O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a dizer publicamente que, caso seja eleito em outubro, seu ministro da Economia será um político e não um economista. A aliados mais próximos, o petista tem afirmado que precisaria de alguém com muita capacidade de articulação com o Congresso para lidar com a herança econômica deixada pelo atual governo.
Na avaliação de empresários, a ausência de um nome forte do mundo econômico para o possível comando da Economia em Brasília indica que um terceiro governo Lula não pretende abrir mão de pautas caras para a base eleitoral do petista: o segmento de baixa renda, algo que o ex-presidente tem deixado claro nos seus almoços e jantares com alguns dos pesos-pesados do PIB.
Lula sugere agora que, se eleito, vai seguir o modelo adotado quando assumiu pela primeira vez a Presidência e escolheu Antonio Palocci – o médico e ex-prefeito de Ribeirão Preto que virou ministro da Fazenda em 2003 com a defesa de uma “ortodoxia do bem”, marcada pelo equilíbrio fiscal, mas com espaço para políticas sociais.
A receita Palocci significa, para Lula, um político no comando, assessorado por um time de economistas avalizados pelo mercado. “Ele (Lula) entende que a construção de saídas para crise econômica que o Brasil vive tem que ser feita dialogando com todos os setores. Por isso, defende um político, alguém que tenha capacidade de dialogar, ouvir e construir posições que contemplem todos os setores da economia”, disse Edinho Silva, prefeito de Araraquara e um dos coordenadores de comunicação da campanha do petista.
Para um outro influente integrante da campanha, a via política “não é por falta de ‘paper’ de economista”, mas em razão da necessidade de “interlocução com a sociedade civil e o Parlamento para mover a pauta e a agenda” do PT em um terceiro mandato de Lula.
Mas, 20 anos depois, há sinais diferentes dos dados na campanha de 2002, quando Palocci esteve por trás da Carta aos Brasileiros. Os assessores de Lula afirmam que agora não haverá uma nova manifestação de aceno geral ao mercado e aos empresários. A “Carta” de 2022, dizem, é a memória dos governos do ex-presidente e a relação com o empresariado é concentrada, também por isso, na sua figura.
Lula não indica ainda um único interlocutor na área, enquanto vários nomes assinalados como “emissários” do PT brotam em eventos sobre economia. Mas quem são os cotados para o papel de novo Palocci em um eventual terceiro mandato do petista?
A avaliação do entorno mais fiel do pré-candidato é de que a indefinição será levada até o fim das eleições por um motivo: a espera pelo desfecho da campanha de Fernando Haddad ao governo de São Paulo.
Se não for eleito governador, Haddad seria o nome natural, segundo fontes da campanha petista. Advogado de formação, o ex-prefeito da capital paulista e ex-ministro da Educação tem mestrado em Economia e doutorado em Filosofia. Ele acompanhou Lula no almoço na Fiesp, onde o ex-presidente só levou outros dois aliados: o candidato a vice em sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), e o ex-ministro Aloizio Mercadante. Haddad foi um dos responsáveis pela aproximação entre Lula e Alckmin e é um elo do ex-presidente também com nomes do meio acadêmico em São Paulo.
O ex-prefeito costuma se vangloriar de ter lidado bem com a oposição nos seus tempos de Esplanada dos Ministérios – uma das características que Lula busca em um eventual titular da Economia. “Como ministro da Educação, nunca tive um voto contra do PSDB (no Congresso)”, disse ele, durante entrevista concedida ao Estadão em maio.
Porém, pesa contra Haddad justamente a posição que ele ocupa hoje no PT, de um dos nomes mais próximos a Lula. Isso porque há quem diga que o ex-presidente não quer correr o risco de queimar uma de suas apostas para o futuro do partido ao colocá-lo à frente do ministério em um contexto econômico tão desfavorável.
Quando aliados de Lula são questionados sobre o que acontecerá se Haddad ganhar a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes e Lula a pelo Planalto, a lista de cotados cresce. Um dos nomes testados é o do deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.
Outros nomes despontam nas conversas que os auxiliares têm com Lula, como os dos ex-governadores Wellington Dias (Piauí) e Tião Viana (AC).
A receita Palocci incluiu a absorção de quadros do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e nomes que deram sustentação à política econômica de Palocci: Murilo Portugal, Joaquim Levy e Marcos Lisboa. A campanha do ex-presidente indica claramente também que o ex-presidente do Banco Fator Gabriel Galípolo ocuparia uma das cadeiras da equipe econômica. Com trânsito com o próprio Lula e interlocução com Haddad, Galípolo tem sido escalado para participar de eventos como um dos que têm colaborado com o desenho de um programa de governo.
Por ora, todos no entorno do ex-presidente garantem que a escolha do ministro da Economia não é uma discussão colocada para debate e que primeiro é preciso vencer a eleição. Pelo menos até outubro, o “político da economia” na campanha de Lula segue sendo o próprio Lula.