Lula fará carta a evangélicos sobre respeito à liberdade religiosa; leia entrevista com coordenador


Edinho Silva, um dos responsáveis pela comunicação da chapa, diz também que tática de usar na campanha temas com canibalismo e aborto foi uma reação após ‘ataques nas redes sociais’

Por Beatriz Bulla
Atualização:

A campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva entra na segunda semana após o primeiro turno das eleições confiante de que os apoios anunciados ao ex-presidente irão se traduzir em votos. A avaliação de Edinho Silva (PT), um dos coordenadores de comunicação da campanha de Lula, é de que Simone Tebet (MDB) será “decisiva” no interior de São Paulo e que o PT fez o “movimento mais sólido” de ampliação do eleitorado.

A preocupação na campanha, segundo ele, é com a divulgação de informações falsas na véspera da eleição e com o poder da máquina pública em uso pelo seu adversário, Jair Bolsonaro (PL). “Em alguns momentos nós não estamos enfrentando o candidato, estamos enfrentando o Estado brasileiro”, afirma Edinho, que é prefeito de Araraquara e está na linha de frente da campanha de Lula. No domingo, o Estadão publicou entrevista com o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), que integra o núcleo próximo de assessores do presidente Jair Bolsonaro (PL), na qual ele diz confiar numa virada no segundo turno pelo fato de, na sua visão, Lula já ter alcançado o seu teto de votos.

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O petista, que foi secretário de Comunicação Social da Presidência no governo Dilma Rousseff (PT), diz que a campanha apenas “reagiu” ao associar Bolsonaro ao canibalismo e ao aborto. Nesta entrevista, ele também afirma que Lula está aberto a sugestões dos novos aliados e, por isso, irá divulgar uma carta de aceno a evangélicos. Ele deve também detalhar novas propostas aos eleitores.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu a adesão de ex-adversários políticos para a sua campanha.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 3/10/2022
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Leia abaixo trechos da entrevista com Edinho Silva:

O PT subestimou a força de Bolsonaro no primeiro turno?

Nós sempre reconhecemos que a campanha dele tinha força. Em 2018, Bolsonaro hegemonizou o discurso antissistema, mesmo tendo 30 anos de mandato de deputado, pela postura, pelo discurso. Nós sabíamos que um tsunami político tinha passado pelo Brasil em 2018 e que não se repetiria em 2022, mas que uma parte dessa movimentação orgânica permaneceria. Tínhamos uma leitura racional do que é que estamos enfrentando. O bolsonarismo é infinitamente maior do que o Bolsonaro. Como integrante da coordenação, nunca presenciei uma avaliação de menosprezo, e sim de reconhecimento. E sabíamos que a eleição resolvida no primeiro turno seria a exceção da exceção. A exceção não se caracterizou, tanto é que nós estávamos preparados, mobilizados, organizados para o segundo turno.

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O último Datafolha mostra uma mudança nos níveis de rejeição, com uma piora no quadro para Lula - embora o presidente tenha índice de reprovação superior do que o petista. A que a campanha credita isso?

Penso que é ainda reflexo da onda final da campanha do Bolsonaro. Nós sabíamos que teríamos uma mobilização de voto útil pró-Lula, mas também uma mobilização de voto útil pró-Bolsonaro. E uma parte daqueles que se declaravam indecisos na verdade eram votos bolsonaristas envergonhados. Essa onda na reta final foi pró-Bolsonaro e certamente ela repercutiu na primeira pesquisa, que, na verdade, é a fotografia da urna.

Segundo turno é a disputa de ampliação e disputa de rejeição. Nós estamos fazendo todos os movimentos para ampliação. E acho que são consistentes. A terceira colocada está conosco e o quarto colocado também está conosco. O movimento mais sólido de ampliação junto ao eleitorado é nosso. O grande desafio é entender a movimentação do bolsonarismo e criar o contraponto nos estados.

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O senhor é prefeito. Qual é o poder do Bolsonaro de mobilização das prefeituras no Sudeste ao fazer a aliança com os governadores dos três Estados?

É inegável que ele faz um momento importante, principalmente no Rio de Janeiro e em Minas. Em São Paulo é diferente, porque (Rodrigo Garcia) é um governador muito recente e que não leva o partido junto, então vai provocar uma divisão no eleitorado tucano, não tenho nenhuma dúvida disso. O governador é cristão novo no PSDB e os tucanos mais históricos de São Paulo declaram apoio para nós. No Rio, Lula dificilmente perde na capital, nosso desafio é na Baixada Fluminense e no interior, que é onde nós estamos costurando o apoio das lideranças regionais. Em Minas, nosso maior desafio é no sul do Estado.

