O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou os pedidos contra a abstenção eleitoral, o que se tornou um foco na campanha do petista nos últimos dias, e se justificou pela ausência no debate organizado pelo Estadão e Rádio Eldorado em pool de veículos de imprensa nesse sábado, 24, durante um comício na quadra da Portela, em Madureira, na zona norte do Rio.
“Nesses próximos dias, a gente vai ter que procurar pessoas que estão indecisas ou que estão dizendo que vão se abster de votar. Aquelas pessoas que quando chega o dia da eleição de manhã, pegam o carro e vão para algum lugar e não querem votar. É o rebelde”, disse Lula, acrescentando: “Não tem rebeldia neste gesto. É falta de sintonia com a realidade que estamos vivendo”.
Em primeiro lugar nas principais pesquisas eleitorais - como mostra o agregador de pesquisas do Estadão -, o ex-presidente e sua campanha têm repetido os pedidos para que os eleitores compareçam às urnas no dia 2 de outubro. Um dia antes, em comício no Grajaú, na zona sul de São Paulo, Lula também reforçou o pedido de comparecimento e afirmou que Jair Bolsonaro (PL) tenta esvaziar a ida às urnas como estratégia eleitoral. “Tudo o que o nosso principal adversário quer é que o povo não compareça para votar”, disse no sábado, 24.
“É importante que as pessoas compareçam às eleições para votar até para ter o direito de xingar, até para ter o direito de cobrar, até para ter o direito de exigir. Porque se você não comparece para votar, você não tem direito de depois falar o que vocês falaram aqui de um presidente”, disse Lula aos apoiadores, fazendo referência a gritos com xingamentos ao atual presidente entoados pelo público.
Para a última semana de campanha, Lula confirmou participação no debate da TV Globo, na quinta-feira, 29, e se justificou pela ausência no debate de ontem, quando foi o único presidenciável convidado a não comparecer.
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“Eu gosto de debate. Mas os debates estão ficando difíceis, porque tem pouca gente com condições de disputar as eleições e eu vou lá disputar com cinco, porque eu estou em primeiro lugar”, disse, antes de apresentar sua explicação. “Ontem, eu não fui ao debate no SBT porque eu tinha marcado antecipadamente dois comícios, um na zona leste, em São Paulo, e outro na zona sul, e eu não poderia faltar, porque era compromisso antigo.”
De acordo com Lula, o evento no Rio foi oferecido pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), que esteve no palco com o ex-presidente. Também acompanharam Lula na quadra da Portela sua mulher, Janja, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o candidato do PT ao Senado no Rio, André Ceciliano, e o candidato à vice-governador na chapa de Rodrigo Neves (PDT), Felipe Santa Cruz (PSD) -- Neves é aliado de Ciro Gomes, e esteve com o presidenciável na manhã deste domingo na zona sul do Rio.
Críticas a Ciro e Bolsonaro
Em seu discurso, Lula também fez críticas diretas aos seus dois principais adversários na disputa, Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT). Sobre seu ex-ministro, Lula disse ter se tonado alvo das críticas do pedetista porque lidera as pesquisas de intenção de voto. Já sobre Bolsonaro, Lula voltou a dizer que irá rever o sigilo sobre atos do governo e que o presidente “não tem moral com o Congresso”.
“Ele (Bolsonaro) não explica como comprou 51 imóveis com 26 milhões em dinheiro vivo. Decretou sigilo de 100 anos para o ministro da Saúde, do cartão corporativo. No meu tempo, eu não queria controlar o Ministério Público e não controlava a Polícia Federal. No meu governo não teve sigilo”, disse Lula.
Segundo Lula, o escândalo do orçamento secreto aconteceu porque Bolsonaro é o primeiro presidente da história que não controla o orçamento. “É a primeira vez que um presidente da República não controla o orçamento. Ele não tem moral com o Congresso”.
Comparações com Mandela e Gandhi
Em outro tema recorrente de sua campanha, o ex-presidente criticou o ex-ministro e juiz federal Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol pela condução da operação Lava-Jato, dizendo-se inocente de todas as acusações. Ao dizer que aceitou a prisão quando as autoridades determinaram, o petista se comparou aos líderes Nelson Mandela e Mahatma Gandhi.
“Eu não tinha nenhum problema de ficar lá. Até porque eu já tinha sido preso em 80, fiquei 31 dias preso. Aí depois eu lembrei: ‘porque eu estou preocupado de estar preso se o nosso querido Mandela ficou assim 27 anos e saiu para governar a África do Sul? Por que eu tenho que estar preocupado se o Gandhi ficou preso muito tempo e saiu para controlar a Índia do controle do companheiro... dos ingleses?”, disse Lula, sendo aplaudido pelos apoiadores.