Marçal fez campeonatos de ‘cortes’ de vídeos na pré-campanha em troca de R$ 125 mil em premiação


Candidato tem negado que fez pagamentos a apoiadores desde a pré-campanha, mas comunidade no Discord organizou vários eventos para impulsionar imagem do coach; campanha de Marçal e um dos administradores do campeonato não se manifestaram; o segundo coordenador da disputa respondeu com um áudio sem conexão com o assunto

Por Guilherme Caetano

BRASÍLIA - A comunidade do Discord “Cortes do Marçal”, responsável por campeonatos com remuneração em dinheiro para usuários que gerassem o maior número de visualizações de conteúdo pró-Pablo Marçal, promoveu três desses eventos com ao menos R$ 125 mil em dinheiro, segundo dados do próprio canal, desde que o coach foi anunciado como pré-candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo.

Os dados contradizem Marçal, que tem declarado em entrevistas recentes que não pagou para fãs publicarem conteúdo a seu respeito. Em agosto, a campanha de Tabata Amaral (PSB) pediu à Justiça Eleitoral que fosse aberta uma investigação contra a chapa de Marçal e Antônia de Jesus, sua vice. O juiz Antonio Maria Patiño Zorz mandou suspender as contas de Marçal usadas para monetização. O influneciador conseguiu no domingo uma vitória na Justiça, depois que o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo não aceitou um pedido de impugnação de sua candidatura, apresentada por uma ala do próprio PRTB.

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Procurados, a campanha de Marçal e um dos administradores do campeonato não se manifestaram. Um segundo coordenador da disputa respondeu com um áudio sem conexão com o assunto (veja abaixo). O espaço segue aberto.

Pablo Marçal e sua vice Antônia de Jesus durante debate promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: Tiago Queiroz/Estad

“Não configura (ilegalidade) porque não tem esse pagamento. Dentro do período eleitoral, tanto de pré-campanha e campanha, não houve pagamento”, declarou Marçal durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, 2 de setembro.

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Peça-chave da “indústria de cortes” montada pelo candidato para turbinar sua audiência, a comunidade é administrada por Jefferson Zantut e Gabriel Galhardo, funcionários de uma das empresas do ex-coach, a PLX Digital. Por meio desse espaço eram organizadas as competições para remunerar os usuários que conquistassem o maior número de visualizações compartilhando trechos de vídeos de Marçal.

Ao contrário do que Marçal afirma, Zantut e Galhardo publicavam mensagens para orientar os vencedores sobre os pagamentos e avisavam a comunidade quando o dinheiro havia sido transferido: “Ganhadores, entrar em contato com o @<ADM> Galhardo para o mesmo colher os dados para recebimento”, publicaram os organizadores em 18 de agosto.

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O evento realizado entre 22 de abril a 22 de maio deste ano prometia uma premiação total de R$ 70 mil para os 30 primeiros colocados, de acordo com os organizadores. O perfil @identidadedesucesso, de Jocelei Matos Alcântara, terminou em primeiro lugar, com R$ 10 mil. Para participar, era preciso publicar vídeos do coach no Instagram, TikTok e YouTube com a hashtag #pablomarçal.

Alcântara conseguiu emplacar outra conta entre as premiadas, o perfil @agncy.digtal (sexto lugar, com direito a R$ 3 mil). Ele é sócio de Franciel Correa Sousa na empresa Agncy Digital Ltda, homônima do perfil de cortes com 354 mil seguidores. Nesse campeonato, o pódio foi completado por @codigosdopablo (2º lugar, R$ 7 mil) e @evolutionmilionaria (3º lugar, R$ 5 mil).

Já o segundo evento, de 24 de junho até 7 de julho e com premiação total de cerca de R$ 26,3 mil, exigia dos participantes publicações com duas hashtags: #prefeitomarçal e #cariani. colocava como critério que os participantes usassem as hashtags #prefeitomarçal e #cariani nos vídeos publicados. Amigo de Marçal, Renato Cariani é um influenciador fitness que virou réu no começo do ano por suspeita de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

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Última competição aconteceu em plena campanha

A última competição, promovida pela Cortes do Marçal e cuja premiação foi divulgada na comunidade parceira HypeX, esteve ativa de 30 de julho a 18 de agosto, já com a campanha eleitoral em andamento. A soma dos prêmios individuais correspondia a R$ 31,7 mil, segundo o próprio regulamento. O foco do evento era promover Marcos Paulo, amigo e sócio de Marçal, mas parte do conteúdo disponibilizado para ser compartilhado pelos participantes tinha presença do candidato do PRTB.