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O desempenho no interior de SP frustrou a campanha. O fator Alckmin não entregou o que o PT imaginava?

O interior de São Paulo é historicamente mais conservador. O governador Geraldo Alckmin foi uma liderança importante no primeiro turno e tende a ser mais importante ainda no segundo turno. Nosso desempenho em São Paulo está muito além do que foi o nosso desempenho histórico. Ter o Haddad no segundo turno de forma tão competitiva é uma imensa vitória. O apoio do Alckmin e da Simone Tebet (MDB) vão ajudar muito.

Qual será o papel da Simone?

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Ela é uma figura central. O apoio dela é extremamente importante, no interior de São Paulo, também na disputa de setores médios no Rio Grande do Sul, setores médios de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Ela na televisão nos ajuda principalmente no diálogo com as mulheres dos setores médios, que se identificam muito com ela. Em São Paulo, ela é decisiva.

Em 2018, o Mano Brown, em um palanque de Haddad, sugeriu que o PT tinha perdido a capacidade de falar a língua do povo. Figuras de fora do partido foram agregadas à campanha em 2022 com expectativa de que aumentem a penetração na classe média: Alckmin, Simone... Qual a dificuldade do PT de dialogar com a classe média?

Se você pensar que o Lula teve 48% dos votos no primeiro turno… está acima do nosso teto histórico. O Lula ofereceu ao PT a oportunidade de superação de suas dificuldades pela força e pela empatia com o povo brasileiro. Mas, claro, ninguém é unânime. Há esse setor médio mais conservador, que devido a tudo o que o PT passou nos últimos anos, tudo o que nós sofremos, criou um antipetismo. Com esses setores médios que têm racionalidade - porque tem um setor que você não consegue chamar à razão -, figuras como Simone e Alckmin nos ajudam muito.

Um dos coordenadores da campanha do ex-presidente Lula, o ex-prefeito Edinho Silva, durante entrevista para o Estadão nesta segunda-feira, 10, em São Paulo. Foto: Marcelo Chello/Estadão

Qual a preocupação da campanha hoje?

Nós temos as melhores propostas, o melhor candidato, que é a maior liderança política do país, nós só temos que minimamente ter condições de disputar com regras iguais, que é algo que não está acontecendo. Não existe na história brasileira nenhuma eleição que tenha usado tanto a máquina pública. É algo que coloca em xeque o instituto da reeleição. Como um presidente usa a máquina como ele está usando e não há nenhuma reação do poder judiciário? É crime eleitoral atrás de crime eleitoral. Em 2024, quando qualquer vendaval passar em qualquer cidade, o prefeito vai decretar calamidade pública. Como fazem consignado com transferência de renda? É um negócio absurdo.

Se o Estado não garantir regras iguais para a disputa eleitoral e processo de reeleição, tem que acabar com a reeleição. É um precedente absurdo. Isso é grave. Agora, nós vamos tocar a campanha. Em alguns momentos nós não estamos enfrentando o candidato, estamos enfrentando o Estado brasileiro. Eu já vi prefeito ser cassado por motivos infinitamente menores. Eu penso que o Brasil que sai dessas eleições é um Brasil que vai enterrar a reeleição.

A campanha decidiu entrar na disputa da pauta de costumes e da pauta religiosa com Bolsonaro?

Não, não vamos entrar. Só o bolsonarismo consegue guerrear e sabe guerrear nesse ambiente. Nós ganhamos corações e mentes quando nós discutirmos a vida do povo brasileiro: inflação, desemprego, renda, perspectiva de futuro. Nós temos cada vez mais discutir o país com ele, Brasil com ele, discutir que projeto de país ele tem. Ele não tem projeto, por isso que ele vai sempre no debate de costumes.

Mas por que a campanha petista abordou nas peças de propaganda, então, canibalismo, aborto…?

