As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

7 de Setembro: O exemplo dos generais americanos sob Trump para o Brasil


Na véspera de manifestações, general lembra a postura de seus colegas americanos, que disseram ao presidente que usar um desfile militar para fins políticos não era o que se fazia nos EUA, mas ‘coisa de ditadores’

Por Marcelo Godoy
Atualização:

Caro leitor,

após assistir ao desfile do 14 de Julho na França, em 2017, o presidente americano Donald Trump voltou a Washington com a ideia de promover uma grande parada no Dia da Independência, o 4 de Julho. Mas foi – segundo o relato dos jornalistas Susan B. Glasser e Peter Baker, publicado pela The New Yorker – logo avisando: “Eu não quero nenhum ferido no desfile. Isso não me parece legal”. Em Paris, o americano testemunhara, ao lado de Emmanuel Macron, os mutilados de guerra descerem a Champs-Élysées, incluindo veteranos em cadeira de rodas.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e sua mulher, Brigitte Macron, acompanham a exibição aérea e o desfile comemorativo à queda da Bastilha ao lado do mandatário americano Donald Trump e a primeira-dama, Melania Trump, em 2017, em Paris Foto: Yves Herman/Reuters
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Trump ouviu então de seu chefe de gabinete, o general da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais, John Kelly: “Esses (os feridos) são os heróis. Em nosso meio, há apenas um grupo de pessoas mais heroico do que eles: os que estão enterrados em Arlington”. No cemitério nacional, em Arlington, na Virgínia, estão os mortos em combates travados pelos americanos desde a Guerra da Independência. É ali que o presidente John Kennedy, ele mesmo veterano da luta no Pacífico, durante a 2ª Guerra Mundial, está enterrado. Ali também está o filho de Kelly, morto em combate no Afeganistão.

Mas o general, segundo a revista, não tratou disso com Trump, que insistiu em não ter em seu desfile nenhum ferido de guerra. Kelly e seus colegas buscaram demovê-lo da ideia. Em outra reunião, com a presença do general Paul Selva, vice-chefe do Estado-Maior Conjunto, Trump perguntou o que Selva achava do desfile. Oficial da Aeronáutica, Selva disse: “Não cresci nos Estados Unidos. Cresci em Portugal. Portugal era uma ditadura, e os desfiles serviam para mostrar às pessoas quem detinha as armas. E, neste País, nós não fazemos isso”. Trump insistiu e perguntou se ele não gostava da ideia. “Não. Isso é coisa de ditadores.”

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O Brasil tinha 46 mortes por covid-19 quando o general Edson Leal Pujol, então comandante do Exército, publicou um vídeo em 24 de março de 2020. Ele disse: “Uma de nossas responsabilidades com a Nação nesse momento de crise é que nossa tropa deve manter a capacidade operacional para enfrentar o desafio e fazer a diferença. Talvez seja a missão mais importante de nossa geração”. Dias antes, Bolsonaro havia chamado a doença de “gripezinha”. Pujol concluiu: “Os integrantes do sistema de saúde são os nossos combatentes da linha de frente. Esses profissionais estão dando exemplo de coragem e comprometimento contra a doença”.

Solenidade de Passagem do Cargo de Comandante do Exército, do general de Exército Edson Leal Pujol (foto) ao general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.  Foto: Marcos Correa/PR

No memorial da pandemia, um espaço deve ser reservado aos médicos e enfermeiros, civis e militares, que atenderam a população, colocando em risco a sua vida e a de seus familiares. Assim como Trump não queria feridos em seu desfile militar, Bolsonaro não quis ser visto em visita a nenhum hospital. Não levou conforto às vítimas da pandemia ou solidariedade aos profissionais de Saúde. Não lhe agradava a visão dos caídos na mais importante missão cumprida pelos militares de sua geração? Seus adversários não se cansam de lembrar, dia após dia, a sua frase: “Eu não sou coveiro”.

