Lula não dá sinais de aproximação com evangélicos e tem rejeição puxada pelo segmento


Ao contrário de Temer e Bolsonaro, o atual presidente ainda não abriu as portas de seu gabinete para lideranças religiosas; grupo teve forte peso eleitoral em 2022

Por Davi Medeiros

Eleito após uma campanha na qual o tema religião esteve no centro do debate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou os quatro primeiros meses de mandato sem dar sinais de aproximação com os evangélicos. A agenda presidencial revela que o petista não recebeu nenhum líder religioso em seu gabinete no Palácio do Planalto em quatro meses, além de ter evitado aparições públicas ao lado de líderes evangélicos.

A estratégia sinalizada pelo governo é a de não misturar política com religião. Em 2010, segundo o Censo, 22% da população brasileira se declarava evangélica. Em 2000, eram 15%. Segundo pesquisa Datafolha de junho do ano passado, 26% dos brasileiros professavam a fé evangélica. O levantamento feito pelo instituto no mês passado mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, acima da média geral.

PL das Fake News

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Nesta semana, o novo governo não conseguiu colocar em votação na Câmara dos Deputados o PL das Fake News, apelidado de “PL da Censura” entre os membros da Bancada Evangélica, que se articulou em peso para enterrar o projeto.

O pastor Paulo Marcelo Schallenberger, líder da Assembleia de Deus que apoiou Lula na campanha eleitoral, aponta a necessidade de o governo “reagir” por meio de mais diálogo com a população evangélica. Argumentou, ainda, que lideranças mais maleáveis, “que não foram tão agressivas” contra o petista na campanha, deveriam ser convidadas para opinar sobre o que pode ser feito nesse sentido.

PL das Fake News poderia ter agradado aos evangélicos, opina o pastor Alexandre Gonçalves. Foto: Wilton Junior/Estadão
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“Eu entendo que o governo tem que falar com o povo evangélico, com a população brasileira evangélica; não só eu, como muitos outros líderes também pensam dessa forma”, disse. “O País é laico, mas dentro dessa laicidade pode-se encontrar um braço possível. Fala-se com os movimentos negros, LGBTQIA+, com diversos segmentos da sociedade; acho que falta, dentro desse processo de pacificação, um braço da comunicação do governo para falar com os evangélicos.”

O pastor Alexandre Gonçalves, líder do Movimento Cristãos Trabalhistas, avalia que o conteúdo do projeto poderia, inclusive, agradar ao segmento, se a ala conservadora do Congresso não tivesse capturado a simpatia dos evangélicos em torno do tema nas redes. “Acho que teria grande chance de ter apoio dos evangélicos. Muita gente se preocupa com a internet, com o que os filhos veem, principalmente na questão das crianças e dos adolescentes, é um assunto que mexe muito com as famílias”, disse.

Procurada para comentar possibilidades de diálogo com esse grupo religioso, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou que, nos primeiros 120 dias de governo, “o presidente Lula se dedicou ao projeto de reconstrução de políticas públicas e sociais e à reinserção do Brasil no mundo com viagens ao exterior”. Disse, ainda, que “o governo está instituindo órgãos de participação social dos mais diversos setores, incluindo líderes religiosos evangélicos e de outras manifestações religiosas”.

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Vácuo

O ex-presidente Michel Temer (MDB) recebeu o presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), Robson Rodovalho, em seu gabinete no dia 8 de julho de 2016, menos de dois meses após assumir o Planalto. Jair Bolsonaro reuniu-se com pastores pela primeira vez em 18 de fevereiro de 2019, no segundo mês do seu governo.

Já Lula, que endereçou carta aos evangélicos em outubro do ano passado durante a campanha, optou por não acenar nem se reunir com representantes de nenhuma religião até o momento.

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Lula teve encontros com evangélicos na reta final da campanha, em 2022. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Diretor do instituto de pesquisa Quaest, o cientista político Felipe Nunes avalia que o chefe do Executivo pode falhar no cálculo eleitoral se não dialogar com esse grupo. “O governo precisa traçar uma estratégia de aproximação com esse público ou vai deixar um vácuo que será ocupado, como tem sido, pela oposição”, afirma.

Pesquisa do instituto divulgada em abril evidencia o desafio. O levantamento mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, mesmo patamar de grupos historicamente avessos ao petista, como quem tem renda mensal acima de cinco salários mínimos (38%). Segundo sondagem do Datafolha divulgada no início de abril, evangélicos estão ao lado dos mais ricos e dos moradores da região Sul com as menores taxas de aprovação do petista.