Nós reagimos. No sábado ou domingo (da eleição) fizemos reunião da coordenação e nós nos falamos ‘vai vir um ataque violento nas redes sociais’. A legislação brasileira precisa mudar. Você não pode ter uma avalanche de fake news em dois dias para influenciar o comportamento das pessoas. Isso é crime. Eu penso que inclusive o autor de fake news para influenciar em processo eleitoral deveria ser punido com rigor maior, porque se está ofendendo e ferindo a democracia. Você não pode tratar isso como se fosse uma mentira publicada em redes sociais. Isso deveria ser um crime inafiançável, porque a pessoa está articulando algo para interferir na disputa eleitoral. Isso aconteceu no sábado e no domingo no Brasil. Não estamos tirando o debate do campo da economia, do campo da vida do brasileiro, mas é natural que a campanha se defenda.

Último ato da campanha de Lula para o primeiro turno ocorreu no dia 1º de outubro, em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão

Apoiador de Lula, o deputado federal André Janones (Avante-MG) usa a mesma estratégia dos aliados de Bolsonaro nas redes sociais, com divulgação de informações distorcidas contra a campanha do presidente. Segundo ele, é uma tática de “guerra”. A campanha de Lula concorda com a atuação de Janones?

O Janones não é da coordenação de comunicação da campanha. Mas ele é uma liderança nacional, era candidato à presidência da República, e se construiu nas redes sociais, então ele tem legitimidade para dialogar nas redes. A campanha não vai cercear o Janones pela forma como ele se comunica, ele tem autonomia para tanto, mas isso não é articulado ou discutido na campanha.

A carta de Lula aos evangélicos, afinal, vai existir?

Vai, ela está sendo construída.

O ex-presidente Lula era resistente a essa ideia, chegou a negar publicamente na semana passada. O que mudou?

Quando você amplia seu leque de apoio, tem que ampliar também sua concepção. Várias lideranças evangélicas que chegaram no segundo turno acham que é importante ter carta e ele está ouvindo. Ele vai pôr no papel o que sempre fez: que vai respeitar a liberdade religiosa.

Simone Tebet disse que foi um erro ele não detalhar mais as propostas no primeiro turno. Isso vai mudar no segundo turno?

Você não pode trazer apoio sem que você ouça os apoios. Se a Simone acha que é importante detalhar, nós vamos detalhar as propostas que ela acha importante, não tem problema nenhum.

O ex-presidente Lula falou sobre regulamentação da mídia ao longo da campanha…

Isso não tem a menor relevância. Em nenhum momento nunca foi nem conversado.

Isso fará parte de um eventual governo?

Acho impossível, pela concepção do presidente. Ele vai encontrar um Brasil destruído e isso não tem relevância para quatro anos de governo, porque o governo do presidente Lula será um governo de transição, ele já disse isso. Será um governo que pegará o Brasil com as instituições destruídas, desorganizadas, com a democracia em risco, com todas as políticas públicas desorganizadas, o dinheiro sendo liberado no Brasil sem nenhum critério. O que tem é a liberação de dinheiro a esmo, sem nenhum critério, com finalidade de manutenção da governabilidade. Então, o presidente pega um país desorganizado, com democracia realmente vulnerável, as instituições atacadas, desemprego, fome, miséria, exclusão. Enfim, essas são as prioridades do presidente e eu penso que o seu governo será centrado nessas prioridades. Por mais que muitas vezes esse debate apareça, ele não é um debate, nesse momento, fundamental da história brasileira.

A campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva entra na segunda semana após o primeiro turno das eleições confiante de que os apoios anunciados ao ex-presidente irão se traduzir em votos. A avaliação de Edinho Silva (PT), um dos coordenadores de comunicação da campanha de Lula, é de que Simone Tebet (MDB) será “decisiva” no interior de São Paulo e que o PT fez o “movimento mais sólido” de ampliação do eleitorado.

A preocupação na campanha, segundo ele, é com a divulgação de informações falsas na véspera da eleição e com o poder da máquina pública em uso pelo seu adversário, Jair Bolsonaro (PL). “Em alguns momentos nós não estamos enfrentando o candidato, estamos enfrentando o Estado brasileiro”, afirma Edinho, que é prefeito de Araraquara e está na linha de frente da campanha de Lula. No domingo, o Estadão publicou entrevista com o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), que integra o núcleo próximo de assessores do presidente Jair Bolsonaro (PL), na qual ele diz confiar numa virada no segundo turno pelo fato de, na sua visão, Lula já ter alcançado o seu teto de votos.

