BRASÍLIA — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer atrair o voto do eleitorado evangélico pelo bolso. A estratégia da campanha do PT é evitar temas polêmicos, como aborto e legalização de drogas, e conversar com o público conservador sobre problemas econômicos do cotidiano, como inflação, carestia e desemprego.
Favorito nas pesquisas de intenção de voto, Lula quer desviar o debate da agenda de costumes, campo que o presidente Jair Bolsonaro domina. Quando ocupava o Planalto, Lula manteve ligação próxima com as principais igrejas evangélicas, como a Assembleia de Deus da família Ferreira, no Rio, e a Universal, do bispo Edir Macedo. Após anos de ataques ao PT, Macedo pôs a estrutura da Universal a favor do então presidente, em 2003.
A boa relação só terminou em 2016, quando o PRB, atual Republicanos – partido de aliados do bispo – rompeu com a presidente Dilma Rousseff e defendeu o impeachment. Na tentativa de se aproximar dos evangélicos, o ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro decidiu agora incorporar ao discurso a defesa da lei antiaborto e o combate à sexualização precoce.
O apoio dos religiosos de várias denominações sempre foi considerado fundamental pelas equipes dos presidenciáveis. Pesquisas mostram que os evangélicos representam cerca de 30% da população. Não foi à toa que Bolsonaro indicou o pastor André Mendonça, definido por ele como “terrivelmente evangélico”, para uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal.
Na campanha de 2002, o PT distribuiu uma Carta aos Evangélicos na porta das igrejas. Em 2010, Dilma foi cobrada e também teve de redigir uma carta comprometendo-se a não apresentar projeto de lei para descriminalizar o aborto. Em 2019, um ano antes das eleições municipais, o PT criou um núcleo para cuidar desse segmento.
A mais recente pesquisa Ipec, divulgada em dezembro, mostra que Lula e Bolsonaro estão tecnicamente empatados na preferência de voto dos evangélicos. Segundo o levantamento, o petista tem 34% de apoio e o atual presidente, 33%.
Aliado do governo, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, diz não haver racha entre os apoiadores do presidente. “Rachado porcaria nenhuma. Claro que Lula tem voto no mundo evangélico. Não sou idiota, não conheço unanimidade”, afirmou ao Estadão. Nas eleições de 2002 e 2006, o pastor havia apoiado Lula.
Em dezembro do ano passado, Moro esteve no Rio e se reuniu com o bispo R.R. Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. Na semana passada, o ex-juiz aproveitou uma viagem à Paraíba para conversar com o pastor Estevam Fernandes, chefe da Igreja Batista de João Pessoa.
Um mês antes, Lula e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tiveram reunião virtual de duas horas com evangélicos. Estavam acompanhados da deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que é da igreja presbiteriana. Em junho, o ex-presidente já havia se encontrado com Manoel Ferreira, bispo primaz do Ministério Madureira. O encontro provocou protestos de bolsonaristas.