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Para o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP), os acenos de Lula durante a campanha foram “falas para conquistar religiosos”, mas que, agora, “não há clima” para uma aproximação.

“Não há relação alguma entre o governo e as principais lideranças evangélicas brasileiras. Não houve nenhuma manifestação do governo em se aproximar, até porque não há clima. O que (Lula) fala de pé, não sustenta sentado, quando o assunto são as pautas que para nós são extremamente caras. (Foram) Falas para conquistar religiosos. Embora sempre tenha um ou outro religioso tentando fazer uma ponte, acredito sinceramente que não acontecerá essa aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT”, disse.

'Acredito sinceramente que não acontecerá aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT', disse Marco Feliciano (PL-SP). Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados
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‘Pedindo a Deus’

Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e autor no Observatório Evangélico, Vinicius do Valle avalia que, em relação aos evangélicos, o cenário nas pesquisas recentes ainda acompanha o quadro eleitoral, ou seja, houve pouca movimentação desse eleitorado entre outubro do ano passado e hoje. “Dada a mobilização feita por pastores na eleição, não se poderia esperar nada diferente. Foi uma mobilização longa e forte que cristalizou opiniões. Fazer uma mudança dentro desse segmento é algo que demanda mais tempo”, afirmou.

“O governo está entendendo que é preciso dar tempo, mas caso se prolongue muito perderá a oportunidade de aproximação, (e os evangélicos) acabam se consolidando como oposição. É necessário ter cautela, mas precisa fazer sinalizações de que está aberto a conversar. Ignorar esse publico é uma estratégia suicida”, acrescentou.

Valle, porém, já vê sinais de que algumas lideranças queiram estreitar laços com o presidente. No dia 21 de abril, o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, participaram da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (Conamad), em Brasília. Durante o evento, que reuniu cerca de oito mil pastores, Dias chegou a afirmar que Lula é um “homem de Deus”. Na ocasião, o chefe do Executivo estava em Portugal.

Segundo o pastor e ex-deputado estadual Dilmo dos Santos, secretário da Conamad, o convite a governantes é de praxe da convenção. “A igreja está sempre disposta (a dialogar). Sempre há uma necessidade de aproximação de qualquer que seja o governo, independentemente que seja de direita ou de esquerda. A Bíblia nos diz para orar por qual seja a autoridade, então nós estamos pedindo a Deus que (o governo) dê certo”, afirmou.

Eleito após uma campanha na qual o tema religião esteve no centro do debate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou os quatro primeiros meses de mandato sem dar sinais de aproximação com os evangélicos. A agenda presidencial revela que o petista não recebeu nenhum líder religioso em seu gabinete no Palácio do Planalto em quatro meses, além de ter evitado aparições públicas ao lado de líderes evangélicos.

A estratégia sinalizada pelo governo é a de não misturar política com religião. Em 2010, segundo o Censo, 22% da população brasileira se declarava evangélica. Em 2000, eram 15%. Segundo pesquisa Datafolha de junho do ano passado, 26% dos brasileiros professavam a fé evangélica. O levantamento feito pelo instituto no mês passado mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, acima da média geral.

PL das Fake News

Nesta semana, o novo governo não conseguiu colocar em votação na Câmara dos Deputados o PL das Fake News, apelidado de “PL da Censura” entre os membros da Bancada Evangélica, que se articulou em peso para enterrar o projeto.

O pastor Paulo Marcelo Schallenberger, líder da Assembleia de Deus que apoiou Lula na campanha eleitoral, aponta a necessidade de o governo “reagir” por meio de mais diálogo com a população evangélica. Argumentou, ainda, que lideranças mais maleáveis, “que não foram tão agressivas” contra o petista na campanha, deveriam ser convidadas para opinar sobre o que pode ser feito nesse sentido.

PL das Fake News poderia ter agradado aos evangélicos, opina o pastor Alexandre Gonçalves. Foto: Wilton Junior/Estadão

“Eu entendo que o governo tem que falar com o povo evangélico, com a população brasileira evangélica; não só eu, como muitos outros líderes também pensam dessa forma”, disse. “O País é laico, mas dentro dessa laicidade pode-se encontrar um braço possível. Fala-se com os movimentos negros, LGBTQIA+, com diversos segmentos da sociedade; acho que falta, dentro desse processo de pacificação, um braço da comunicação do governo para falar com os evangélicos.”