O petista, que foi secretário de Comunicação Social da Presidência no governo Dilma Rousseff (PT), diz que a campanha apenas “reagiu” ao associar Bolsonaro ao canibalismo e ao aborto. Nesta entrevista, ele também afirma que Lula está aberto a sugestões dos novos aliados e, por isso, irá divulgar uma carta de aceno a evangélicos. Ele deve também detalhar novas propostas aos eleitores.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu a adesão de ex-adversários políticos para a sua campanha.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 3/10/2022

Leia abaixo trechos da entrevista com Edinho Silva:

O PT subestimou a força de Bolsonaro no primeiro turno?

Nós sempre reconhecemos que a campanha dele tinha força. Em 2018, Bolsonaro hegemonizou o discurso antissistema, mesmo tendo 30 anos de mandato de deputado, pela postura, pelo discurso. Nós sabíamos que um tsunami político tinha passado pelo Brasil em 2018 e que não se repetiria em 2022, mas que uma parte dessa movimentação orgânica permaneceria. Tínhamos uma leitura racional do que é que estamos enfrentando. O bolsonarismo é infinitamente maior do que o Bolsonaro. Como integrante da coordenação, nunca presenciei uma avaliação de menosprezo, e sim de reconhecimento. E sabíamos que a eleição resolvida no primeiro turno seria a exceção da exceção. A exceção não se caracterizou, tanto é que nós estávamos preparados, mobilizados, organizados para o segundo turno.

O último Datafolha mostra uma mudança nos níveis de rejeição, com uma piora no quadro para Lula - embora o presidente tenha índice de reprovação superior do que o petista. A que a campanha credita isso?

Penso que é ainda reflexo da onda final da campanha do Bolsonaro. Nós sabíamos que teríamos uma mobilização de voto útil pró-Lula, mas também uma mobilização de voto útil pró-Bolsonaro. E uma parte daqueles que se declaravam indecisos na verdade eram votos bolsonaristas envergonhados. Essa onda na reta final foi pró-Bolsonaro e certamente ela repercutiu na primeira pesquisa, que, na verdade, é a fotografia da urna.

Segundo turno é a disputa de ampliação e disputa de rejeição. Nós estamos fazendo todos os movimentos para ampliação. E acho que são consistentes. A terceira colocada está conosco e o quarto colocado também está conosco. O movimento mais sólido de ampliação junto ao eleitorado é nosso. O grande desafio é entender a movimentação do bolsonarismo e criar o contraponto nos estados.

O senhor é prefeito. Qual é o poder do Bolsonaro de mobilização das prefeituras no Sudeste ao fazer a aliança com os governadores dos três Estados?

É inegável que ele faz um momento importante, principalmente no Rio de Janeiro e em Minas. Em São Paulo é diferente, porque (Rodrigo Garcia) é um governador muito recente e que não leva o partido junto, então vai provocar uma divisão no eleitorado tucano, não tenho nenhuma dúvida disso. O governador é cristão novo no PSDB e os tucanos mais históricos de São Paulo declaram apoio para nós. No Rio, Lula dificilmente perde na capital, nosso desafio é na Baixada Fluminense e no interior, que é onde nós estamos costurando o apoio das lideranças regionais. Em Minas, nosso maior desafio é no sul do Estado.

O desempenho no interior de SP frustrou a campanha. O fator Alckmin não entregou o que o PT imaginava?

O interior de São Paulo é historicamente mais conservador. O governador Geraldo Alckmin foi uma liderança importante no primeiro turno e tende a ser mais importante ainda no segundo turno. Nosso desempenho em São Paulo está muito além do que foi o nosso desempenho histórico. Ter o Haddad no segundo turno de forma tão competitiva é uma imensa vitória. O apoio do Alckmin e da Simone Tebet (MDB) vão ajudar muito.

Qual será o papel da Simone?

Ela é uma figura central. O apoio dela é extremamente importante, no interior de São Paulo, também na disputa de setores médios no Rio Grande do Sul, setores médios de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Ela na televisão nos ajuda principalmente no diálogo com as mulheres dos setores médios, que se identificam muito com ela. Em São Paulo, ela é decisiva.

Em 2018, o Mano Brown, em um palanque de Haddad, sugeriu que o PT tinha perdido a capacidade de falar a língua do povo. Figuras de fora do partido foram agregadas à campanha em 2022 com expectativa de que aumentem a penetração na classe média: Alckmin, Simone... Qual a dificuldade do PT de dialogar com a classe média?