Numa busca com a hashtag #eusoumarcospaulo no Instagram — critério para participar do campeonato —, é possível identificar vídeos com milhões de visualizações em que Marçal aparecia nas publicações ao lado do sócio. Isto é, embora o torneio tenha sido feito formalmente para impulsionar Marcos Paulo, o candidato também foi beneficiado.

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Como mostrou o Estadão, a comunidade passou por uma faxina de mensagens e canais após ter virado alvo da Justiça Eleitoral e dos adversários de Marçal. A reportagem, no entanto, tem registro dos prints.

Mudança de discurso

As declarações recentes negando pagar apoiadores para impulsioná-lo nas redes contradiz outras vezes em que Marçal afirmou o oposto. Ele já disse em palestra ter centenas de “alunos” enriquecendo com a divulgação de sua imagem, e que eles podem “criar negócios” a partir de parcerias com ele e da audiência alcançada replicando seu conteúdo:

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“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, afirmou na ocasião.

Em outro vídeo antigo, gravado e disponibilizado em um canal parceiro, Marçal disse ter criado uma “indústria de cortes”, e que paga para os fãs compartilharem seus vídeos. Ele menciona patrocinar sites que publicam o conteúdo sem parar. Os “cortes” a que ele se refere são trechos curtos tirados de vídeos mais longos, publicados separadamente para permitir aos usuários consumir os melhores momentos de um conteúdo. O formato é popular em redes como Instagram, YouTube e TikTok.

“A gente criou um indústria de cortes. Tem três públicos: a tropa gigante que faz vídeo para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes, que não participam do rolê. Então se você é simpatizante e está postando, você pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer (dinheiro), né, porque eu estou pagando, e também posso pagar para você não parar (de postar). Tem alguns portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago. Melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse.

A declaração sugere que, em vez de pagar para as plataformas digitais impulsionarem as publicações para que elas sejam exibidas aos usuários com mais frequência, fazendo-as alcançar um público cada vez maior a depender do investimento, Marçal paga diretamente para que canais parceiros disseminem o que ele faz. Desde junho, em menos de três meses, ele ganhou cerca de 2,6 milhões de seguidores no Instagram, mais do que qualquer outro candidato à Prefeitura de São Paulo totalizou até hoje.

Esse exército de contas motivadas a compartilhar qualquer conteúdo de Marçal potencializa os ataques proferidos pelo candidato. Por mais que ele seja eventualmente condenado a derrubar publicações difamatórias, uma constelação de contas continua reproduzindo o conteúdo.

Cinquenta perfis de apoio ao empresário monitoradas pelo Estadão, das quais 28 o próprio candidato segue, ganharam 3,3 milhões de seguidores desde junho. Algumas delas entraram de cabeça na campanha eleitoral e passaram a compartilhar também conteúdo do “Marçal candidato”. A insinuação feita pelo coach de que um de seus rivais é usuário de cocaína, por exemplo, continua circulando por mais que a Justiça tenha mandado o candidato retirá-la do ar.

BRASÍLIA - A comunidade do Discord “Cortes do Marçal”, responsável por campeonatos com remuneração em dinheiro para usuários que gerassem o maior número de visualizações de conteúdo pró-Pablo Marçal, promoveu três desses eventos com ao menos R$ 125 mil em dinheiro, segundo dados do próprio canal, desde que o coach foi anunciado como pré-candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo.

Os dados contradizem Marçal, que tem declarado em entrevistas recentes que não pagou para fãs publicarem conteúdo a seu respeito. Em agosto, a campanha de Tabata Amaral (PSB) pediu à Justiça Eleitoral que fosse aberta uma investigação contra a chapa de Marçal e Antônia de Jesus, sua vice. O juiz Antonio Maria Patiño Zorz mandou suspender as contas de Marçal usadas para monetização. O influneciador conseguiu no domingo uma vitória na Justiça, depois que o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo não aceitou um pedido de impugnação de sua candidatura, apresentada por uma ala do próprio PRTB.

Procurados, a campanha de Marçal e um dos administradores do campeonato não se manifestaram. Um segundo coordenador da disputa respondeu com um áudio sem conexão com o assunto (veja abaixo). O espaço segue aberto.

