As manchetes e o noticiário em geral deslizam para o escândalo explosivo no futebol, a crise da Light, a crise das grandes varejistas e, claro, as revelações sem fim sobre joias, vacinas, contas e sanha golpista do casal Bolsonaro. Nada disso, porém, tira o foco do presidente Lula, muito menos das preocupações quanto às intenções e ações do governo.
Lula avisou que, na volta da China, iria botar a mão em dois vespeiros, a meta de inflação e os preços dos combustíveis. A mudança da meta ainda corre discretamente nos bastidores, mas a interferência na política de preços da Petrobras será anunciada nesta semana. Segundo o presidente da companhia, Jean Paul Prates, os valores ao consumidor serão “inexoravelmente mais baixos”. Há controvérsias.
A paridade internacional será trocada por uma cesta de indicadores: produção nacional de petróleo, cotação externa e “perfil do cliente”. Mas... como o Brasil importa até 30% dos combustíveis e o governo não tem poder para determinar o preço nos postos, o risco é a Petrobras perder receita e o consumidor não pagar, “inexoravelmente”, menos.
Se mantém a decisão de intervir na Petrobras, no BC e na meta de inflação, Lula botou em banho maria os retrocessos em outras áreas e adocicou o tom com o Congresso, assim como, no campo externo, recuou na posição desastrosa pró Rússia e China, contra EUA e Europa, e enviou o embaixador Celso Amorim para conversar com o presidente Volodmir Zelenski em Kiev.
São recuos táticos e não vai se falar por um tempo em mexer nas reformas administrativas e previdenciária nem na Eletrobras, mas isso não quer dizer que Lula desistiu e essas pautas sumiram. A própria ocupação sutil do BC já começou, junto com as discussões sobre meta de inflação e o resto é só questão de oportunidade.
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A postura mais cautelosa é parte do freio de arrumação após a derrota do decreto contra o Marco do Saneamento. Lula viu que estava brincando com fogo e, além de adiar os retrocessos, abriu os cofres. A sobra de R$ 9 bilhões do orçamento secreto da era Bolsonaro está em jogo e mais de R$ 170 milhões em emendas foram liberadas em um só dia. O governo entrou em campo.
O objetivo imediato é aprovar a âncora fiscal, no meio do tiroteio entre PT e “progressistas”, de um lado, e direita e liberais difusos, do outro. Mas o problema de Lula vai muito além. A percepção positiva do governo diminui e a pressão contra a pauta petista, o STF e o MST cresce a olhos vistos e é hora de recuos táticos, mais palatáveis ao centro – do Congresso e fora dele – que não quer retrocesso, quer avanços e desenvolvimento.