BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou de sua equipe, na segunda-feira, 22, mais empenho na articulação com o Congresso Nacional. Na comparação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no entanto, o petista teve menos encontros com congressistas.
Levantamento feito pelo Estadão indica que os termos “deputado” e “senador” aparecem 118 vezes na agenda oficial de Lula até agora. O número é 74% menor do que o encontrado na agenda do antecessor durante o período equivalente. No mandato de Bolsonaro, os mesmos termos aparecem 451 vezes.
Líderes de alguns dos principais partidos do “Centrão” – como PP, União Brasil e PSD – só aparecem na agenda oficial de Lula uma única vez. A Presidência diz que Lula mantém contatos com congressistas em outros momentos além das audiências, como em viagens e eventos.
Os auxiliares de Lula cobrados por ele costumam se encontrar muito mais com congressistas que o próprio presidente. Os termos “deputado” e “senador” aparecem 147 vezes na agenda de Fernando Haddad (Fazenda), e 275 vezes na agenda do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que acumula o posto de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Na agenda oficial de Wellington Dias (Desenvolvimento Social), os dois termos aparecem 178 vezes, e na de Rui Costa (Casa Civil), 151 vezes.
Procurada, a Presidência da República disse, em nota, que Lula mantém “diálogo regular” com deputados e senadores por meio de reuniões, viagens e eventos públicos para os quais os políticos são convidados.
A cobrança de Lula ocorreu durante o lançamento de um programa de microcrédito no Palácio do Planalto, batizado de “Acredita”. Lula lembrou que o PT controla apenas uma fatia pequena das cadeiras no Congresso. “Isso significa que o (vice presidente Geraldo) Alckmin tem de ser mais ágil, tem de conversar mais. O (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad tem de, sabe, ao invés de ler um livro, ele tem de perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara. O Wellington (Dias, ministro do Desenvolvimento Social), o Rui Costa (ministro da Casa Civil) passar uma parte do tempo conversando”, disse.
“Conversa com bancada A, com bancada B. É difícil, mas a gente não pode reclamar porque a política é exatamente assim. Ou você faz assim ou não entra na política”, disse o petista. O próprio Lula, porém, tem preferido terceirizar a responsabilidade de conversar com o Congresso para seus auxiliares.
Na terça-feira, 23, durante um café da manhã com jornalistas, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, disse que a cobrança do presidente foi na verdade uma “brincadeira”. Os ministros também reagiram com bom humor. Haddad disse que “só faz isso da vida”. Alckmin postou um meme do personagem animado “Papa-Léguas”.
Dos encontros com deputados e senadores na agenda do petista, a maioria é com os líderes do governo na Câmara e no Senado. Lula esteve com o senador Jaques Wagner (PT-BA) 23 vezes; e com o deputado José Guimarães (PT-CE) em 11 ocasiões. Já o ex-presidente do PT, o deputado Rui Falcão (PT-SP) foi recebido 19 vezes. O trio é o mais assíduo na agenda oficial do presidente em seu terceiro mandato dentre os congressistas.
A cobrança de Lula aos ministros se deu antes de um momento importante para o Planalto. Nesta quarta-feira (23), o Congresso deve realizar sessão conjunta (com deputados e senadores) para analisar vetos presidenciais. Os congressistas poderão decidir sobre manter ou não os vetos de Lula a R$ 5,6 bilhões das chamadas “emendas de comissão”; ao PL da “saidinha” de presos; e ao PL dos fundos offshore, entre outros.
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Até o momento, Lula só realizou duas reuniões com os líderes dos partidos aliados na Câmara. O último encontro foi no fim de fevereiro deste ano, no Palácio da Alvorada, regado a uísque e pastéis. Cinco ministros participaram do convescote, inclusive Haddad. Lula também já esteve cinco vezes com o líder do MDB, o deputado Isnaldo Bulhões (AL), que é muito próximo do senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Os dados foram levantados pelo Estadão usando a ferramenta Agenda Transparente, da organização sem fins lucrativos Fiquem Sabendo (FS), que atua para garantir o acesso a informações públicas. Os números dizem respeito aos primeiros quinze meses de governo de Lula e Bolsonaro; ou seja, de janeiro de 2019 a março de 2020; e de janeiro de 2023 a março de 2024. É possível que o número de encontros durante o governo de Jair Bolsonaro seja até maior que o registrado, uma vez que o ex-presidente não registrava todos os compromissos na agenda pública.
Como mostrou o Estadão em novembro, durante o primeiro ano de mandato Lula deu prioridade a encontros com seus ministros. Os mais recebidos ao longo de 2023 foram Alexandre Padilha, das Relações Institucionais (49 vezes); Rui Costa (Casa Civil, 38 vezes); e Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação da Presidência da República, 33 vezes). Fernando Haddad esteve com Lula em 19 ocasiões, até aquele momento. Lula também se reuniu com 62 chefes de Estado e autoridades estrangeiras durante seu primeiro ano de governo.