BRASÍLIA – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmou a parlamentares do PT durante reunião fechada, nesta quinta-feira, dia 1º, que a deputada e presidente do partido, Gleisi Hoffmann, deve ficar à frente da legenda, em vez de ser escolhida como ministra do futuro governo. Lula disse na reunião que não quer “esvaziar” o PT, levando os principais quadros para compor o governo, o que em sua visão fragilizaria o partido no Congresso.
Segundo um dos integrantes do PT, Lula argumentou que não pode repetir uma experiência não exitosa do passado, numa referência a José Dirceu, que deixou o comando do PT para assumir a Casa Civil, em 2003, e acabou tendo de sair do governo, dois anos depois, abatido pelo escândalo do mensalão. A informação foi confirmada ao Estadão por três petistas que participaram do encontro.
Lula e Gleisi deixaram juntos o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde ocorreu o encontro, acompanhados de Janja da Silva, futura primeira-dama, e do ex-senador e deputado eleito Lindhberg Farias (RJ).
À saída, Gleisi disse que a reunião foi “boa” e que, assim como o PT estava conversando com os demais partidos, era necessário discutir internamente também. Parlamentares elogiaram a presidente do PT no encontro e a vitória de Lula, além de destacarem a importância de construir uma base política e social sólida.
A decisão de Lula ocorre no momento em que o próprio PT e siglas aliadas a Lula disputam espaços no xadrez ministerial. Quem acompanhou a conversa diz que Lula deverá anunciar os ministros a partir da próxima semana. Ele não indicou nomes, mas sinalizou a conselheiros próximos ter o desenho do primeiro escalão na cabeça.
O PT vai fazer um documento endereçado a Lula com indicações de pastas que deseja ocupar. Isso será debatido na próxima semana e selado em uma reunião do Diretório Nacional, no próximo dia 8, para a qual Lula foi convidado. A sinalização do presidente eleito, segundo presentes, é de que uma parte de seu ministério deve ser anunciada apenas depois disso.
Entre os ministérios que os petistas querem comandar estão os da Educação, Saúde, Desenvolvimento Social e Cidades. Segundo relatos, Lula sinalizou que o núcleo de governo – que inclui Fazenda e Casa Civil, por exemplo – e as pastas sociais tendem a ficar com o PT, mas sempre considerando a negociação com a coalizão de partidos que o elegeu.
Em tom de piada, Lula se queixou dos pedidos que tem recebido das demais legendas. “Se bobear eu tenho que entregar o meu cargo e o do Alckmin também”, disse o presidente eleito, sobre como andam as negociações com as demais siglas.
A fala também foi interpretada no PT como uma maneira de minimizar expectativas a respeito do espaço que o partido terá no governo. Lula deixou claro que não necessariamente o PT irá levar todas as pastas pedidas.
Gleisi ficou encarregada de ouvir as demandas internas dos petistas e tentar uma conciliação com os pedidos de outras legendas. O combinado é que não sejam formalizados nomes para as “áreas de interesse” do PT, embora os filiados do partido mais cotados sejam conhecidos.
Gleisi é uma das coordenadoras da transição governamental e ex-ministra da Casa Civil no governo Dilma Rousseff. Ela sempre teve o apoio de Lula para presidir a legenda, mesmo diante de resistências na própria bancada.
Como o Estadão mostrou, outro coordenador da transição que pode ficar de fora do ministério, embora com cargo influente no Palácio do Planalto, é o ex-ministro Aloizio Mercadante. Lula, no entanto, não abordou a situação de Mercadante durante o encontro.
Lula deve anunciar na próxima semana José Múcio como ministro da Defesa. A expectativa é de que ele seja oficializado na terça-feira, um dia depois da reunião em Brasília com uma comitiva de alto nível político enviada pelo presidente dos EUA Joe Biden.