BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aconselhou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, a pedir desculpas por ter se referido a Brasília como “ilha da fantasia” onde “fazer errado é o certo”. A definição do mais poderoso ministro do Palácio do Planalto sobre a capital da República aumentou a temperatura da crise na articulação política e jogou o governo em situação de mais fragilidade diante do Centrão.
Ex-governador da Bahia, Costa disse a interlocutores com quem conversou, nos últimos dias, que se arrependeu de suas frases, mas ainda não se manifestou sobre o assunto porque quer deixar a poeira baixar. Em reunião com o presidente do PSD do Distrito Federal, Paulo Octavio, ainda na segunda-feira, 5, o chefe da Casa Civil afirmou que, quando se referiu a Brasília como “ilha da fantasia”, não teve a intenção de ofender a cidade e nem seus moradores.
No encontro, Paulo Octavio estava acompanhado por Anna Christina, neta do ex-presidente Juscelino Kubitscheck, e por André, bisneto do fundador de Brasília. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), testemunhou as explicações de Costa, que, na véspera, havia sido atacado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). “É um idiota completo”, classificou Ibaneis.
Ao admitir que seus comentários haviam sido infelizes, o ministro argumentou que, naquele discurso, falava de Brasília como centro do poder nacional, não como cidade. “Brasília é difícil. É difícil porque lá fazer o certo, para muitos, está errado. E fazer o errado, para muitos, é o que é o certo na cabeça deles”, disse Costa na sexta-feira, 2, durante a inauguração de um hospital em Itaberaba (BA).
Desde então, o ministro tem sido alvo de muitas críticas e não foram poucos os que pediram a sua cabeça numa semana difícil para o governo. Expoente do Centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou, por exemplo, que declarações como essas não ajudam no relacionamento entre Congresso e Planalto porque é preciso ter “comedimento”.
Ao menos por enquanto, porém, Lula não pretende demitir Costa. “Devo muito a ele. É minha Dilma de calças”, comparou Lula, numa referência a Dilma Rousseff, que, antes de ser presidente, foi chefe da Casa Civil.
No segundo turno da eleição ao Planalto, em 2022, o petista teve 72,12% dos votos válidos na Bahia, enquanto Jair Bolsonaro (PL) ficou com 27,88%. O presidente até hoje atribui grande parte de sua vitória no Estado ao trabalho de Rui Costa.