimarães afirmou que os presidentes de partidos terão peso na eleição da Câmara, mas rechaçou uma anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que pode entrar nas negociações por iniciativa do PL. Também frisou que todas as emendas de comissão e de bancada estadual, segundo o acordo dos três Poderes, devem ir para obras estruturantes do governo.
Veja os principais trechos da entrevista:
Em reunião com líderes no Planalto, o senhor disse que o presidente demonstrou otimismo com a economia e falou sobre a eleição na Câmara.
Foi uma das melhores reuniões que eu participei no Palácio com os líderes, muito densa. O presidente falou uma hora, sobre o País, o governo, as relações do Brasil com o mundo. Isso galvanizou um sentimento de solidariedade por parte dos líderes. E em toda fala que ele fez, da eleição da Câmara, ele historiou os processos na Casa. Ele partiu de uma coisa que é fundamental: o respeito à relação institucional que o Executivo tem que ter com o Parlamento. Citou o Severino (Cavalcanti), até chegar no Arthur Lira. E vai continuar assim, sempre respeitando, compreendendo que a Casa é plural. O partido (PT) só elegeu 70 deputados, não 513. Ele foi muito correto no diagnóstico para poder continuar pedindo o apoio dos líderes para a aprovação das matérias de interesse do governo. Foi nesse contexto que ele abordou a questão da sucessão da Câmara. Ele disse que não tinha candidato e não vetaria ninguém.
E da reunião para cá, o que avançou?
Eu me dediquei muito para votar três projetos mega importantes: de seguros, o Acredita e a Lei Geral do Turismo. E duas Medidas Provisórias do Rio Grande do Sul. O que estou acompanhando é: o presidente Lira está conversando com todo mundo, com os pretendentes (a presidente da Câmara), com os líderes. Estou seguindo a diretriz do presidente Lula de não me envolver, de não apoiar um ou outro candidato, mas o meu sentimento, pelo que estou acompanhando nos bastidores, é que o Lira deverá anunciar isso até o final do mês, agora, sexta ou sábado. Acho que não tem uma definição, mas acho que a coisa, a qualquer momento, pode surgir.
Lira chamou o senhor e o Odair (Cunha, líder do PT) para uma reunião. Vocês falaram da sucessão?
Fomos conversar sobre as emendas. Ele aproveitou e conversou um pouco (sobre sucessão). O líder do PT opinou, fez várias considerações da necessidade da unidade aqui dentro, de buscar um nome que unificasse a maioria da Casa. Foi uma conversa bem amistosa nesse sentido. Não foi uma conversa para bater martelo, mas para dizer o seguinte: o PT vai prezar muito por uma unidade muito forte para que a Câmara continue tendo essa relação respeitosa com o Executivo.
Ele falou o nome de algum candidato?
Disse que tem três pré-candidatos e que, na hora certa, depois de ouvir todo mundo, indica um. Não posso antecipar, até porque não tenho essa informação de qual é o preferido.
Mas o governo está preparado para o anúncio de qualquer candidato? Porque um deles, Elmar Nascimento, já fez muitas críticas ao Lula, chamou o PT de organização criminosa e apoiou o impeachment de Dilma Rousseff.
Se o presidente diz que ele não tem preferências por nenhum e não veta ninguém, evidentemente que ele não deverá se surpreender se indicar um dos três ou outro nome que possa surgir. Eu encaro isso com muita tranquilidade.
Isso não pode reeditar uma relação com a que o Eduardo Cunha tinha com a Dilma?
Não, até porque são momentos diferentes e tem um presidente que sabe bem dialogar com o Congresso. Neste ano, tivemos o maior índice de aprovação de matérias do governo. É porque o Lula é talentoso na relação com o Congresso e, modéstia à parte, tem bons líderes, né?
O senhor falou que a ideia do PT é que haja um candidato que unifique a Casa. O senhor acha que o Elmar unifica?
Qualquer um dos três pode unificar a Casa. Parto do princípio de uma consideração política que o presidente Lula fez. Se ele não veta ninguém, evidentemente que o diálogo que vai dizer se unifica ou não a Casa. Lula falou assim: é legítimo que o presidente Lira conduza o processo de sucessão.
Para além dos três principais candidatos, também ouve-se os nomes dos deputados Hugo Motta (PB), líder do Republicanos, Doutor Luizinho (RJ), líder do PP, e Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB. Esses nomes que correm por fora também têm sido cogitados?
Eu ouvi falar bastante desses nomes, o que é normal. O que vai definir são os partidos. Você não pode desconsiderar os presidentes dos partidos que têm grandes bancadas aqui dentro. União Brasil, PT, PSD, MDB, PP e Republicanos. Isso pesa muito. Eu só tenho duas certezas. O PT não terá candidato e vai buscar ajudar em um entendimento para que sejam preservadas duas coisas que construímos a duras penas: parceria com o Executivo, respeitando a autonomia, compromisso com a democracia e com as pautas de interesse do País, como fizemos na área econômica. Essa relação tem que ser preservada e aprimorada. Foi um exercício duríssimo que eu tive que fazer e aprender.
O senhor falou de compromisso com a democracia. Fala-se que o PL condiciona o apoio para a presidência da Câmara à adesão a uma anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Se algum candidato se comprometer com essa pauta, terá apoio do PT?
Ainda hoje eu vi algo gravíssimo: uma carta de vários coronéis defendendo golpe. Está claro que essa base bolsonarista, e ele mesmo (Bolsonaro) participou ativamente desse processo de construção dessa possibilidade, tanto que não reconheceu o resultado da eleição. Crime contra a democracia também tem que ser punido. Não vi ninguém defendendo isso (anistia a Bolsonaro) ainda. Se o tema aparecer, a gente discute, mas temos posição contrária.
Como está a impressão dos deputados sobre o papel do governo na decisão do ministro Flávio Dino sobre as emendas?
O governo vai zelar muito por aquilo que aprovamos no pacto do Supremo, para executar aquilo. Temos uma diretriz que foi dada pelo Supremo. Não é pelo Dino, é pelo Supremo. Com base naquela diretriz, o governo está elaborando um texto juntamente com os presidentes Lira e Pacheco.
A ideia é que os líderes partidários assinem as emendas de comissão?
Desde que sejam emendas comprometidas com o programa, vinculadas ao governo. Não está definido. Sempre é bom que os líderes dirijam os processos, porque na hora do voto vai cobrar do líder, não vou cobrar do deputado. É salutar. E eles precisam ter o privilégio de dirigir as suas bancadas.
Há reclamação de deputados sobre todas as emendas serem ligadas a projetos estruturantes do governo. Isso pode mudar?
Todas serão vinculadas a obras estruturantes. Emendas de bancada e de comissão. O governo vai colocar os programas que existem e as emendas serão vinculadas a esses programas. Assim tem que ser, transparência total. Eu vou contar uma coisa: recebi um telefone de uma pessoa dizendo que eu aparecia entre os deputados que tinham colocado emenda fora do meu Estado. Eu disse ‘olha para onde foi’. Foi para o Sarah (rede de hospitais), que é público, é SUS, onde me operei, preferi me operar no SUS que em hospital particular. Vou continuar colocando (emenda para o hospital) se a lei permitir porque o serviço do SUS tem que ser fortalecido.