Se você pensar que o Lula teve 48% dos votos no primeiro turno… está acima do nosso teto histórico. O Lula ofereceu ao PT a oportunidade de superação de suas dificuldades pela força e pela empatia com o povo brasileiro. Mas, claro, ninguém é unânime. Há esse setor médio mais conservador, que devido a tudo o que o PT passou nos últimos anos, tudo o que nós sofremos, criou um antipetismo. Com esses setores médios que têm racionalidade - porque tem um setor que você não consegue chamar à razão -, figuras como Simone e Alckmin nos ajudam muito.

Um dos coordenadores da campanha do ex-presidente Lula, o ex-prefeito Edinho Silva, durante entrevista para o Estadão nesta segunda-feira, 10, em São Paulo. Foto: Marcelo Chello/Estadão

Qual a preocupação da campanha hoje?

Nós temos as melhores propostas, o melhor candidato, que é a maior liderança política do país, nós só temos que minimamente ter condições de disputar com regras iguais, que é algo que não está acontecendo. Não existe na história brasileira nenhuma eleição que tenha usado tanto a máquina pública. É algo que coloca em xeque o instituto da reeleição. Como um presidente usa a máquina como ele está usando e não há nenhuma reação do poder judiciário? É crime eleitoral atrás de crime eleitoral. Em 2024, quando qualquer vendaval passar em qualquer cidade, o prefeito vai decretar calamidade pública. Como fazem consignado com transferência de renda? É um negócio absurdo.

Se o Estado não garantir regras iguais para a disputa eleitoral e processo de reeleição, tem que acabar com a reeleição. É um precedente absurdo. Isso é grave. Agora, nós vamos tocar a campanha. Em alguns momentos nós não estamos enfrentando o candidato, estamos enfrentando o Estado brasileiro. Eu já vi prefeito ser cassado por motivos infinitamente menores. Eu penso que o Brasil que sai dessas eleições é um Brasil que vai enterrar a reeleição.

A campanha decidiu entrar na disputa da pauta de costumes e da pauta religiosa com Bolsonaro?

Não, não vamos entrar. Só o bolsonarismo consegue guerrear e sabe guerrear nesse ambiente. Nós ganhamos corações e mentes quando nós discutirmos a vida do povo brasileiro: inflação, desemprego, renda, perspectiva de futuro. Nós temos cada vez mais discutir o país com ele, Brasil com ele, discutir que projeto de país ele tem. Ele não tem projeto, por isso que ele vai sempre no debate de costumes.

Mas por que a campanha petista abordou nas peças de propaganda, então, canibalismo, aborto…?

Nós reagimos. No sábado ou domingo (da eleição) fizemos reunião da coordenação e nós nos falamos ‘vai vir um ataque violento nas redes sociais’. A legislação brasileira precisa mudar. Você não pode ter uma avalanche de fake news em dois dias para influenciar o comportamento das pessoas. Isso é crime. Eu penso que inclusive o autor de fake news para influenciar em processo eleitoral deveria ser punido com rigor maior, porque se está ofendendo e ferindo a democracia. Você não pode tratar isso como se fosse uma mentira publicada em redes sociais. Isso deveria ser um crime inafiançável, porque a pessoa está articulando algo para interferir na disputa eleitoral. Isso aconteceu no sábado e no domingo no Brasil. Não estamos tirando o debate do campo da economia, do campo da vida do brasileiro, mas é natural que a campanha se defenda.

Último ato da campanha de Lula para o primeiro turno ocorreu no dia 1º de outubro, em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão

Apoiador de Lula, o deputado federal André Janones (Avante-MG) usa a mesma estratégia dos aliados de Bolsonaro nas redes sociais, com divulgação de informações distorcidas contra a campanha do presidente. Segundo ele, é uma tática de “guerra”. A campanha de Lula concorda com a atuação de Janones?

O Janones não é da coordenação de comunicação da campanha. Mas ele é uma liderança nacional, era candidato à presidência da República, e se construiu nas redes sociais, então ele tem legitimidade para dialogar nas redes. A campanha não vai cercear o Janones pela forma como ele se comunica, ele tem autonomia para tanto, mas isso não é articulado ou discutido na campanha.

A carta de Lula aos evangélicos, afinal, vai existir?

Vai, ela está sendo construída.

O ex-presidente Lula era resistente a essa ideia, chegou a negar publicamente na semana passada. O que mudou?