O pastor Alexandre Gonçalves, líder do Movimento Cristãos Trabalhistas, avalia que o conteúdo do projeto poderia, inclusive, agradar ao segmento, se a ala conservadora do Congresso não tivesse capturado a simpatia dos evangélicos em torno do tema nas redes. “Acho que teria grande chance de ter apoio dos evangélicos. Muita gente se preocupa com a internet, com o que os filhos veem, principalmente na questão das crianças e dos adolescentes, é um assunto que mexe muito com as famílias”, disse.

Procurada para comentar possibilidades de diálogo com esse grupo religioso, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou que, nos primeiros 120 dias de governo, “o presidente Lula se dedicou ao projeto de reconstrução de políticas públicas e sociais e à reinserção do Brasil no mundo com viagens ao exterior”. Disse, ainda, que “o governo está instituindo órgãos de participação social dos mais diversos setores, incluindo líderes religiosos evangélicos e de outras manifestações religiosas”.

Vácuo

O ex-presidente Michel Temer (MDB) recebeu o presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), Robson Rodovalho, em seu gabinete no dia 8 de julho de 2016, menos de dois meses após assumir o Planalto. Jair Bolsonaro reuniu-se com pastores pela primeira vez em 18 de fevereiro de 2019, no segundo mês do seu governo.

Já Lula, que endereçou carta aos evangélicos em outubro do ano passado durante a campanha, optou por não acenar nem se reunir com representantes de nenhuma religião até o momento.

Lula teve encontros com evangélicos na reta final da campanha, em 2022. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Diretor do instituto de pesquisa Quaest, o cientista político Felipe Nunes avalia que o chefe do Executivo pode falhar no cálculo eleitoral se não dialogar com esse grupo. “O governo precisa traçar uma estratégia de aproximação com esse público ou vai deixar um vácuo que será ocupado, como tem sido, pela oposição”, afirma.

Pesquisa do instituto divulgada em abril evidencia o desafio. O levantamento mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, mesmo patamar de grupos historicamente avessos ao petista, como quem tem renda mensal acima de cinco salários mínimos (38%). Segundo sondagem do Datafolha divulgada no início de abril, evangélicos estão ao lado dos mais ricos e dos moradores da região Sul com as menores taxas de aprovação do petista.

Para o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP), os acenos de Lula durante a campanha foram “falas para conquistar religiosos”, mas que, agora, “não há clima” para uma aproximação.

“Não há relação alguma entre o governo e as principais lideranças evangélicas brasileiras. Não houve nenhuma manifestação do governo em se aproximar, até porque não há clima. O que (Lula) fala de pé, não sustenta sentado, quando o assunto são as pautas que para nós são extremamente caras. (Foram) Falas para conquistar religiosos. Embora sempre tenha um ou outro religioso tentando fazer uma ponte, acredito sinceramente que não acontecerá essa aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT”, disse.

'Acredito sinceramente que não acontecerá aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT', disse Marco Feliciano (PL-SP). Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados

‘Pedindo a Deus’

Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e autor no Observatório Evangélico, Vinicius do Valle avalia que, em relação aos evangélicos, o cenário nas pesquisas recentes ainda acompanha o quadro eleitoral, ou seja, houve pouca movimentação desse eleitorado entre outubro do ano passado e hoje. “Dada a mobilização feita por pastores na eleição, não se poderia esperar nada diferente. Foi uma mobilização longa e forte que cristalizou opiniões. Fazer uma mudança dentro desse segmento é algo que demanda mais tempo”, afirmou.

“O governo está entendendo que é preciso dar tempo, mas caso se prolongue muito perderá a oportunidade de aproximação, (e os evangélicos) acabam se consolidando como oposição. É necessário ter cautela, mas precisa fazer sinalizações de que está aberto a conversar. Ignorar esse publico é uma estratégia suicida”, acrescentou.

Valle, porém, já vê sinais de que algumas lideranças queiram estreitar laços com o presidente. No dia 21 de abril, o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, participaram da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (Conamad), em Brasília. Durante o evento, que reuniu cerca de oito mil pastores, Dias chegou a afirmar que Lula é um “homem de Deus”. Na ocasião, o chefe do Executivo estava em Portugal.

Segundo o pastor e ex-deputado estadual Dilmo dos Santos, secretário da Conamad, o convite a governantes é de praxe da convenção. “A igreja está sempre disposta (a dialogar). Sempre há uma necessidade de aproximação de qualquer que seja o governo, independentemente que seja de direita ou de esquerda. A Bíblia nos diz para orar por qual seja a autoridade, então nós estamos pedindo a Deus que (o governo) dê certo”, afirmou.

