BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira, 10, o uso que o presente Jair Bolsonaro (PL) faz das Forças Armadas. O petista comparou o presidente ao ditador iraquiano Saddam Hussein, disse que o “tempo das baionetas” acabou e pediu que as pessoas acampadas na porta dos quartéis voltem para casa.
Ao comentar sobre a pressão que Bolsonaro fez para que os militares questionassem a confiabilidade do processo eleitoral, o petista disse que o presidente “humilhou” a instituição. “Ontem aconteceu uma coisa humilhante e deplorável para as nossas Forças Armadas. Um presidente da República, que é o chefe supremo das Forças Armadas, não tem o direito de envolver as Forças Armadas a fazer uma comissão para investigar urnas eletrônicas, coisas que são da sociedade civil, dos partidos políticos e do Congresso Nacional”, declarou Lula ao se reunir com parlamentares em Brasília.
Ele também pediu o fim dos protestos contra o resultado da eleição e fez um apelo para que as pessoas que estão acampadas na porta dos quartéis voltem para casa de forma pacífica, respeitando o resultado das urnas. “Há movimentos bolsonaristas que defendem intervenção militar por conta da derrota de Bolsonaro na eleição. Lamentavelmente tem gente, uma minoria, que está na rua pedindo (intervenção militar). Eles não sabem nem o que pedem, mas estão pedindo. Eu, se pudesse, diria para essas pessoas: ‘voltem para casa’. Democracia é isso, um ganha, outro perde, um ri e outro chora. É assim em qualquer esporte, qualquer política”.
O petista afirmou ainda que na democracia é melhor debater as ideias no Congresso e não nos quartéis. “Vamos conversar com o Congresso, mesmo com todos os defeitos. Porque o Brasil foi muito pior quando não tinha Congresso Nacional. É melhor um debate ‘caliente’, nervoso das divergências que o silêncio profundo do medo da baioneta que este país lamentavelmente experimentou”.
Nessa quarta-feira, 9, o Ministério da Defesa divulgou o relatório de acompanhamento do processo eleitoral. O texto não trouxe nenhuma comprovação de fraude na disputa, diferente do que Bolsonaro pregava. Lula disse que o resultado do relatório foi “humilhante” e cobrou que Bolsonaro peça desculpas por envolver os militares nessa questão.
“Eu não sei o presidente está doente, mas ele tem a obrigação de vir a televisão e pedir desculpa a sociedade brasileira e pedir desculpa por ter usado as Forças Armadas, que é uma instituição séria, que é uma garantia para o povo brasileiro contra possíveis inimigos externos, fosse humilhada apresentando um relatório que não diz nada, absolutamente nada daquilo que ele durante tanto tempo acusou”.
Lula comparou Bolsonaro ao ditador iraquiano Saddam Hussein e reclamou que seu adversário não ligou para parabenizar pela vitória. “Pega o telefone e liga: ‘parabéns pela tua vitória’. E anuncia que o País tem um perdedor e um ganhador. Ele ainda não teve coragem de fazer isso”. De acordo com Lula, Bolsonaro repete o comportamento de Hussein, que “morreu sem ter coragem de reconhecer que o Iraque não tinha arma química e “afundou o país por conta de uma mentira que só ele acreditava”.
O petista também elogiou o comportamento do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, com quem ele se reuniu ontem. O presidente eleito reclamou dos ataques feitos por Bolsonaro a Moraes e outros integrantes do Judiciário e disse que o presidente criou um ambiente em que os magistrados não podem mais andar tranquilamente.
“Não é possível. Os ministros da Suprema Corte não podem ir para o restaurante, cinema, não podem sair de casa. O presidente do Tribunal Eleitoral teve uma coragem estupenda, é um homem que teve um comportamento exemplar, que é o orgulho de todo o Brasil”, disse.
Moraes é ligado ao governos tucanos de São Paulo e já foi filiado ao PSDB, partido que rivalizava com o PT. Apesar disso, o petista deixou claro que ficou satisfeito com a condução dele no comando da Justiça eleitoral. “Não me importa se o Alexandre de Moraes é conservador, progressistas, de direita, de centro, o que importa é que ele foi de muita coragem e muita dignidade na lisura e no compromisso de dirigir essas eleições”, afirmou.