Quando você amplia seu leque de apoio, tem que ampliar também sua concepção. Várias lideranças evangélicas que chegaram no segundo turno acham que é importante ter carta e ele está ouvindo. Ele vai pôr no papel o que sempre fez: que vai respeitar a liberdade religiosa.

Simone Tebet disse que foi um erro ele não detalhar mais as propostas no primeiro turno. Isso vai mudar no segundo turno?

Você não pode trazer apoio sem que você ouça os apoios. Se a Simone acha que é importante detalhar, nós vamos detalhar as propostas que ela acha importante, não tem problema nenhum.

O ex-presidente Lula falou sobre regulamentação da mídia ao longo da campanha…

Isso não tem a menor relevância. Em nenhum momento nunca foi nem conversado.

Isso fará parte de um eventual governo?

Acho impossível, pela concepção do presidente. Ele vai encontrar um Brasil destruído e isso não tem relevância para quatro anos de governo, porque o governo do presidente Lula será um governo de transição, ele já disse isso. Será um governo que pegará o Brasil com as instituições destruídas, desorganizadas, com a democracia em risco, com todas as políticas públicas desorganizadas, o dinheiro sendo liberado no Brasil sem nenhum critério. O que tem é a liberação de dinheiro a esmo, sem nenhum critério, com finalidade de manutenção da governabilidade. Então, o presidente pega um país desorganizado, com democracia realmente vulnerável, as instituições atacadas, desemprego, fome, miséria, exclusão. Enfim, essas são as prioridades do presidente e eu penso que o seu governo será centrado nessas prioridades. Por mais que muitas vezes esse debate apareça, ele não é um debate, nesse momento, fundamental da história brasileira.

A campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva entra na segunda semana após o primeiro turno das eleições confiante de que os apoios anunciados ao ex-presidente irão se traduzir em votos. A avaliação de Edinho Silva (PT), um dos coordenadores de comunicação da campanha de Lula, é de que Simone Tebet (MDB) será “decisiva” no interior de São Paulo e que o PT fez o “movimento mais sólido” de ampliação do eleitorado.

A preocupação na campanha, segundo ele, é com a divulgação de informações falsas na véspera da eleição e com o poder da máquina pública em uso pelo seu adversário, Jair Bolsonaro (PL). “Em alguns momentos nós não estamos enfrentando o candidato, estamos enfrentando o Estado brasileiro”, afirma Edinho, que é prefeito de Araraquara e está na linha de frente da campanha de Lula. No domingo, o Estadão publicou entrevista com o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), que integra o núcleo próximo de assessores do presidente Jair Bolsonaro (PL), na qual ele diz confiar numa virada no segundo turno pelo fato de, na sua visão, Lula já ter alcançado o seu teto de votos.

O petista, que foi secretário de Comunicação Social da Presidência no governo Dilma Rousseff (PT), diz que a campanha apenas “reagiu” ao associar Bolsonaro ao canibalismo e ao aborto. Nesta entrevista, ele também afirma que Lula está aberto a sugestões dos novos aliados e, por isso, irá divulgar uma carta de aceno a evangélicos. Ele deve também detalhar novas propostas aos eleitores.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu a adesão de ex-adversários políticos para a sua campanha.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 3/10/2022

Leia abaixo trechos da entrevista com Edinho Silva:

O PT subestimou a força de Bolsonaro no primeiro turno?

Nós sempre reconhecemos que a campanha dele tinha força. Em 2018, Bolsonaro hegemonizou o discurso antissistema, mesmo tendo 30 anos de mandato de deputado, pela postura, pelo discurso. Nós sabíamos que um tsunami político tinha passado pelo Brasil em 2018 e que não se repetiria em 2022, mas que uma parte dessa movimentação orgânica permaneceria. Tínhamos uma leitura racional do que é que estamos enfrentando. O bolsonarismo é infinitamente maior do que o Bolsonaro. Como integrante da coordenação, nunca presenciei uma avaliação de menosprezo, e sim de reconhecimento. E sabíamos que a eleição resolvida no primeiro turno seria a exceção da exceção. A exceção não se caracterizou, tanto é que nós estávamos preparados, mobilizados, organizados para o segundo turno.

O último Datafolha mostra uma mudança nos níveis de rejeição, com uma piora no quadro para Lula - embora o presidente tenha índice de reprovação superior do que o petista. A que a campanha credita isso?