Eleito após uma campanha na qual o tema religião esteve no centro do debate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou os quatro primeiros meses de mandato sem dar sinais de aproximação com os evangélicos. A agenda presidencial revela que o petista não recebeu nenhum líder religioso em seu gabinete no Palácio do Planalto em quatro meses, além de ter evitado aparições públicas ao lado de líderes evangélicos.

A estratégia sinalizada pelo governo é a de não misturar política com religião. Em 2010, segundo o Censo, 22% da população brasileira se declarava evangélica. Em 2000, eram 15%. Segundo pesquisa Datafolha de junho do ano passado, 26% dos brasileiros professavam a fé evangélica. O levantamento feito pelo instituto no mês passado mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, acima da média geral.

PL das Fake News

Nesta semana, o novo governo não conseguiu colocar em votação na Câmara dos Deputados o PL das Fake News, apelidado de “PL da Censura” entre os membros da Bancada Evangélica, que se articulou em peso para enterrar o projeto.

O pastor Paulo Marcelo Schallenberger, líder da Assembleia de Deus que apoiou Lula na campanha eleitoral, aponta a necessidade de o governo “reagir” por meio de mais diálogo com a população evangélica. Argumentou, ainda, que lideranças mais maleáveis, “que não foram tão agressivas” contra o petista na campanha, deveriam ser convidadas para opinar sobre o que pode ser feito nesse sentido.

PL das Fake News poderia ter agradado aos evangélicos, opina o pastor Alexandre Gonçalves. Foto: Wilton Junior/Estadão

“Eu entendo que o governo tem que falar com o povo evangélico, com a população brasileira evangélica; não só eu, como muitos outros líderes também pensam dessa forma”, disse. “O País é laico, mas dentro dessa laicidade pode-se encontrar um braço possível. Fala-se com os movimentos negros, LGBTQIA+, com diversos segmentos da sociedade; acho que falta, dentro desse processo de pacificação, um braço da comunicação do governo para falar com os evangélicos.”

O pastor Alexandre Gonçalves, líder do Movimento Cristãos Trabalhistas, avalia que o conteúdo do projeto poderia, inclusive, agradar ao segmento, se a ala conservadora do Congresso não tivesse capturado a simpatia dos evangélicos em torno do tema nas redes. “Acho que teria grande chance de ter apoio dos evangélicos. Muita gente se preocupa com a internet, com o que os filhos veem, principalmente na questão das crianças e dos adolescentes, é um assunto que mexe muito com as famílias”, disse.

Procurada para comentar possibilidades de diálogo com esse grupo religioso, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou que, nos primeiros 120 dias de governo, “o presidente Lula se dedicou ao projeto de reconstrução de políticas públicas e sociais e à reinserção do Brasil no mundo com viagens ao exterior”. Disse, ainda, que “o governo está instituindo órgãos de participação social dos mais diversos setores, incluindo líderes religiosos evangélicos e de outras manifestações religiosas”.

Vácuo

O ex-presidente Michel Temer (MDB) recebeu o presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), Robson Rodovalho, em seu gabinete no dia 8 de julho de 2016, menos de dois meses após assumir o Planalto. Jair Bolsonaro reuniu-se com pastores pela primeira vez em 18 de fevereiro de 2019, no segundo mês do seu governo.

Já Lula, que endereçou carta aos evangélicos em outubro do ano passado durante a campanha, optou por não acenar nem se reunir com representantes de nenhuma religião até o momento.

Lula teve encontros com evangélicos na reta final da campanha, em 2022. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Diretor do instituto de pesquisa Quaest, o cientista político Felipe Nunes avalia que o chefe do Executivo pode falhar no cálculo eleitoral se não dialogar com esse grupo. “O governo precisa traçar uma estratégia de aproximação com esse público ou vai deixar um vácuo que será ocupado, como tem sido, pela oposição”, afirma.

Pesquisa do instituto divulgada em abril evidencia o desafio. O levantamento mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, mesmo patamar de grupos historicamente avessos ao petista, como quem tem renda mensal acima de cinco salários mínimos (38%). Segundo sondagem do Datafolha divulgada no início de abril, evangélicos estão ao lado dos mais ricos e dos moradores da região Sul com as menores taxas de aprovação do petista.

Para o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP), os acenos de Lula durante a campanha foram “falas para conquistar religiosos”, mas que, agora, “não há clima” para uma aproximação.

