BRASÍLIA – Onze partidos anunciaram nesta quarta-feira, 23, uma aliança para tentar derrotar o presidente Jair Bolsonaro e indicaram o deputado Baleia Rossi (SP) como candidato ao comando da Câmara. Formado pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o bloco parlamentar reúne siglas de centro, centro-direita e de esquerda, que se uniram para enfrentar o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), líder do Centrão e nome apoiado por Bolsonaro.
A eleição que renovará a cúpula do Congresso ocorrerá em 1.º de fevereiro de 2021 e é vista como o primeiro passo de um embate com Bolsonaro, que pretende disputar a reeleição em 2022. Para o grupo de Maia, impedir a vitória de Lira na Câmara significa derrotar o presidente.
“Uma vitória do candidato do Bolsonaro o recoloca no processo político”, avaliou o presidente da Câmara, em entrevista ao Estadão. Nos últimos meses, Bolsonaro contabilizou 12 derrotas. As mais recentes se referem ao mau desempenho de candidatos bolsonaristas nas eleições municipais e à vitória de Joe Biden nos EUA, tirando de cena seu aliado Donald Trump, sem contar o fato de o Supremo Tribunal Federal ter decidido que a vacina contra covid-19 deve ser obrigatória.
O discurso para a aliança que lançou Baleia Rossi é o da defesa da independência da Câmara, em contraposição ao que o bloco chama de “agenda retrógrada” do Palácio do Planalto. Na tentativa de demonstrar unidade, Maia anunciou a escolha do deputado e presidente do MDB ladeado tanto pelo candidato como pelo líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), que também estava cotado para a vaga. “Tenho certeza de que Ulysses Guimarães estaria feliz com esse ato que o MDB faz”, afirmou Baleia Rossi, numa referência ao então deputado que presidiu a Assembleia Nacional Constituinte e ganhou o apelido de “Senhor Diretas”.
Estão no grupo de Maia partidos com ideologias opostas, como PT e PSL – sigla que lançou Bolsonaro, em 2018 – DEM, MDB, PSDB, Cidadania, PV, PSB, PDT, PC do B e Rede. Todas essas legendas representam 281 deputados. Na outra ponta, o bloco de Lira, líder do Centrão, tem o aval de dez partidos (Progressistas, PL, Republicanos, PSD, Solidariedade, PTB, Pros, PSC, Avante e Patriota), que somam 203 parlamentares. Para ser eleito, o candidato precisa ter o apoio de 257 dos 513 deputados.
PT ameaçou vetar Baleia Rossi
Dono da maior bancada, com 54 integrantes, o PT ameaçou vetar Baleia Rossi – autor da proposta de emenda à Constituição que prevê a reforma tributária – porque uma ala expressiva preferia se aliar a Aguinaldo. Em reunião realizada nesta quarta, porém, os petistas voltaram atrás. O argumento dos que não queriam fechar com o emedebista era o de que ele ajudou a articular o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e continua muito próximo ao ex-presidente Michel Temer. Aguinaldo Ribeiro, no entanto, foi ministro das Cidades de Dilma e também votou por sua deposição. Além disso, nas últimas eleições, o PT e o MDB fizeram dobradinhas em várias cidades.
No início da reunião, o líder da bancada do PT avisou os colegas ter sido informado por Maia de que Aguinaldo havia desistido da candidatura em favor de Rossi. “Agradeço o apoio que recebi de vários partidos, da esquerda e do PT, para construir unidade. Abri mão da minha pré-candidatura para que, dando um passo atrás, o Brasil possa dar um passo à frente”, afirmou.
Em campanha, Baleia Rossi viajou nesta quarta para Pernambuco, onde iria se encontrar com o governador Paulo Câmara, do PSB. Na segunda-feira, o candidato vai se reunir com dirigentes dos partidos de esquerda que compõem o bloco, incluindo o PT.
A disputa pela presidência da Câmara ganha cada vez mais relevância porque cabe ao ocupante desse cargo definir a pauta de votações, com assuntos de interesse nacional, e até segurar ou dar andamento a ações de impeachment contra o presidente. Bolsonaro, por exemplo, é alvo de mais de 50 pedidos desse tipo.
A disputa no Senado
O movimento por uma “solução casada”, na Câmara e no Senado, para partidos que tentam se apresentar como contraponto a Bolsonaro também pesou para a opção por Baleia Rossi. Desde que o STF barrou a possibilidade de reeleição de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), no último dia 6, a cúpula do DEM intensificou as negociações.
A ideia é formar uma aliança que mantenha o partido no comando de uma Casa e lhe dê protagonismo na montagem de uma frente de centro-direita, na eleição presidencial de 2022. No Senado, o candidato apoiado por Alcolumbre é Rodrigo Pacheco (MG), líder do DEM. Com a estratégia de avalizar um emedebista na Câmara, o DEM espera que o MDB respalde a campanha de Pacheco no Senado.
O problema é que a bancada do MDB – a maior do Senado, com 13 integrantes – decidiu apresentar chapa própria e tem quatro nomes para a cadeira de Alcolumbre. Os pré-candidatos Fernando Bezerra Coelho, Eduardo Gomes e Eduardo Braga são nomes bem vistos por Bolsonaro. O primeiro é líder do governo no Senado; o segundo, no Congresso e o terceiro, da bancada do MDB. A senadora Simone Tebet, por sua vez, corre por fora.