Penso que é ainda reflexo da onda final da campanha do Bolsonaro. Nós sabíamos que teríamos uma mobilização de voto útil pró-Lula, mas também uma mobilização de voto útil pró-Bolsonaro. E uma parte daqueles que se declaravam indecisos na verdade eram votos bolsonaristas envergonhados. Essa onda na reta final foi pró-Bolsonaro e certamente ela repercutiu na primeira pesquisa, que, na verdade, é a fotografia da urna.

Segundo turno é a disputa de ampliação e disputa de rejeição. Nós estamos fazendo todos os movimentos para ampliação. E acho que são consistentes. A terceira colocada está conosco e o quarto colocado também está conosco. O movimento mais sólido de ampliação junto ao eleitorado é nosso. O grande desafio é entender a movimentação do bolsonarismo e criar o contraponto nos estados.

O senhor é prefeito. Qual é o poder do Bolsonaro de mobilização das prefeituras no Sudeste ao fazer a aliança com os governadores dos três Estados?

É inegável que ele faz um momento importante, principalmente no Rio de Janeiro e em Minas. Em São Paulo é diferente, porque (Rodrigo Garcia) é um governador muito recente e que não leva o partido junto, então vai provocar uma divisão no eleitorado tucano, não tenho nenhuma dúvida disso. O governador é cristão novo no PSDB e os tucanos mais históricos de São Paulo declaram apoio para nós. No Rio, Lula dificilmente perde na capital, nosso desafio é na Baixada Fluminense e no interior, que é onde nós estamos costurando o apoio das lideranças regionais. Em Minas, nosso maior desafio é no sul do Estado.

O desempenho no interior de SP frustrou a campanha. O fator Alckmin não entregou o que o PT imaginava?

O interior de São Paulo é historicamente mais conservador. O governador Geraldo Alckmin foi uma liderança importante no primeiro turno e tende a ser mais importante ainda no segundo turno. Nosso desempenho em São Paulo está muito além do que foi o nosso desempenho histórico. Ter o Haddad no segundo turno de forma tão competitiva é uma imensa vitória. O apoio do Alckmin e da Simone Tebet (MDB) vão ajudar muito.

Qual será o papel da Simone?

Ela é uma figura central. O apoio dela é extremamente importante, no interior de São Paulo, também na disputa de setores médios no Rio Grande do Sul, setores médios de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Ela na televisão nos ajuda principalmente no diálogo com as mulheres dos setores médios, que se identificam muito com ela. Em São Paulo, ela é decisiva.

Em 2018, o Mano Brown, em um palanque de Haddad, sugeriu que o PT tinha perdido a capacidade de falar a língua do povo. Figuras de fora do partido foram agregadas à campanha em 2022 com expectativa de que aumentem a penetração na classe média: Alckmin, Simone... Qual a dificuldade do PT de dialogar com a classe média?

Se você pensar que o Lula teve 48% dos votos no primeiro turno… está acima do nosso teto histórico. O Lula ofereceu ao PT a oportunidade de superação de suas dificuldades pela força e pela empatia com o povo brasileiro. Mas, claro, ninguém é unânime. Há esse setor médio mais conservador, que devido a tudo o que o PT passou nos últimos anos, tudo o que nós sofremos, criou um antipetismo. Com esses setores médios que têm racionalidade - porque tem um setor que você não consegue chamar à razão -, figuras como Simone e Alckmin nos ajudam muito.

Um dos coordenadores da campanha do ex-presidente Lula, o ex-prefeito Edinho Silva, durante entrevista para o Estadão nesta segunda-feira, 10, em São Paulo. Foto: Marcelo Chello/Estadão

Qual a preocupação da campanha hoje?

Nós temos as melhores propostas, o melhor candidato, que é a maior liderança política do país, nós só temos que minimamente ter condições de disputar com regras iguais, que é algo que não está acontecendo. Não existe na história brasileira nenhuma eleição que tenha usado tanto a máquina pública. É algo que coloca em xeque o instituto da reeleição. Como um presidente usa a máquina como ele está usando e não há nenhuma reação do poder judiciário? É crime eleitoral atrás de crime eleitoral. Em 2024, quando qualquer vendaval passar em qualquer cidade, o prefeito vai decretar calamidade pública. Como fazem consignado com transferência de renda? É um negócio absurdo.