“Não há relação alguma entre o governo e as principais lideranças evangélicas brasileiras. Não houve nenhuma manifestação do governo em se aproximar, até porque não há clima. O que (Lula) fala de pé, não sustenta sentado, quando o assunto são as pautas que para nós são extremamente caras. (Foram) Falas para conquistar religiosos. Embora sempre tenha um ou outro religioso tentando fazer uma ponte, acredito sinceramente que não acontecerá essa aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT”, disse.

'Acredito sinceramente que não acontecerá aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT', disse Marco Feliciano (PL-SP). Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados

‘Pedindo a Deus’

Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e autor no Observatório Evangélico, Vinicius do Valle avalia que, em relação aos evangélicos, o cenário nas pesquisas recentes ainda acompanha o quadro eleitoral, ou seja, houve pouca movimentação desse eleitorado entre outubro do ano passado e hoje. “Dada a mobilização feita por pastores na eleição, não se poderia esperar nada diferente. Foi uma mobilização longa e forte que cristalizou opiniões. Fazer uma mudança dentro desse segmento é algo que demanda mais tempo”, afirmou.

“O governo está entendendo que é preciso dar tempo, mas caso se prolongue muito perderá a oportunidade de aproximação, (e os evangélicos) acabam se consolidando como oposição. É necessário ter cautela, mas precisa fazer sinalizações de que está aberto a conversar. Ignorar esse publico é uma estratégia suicida”, acrescentou.

Valle, porém, já vê sinais de que algumas lideranças queiram estreitar laços com o presidente. No dia 21 de abril, o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, participaram da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (Conamad), em Brasília. Durante o evento, que reuniu cerca de oito mil pastores, Dias chegou a afirmar que Lula é um “homem de Deus”. Na ocasião, o chefe do Executivo estava em Portugal.

Segundo o pastor e ex-deputado estadual Dilmo dos Santos, secretário da Conamad, o convite a governantes é de praxe da convenção. “A igreja está sempre disposta (a dialogar). Sempre há uma necessidade de aproximação de qualquer que seja o governo, independentemente que seja de direita ou de esquerda. A Bíblia nos diz para orar por qual seja a autoridade, então nós estamos pedindo a Deus que (o governo) dê certo”, afirmou.

Eleito após uma campanha na qual o tema religião esteve no centro do debate, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou os quatro primeiros meses de mandato sem dar sinais de aproximação com os evangélicos. A agenda presidencial revela que o petista não recebeu nenhum líder religioso em seu gabinete no Palácio do Planalto em quatro meses, além de ter evitado aparições públicas ao lado de líderes evangélicos.

A estratégia sinalizada pelo governo é a de não misturar política com religião. Em 2010, segundo o Censo, 22% da população brasileira se declarava evangélica. Em 2000, eram 15%. Segundo pesquisa Datafolha de junho do ano passado, 26% dos brasileiros professavam a fé evangélica. O levantamento feito pelo instituto no mês passado mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, acima da média geral.

PL das Fake News

Nesta semana, o novo governo não conseguiu colocar em votação na Câmara dos Deputados o PL das Fake News, apelidado de “PL da Censura” entre os membros da Bancada Evangélica, que se articulou em peso para enterrar o projeto.

O pastor Paulo Marcelo Schallenberger, líder da Assembleia de Deus que apoiou Lula na campanha eleitoral, aponta a necessidade de o governo “reagir” por meio de mais diálogo com a população evangélica. Argumentou, ainda, que lideranças mais maleáveis, “que não foram tão agressivas” contra o petista na campanha, deveriam ser convidadas para opinar sobre o que pode ser feito nesse sentido.

PL das Fake News poderia ter agradado aos evangélicos, opina o pastor Alexandre Gonçalves. Foto: Wilton Junior/Estadão

“Eu entendo que o governo tem que falar com o povo evangélico, com a população brasileira evangélica; não só eu, como muitos outros líderes também pensam dessa forma”, disse. “O País é laico, mas dentro dessa laicidade pode-se encontrar um braço possível. Fala-se com os movimentos negros, LGBTQIA+, com diversos segmentos da sociedade; acho que falta, dentro desse processo de pacificação, um braço da comunicação do governo para falar com os evangélicos.”

O pastor Alexandre Gonçalves, líder do Movimento Cristãos Trabalhistas, avalia que o conteúdo do projeto poderia, inclusive, agradar ao segmento, se a ala conservadora do Congresso não tivesse capturado a simpatia dos evangélicos em torno do tema nas redes. “Acho que teria grande chance de ter apoio dos evangélicos. Muita gente se preocupa com a internet, com o que os filhos veem, principalmente na questão das crianças e dos adolescentes, é um assunto que mexe muito com as famílias”, disse.

