O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou na noite de sábado em Teerã, no Irã, para apresentar ao governo iraniano uma proposta conjunta do Brasil e da Turquia para um possível acordo sobre o programa nuclear do país e participar da reunião de cúpula do G15, um grupo de cooperação entre países em desenvolvimento não-alinhados. Neste domingo, Lula deve participar de encontros a portas fechadas com o presidente Mahmoud Ahmadinejad e com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, entre outras reuniões com a comitiva brasileira e um encontro com o presidente do Parlamento do Irã, Ali Larijani. Lula e a comitiva presidencial foram recebidos no aeroporto em Teerã pelo ministro das Relações Exteriores Manouchehr Mottaki, que Lula deve voltar a encontrar no domingo. A reunião do G15 começa na segunda-feira e reunirá representantes de 17 países da Ásia, África e Américas. Antes de embarcar para o Irã, em Doha, no Catar, Lula disse não entender o ceticismo da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, sobre a possibilidade de o Irã mudar sua postura sobre o seu programa nuclear através do diálogo. Na sexta-feira, Hillary Clinton reafirmou o ceticismo dos Estados Unidos quanto às chances de sucesso no diálogo com o o Irã. Em Doha Perguntando sobre a declaração de Hillary durante uma entrevista coletiva em Doha, o presidente brasileiro respondeu sem citar o nome da secretária de Estado americana. "Eu não sei com base no que as pessoas falam [isso]", disse Lula. "Não é porque o meu time não ganhou o jogo de ontem que ele não pode ganhar o jogo de amanhã", afirmou o presidente na entrevista concedida após o encontro com o emir do Catar, Hamad bin Khalifa Al Thani. A base da proposta turca e brasileira continuaria sendo o plano da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), do final do ano passado, que prevê o enriquecimento do urânio iraniano em outro país em níveis que possibilitariam sua utilização para uso civil, não militar. Lual ainda respondeu sobre as declarações de Estados Unidos e Rússia de que a proposta de Brasil e Turquia seria a "última chance" para o Irã de evitar sanções mais duras. "Não sei, não quero ser fatalista. A política existe exatamente para você exercitá-la na sua plenitude, para tentar conversar, convencer", disse. Sobre as expectativas em torno de resultados de sua viagem ao Irã, Lula declarou que era uma missão tranquila. "As pessoas criam uma expectativa exagerada sobre um assunto em que o Brasil está muito à vontade. O Brasil é um país que não tem armas nucleares, não é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil pode é contribuir." Amigos Lula ainda disse que a negociação entre Brasil e Irã é entre dois países amigos. "É um país amigo que quer ajudar um outro país amigo a evitar que aconteça alguma coisa pior, que é o que pode acontecer se não houver uma decisão do Irã de firmar um acordo com a agência nuclear." Ele afirmou que a conversa que terá com o presidente Ahmadinejad será de muita franqueza e lamentou que outros presidentes não tenham conversado com o presidente iraniano. "Se é uma coisa importante, que está no Conselho de Segurança da ONU, todos os presidentes de países que são membros permanentes deveriam ter a preocupação e o cuidado de fazer todas as conversas possíveis. Nessa hora não existe limite de tempo de conversa. Você tem de conversar para ver se consegue evitar um mal maior". No final, Lula também disse que queria ver o Irã com uma postura pacífica parecida com a brasileira em relação às armas nucleares. "O que eu quero é que o Irã faça o mesmo que o Brasil faz", finalizou. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
COM 86% OFF