BRASÍLIA – A demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras e a transferência do titular da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, para o cargo de ministro extraordinário da reconstrução do Rio Grande do Sul anteciparam os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma reforma ministerial. As mudanças, porém, não serão feitas de uma só vez.
A cadeira de Pimenta está ocupada interinamente pelo jornalista Laércio Portela, que já trabalhou com Lula em seus dois mandatos anteriores. Mas o tom da comunicação do governo será dado, cada vez mais, pelo publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha de Lula, em 2022.
No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente dizem que Pimenta não tem prazo para retornar a Brasília e ficará no Rio Grande do Sul no mínimo até o fim deste ano. A tarefa do ministro, que sonha em disputar o Palácio Piratini, em 2026, é coordenar as ações do governo federal no Estado para enfrentar a situação de calamidade provocada pelas fortes chuvas.
Diante desse cenário, e com perda de popularidade, Lula terá de escolher um ministro para a Secom. O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, é até agora o nome mais cotado tanto para assumir a vaga de Pimenta como para presidir o PT, mas, no caso do partido, seria somente a partir de 2025, quando Gleisi Hoffmann deixa o cargo. A ida de Gleisi para o governo, aliás, é dada como certa no ano que vem, mas Lula ainda não definiu para qual lugar.
Edinho foi ministro da Secom no governo Dilma Rousseff e não pode disputar a reeleição como prefeito. Já avisou, no entanto, que pretende ficar em Araraquara até o fim do mandato, em dezembro. Na semana passada, ele acompanhou a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao Rio Grande do Sul e a orientou na comunicação, principalmente nas redes sociais.
Como mostrou o Estadão, Lula já disse que planeja dar um “chacoalhão” no governo. O presidente quer uma guinada na comunicação para se aproximar da classe média, dos evangélicos e do agronegócio, setores onde enfrenta maior rejeição.
Não foi à toa que ele recorreu a Sidônio para melhorar sua imagem e a de ministros como a da Saúde, Nísia Trindade, num momento de crise política com o Congresso.
No auge da tensão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a chamar o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de “incompetente” e pediu explicações a Nísia sobre a distribuição de emendas parlamentares.
As mudanças no primeiro escalão estavam previstas para depois das eleições municipais de outubro, mas em várias conversas reservadas Lula admitiu insatisfação com integrantes da equipe, como os ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social).
Agora, a sucessão na Petrobras e a ida de Pimenta para o Rio Grande do Sul têm sido vistas pela cúpula do PT e também por partidos do Centrão como o pontapé inicial para a reforma.
Ideia é fazer trocas pontuais no time
A ideia do presidente, porém, é fazer mudanças pontuais no ministério, porque sabe que terá de mexer em algumas peças após o resultado das eleições, dependendo da nova configuração de forças políticas saída das urnas.
Lula quer fortalecer o PT para 2026, quando pretende disputar a reeleição, e se mostra preocupado com o que acontecerá com o partido após ele deixar o Palácio do Planalto.
O Centrão, grupo de Arthur Lira, ainda está de olho na cadeira de Nísia e pressiona Lula para trocar Padilha. Em café da manhã com jornalistas, no último dia 23, o presidente disse que não tinha nenhuma reforma na cabeça naquele momento. “Mas eu não conheço um técnico que, quando o time entra em campo, anuncia quem ele vai tirar”, observou.
Responsável pela articulação com os movimentos sociais, Márcio Macêdo foi criticado publicamente por Lula no palanque das comemorações do 1.º de Maio, em São Paulo, por causa da falta de público na festa, considerada um fiasco. Na ocasião, o presidente pediu votos para o deputado Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, com apoio do PT.
Um dos cenários em estudo por Lula prevê tirar Macêdo da Secretaria-Geral da Presidência, que poderá ficar com Pimenta quando ele retornar a Brasília. O presidente ainda não sabe onde encaixará Macêdo.
Wellington Dias, por sua vez, deverá retornar ao Senado. Lula tem dito que precisa de reforço na Casa de Salão Azul. Dirigentes de vários partidos, e até mesmo do PT, avaliam que a direita vai engordar e ganhará cadeiras na disputa de 2026.
A expectativa é de que Magda estabeleça uma linha direta com Lula, como a então presidente Dilma manteve com Maria das Graças Foster, que comandava a Petrobras. Tratada como petista histórica, Magda sempre defendeu bandeiras que provocaram controvérsias no passado, como a exigência de conteúdo local na indústria do petróleo, quando chefiou a Agência Nacional do Petróleo (ANP) no governo Dilma.
Magoado por não ter sido defendido pela cúpula do PT, Jean Paul Prates avalia a possibilidade de deixar o partido, após ser demitido por Lula na frente dos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira, seus desafetos.
“Não sei se ficarei no PT depois dessa”, escreveu Prates, na madrugada desta quarta-feira, 15, em mensagem enviada para um amigo, à qual o Estadão teve acesso. “A forma dessa demissão foi muito humilhante. O partido não trata dos seus quadros. Está condenado a envelhecer e se perder em meio a alianças cada vez mais exigentes e perigosas.”
Na Saúde, embora o Centrão mire o posto ocupado por Nísia Trindade, que comanda um orçamento de R$ 232,90 bilhões – um dos maiores da Esplanada –, ela tem reagido.
Logo no início da crise do Rio Grande do Sul, por exemplo, Nísia se reuniu com parlamentares gaúchos e prometeu liberar imediatamente todo o volume de emendas individuais reservadas para ações de saúde. Em seguida, Padilha informou a deputados e senadores dos demais Estados que todas as emendas daquela pasta seriam liberadas até junho.
Tebet recebe críticas e é alvo de fogo amigo
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também é alvo de fogo amigo por parte do PT. Gleisi e outros dirigentes do partido, além de ministros, mostraram indignação quando ela defendeu a desvinculação dos benefícios da Previdência da política de aumento real do salário mínimo.
“Sou totalmente contra essa proposta, que acho absurda”, disse o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. “Se é para apresentar uma proposta dessas, vamos logo acabar com a política de valorização permanente do salário mínimo.”
Ao Estadão, dias depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que haja estudos nesse sentido no governo e se mostrou contrário à iniciativa.
As declarações de Haddad provocaram desconfiança na cúpula do PT. Na avaliação de dirigentes do partido, o ministro combinou o jogo com Tebet para medir o impacto da informação sobre uma possível desvinculação do pagamento das aposentadorias do INSS do reajuste do mínimo.
De qualquer forma, Lula não pretende trocar Tebet por enquanto, embora não sejam poucos os interessados na vaga. Na Fazenda, integrantes da equipe econômica avaliam que a titular do Planejamento vem tendo uma gestão “apagada”, mas, ao menos, não atrapalha Haddad.