O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar neste fim de semana de uma reunião, em Londres, do grupo que já teve Fernando Henrique Cardoso como um dos mais entusiasmados integrantes, e que agora busca uma nova definição para a Terceira Via, criada nos anos 90. A Cúpula da Governança Progressiva prega a busca de uma alternativa que una as vantagens competitivas da economia de mercado vigente nos Estados Unidos à segurança do Estado do bem-estar social europeu ? uma plataforma comumente associada aos reformados partidos de centro-esquerda depois da derrocada do comunismo. No entanto, o anfitrião do encontro deste ano, o premiê britânico, Tony Blair, já alertou que o que os governos de centro-esquerda devem procurar uma forma de enfrentar os desafios da globalização sem parecer que se opõem a ela. "Há um risco, especialmente entre a esquerda européia, de que nós terminemos nos definindo em termos econômicos como antiglobalizantes, e em política externa com um teor antiamericano", disse Blair nesta sexta-feira, na abertura da conferência que antecede a reunião de cúpula. "Ambos são um beco sem saída." Desfalques O encontro deste ano deve abordar temas como imigração, terrorismo, crime e o desaquecimento da economia global. A escalação dos líderes presentes ao encontro deste fim de semana, porém, fica muito além das cúpulas realizadas nos anos 90. As grandes ausências são as do chefes de governo de Estados Unidos, França e Itália, países onde líderes identificados com a Terceira Via foram repelidos pelos eleitores em anos recentes. O próprio Tony Blair, anfitrião do encontro e o homem que consolidou a expressão Terceira Via no vocabulário político internacional, hoje pouco toca neste assunto ? os serviços públicos britânicos são alvos de freqüentes críticas e, em política externa, seu governo tem se alinhado com a administração republicana do presidente americano, George W. Bush. Outro peso-pesado do encontro, o chanceler alemão Gerhard Schröder, tem encontrado muitas dificuldades para reanimar a economia de seu país e chega desgastado a Londres. Novo rumo Essa lacuna abre a possibilidade para que Lula entre em cena no palco em que Fernando Henrique desfilou com tanta desenvoltura até o ano passado. Observadores de todo o mundo acompanham o passo-a-passo de um presidente de inegáveis credenciais de esquerda que, em seus primeiros meses de governo, tem procurado fazer as pazes com o mercado ao mesmo tempo em que, pelo menos na retórica, não abandona a preocupação com as questões sociais. Para o economista John Williamson, um influente analista das economias latino-americanas que trabalha no Instituto de Economia Internacional de Washington, o sucesso ? ou fracasso ? do governo Lula pode definir para onde vão os países do subcontinente. "Se ele tiver sucesso, vai mostrar um rumo bem diferente para a esquerda latino-americana", afirmou Williamson. As informações são da BBC Brasil.