BRASÍLIA - O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ganhou sobrevida no cargo, mas seu posto está esvaziado. Indicado por seu partido, o União Brasil, para compor o primeiro escalão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado do Maranhão recebeu uma Pasta com menos poderes.
O ministro não participa, por exemplo, de uma das principais discussões no setor de comunicações: a regulação das big techs. A Secretaria de Política Digital, que sempre esteve vinculada ao ministério, foi transferida para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. A Secom está sob o comando do petista Paulo Pimenta.
O tema da regulação tem sido debatido internamente do governo com participação de integrantes da Casa Civil. Mas Juscelino Filho vem sendo excluído das reuniões. Sem conhecimento na área, Juscelino Filho aceitou ser um ministro esvaziado com poder apenas para tocar pautas mais paroquiais ligadas à radiodifusão. Outra pauta importante do setor, o leilão do 5G, já foi definido durante o governo Bolsonaro.
Na segunda-feira, 6, Juscelino Filho foi recebido pelo presidente Lula. Foi apresentar explicações sobre a série de acusações de mau uso de recursos públicos. Como mostrou o Estadão, o ministro recebeu diárias do governo e usou jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar a São Paulo, onde a maior parte de sua agenda foi dedicada a um tema de seu interesse privado: leilões de cavalos.
Após o encontro com Lula, Juscelino disse que a conversa foi produtiva e até anunciou que viajará ao lado presidente este mês. No encontro, o petista teria aconselhado seu ministro a se defender das acusações publicamente. Seguindo a orientação, Juscelino foi para as redes sociais e deu entrevista a um canal de televisão. Alegou que já devolveu o valor das diárias, mas omitiu que só fez isso depois que o Estadão revelou o recebimento indevido do benefício destinado apenas a compromissos oficiais, mas, no caso de Juscelino, utilizado com fins privados.
Juscelino declarou ainda que todos os seus bens estão declarados à Receita Federal. Não explicou porque deixou de informar à Justiça Eleitoral quando disputou a eleição do ano passado um patrimônio estimado de R$ 2 milhões em cavalos de raça.
Como mostrou o Estadão, a sobrevivência do ministro das Comunicações no cargo envolveu um cálculo político no Palácio do Planalto. O presidente foi informado por articuladores do governo no Congresso de que os padrinhos de Juscelino não aceitavam a demissão sumária do ministro e culpavam o PT pelos ataques. O União Brasil tem a terceira maior da Câmara, com 59 deputados.