Pablo Marçal e sua vice Antônia de Jesus durante debate promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: Tiago Queiroz/Estad

“Não configura (ilegalidade) porque não tem esse pagamento. Dentro do período eleitoral, tanto de pré-campanha e campanha, não houve pagamento”, declarou Marçal durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, 2 de setembro.

Peça-chave da “indústria de cortes” montada pelo candidato para turbinar sua audiência, a comunidade é administrada por Jefferson Zantut e Gabriel Galhardo, funcionários de uma das empresas do ex-coach, a PLX Digital. Por meio desse espaço eram organizadas as competições para remunerar os usuários que conquistassem o maior número de visualizações compartilhando trechos de vídeos de Marçal.

Ao contrário do que Marçal afirma, Zantut e Galhardo publicavam mensagens para orientar os vencedores sobre os pagamentos e avisavam a comunidade quando o dinheiro havia sido transferido: “Ganhadores, entrar em contato com o @<ADM> Galhardo para o mesmo colher os dados para recebimento”, publicaram os organizadores em 18 de agosto.

O evento realizado entre 22 de abril a 22 de maio deste ano prometia uma premiação total de R$ 70 mil para os 30 primeiros colocados, de acordo com os organizadores. O perfil @identidadedesucesso, de Jocelei Matos Alcântara, terminou em primeiro lugar, com R$ 10 mil. Para participar, era preciso publicar vídeos do coach no Instagram, TikTok e YouTube com a hashtag #pablomarçal.

Alcântara conseguiu emplacar outra conta entre as premiadas, o perfil @agncy.digtal (sexto lugar, com direito a R$ 3 mil). Ele é sócio de Franciel Correa Sousa na empresa Agncy Digital Ltda, homônima do perfil de cortes com 354 mil seguidores. Nesse campeonato, o pódio foi completado por @codigosdopablo (2º lugar, R$ 7 mil) e @evolutionmilionaria (3º lugar, R$ 5 mil).

Já o segundo evento, de 24 de junho até 7 de julho e com premiação total de cerca de R$ 26,3 mil, exigia dos participantes publicações com duas hashtags: #prefeitomarçal e #cariani. colocava como critério que os participantes usassem as hashtags #prefeitomarçal e #cariani nos vídeos publicados. Amigo de Marçal, Renato Cariani é um influenciador fitness que virou réu no começo do ano por suspeita de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Última competição aconteceu em plena campanha

A última competição, promovida pela Cortes do Marçal e cuja premiação foi divulgada na comunidade parceira HypeX, esteve ativa de 30 de julho a 18 de agosto, já com a campanha eleitoral em andamento. A soma dos prêmios individuais correspondia a R$ 31,7 mil, segundo o próprio regulamento. O foco do evento era promover Marcos Paulo, amigo e sócio de Marçal, mas parte do conteúdo disponibilizado para ser compartilhado pelos participantes tinha presença do candidato do PRTB.

Numa busca com a hashtag #eusoumarcospaulo no Instagram — critério para participar do campeonato —, é possível identificar vídeos com milhões de visualizações em que Marçal aparecia nas publicações ao lado do sócio. Isto é, embora o torneio tenha sido feito formalmente para impulsionar Marcos Paulo, o candidato também foi beneficiado.

Como mostrou o Estadão, a comunidade passou por uma faxina de mensagens e canais após ter virado alvo da Justiça Eleitoral e dos adversários de Marçal. A reportagem, no entanto, tem registro dos prints.

Mudança de discurso

As declarações recentes negando pagar apoiadores para impulsioná-lo nas redes contradiz outras vezes em que Marçal afirmou o oposto. Ele já disse em palestra ter centenas de “alunos” enriquecendo com a divulgação de sua imagem, e que eles podem “criar negócios” a partir de parcerias com ele e da audiência alcançada replicando seu conteúdo:

“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, afirmou na ocasião.

Em outro vídeo antigo, gravado e disponibilizado em um canal parceiro, Marçal disse ter criado uma “indústria de cortes”, e que paga para os fãs compartilharem seus vídeos. Ele menciona patrocinar sites que publicam o conteúdo sem parar. Os “cortes” a que ele se refere são trechos curtos tirados de vídeos mais longos, publicados separadamente para permitir aos usuários consumir os melhores momentos de um conteúdo. O formato é popular em redes como Instagram, YouTube e TikTok.

