BRASÍLIA – Pressionado pela queda de popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai retomar as viagens pelo País a partir desta quinta-feira, 6. A estratégia para sair da crise definida pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, também prevê a divisão de tarefas com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, o vice Geraldo Alckmin e vários ministros.
Mesmo antes da cirurgia que sofreu para drenar um sangramento intracraniano, em dezembro do ano passado, Lula vinha privilegiando as agendas internacionais. Mas o desgaste do governo, detectado em pesquisas, e a preocupação com as eleições de 2026 acenderam o sinal de alerta no Palácio do Planalto.
Embora levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta segunda-feira, 3, indique que, se a disputa fosse hoje, o presidente venceria todos os possíveis candidatos de oposição em 2026 – do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL) –, 49% dos entrevistados disseram que não votariam nele de jeito nenhum. No fim de janeiro, pela primeira vez, a desaprovação de Lula (49%) também superou a aprovação (47%).
Agora, às vésperas de uma reforma ministerial, o presidente levará auxiliares a tiracolo nas viagens para divulgar as ações e programas do Executivo. Na sua avaliação, “2026 já começou” e, nesta segunda metade do governo, é preciso fazer a disputa “no gogó” com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além do enfrentamento nas redes sociais.
Nesta quinta-feira, 6, por exemplo, Lula estará acompanhado da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e do chefe da Casa Civil, Rui Costa, na cerimônia de reabertura da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio de Janeiro. O serviço estava fechado desde 2020 e faz parte da rede de urgência da capital e do Estado, que atende usuários de drogas.
O Ministério da Saúde tem o terceiro maior orçamento da Esplanada – R$ 239,7 bilhões, apenas atrás de Previdência e Desenvolvimento e Assistência Social –, mas ainda não conseguiu emplacar uma “marca” como em outros mandatos de Lula.
O presidente tenta manter Nísia no cargo, mas, na última semana, voltou a cogitar a possibilidade de substituí-la. Um dos cotados para a cadeira hoje ocupada por Nísia é o titular de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), que já foi ministro da Saúde na gestão de Dilma Rousseff.
De volta ao Nordeste
Na sexta-feira, 7, Lula estará em Paramirim (BA) para a cerimônia “Água Para Todos – Bahia”, onde serão feitos anúncios relativos à segurança hídrica do Estado.
O Nordeste sempre foi reduto do PT, mas pesquisas também mostraram que Lula tem perdido eleitores na região. Na viagem à Bahia, o presidente estará acompanhado dos ministros Sidônio Palmeira, Rui Costa, Waldez Góes (Integração), Jader Filho (Cidades) e do governador Jerônimo Rodrigues (PT).
Janja publicou um vídeo nas redes sociais, nesta semana, anunciando que terá uma agenda em parceria com ministérios responsáveis por áreas nas quais ela também atua, como educação e empreendedorismo feminino.
“Vocês vão me ver andar pelo Brasil com vários ministros. A gente vai mostrar um pouquinho dos resultados dos programas e das políticas sociais do governo do presidente Lula”, disse a primeira-dama, ao lado do titular de Desenvolvimento Social, Wellington Dias.
O ministro convidou Janja para participar junto com ele na próxima semana, em Roma, da instalação do Conselho de Campeões. A iniciativa faz parte da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada na Cúpula de Líderes do G-20, no Rio de Janeiro, em novembro.
A primeira-dama fará, ainda, viagens com os ministros Camilo Santana (Educação), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Cida Gonçalves (Mulheres).
Lula e Alckmin, por sua vez, também planejam outras visitas a Estados, mas o cronograma ainda não foi fechado. O presidente quer que o vice divulgue mais a política de industrialização, batizada como “Nova Indústria Brasil”, elogiada por empresários, mas ainda pouco conhecida.
Na próxima semana, Lula deverá ir a Belém (PA) e Macapá (AP). Na capital do Pará, ele vai anunciar ações relacionadas à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que será realizada em novembro, e também obras do Minha Casa, Minha Vida. O programa é uma das principais apostas do chefe do Executivo para retomar a popularidade.
Em Macapá, no dia 13, Lula pretende entregar títulos de regularização fundiária a assentados, acompanhado do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
No dia 22, ele retornará ao Rio para participar de um ato político em comemoração aos 45 anos do PT. Além disso, está prevista uma visita do presidente ao Polo Naval de Rio Grande (RS).
A expectativa no núcleo do governo é de que Lula tenha uma agenda com até duas viagens por semana. O plano chegou a ser montado no ano passado, mas foi interrompido por causa dos problemas de saúde do presidente.
Na reunião ministerial de 20 de janeiro, a primeira do ano, Lula admitiu que estava cansado de fazer reuniões no Planalto e anunciou que sairia mais do gabinete. Não foi só: também reclamou que muitos anúncios dos quais participou não se concretizaram, disse que o governo devia o cumprimento das promessas de campanha e cobrou mais entregas de seus auxiliares. Uma semana depois, ele foi liberado pelos médicos para viajar.