Presidência elaborou decreto para incluir covid na bula de cloroquina, diz Mandetta


Ex-ministro relata reunião convocada pelo governo Jair Bolsonaro com a intenção de alterar, por decreto, bula da cloroquina para que o medicamento passasse a ser indicado para o tratamento de covid-19; Anvisa teria barrado iniciativa

Por Vinícius Valfré e André Shalders

BRASÍLIA – Primeiro a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta atribuiu nesta terça-feira, 4, ao presidente Jair Bolsonaro responsabilidades pela disseminação do novo coronavírus no País e, consequentemente, por mais mortes causadas pela doença. Em um depoimento que durou sete horas e meia, o ex-ministro disse que a Presidência chegou a avaliar um decreto que incluiria na bula da cloroquina a recomendação para tratar covid-19.

O medicamento, propagandeado por Bolsonaro como solução para a doença, é usado contra malária, artrite reumatoide e lúpus, mas não há comprovação científica de que tenha efeito contra o novo coronavírus.

A CPI foi criada para investigar ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia no País. Os senadores apuram se houve crime na conduta de Bolsonaro, que, em diversas ocasiões, negou a gravidade da doença.

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O ex-ministro da SaúdeLuiz Henrique Mandettadurante depoimento na CPI da Covid Foto: JEFFERSON RUDY / AGÊNCIA SENADO

Aos senadores, o ex-ministro descreveu um cenário em que o presidente contrariou recomendações científicas, interrompeu programa de testagem e ignorou alertas no início da pandemia de que a doença poderia causar mais de 180 mil mortes no País. Até esta terça-feira, foram 411 mil vidas perdidas por covid-19.

Mandetta foi demitido em abril do ano passado, após se desentender com Bolsonaro. Fora do governo, ele passou a se movimentar para disputar a Presidência em 2022 pelo DEM. 

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O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), avaliou as declarações do ex-ministro como “graves” e “acima das expectativas”. Integrantes da CPI consideraram que as informações têm potencial para implicar Bolsonaro e aliados mais próximos.  

Mandetta pontuou críticas, ações e omissões de uma série de colaboradores do presidente. Dos filhos ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ao chefe da Economia, Paulo Guedes. Um dos pontos que mais chamaram a atenção dos senadores, porém, foi a revelação de que o Planalto tinha a intenção de alterar a bula da cloroquina por meio de decreto presidencial.

“Era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina que eu nunca havia conhecido. Ele (Bolsonaro) tinha um assessoramento paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de decreto presidencial para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da para coronavírus”, afirmou. “O presidente da Anvisa disse que não. Jorge Ramos (na verdade Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência) disse que era uma sugestão. Uma sugestão de alguém que se deu trabalho de colocar aquilo em formato de decreto.”

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A investida, segundo Mandetta, foi barrada pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e por Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestou. A Anvisa disse que Barra Torres fará esclarecimentos amanhã, quando deverá prestar depoimento.

Nesta terça, durante conversa com apoiadores na porta do Alvorada, Bolsonaro ironizou seu ex-ministro. “Mandetta é aquele do ‘Fique em casa e continue sem ar’”, declarou, em referência a orientações da gestão Mandetta para que as pessoas procurassem atendimento somente em casos de sintomas graves. À época, a medida era defendida por especialistas como forma de evitar o colapso no sistema de saúde.

Aos senadores, Mandetta afirmou que Bolsonaro tinha uma “aconselhamento paralelo”, alheio às diretrizes do Ministério da Saúde. Ele relatou que os filhos políticos do presidente participavam de reuniões no Planalto e chegaram a barrar uma reunião presencial com o embaixador chinês. 

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Em pelo menos duas oportunidades, Mandetta respondeu positivamente a perguntas de senadores sobre a contribuição pessoal do presidente para o agravamento da pandemia, em referência às críticas ao isolamento social e ao uso de máscaras. “Se a postura trouxe um impacto? Sim. Em tempos de epidemia,você tem que ter a unidade. Você tem que ter uma fala única. O raciocínio não é individual. Esse vírus ataca a sociedade como um todo”, disse o ex-ministro da Saúde.

Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-AL) saiu em defesa da gestão Bolsonaro. Disse que Mandetta foi “equilibrado” em suas colocações, mas argumentou que não é possível mensurar em mortes as políticas bem ou malsucedidas de isolamento ou de tratamento precoce. / COLABOROU PEDRO CARAMURU

BRASÍLIA – Primeiro a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta atribuiu nesta terça-feira, 4, ao presidente Jair Bolsonaro responsabilidades pela disseminação do novo coronavírus no País e, consequentemente, por mais mortes causadas pela doença. Em um depoimento que durou sete horas e meia, o ex-ministro disse que a Presidência chegou a avaliar um decreto que incluiria na bula da cloroquina a recomendação para tratar covid-19.

O medicamento, propagandeado por Bolsonaro como solução para a doença, é usado contra malária, artrite reumatoide e lúpus, mas não há comprovação científica de que tenha efeito contra o novo coronavírus.

A CPI foi criada para investigar ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia no País. Os senadores apuram se houve crime na conduta de Bolsonaro, que, em diversas ocasiões, negou a gravidade da doença.

O ex-ministro da SaúdeLuiz Henrique Mandettadurante depoimento na CPI da Covid Foto: JEFFERSON RUDY / AGÊNCIA SENADO

Aos senadores, o ex-ministro descreveu um cenário em que o presidente contrariou recomendações científicas, interrompeu programa de testagem e ignorou alertas no início da pandemia de que a doença poderia causar mais de 180 mil mortes no País. Até esta terça-feira, foram 411 mil vidas perdidas por covid-19.

Mandetta foi demitido em abril do ano passado, após se desentender com Bolsonaro. Fora do governo, ele passou a se movimentar para disputar a Presidência em 2022 pelo DEM. 

O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), avaliou as declarações do ex-ministro como “graves” e “acima das expectativas”. Integrantes da CPI consideraram que as informações têm potencial para implicar Bolsonaro e aliados mais próximos.  

Mandetta pontuou críticas, ações e omissões de uma série de colaboradores do presidente. Dos filhos ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ao chefe da Economia, Paulo Guedes. Um dos pontos que mais chamaram a atenção dos senadores, porém, foi a revelação de que o Planalto tinha a intenção de alterar a bula da cloroquina por meio de decreto presidencial.

“Era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina que eu nunca havia conhecido. Ele (Bolsonaro) tinha um assessoramento paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de decreto presidencial para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da para coronavírus”, afirmou. “O presidente da Anvisa disse que não. Jorge Ramos (na verdade Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência) disse que era uma sugestão. Uma sugestão de alguém que se deu trabalho de colocar aquilo em formato de decreto.”

A investida, segundo Mandetta, foi barrada pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e por Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestou. A Anvisa disse que Barra Torres fará esclarecimentos amanhã, quando deverá prestar depoimento.

Nesta terça, durante conversa com apoiadores na porta do Alvorada, Bolsonaro ironizou seu ex-ministro. “Mandetta é aquele do ‘Fique em casa e continue sem ar’”, declarou, em referência a orientações da gestão Mandetta para que as pessoas procurassem atendimento somente em casos de sintomas graves. À época, a medida era defendida por especialistas como forma de evitar o colapso no sistema de saúde.

Aos senadores, Mandetta afirmou que Bolsonaro tinha uma “aconselhamento paralelo”, alheio às diretrizes do Ministério da Saúde. Ele relatou que os filhos políticos do presidente participavam de reuniões no Planalto e chegaram a barrar uma reunião presencial com o embaixador chinês. 

Em pelo menos duas oportunidades, Mandetta respondeu positivamente a perguntas de senadores sobre a contribuição pessoal do presidente para o agravamento da pandemia, em referência às críticas ao isolamento social e ao uso de máscaras. “Se a postura trouxe um impacto? Sim. Em tempos de epidemia,você tem que ter a unidade. Você tem que ter uma fala única. O raciocínio não é individual. Esse vírus ataca a sociedade como um todo”, disse o ex-ministro da Saúde.

Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-AL) saiu em defesa da gestão Bolsonaro. Disse que Mandetta foi “equilibrado” em suas colocações, mas argumentou que não é possível mensurar em mortes as políticas bem ou malsucedidas de isolamento ou de tratamento precoce. / COLABOROU PEDRO CARAMURU

BRASÍLIA – Primeiro a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta atribuiu nesta terça-feira, 4, ao presidente Jair Bolsonaro responsabilidades pela disseminação do novo coronavírus no País e, consequentemente, por mais mortes causadas pela doença. Em um depoimento que durou sete horas e meia, o ex-ministro disse que a Presidência chegou a avaliar um decreto que incluiria na bula da cloroquina a recomendação para tratar covid-19.

O medicamento, propagandeado por Bolsonaro como solução para a doença, é usado contra malária, artrite reumatoide e lúpus, mas não há comprovação científica de que tenha efeito contra o novo coronavírus.

A CPI foi criada para investigar ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia no País. Os senadores apuram se houve crime na conduta de Bolsonaro, que, em diversas ocasiões, negou a gravidade da doença.

O ex-ministro da SaúdeLuiz Henrique Mandettadurante depoimento na CPI da Covid Foto: JEFFERSON RUDY / AGÊNCIA SENADO

Aos senadores, o ex-ministro descreveu um cenário em que o presidente contrariou recomendações científicas, interrompeu programa de testagem e ignorou alertas no início da pandemia de que a doença poderia causar mais de 180 mil mortes no País. Até esta terça-feira, foram 411 mil vidas perdidas por covid-19.

Mandetta foi demitido em abril do ano passado, após se desentender com Bolsonaro. Fora do governo, ele passou a se movimentar para disputar a Presidência em 2022 pelo DEM. 

O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), avaliou as declarações do ex-ministro como “graves” e “acima das expectativas”. Integrantes da CPI consideraram que as informações têm potencial para implicar Bolsonaro e aliados mais próximos.  

Mandetta pontuou críticas, ações e omissões de uma série de colaboradores do presidente. Dos filhos ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ao chefe da Economia, Paulo Guedes. Um dos pontos que mais chamaram a atenção dos senadores, porém, foi a revelação de que o Planalto tinha a intenção de alterar a bula da cloroquina por meio de decreto presidencial.

“Era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina que eu nunca havia conhecido. Ele (Bolsonaro) tinha um assessoramento paralelo. Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de decreto presidencial para que fosse sugerido naquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da para coronavírus”, afirmou. “O presidente da Anvisa disse que não. Jorge Ramos (na verdade Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência) disse que era uma sugestão. Uma sugestão de alguém que se deu trabalho de colocar aquilo em formato de decreto.”

A investida, segundo Mandetta, foi barrada pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e por Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A Secretaria de Comunicação da Presidência não se manifestou. A Anvisa disse que Barra Torres fará esclarecimentos amanhã, quando deverá prestar depoimento.

Nesta terça, durante conversa com apoiadores na porta do Alvorada, Bolsonaro ironizou seu ex-ministro. “Mandetta é aquele do ‘Fique em casa e continue sem ar’”, declarou, em referência a orientações da gestão Mandetta para que as pessoas procurassem atendimento somente em casos de sintomas graves. À época, a medida era defendida por especialistas como forma de evitar o colapso no sistema de saúde.

Aos senadores, Mandetta afirmou que Bolsonaro tinha uma “aconselhamento paralelo”, alheio às diretrizes do Ministério da Saúde. Ele relatou que os filhos políticos do presidente participavam de reuniões no Planalto e chegaram a barrar uma reunião presencial com o embaixador chinês. 

Em pelo menos duas oportunidades, Mandetta respondeu positivamente a perguntas de senadores sobre a contribuição pessoal do presidente para o agravamento da pandemia, em referência às críticas ao isolamento social e ao uso de máscaras. “Se a postura trouxe um impacto? Sim. Em tempos de epidemia,você tem que ter a unidade. Você tem que ter uma fala única. O raciocínio não é individual. Esse vírus ataca a sociedade como um todo”, disse o ex-ministro da Saúde.

Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-AL) saiu em defesa da gestão Bolsonaro. Disse que Mandetta foi “equilibrado” em suas colocações, mas argumentou que não é possível mensurar em mortes as políticas bem ou malsucedidas de isolamento ou de tratamento precoce. / COLABOROU PEDRO CARAMURU

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