“A gente criou um indústria de cortes. Tem três públicos: a tropa gigante que faz vídeo para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes, que não participam do rolê. Então se você é simpatizante e está postando, você pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer (dinheiro), né, porque eu estou pagando, e também posso pagar para você não parar (de postar). Tem alguns portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago. Melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse.

A declaração sugere que, em vez de pagar para as plataformas digitais impulsionarem as publicações para que elas sejam exibidas aos usuários com mais frequência, fazendo-as alcançar um público cada vez maior a depender do investimento, Marçal paga diretamente para que canais parceiros disseminem o que ele faz. Desde junho, em menos de três meses, ele ganhou cerca de 2,6 milhões de seguidores no Instagram, mais do que qualquer outro candidato à Prefeitura de São Paulo totalizou até hoje.

Esse exército de contas motivadas a compartilhar qualquer conteúdo de Marçal potencializa os ataques proferidos pelo candidato. Por mais que ele seja eventualmente condenado a derrubar publicações difamatórias, uma constelação de contas continua reproduzindo o conteúdo.

Cinquenta perfis de apoio ao empresário monitoradas pelo Estadão, das quais 28 o próprio candidato segue, ganharam 3,3 milhões de seguidores desde junho. Algumas delas entraram de cabeça na campanha eleitoral e passaram a compartilhar também conteúdo do “Marçal candidato”. A insinuação feita pelo coach de que um de seus rivais é usuário de cocaína, por exemplo, continua circulando por mais que a Justiça tenha mandado o candidato retirá-la do ar.

BRASÍLIA - A comunidade do Discord “Cortes do Marçal”, responsável por campeonatos com remuneração em dinheiro para usuários que gerassem o maior número de visualizações de conteúdo pró-Pablo Marçal, promoveu três desses eventos com ao menos R$ 125 mil em dinheiro, segundo dados do próprio canal, desde que o coach foi anunciado como pré-candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo.

Os dados contradizem Marçal, que tem declarado em entrevistas recentes que não pagou para fãs publicarem conteúdo a seu respeito. Em agosto, a campanha de Tabata Amaral (PSB) pediu à Justiça Eleitoral que fosse aberta uma investigação contra a chapa de Marçal e Antônia de Jesus, sua vice. O juiz Antonio Maria Patiño Zorz mandou suspender as contas de Marçal usadas para monetização. O influneciador conseguiu no domingo uma vitória na Justiça, depois que o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo não aceitou um pedido de impugnação de sua candidatura, apresentada por uma ala do próprio PRTB.

Procurados, a campanha de Marçal e um dos administradores do campeonato não se manifestaram. Um segundo coordenador da disputa respondeu com um áudio sem conexão com o assunto (veja abaixo). O espaço segue aberto.

Pablo Marçal e sua vice Antônia de Jesus durante debate promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: Tiago Queiroz/Estad

“Não configura (ilegalidade) porque não tem esse pagamento. Dentro do período eleitoral, tanto de pré-campanha e campanha, não houve pagamento”, declarou Marçal durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, 2 de setembro.

Peça-chave da “indústria de cortes” montada pelo candidato para turbinar sua audiência, a comunidade é administrada por Jefferson Zantut e Gabriel Galhardo, funcionários de uma das empresas do ex-coach, a PLX Digital. Por meio desse espaço eram organizadas as competições para remunerar os usuários que conquistassem o maior número de visualizações compartilhando trechos de vídeos de Marçal.

Ao contrário do que Marçal afirma, Zantut e Galhardo publicavam mensagens para orientar os vencedores sobre os pagamentos e avisavam a comunidade quando o dinheiro havia sido transferido: “Ganhadores, entrar em contato com o @<ADM> Galhardo para o mesmo colher os dados para recebimento”, publicaram os organizadores em 18 de agosto.

O evento realizado entre 22 de abril a 22 de maio deste ano prometia uma premiação total de R$ 70 mil para os 30 primeiros colocados, de acordo com os organizadores. O perfil @identidadedesucesso, de Jocelei Matos Alcântara, terminou em primeiro lugar, com R$ 10 mil. Para participar, era preciso publicar vídeos do coach no Instagram, TikTok e YouTube com a hashtag #pablomarçal.

