As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

Lula e os cavaleiros húngaros


O presidente eleito devia ler Oliveiros em vez de se deixar enredar pelas tentações de Lira

Por Marcelo Godoy
Atualização:

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva mal começou e já se vê às voltas com as três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. É sobre elas que se parece organizar o Ministério – exceto seu núcleo formado pelos cinco primeiros nomes anunciados – e se constrói a relação do mandatário com o Congresso.

Se o vencedor da eleição procurasse apenas organizar suas fileiras sobre a realidade em vez de ficções, como as bancadas temáticas de Jair Bolsonaro, seria alvissareiro desde que a divisão do poder levasse os demais grupos da sociedade a compartilhar um modo de vida, de pensar e de agir, usando o máximo de consenso e o mínimo de força. Mas não. A organização parece obedecer a interesses paroquiais na disputa por cargos e sinecuras e à acomodação de compadres. Divide-se o butim em nome da PEC da Transição.

O bolsonarismo falhou justamente por não se organizar. Foto: Wilton Junior/Estadão
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Assim se organiza o poder. E nunca é demais lembrar: “Só os organizados podem dominar, e para organizar é preciso ter uma concepção de mundo que solde as experiências de vida num projeto votado a transformar o mundo, ou conservá-lo aparentemente como tal”.

A lição de Oliveiros S. Ferreira em Os 45 Cavaleiros Húngaros mostra a urgência de um projeto de destino à sociedade que dê forma às relações entre os grupos sociais, de maneira coesa, uma tarefa impossível sem partidos políticos organizados, pois são eles que têm a função de aglutinar segmentos sociais.

O bolsonarismo falhou justamente por não se organizar. Sua massa indistinta e a natureza em rede do movimento não fez a conexão entre a sociedade civil e a política. Sem partido dirigindo o processo não havia núcleo de poder e, sem este, não havia como exercê-lo no Estado, organizando a partir dele a política para adaptar a sociedade civil às formas de apropriação das posses essenciais – religiosas, sexuais, econômicas e políticas –, que formavam sua visão de mundo.

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Restava-lhe o cesarismo – em razão da incapacidade de criar consenso –, que só se sustenta diante da ausência de partidos. O bolsonarismo quis explorar essa fragilidade. E é ela que pode abrir caminho a um futuro domínio extremista do Estado. Lutar contra ela é tarefa de todo dirigente partidário comprometido com a democracia.

Lula contou ter lido no cárcere sobre o Brasil. Conheceu a tragédia da escravidão e de como a maioria serve à minoria, ainda que o grande número subordinado também possa romper a dominação. Devia ler Oliveiros. E entender como se pode governar sem se enredar nas miudezas do PT ou nas tentações de Arthur Lira e seus cavaleiros húngaros, tão organizados como aqueles que dominaram Flandres na Guerra dos 30 anos.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva mal começou e já se vê às voltas com as três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. É sobre elas que se parece organizar o Ministério – exceto seu núcleo formado pelos cinco primeiros nomes anunciados – e se constrói a relação do mandatário com o Congresso.

Se o vencedor da eleição procurasse apenas organizar suas fileiras sobre a realidade em vez de ficções, como as bancadas temáticas de Jair Bolsonaro, seria alvissareiro desde que a divisão do poder levasse os demais grupos da sociedade a compartilhar um modo de vida, de pensar e de agir, usando o máximo de consenso e o mínimo de força. Mas não. A organização parece obedecer a interesses paroquiais na disputa por cargos e sinecuras e à acomodação de compadres. Divide-se o butim em nome da PEC da Transição.

O bolsonarismo falhou justamente por não se organizar. Foto: Wilton Junior/Estadão

Assim se organiza o poder. E nunca é demais lembrar: “Só os organizados podem dominar, e para organizar é preciso ter uma concepção de mundo que solde as experiências de vida num projeto votado a transformar o mundo, ou conservá-lo aparentemente como tal”.

