RIO DE JANEIRO - No primeiro turno das eleições municipais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reduziu as viagens a quatro cidades fora do Estado de São Paulo, escolhidas não apenas pelos aliados que quer ajudar, mas pelos inimigos que espera ver derrotados. Em cada um desses palanques, Lula foi tão contundente nos elogios aos companheiros quanto nos ataques aos adversários. Em Manaus, chegou a dizer que, mesmo que não conhecesse a senadora Vanessa Grazziotin, candidata do PC do B à prefeitura, pediria votos para ela apenas para derrotar Artur Virgílio Neto, ex-prefeito e ex-senador que disputa pelo PSDB.
Em 2010, Lula ajudou a evitar a reeleição do tucano, que perdeu a cadeira no Senado para Vanessa. O petista, no entanto, quer ver a segunda derrota do adversário. Para Artur Virgílio, agora sem mandato, a disputa pela prefeitura tem gosto de revanche, embora o tucano diga não guardar ressentimentos. As pesquisas indicam empate técnico entre os dois candidatos.
Em Belo Horizonte o ex-governador e senador Aécio Neves (PSDB), possível candidato à Presidência da República em 2014, é o adversário que Lula quer vencer. As pesquisas, porém, indicam vitória no primeiro turno do aliado do tucano, o atual prefeito Marcio Lacerda (PSB), contra o petista Patrus Ananias. Na capital mineira, Lula adotou tom dramático ao dizer que a aliança PSB-PSDB quer "destruir" o PT e ainda provocou o governador tucano Antonio Anastasia, dizendo que o Estado de Minas Gerais está quebrado. Aécio respondeu lembrando o julgamento do mensalão e dizendo que o PT usa "o dinheiro público como se fosse do partido". O bate-boca continuou nesta semana, entre Aécio e a presidente Dilma Rousseff, que fez campanha para Patrus na última quarta-feira, 3.
O script em tom agressivo de Lula se repetiu na Bahia. O ex-presidente foi a duas cidades com o mesmo objetivo de pregar contra a volta do carlismo, o movimento liderado durante quase 40 anos pelo governador e senador Antonio Carlos Magalhães, avô do deputado ACM Neto, que disputa a prefeitura de Salvador com o petista Nelson Pelegrino. No comício da Praça Castro Alves, Lula disse fazer questão de voltar à capital baiana para comemorar a derrota de ACM Neto. Lembrou o estilo "truculento" de ACM avô, insinuou que o candidato do DEM trataria os camelôs com violência e lembrou o episódio em que o opositor disse, em 2005, ter vontade de dar uma "surra" em Lula.
O ex-presidente também foi a Feira de Santana, contrariando o diretório nacional e atendendo a um pedido do governador petista Jaques Wagner. Lá, o candidato petista, José Neto, tem poucas chances de vencer José Ronaldo, do DEM, mas Lula fez questão de subir no palanque para dizer que "muito coronel, muito mandachuva já governou esta cidade". Nas duas cidades baianas, Lula destacou a volta do carlismo como um "retrocesso" que precisa ser evitado.
"Ao mesmo tempo que exalta qualidades dos aliados e usa o tom emocional de sempre, Lula faz o discurso negativo para desconstruir a candidatura dos adversários. Em Salvador, ele trouxe de volta um tema que estava fora desta eleição, que foi o ACM Neto dizer que tinha vontade de dar uma surra em Lula. Depois do comício que Lula lembrou este episódio no comício com Pelegrino, o assunto apareceu com muita força", diz o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Wilson Gomes, que se dedica ao estudo de comunicação e política.
Gomes lembra que, em 2010, Lula se empenhou pela derrota de seus opositores mais ferrenhos no Congresso. Além de Artur Virgílio, comemorou o mau desempenho de Tasso Jereissati (PSDB-CE), que não conseguiu se reeleger senador e este ano não se engajou na campanha eleitoral. Ainda presidente, em visita ao Ceará depois da eleição de 2010, Lula comemorou a derrota de Tasso e disse que os eleitores fizeram "um favor tremendo".
Segundo o pesquisador Wilson Gomes, o efeito dos comícios com Lula é produzir material para a propaganda eleitoral. "Os comícios praticamente deixaram de existir, mas são retomados quando há a presença de Lula. Os discursos são bastante fortes e ocupam grande parte do programa de rádio e TV. Em 2010, Lula conseguiu derrotar Artur Virgílio e Tasso Jereissati. Mas naquela época ele era presidente e tinha vigor físico. Vamos ver agora, como ex-presidente e depois do tratamento contra o câncer, qual será o efeito da participação de Lula nas campanhas", diz.
Com Tasso Jereissati afastado da política, os irmãos Cid e Ciro Gomes, do PSB, aliados em 2010 são os adversários que Lula quer vencer em Fortaleza. Os socialistas decidiram lançar candidato próprio à prefeitura da capital, Roberto Cláudio, contra Elmano de Freitas, do PT. O ex-presidente irá à capital cearense no segundo turno, que será disputado entre o petista e o socialista.