As últimas semanas antes do recesso da Câmara - que nem é oficial, mas quem se lembra disso? - foram de festas, encontros e reuniões com um só objetivo: a sucessão de Arthur Lira (PP-AL). O presidente e sua mesa deixam o cargo em fevereiro do ano que vem, mas as movimentações para substituí-lo estão a todo vapor.
Nos últimos dias, toda declaração de Lira foi examinada com lupa pelos postulantes, na tentativa de interpretar o que o atual presidente tem em mente, quem vai apoiar e quando. A avaliação colhida pela Coluna entre líderes e no entorno dos candidatos é que o jogo afunilou, mas está totalmente aberto e pendendo menos para o lado de Lira do que ele gostaria.
Teve candidato que assistiu três vezes a entrevista que o presidente da Câmara à CNN na segunda-feira, 15, quando Lira deixou claro quem está no jogo. Lira afirmou que há “três grandes nomes” e que, em agosto, os deputados devem amadurecer uma unidade em torno de algum dos concorrentes.
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Ao dizer “três nomes”, ele não citou, mas se referia a Elmar Nascimento (União-BA), Antônio Brito (PSD-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP). Deixa de fora outros concorrentes, como o de Isnaldo Bulhões (MDB-AL), que também vinha se colocando na corrida.
A parte dos deputados “amadurecerem” um consenso, no entanto, está mais difícil. Elmar é o preferido de Lira. Amigo pessoal do presidente da Câmara - ficou famoso o passeio que os dois fizeram juntos no cruzeiro do cantor Wesley Safadão em julho do ano passado - é o sonho de consumo do atual presidente colocar o companheiro no cargo e continuar com grande influência.
Seu maior temor, no entanto, é apoiar um perdedor. E Elmar chegará em agosto com desempenho abaixo do esperado entre os deputados e com o governo com os dois pés-atrás em relação a ele. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, seu rival na Bahia, até foi na festa de aniversário de Elmar, na semana passada. Mas muita gente viu no movimento algo “pró forma”, longe de ser uma declaração de aceitação por parte do governo.
Se Lira esperava criar um fato consumado em torno do seu candidato, com apoio do governo em torno de seu escolhido, que inviabilizasse outras candidaturas, não foi o que aconteceu até agora. Brito e Pereira têm se movimentado fortemente e têm dito nos bastidores que não vão desistir. Ao próprio alagoano, inclusive, já informaram que suas candidaturas são “irreversíveis”.
Ambos, no entanto, preferiam ser o “candidato do Lira” do que ir pra guerra com o todo-poderoso. Brito, com fama de governista, tem se aproximado da oposição. Ele é mesmo o favorito de ministros do governo Lula, mas se encontrou com Bolsonaro, de quem recebeu a famigerada medalha de “imbrochável”, que tem sido usada por ele como passaporte para falar com os deputados mais extremistas.
Já Pereira tem se colocado como o candidato com perfil mais amplo, que poderia unir diferentes grupos políticos. Não é o preferido de Lula, mas também não seria vetado por ele. E, apesar de não ter o melhor dos relacionamentos com Bolsonaro e a extrema-direita, conseguiria votos ali se fosse apoiado pelo presidente da Câmara. O ex-presidente , que traz com ele o PL, já disse a diferentes interlocutores que vai apoiar o “candidato do Lira”.
Diante do cenário aberto, a tendência agora é que o alagoano deixe o anúncio de quem será apoiado por ele mais pro fim de agosto, talvez até para setembro. Não que o Lira tenha perdido influência. O contato frequente de candidatos e a “análise do discurso” de cada palavra de Lira prova o contrário.
O que ficou mais difícil foi “tratorar” a eleição - como costuma fazer com as votações - e definir o sucessor. Várias contas são feitas nos bastidores - algumas dizem que Lira teria de partida 150 votos entre os 513 deputados, outros apostam em um número bem maior. Mas o cenário hoje é que ele não conseguirá impor um nome de consenso e fazer os outros desistirem, o que pode levar a disputa ao voto. E Lira não quer arriscar perder.