O candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quarta-feira, 26, que, se eleito, precisará conversar com o MDB sobre indicação da senadora Simone Tebet para um eventual ministério. Apesar de elogiar o desempenho da nova aliada, o ex-presidente reforçou que não pode antecipar quem seria nomeado para compor um novo governo.
“A Simone, embora esteja me apoiando, ela é um quadro político importante, mulher competente… Mas eu não posso dizer que ela vai ser ministra porque vou estar precipitando uma coisa que não posso”, disse Lula durante entrevista à Rádio Mix de Manaus.
Após declarar apoio a Lula, Tebet passou a integrar ativamente a campanha. Ela tem feito viagens ao Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O petista voltou a repetir nesta quarta-feira que não fará um “governo do PT”. “Vou fazer um ministério que represente a sociedade brasileira com o PT e com gente fora”, esclareceu. Questionado se já definiu quais nomes irão compor eventuais pastas, ele afirmou que tem pensado sobre isso “no travesseiro” para que as notícias não se espalhem.
Grandes fortunas
O candidato afirmou também que “chegou a hora, sempre é a hora” de taxar grandes fortunas e bancos. Ele ponderou, no entanto, que apesar de ser um defensor da medida, a maioria do Congresso Nacional se opõe à aprovação.
“O problema é que você tem a maioria do Congresso Nacional que não quer. Até porque a maioria que está no Congresso Nacional são pessoas que têm de certa forma posses, não são os pobres que estão dentro do Congresso Nacional”, afirmou o ex-presidente.
”Essa gente não quer taxar seu próprio recurso, quando na verdade nós precisamos fazer as pessoas entenderem que pagar imposto de renda corretamente é fazer justiça nesse País”, continuou Lula, ao defender uma política tributária progressista, na qual os ricos paguem mais e os pobres, menos. O ex-presidente voltou a defender a isenção de impostos de pessoas que ganham até R$ 5 mil.
Nesta semana, o candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), prometeu que Lula, se eleito, vai promover uma reforma tributária que incluirá a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) em substituição a cinco tributos. “A reforma ajudará a economia a crescer. O Brasil será outro”, publicou o ex-tucano nas redes sociais.
Lula pretende ainda, se eleito, criar uma política de compensação para garantir a preservação de florestas e a redução na emissão de gases do efeito estufa. Ele, no entanto, não detalhou como o mecanismo funcionaria na prática.
”O Estado tem que ter uma compensação, sim. É preciso que a gente crie a política de incentivo, é preciso que a gente faça um estudo profundo”, afirmou Lula. O ex-presidente repetiu que deve haver uma parceria com cientistas para o aprofundamento de pesquisas sobre a biodiversidade da Amazônia e extração de produtos para indústrias de fármacos ou cosméticos, garantindo, inclusive, melhorias na vida da população local.
Lula também defendeu a soberania da Amazônia e disse que o mundo deve arcar com as despesas pela preservação da floresta. “A gente tem que saber a importância da Amazônia para o mundo e o mundo tem que fazer um esforço para ajudar o Brasil a cuidar da Amazônia. A gente não abre mão da soberania da Amazônia, mas a gente sabe da importância dela para o mundo, para o clima do planeta Terra”, disse o ex-presidente. “As pessoas têm que arcar com a despesa para que a gente possa cuidar com amor e carinho da Amazônia, mas sobretudo cuidar do povo da Amazônia”, emendou.
O candidato petista voltou a dizer que já está provado cientificamente que não é preciso “tirar nenhuma árvore na Amazônia para plantar soja, plantar milho ou criar gado”. “Temos 30 milhões de terras degradadas, de pasto, que você pode recuperar, duplicar a produção de alimento do Brasil sem precisar derrubar uma árvore”, defendeu. Ele reforçou, mais uma vez, que, se eleito, o Brasil será autossuficiente na produção de fertilizantes.
Armas
Lula também criticou a política armamentista adotada no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o petista, “quem está comprando armas não são pessoas de bem, mas o crime organizado”.”Ninguém compra arma para educação, ninguém compra arma para fazer coisa a não ser matar. Quem está comprando armas que Bolsonaro está facilitando é o crime organizado”, afirmou.
Bolsonaro tem, durante a campanha, associar Lula ao crime organizado, com nomes como Marcos Willians Camacho, o Marcola, apontado como líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e, mais recentemente, apoiadores do presidente tentaram ligar o petista a traficantes por causa de um boné com as letras ‘CPX’ durante caminhada no Complexo do Alemão, no Rio.
Nas redes, aliados de Bolsonaro compartilharam imagens de supostos criminosos usando a mesma sigla. Segundo bolsonaristas, seria uma abreviação para a palavra “cupinxa”, que remete ao tráfico. Porém, em nota publicada em seu site oficial, a equipe de Lula explica que CPX é uma abreviação para a palavra “complexo”, usada por ocasião da visita ao Complexo do Alemão.
Bolsonarismo
O ex-presidente afirmou durante a entrevista que, mesmo com sua vitória, o bolsonarismo e o “ódio” continuarão presentes na sociedade. “Eu acho que o povo vai votar de forma soberana na democracia. O que eu acho é que o bolsonarismo vai continuar, o ódio vai continuar por um tempo, os fanáticos vão continuar por um tempo, mas eu acho que a gente vai ter um processo de reconciliação com a nação brasileira”, disse.