Alcântara conseguiu emplacar outra conta entre as premiadas, o perfil @agncy.digtal (sexto lugar, com direito a R$ 3 mil). Ele é sócio de Franciel Correa Sousa na empresa Agncy Digital Ltda, homônima do perfil de cortes com 354 mil seguidores. Nesse campeonato, o pódio foi completado por @codigosdopablo (2º lugar, R$ 7 mil) e @evolutionmilionaria (3º lugar, R$ 5 mil).

Já o segundo evento, de 24 de junho até 7 de julho e com premiação total de cerca de R$ 26,3 mil, exigia dos participantes publicações com duas hashtags: #prefeitomarçal e #cariani. colocava como critério que os participantes usassem as hashtags #prefeitomarçal e #cariani nos vídeos publicados. Amigo de Marçal, Renato Cariani é um influenciador fitness que virou réu no começo do ano por suspeita de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Última competição aconteceu em plena campanha

A última competição, promovida pela Cortes do Marçal e cuja premiação foi divulgada na comunidade parceira HypeX, esteve ativa de 30 de julho a 18 de agosto, já com a campanha eleitoral em andamento. A soma dos prêmios individuais correspondia a R$ 31,7 mil, segundo o próprio regulamento. O foco do evento era promover Marcos Paulo, amigo e sócio de Marçal, mas parte do conteúdo disponibilizado para ser compartilhado pelos participantes tinha presença do candidato do PRTB.

Numa busca com a hashtag #eusoumarcospaulo no Instagram — critério para participar do campeonato —, é possível identificar vídeos com milhões de visualizações em que Marçal aparecia nas publicações ao lado do sócio. Isto é, embora o torneio tenha sido feito formalmente para impulsionar Marcos Paulo, o candidato também foi beneficiado.

Como mostrou o Estadão, a comunidade passou por uma faxina de mensagens e canais após ter virado alvo da Justiça Eleitoral e dos adversários de Marçal. A reportagem, no entanto, tem registro dos prints.

Mudança de discurso

As declarações recentes negando pagar apoiadores para impulsioná-lo nas redes contradiz outras vezes em que Marçal afirmou o oposto. Ele já disse em palestra ter centenas de “alunos” enriquecendo com a divulgação de sua imagem, e que eles podem “criar negócios” a partir de parcerias com ele e da audiência alcançada replicando seu conteúdo:

“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, afirmou na ocasião.

Em outro vídeo antigo, gravado e disponibilizado em um canal parceiro, Marçal disse ter criado uma “indústria de cortes”, e que paga para os fãs compartilharem seus vídeos. Ele menciona patrocinar sites que publicam o conteúdo sem parar. Os “cortes” a que ele se refere são trechos curtos tirados de vídeos mais longos, publicados separadamente para permitir aos usuários consumir os melhores momentos de um conteúdo. O formato é popular em redes como Instagram, YouTube e TikTok.

“A gente criou um indústria de cortes. Tem três públicos: a tropa gigante que faz vídeo para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes, que não participam do rolê. Então se você é simpatizante e está postando, você pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer (dinheiro), né, porque eu estou pagando, e também posso pagar para você não parar (de postar). Tem alguns portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago. Melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse.

A declaração sugere que, em vez de pagar para as plataformas digitais impulsionarem as publicações para que elas sejam exibidas aos usuários com mais frequência, fazendo-as alcançar um público cada vez maior a depender do investimento, Marçal paga diretamente para que canais parceiros disseminem o que ele faz. Desde junho, em menos de três meses, ele ganhou cerca de 2,6 milhões de seguidores no Instagram, mais do que qualquer outro candidato à Prefeitura de São Paulo totalizou até hoje.

Esse exército de contas motivadas a compartilhar qualquer conteúdo de Marçal potencializa os ataques proferidos pelo candidato. Por mais que ele seja eventualmente condenado a derrubar publicações difamatórias, uma constelação de contas continua reproduzindo o conteúdo.

Cinquenta perfis de apoio ao empresário monitoradas pelo Estadão, das quais 28 o próprio candidato segue, ganharam 3,3 milhões de seguidores desde junho. Algumas delas entraram de cabeça na campanha eleitoral e passaram a compartilhar também conteúdo do “Marçal candidato”. A insinuação feita pelo coach de que um de seus rivais é usuário de cocaína, por exemplo, continua circulando por mais que a Justiça tenha mandado o candidato retirá-la do ar.

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