Se o Estado não garantir regras iguais para a disputa eleitoral e processo de reeleição, tem que acabar com a reeleição. É um precedente absurdo. Isso é grave. Agora, nós vamos tocar a campanha. Em alguns momentos nós não estamos enfrentando o candidato, estamos enfrentando o Estado brasileiro. Eu já vi prefeito ser cassado por motivos infinitamente menores. Eu penso que o Brasil que sai dessas eleições é um Brasil que vai enterrar a reeleição.

A campanha decidiu entrar na disputa da pauta de costumes e da pauta religiosa com Bolsonaro?

Não, não vamos entrar. Só o bolsonarismo consegue guerrear e sabe guerrear nesse ambiente. Nós ganhamos corações e mentes quando nós discutirmos a vida do povo brasileiro: inflação, desemprego, renda, perspectiva de futuro. Nós temos cada vez mais discutir o país com ele, Brasil com ele, discutir que projeto de país ele tem. Ele não tem projeto, por isso que ele vai sempre no debate de costumes.

Mas por que a campanha petista abordou nas peças de propaganda, então, canibalismo, aborto…?

Nós reagimos. No sábado ou domingo (da eleição) fizemos reunião da coordenação e nós nos falamos ‘vai vir um ataque violento nas redes sociais’. A legislação brasileira precisa mudar. Você não pode ter uma avalanche de fake news em dois dias para influenciar o comportamento das pessoas. Isso é crime. Eu penso que inclusive o autor de fake news para influenciar em processo eleitoral deveria ser punido com rigor maior, porque se está ofendendo e ferindo a democracia. Você não pode tratar isso como se fosse uma mentira publicada em redes sociais. Isso deveria ser um crime inafiançável, porque a pessoa está articulando algo para interferir na disputa eleitoral. Isso aconteceu no sábado e no domingo no Brasil. Não estamos tirando o debate do campo da economia, do campo da vida do brasileiro, mas é natural que a campanha se defenda.

Último ato da campanha de Lula para o primeiro turno ocorreu no dia 1º de outubro, em São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão

Apoiador de Lula, o deputado federal André Janones (Avante-MG) usa a mesma estratégia dos aliados de Bolsonaro nas redes sociais, com divulgação de informações distorcidas contra a campanha do presidente. Segundo ele, é uma tática de “guerra”. A campanha de Lula concorda com a atuação de Janones?

O Janones não é da coordenação de comunicação da campanha. Mas ele é uma liderança nacional, era candidato à presidência da República, e se construiu nas redes sociais, então ele tem legitimidade para dialogar nas redes. A campanha não vai cercear o Janones pela forma como ele se comunica, ele tem autonomia para tanto, mas isso não é articulado ou discutido na campanha.

A carta de Lula aos evangélicos, afinal, vai existir?

Vai, ela está sendo construída.

O ex-presidente Lula era resistente a essa ideia, chegou a negar publicamente na semana passada. O que mudou?

Quando você amplia seu leque de apoio, tem que ampliar também sua concepção. Várias lideranças evangélicas que chegaram no segundo turno acham que é importante ter carta e ele está ouvindo. Ele vai pôr no papel o que sempre fez: que vai respeitar a liberdade religiosa.

Simone Tebet disse que foi um erro ele não detalhar mais as propostas no primeiro turno. Isso vai mudar no segundo turno?

Você não pode trazer apoio sem que você ouça os apoios. Se a Simone acha que é importante detalhar, nós vamos detalhar as propostas que ela acha importante, não tem problema nenhum.

O ex-presidente Lula falou sobre regulamentação da mídia ao longo da campanha…

Isso não tem a menor relevância. Em nenhum momento nunca foi nem conversado.

Isso fará parte de um eventual governo?

Acho impossível, pela concepção do presidente. Ele vai encontrar um Brasil destruído e isso não tem relevância para quatro anos de governo, porque o governo do presidente Lula será um governo de transição, ele já disse isso. Será um governo que pegará o Brasil com as instituições destruídas, desorganizadas, com a democracia em risco, com todas as políticas públicas desorganizadas, o dinheiro sendo liberado no Brasil sem nenhum critério. O que tem é a liberação de dinheiro a esmo, sem nenhum critério, com finalidade de manutenção da governabilidade. Então, o presidente pega um país desorganizado, com democracia realmente vulnerável, as instituições atacadas, desemprego, fome, miséria, exclusão. Enfim, essas são as prioridades do presidente e eu penso que o seu governo será centrado nessas prioridades. Por mais que muitas vezes esse debate apareça, ele não é um debate, nesse momento, fundamental da história brasileira.

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