A lição de Oliveiros S. Ferreira em Os 45 Cavaleiros Húngaros mostra a urgência de um projeto de destino à sociedade que dê forma às relações entre os grupos sociais, de maneira coesa, uma tarefa impossível sem partidos políticos organizados, pois são eles que têm a função de aglutinar segmentos sociais.

O bolsonarismo falhou justamente por não se organizar. Sua massa indistinta e a natureza em rede do movimento não fez a conexão entre a sociedade civil e a política. Sem partido dirigindo o processo não havia núcleo de poder e, sem este, não havia como exercê-lo no Estado, organizando a partir dele a política para adaptar a sociedade civil às formas de apropriação das posses essenciais – religiosas, sexuais, econômicas e políticas –, que formavam sua visão de mundo.

Restava-lhe o cesarismo – em razão da incapacidade de criar consenso –, que só se sustenta diante da ausência de partidos. O bolsonarismo quis explorar essa fragilidade. E é ela que pode abrir caminho a um futuro domínio extremista do Estado. Lutar contra ela é tarefa de todo dirigente partidário comprometido com a democracia.

Lula contou ter lido no cárcere sobre o Brasil. Conheceu a tragédia da escravidão e de como a maioria serve à minoria, ainda que o grande número subordinado também possa romper a dominação. Devia ler Oliveiros. E entender como se pode governar sem se enredar nas miudezas do PT ou nas tentações de Arthur Lira e seus cavaleiros húngaros, tão organizados como aqueles que dominaram Flandres na Guerra dos 30 anos.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva mal começou e já se vê às voltas com as três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. É sobre elas que se parece organizar o Ministério – exceto seu núcleo formado pelos cinco primeiros nomes anunciados – e se constrói a relação do mandatário com o Congresso.

Se o vencedor da eleição procurasse apenas organizar suas fileiras sobre a realidade em vez de ficções, como as bancadas temáticas de Jair Bolsonaro, seria alvissareiro desde que a divisão do poder levasse os demais grupos da sociedade a compartilhar um modo de vida, de pensar e de agir, usando o máximo de consenso e o mínimo de força. Mas não. A organização parece obedecer a interesses paroquiais na disputa por cargos e sinecuras e à acomodação de compadres. Divide-se o butim em nome da PEC da Transição.

O bolsonarismo falhou justamente por não se organizar. Foto: Wilton Junior/Estadão

Assim se organiza o poder. E nunca é demais lembrar: “Só os organizados podem dominar, e para organizar é preciso ter uma concepção de mundo que solde as experiências de vida num projeto votado a transformar o mundo, ou conservá-lo aparentemente como tal”.

A lição de Oliveiros S. Ferreira em Os 45 Cavaleiros Húngaros mostra a urgência de um projeto de destino à sociedade que dê forma às relações entre os grupos sociais, de maneira coesa, uma tarefa impossível sem partidos políticos organizados, pois são eles que têm a função de aglutinar segmentos sociais.

O bolsonarismo falhou justamente por não se organizar. Sua massa indistinta e a natureza em rede do movimento não fez a conexão entre a sociedade civil e a política. Sem partido dirigindo o processo não havia núcleo de poder e, sem este, não havia como exercê-lo no Estado, organizando a partir dele a política para adaptar a sociedade civil às formas de apropriação das posses essenciais – religiosas, sexuais, econômicas e políticas –, que formavam sua visão de mundo.

Restava-lhe o cesarismo – em razão da incapacidade de criar consenso –, que só se sustenta diante da ausência de partidos. O bolsonarismo quis explorar essa fragilidade. E é ela que pode abrir caminho a um futuro domínio extremista do Estado. Lutar contra ela é tarefa de todo dirigente partidário comprometido com a democracia.

Lula contou ter lido no cárcere sobre o Brasil. Conheceu a tragédia da escravidão e de como a maioria serve à minoria, ainda que o grande número subordinado também possa romper a dominação. Devia ler Oliveiros. E entender como se pode governar sem se enredar nas miudezas do PT ou nas tentações de Arthur Lira e seus cavaleiros húngaros, tão organizados como aqueles que dominaram Flandres na Guerra dos 30 anos.

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