Procurada para comentar possibilidades de diálogo com esse grupo religioso, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou que, nos primeiros 120 dias de governo, “o presidente Lula se dedicou ao projeto de reconstrução de políticas públicas e sociais e à reinserção do Brasil no mundo com viagens ao exterior”. Disse, ainda, que “o governo está instituindo órgãos de participação social dos mais diversos setores, incluindo líderes religiosos evangélicos e de outras manifestações religiosas”.

Vácuo

O ex-presidente Michel Temer (MDB) recebeu o presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab), Robson Rodovalho, em seu gabinete no dia 8 de julho de 2016, menos de dois meses após assumir o Planalto. Jair Bolsonaro reuniu-se com pastores pela primeira vez em 18 de fevereiro de 2019, no segundo mês do seu governo.

Já Lula, que endereçou carta aos evangélicos em outubro do ano passado durante a campanha, optou por não acenar nem se reunir com representantes de nenhuma religião até o momento.

Lula teve encontros com evangélicos na reta final da campanha, em 2022. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Diretor do instituto de pesquisa Quaest, o cientista político Felipe Nunes avalia que o chefe do Executivo pode falhar no cálculo eleitoral se não dialogar com esse grupo. “O governo precisa traçar uma estratégia de aproximação com esse público ou vai deixar um vácuo que será ocupado, como tem sido, pela oposição”, afirma.

Pesquisa do instituto divulgada em abril evidencia o desafio. O levantamento mostra que a desaprovação da gestão Lula entre evangélicos é de 39%, mesmo patamar de grupos historicamente avessos ao petista, como quem tem renda mensal acima de cinco salários mínimos (38%). Segundo sondagem do Datafolha divulgada no início de abril, evangélicos estão ao lado dos mais ricos e dos moradores da região Sul com as menores taxas de aprovação do petista.

Para o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP), os acenos de Lula durante a campanha foram “falas para conquistar religiosos”, mas que, agora, “não há clima” para uma aproximação.

“Não há relação alguma entre o governo e as principais lideranças evangélicas brasileiras. Não houve nenhuma manifestação do governo em se aproximar, até porque não há clima. O que (Lula) fala de pé, não sustenta sentado, quando o assunto são as pautas que para nós são extremamente caras. (Foram) Falas para conquistar religiosos. Embora sempre tenha um ou outro religioso tentando fazer uma ponte, acredito sinceramente que não acontecerá essa aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT”, disse.

'Acredito sinceramente que não acontecerá aproximação, por conta do imenso muro criado pelo próprio PT', disse Marco Feliciano (PL-SP). Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados

‘Pedindo a Deus’

Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e autor no Observatório Evangélico, Vinicius do Valle avalia que, em relação aos evangélicos, o cenário nas pesquisas recentes ainda acompanha o quadro eleitoral, ou seja, houve pouca movimentação desse eleitorado entre outubro do ano passado e hoje. “Dada a mobilização feita por pastores na eleição, não se poderia esperar nada diferente. Foi uma mobilização longa e forte que cristalizou opiniões. Fazer uma mudança dentro desse segmento é algo que demanda mais tempo”, afirmou.

“O governo está entendendo que é preciso dar tempo, mas caso se prolongue muito perderá a oportunidade de aproximação, (e os evangélicos) acabam se consolidando como oposição. É necessário ter cautela, mas precisa fazer sinalizações de que está aberto a conversar. Ignorar esse publico é uma estratégia suicida”, acrescentou.

Valle, porém, já vê sinais de que algumas lideranças queiram estreitar laços com o presidente. No dia 21 de abril, o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, participaram da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (Conamad), em Brasília. Durante o evento, que reuniu cerca de oito mil pastores, Dias chegou a afirmar que Lula é um “homem de Deus”. Na ocasião, o chefe do Executivo estava em Portugal.

Segundo o pastor e ex-deputado estadual Dilmo dos Santos, secretário da Conamad, o convite a governantes é de praxe da convenção. “A igreja está sempre disposta (a dialogar). Sempre há uma necessidade de aproximação de qualquer que seja o governo, independentemente que seja de direita ou de esquerda. A Bíblia nos diz para orar por qual seja a autoridade, então nós estamos pedindo a Deus que (o governo) dê certo”, afirmou.

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