BUENOS AIRES – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira, 23, tratar “com carinho” Cuba e Venezuela – dois regimes autoritários da América Latina. Durante visita a Buenos Aires, o petista criticou ainda a gestão Jair Bolsonaro e afirmou que o Brasil está de “braços abertos para acolher os argentinos”.
“Peço desculpas ao povo argentino por todas as grosserias do último presidente do Brasil”, disse Lula ao presidente Alberto Fernández. “Estejam certos de que a Argentina será tratada com carinho, o respeito que sempre mereceu.”
Ainda no contexto das relações exteriores, Lula pediu o fim do embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba, que já dura mais de 50 anos, e afirmou que os problemas internos do país devem ser resolvidos pelo povo cubano.
Lula comparou os embargos contra Cuba e Venezuela com a ocupação da Rússia na Ucrânia, dizendo que é a favor da soberania dos povos. “Sou contra ingerências externas nos processos venezuelanos. É preciso resolver com diálogo e não com bloqueio”, afirmou. “Precisamos tratar Venezuela e Cuba com muito carinho.”
Lula confirmou ainda que foi cancelada uma reunião que teria ontem com o líder da Venezuela, Nicolás Maduro. “Eu estava disposto a me reunir com Maduro. O Brasil vai restabelecer as relações diplomáticas com a Venezuela e em dois meses queremos que a embaixada seja reaberta”, afirmou.
A embaixada em ambos os países foi fechada na gestão Bolsonaro. A reunião entre Lula e Maduro foi cancelada por parte do país venezuelano, afirmou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo.
‘Democracia’
O presidente brasileiro também afirmou que quem critica a Venezuela não pode esquecer de criticar os atentados à democracia do país vizinho, referindo-se ao processo não institucional que condecorou Juan Guaidó como presidente interino venezuelano.
“Os críticos de Maduro esquecem que fizeram algo abominável reconhecendo Guaidó como presidente, indo ao contrário da democracia”, disse Lula. “Vou repetir que o papel do Brasil não é interferir na política dos países vizinhos, mas levar a paz e construir o diálogo”, afirmou. “Fui sindicalista. Estou acostumado a negociar. Então eu acredito que o melhor caminho é sentar e conversar”, disse, sugerindo aproximação de opositores e apoiadores de Maduro.
Sobre a presença de Maduro na cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que foi criticada pela oposição na Argentina e contou com manifestação, anteontem, de venezuelanos residentes no país contrários à visita, Fernández afirmou que “todos os países da América Latina e Caribe foram convidados”.
“A presença de Cuba e Venezuela à Celac é mais uma inquietação da imprensa do que dos membros da cúpula”, disse o presidente da Argentina.