O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quarta-feira, 27, que pretende mudar a política da Petrobras e abolir o modelo de Preço de Paridade de Importação (PPI), se for eleito em outubro. Segundo o petista, o presidente Jair Bolsonaro (PL) “não teve coragem” de tomar medidas para reduzir o preço do combustível que sai das refinarias.
“Essa história de PPI é para agradar os acionistas, em detrimento dos 230 milhões de brasileiros”, afirmou, em entrevista ao UOL. A estatal, porém, tem como maior acionista a União. “A gente pode reduzir o preço, sim, o presidente não teve coragem”, completou.
O petista voltou a argumentar que o País poderia ser “autossuficiente” na produção de derivados do petróleo e defendeu tornar a estatal “senão a primeira, a segunda maior empresa petroleira do mundo”. A Petrobras passou a trabalhar com alinhamento de preços ao mercado internacional a partir do governo de Michel Temer, que desfez a política de preços controlados de Dilma Rousseff (PT).
Lula tem defendido retornar o modelo de gestão adotado para a estatal na gestão do PT. O ex-presidente costuma argumentar que a população “ganha em real e gasta em real” e, por isso, o preço dos combustíveis não deveria ficar suscetível às flutuações do câmbio.
Outra alegação frequente do presidente é de que o País é “autossuficiente” em petróleo, mas carece de refinarias para abastecer o mercado interno. Nesta quarta-feira, na entrevista que concedeu ao UOL, disse: “Um país que é autossuficiente em petróleo, que poderia estar exportando derivado, não tem capacidade de refinar a quantidade de consumo que nós precisamos (...) É uma vergonha”.
Para o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flavio Serrano, políticas de subsídio nos preços de combustíveis resultam em distorções que, em algum momento, podem produzir danos ainda maiores. “O maior problema é que precisamos importar diesel. Então não dá pra deixar o preço doméstico abaixo do internacional. Vai acabar gerando problema de desabastecimento. A solução, portanto, é abrir o mercado, não mudar a política de preços”, afirmou.
Segundo ele, uma política de preços abaixo do internacional desestimularia os importadores a trazer o combustível. Dependendo da capacidade de refino e importação da Petrobras, tal situação poderia levar ao desabastecimento.
O professor associado do Insper, Marcos Mendes, defende que a interferência em preços gera consequências negativas. “O preço é uma sinalização para a sociedade que determinado produto está escasso e tem que consumir menos. A hora que subsidia, as pessoas consomem da mesma maneira que consumiam antes, e agrava a escassez. Em segundo lugar, isso concentra a renda, porque vai estar subsidiando tanto o pobre quanto o rico”, argumenta.
Mendes também aponta que um possível congelamento de preços prejudica a capacidade de investimento e produção da Petrobras. “A exportação do petróleo diminui o choque da crise sobre o País. Se por um lado os preços na bomba estavam subindo, por outro lado a receita do governo aumenta, e pode gastar mais com a população”, completa. Se houver congelamento, segundo o economista, em algum momento o governo vai precisar cobrir o prejuízo da Petrobras.
A prévia do programa de governo do PT argumenta que “é preciso abrasileirar os preços dos combustíveis” e ampliar a produção nacional de derivados, com expansão do parque de refino, como forma de substituir a paridade de preços com o mercado internacional.