BRASÍLIA – A reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022 evidenciou a “dinâmica golpista” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ministros pretendiam empreender, segundo investigações da Polícia Federal (PF). A lista de presentes na reunião é maior do que a informada no processo sobre a tentativa de golpe e abrange, além dos investigados, ministros do governo passado, como Paulo Guedes e Adolfo Sachsida, embora grande parte deles tenha ficado em silêncio no encontro.
O vídeo estava armazenado no computador de tenente-coronel Mauro Cid e foi um dos motivos para a deflagração da Operação Tempus Veritatis nesta quinta-feira, 8, que realizou 33 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva de militares de alta patente, ex-assessores e ex-ministros de Bolsonaro. Nesta sexta-feira, 9, o ministro do STF Alexandre de Moraes divulgou a íntegra da gravação.
O encontro foi gravado no Palácio do Planalto sem que os presentes soubessem, e o ex-presidente motivou a equipe a questionar o sistema eleitoral, sugeriu um golpe sem armas e atacou o Supremo Tribunal Federal (STF). O Estadão identificou 28 pessoas presentes na reunião – oito deles foram alvos da operação: São eles: Anderson Torres, Augusto Heleno, Jair Bolsonaro, Marcelo Câmara, Mário Fernandes, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto. Os demais não constam nessas investigações.
Bolsonaro também foi alvo da operação e teve o seu passaporte apreendido em Brasília. Na reunião, o ex-presidente incentivou a sua equipe a divulgar desinformações sobre o processo eleitoral e disse que não era o caso do então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira “botar tropa na rua, tocar fogo e metralhar”.
Em outro ponto da reunião, Bolsonaro afirmou que as pesquisas eleitorais que indicavam uma vitória de Lula estavam corretas. “E a gente vê que o Data Folha continua... é... mantendo a posição de 45% e, por vezes, falando que o Lula ganha no primeiro turno. Eu acho que ele ganha, sim. As pesquisas estão exatamente certas”, disse, em aparente ironia.
Augusto Heleno defendeu ‘virar a mesa’ antes das eleições
Na reunião, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno, que também foi alvo da operação, afirmou que era preciso “virar a mesa” antes das eleições de 2022.
“O problema todo disso é se vazar”, afirmou Heleno. “Não tem VAR nas eleições. Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito, tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições.”, afirmou Heleno.
Anderson Torres sugeriu que grupo da PF foi montado para pressionar TSE
Outro ministro alvo da operação que discursou durante a reunião foi o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que indicou ter montado um grupo na PF para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante o processo de preparação do pleito.
“Nós montamos um grupo na Polícia Federal com uma equipe completa, com delegados, peritos e agentes, para acompanhar, realmente, o passo a passo das eleições, para fazer os questionamentos necessários que têm de ser feito, e não só as observações. A gente vai atuar de forma incisiva”, afirmou.
O general Paulo Sérgio também defendeu que o TSE deveria ser colocado contra a parede. Segundo ele, a comissão eleitoral da Corte era para “inglês ver” e que se sentia na linha de contato com o inimigo. Paulo Sérgio também é apontado como integrante do esquema que planejava um golpe de Estado.
Em um ponto da reunião, o então ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, indicou que seria necessário uma junção das Forças Armadas, da CGU e da PF para “fiscalizar” as urnas eletrônicas. Ele mesmo interrompe a sua fala e pergunta se a reunião está sendo gravada. Bolsonaro e o ex-ministro da Defesa e candidato à vice na chapa do ex-presidente, Walter Braga Netto, negam. “Só mandei gravar a minha fala”, disse o ex-chefe do Executivo.