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A falta de empatia de Trump e seu desejo de usar as Forças Armadas em atos políticos encontrou a resistência dos oficiais generais americanos. O desfile pretendido pelo republicano não aconteceu. Nem os militares se deixaram enredar na conspiração que buscava desqualificar o resultado das urnas para impedir a posse do presidente eleito, o democrata Joe Biden. Trump não pôde contar com a obediência cega dos generais. Um dia, ele questionou Kelly: “Por que seus generais de merda não podem ser como os generais alemães?” “Quais generais?”, perguntou Kelly. “Os generais alemães da 2.ª Guerra”, respondeu Trump. “O senhor deve saber que eles tentaram matar Hitler três vezes.”

Trump logo mudaria o comando das Forças Armadas – assim como Bolsonaro. Entraria em cena o general Mark Milley, o novo chefe do Estado-Maior Conjunto. “Eu vou ser honesto em tudo o que eu puder. O senhor vai tomar decisões e, desde que elas sejam legais, eu as apoiarei”, disse o general. Em sua presidência, Trump buscou redefinir o papel dos militares nos Estados Unidos. Encontrou diante de seus planos valores que lhe fecharam o caminho do emprego de tropas contra manifestantes. Temendo as conspirações palacianas, Milley advertiu dois assessores do presidente: “A vida parece uma merda atrás das grades”.

No Brasil, os generais cancelaram o desfile cívico-militar que aconteceria na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, após Bolsonaro querer transferi-lo para Copacabana. O presidente organiza com seus apoiadores uma encenação no 7 de Setembro em que pretende pôr as Forças Armadas ao dispor de sua campanha eleitoral. O objetivo – segundo seus aliados – era mostrar a união entre ambos: militares e a candidatura do PL. Ninguém parece se importar como isso degradaria o Exército, transformando-o em milícia armada a serviço de um governo e não mais uma instituição de Estado.

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Todas as capitais do País terão desfiles cívico-militares no dia 7, exceto o Rio. Em São Paulo, pela primeira vez, ele será na avenida d. Pedro I, ao lado do Museu Paulista, no Ipiranga, que será reaberto. Há muito tempo não via na cidade uma comemoração assim. Serão mais de 6 mil homens da Marinha, do Exército e da Força Aérea, além de 1.052 policiais e cerca de 3 mil civis, e ainda117 veículos militares. Eles vão passar pela avenida das 8 horas às 12h30. Soldados da Brigada Paraquedista saltarão na avenida em uma festa que se estenderá à tarde, com a reabertura do museu. Autoridades estarão ali – uma delas, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disputa a reeleição –, mas a nenhuma delas ocorreu transformar a festa em evento partidário.

Só ditadores, disse o general Selva, costumam querer exibir ao povo quem é que detém as armas. Era assim em Portugal, no regime salazarista, com seu lema “Deus, Pátria e Família”. A Marinha e a Força Aérea – e mesmo o Exército – mantiveram as comemorações que vão acontecer na orla do Rio, onde os apoiadores do presidente pretendem se agrupar. A data cívica – um patrimônio de todos – não deve ser prisioneira de quem deseja dividir o País. O quanto o exemplo de Mark Milley serve ou guiará seus colegas do Brasil ainda é incerto para alguns. Mas a maioria do Alto Comando do Exército quer distância da confusão.

Em agosto do ano passado, blindados e taques das Forças Armadas passaram pela praça dos Três Poderes; no mesmo dia, a Câmara rejeitou a PEC que autorizava o voto impresso no País. Foto: Gabriela Biló/Estadão
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Se ninguém esqueceu que a Marinha fez desfilar tanques diante do Congresso no dia da votação da PEC do Voto Impresso, em 2021, é também possível lembrar a recente advertência do general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro e hoje seu crítico, ao comentar a postura dos militares diante de Trump. Ele escreveu: “A firmeza de atitude evitou que a egolatria do mandatário destruísse o país, na longa e tempestuosa noite do governo trumpista.” E completou: “Não cambiaram a temporalidade do poder por um vil rebaixamento de seus padrões morais”. É que no estado democrático de direito, como disse, “generais devem liderar, vestidos dos valores que os acompanham, e agir com a mesma fortaleza de convicções contra tentativas de refutar as regras da democracia”.

Caro leitor,

após assistir ao desfile do 14 de Julho na França, em 2017, o presidente americano Donald Trump voltou a Washington com a ideia de promover uma grande parada no Dia da Independência, o 4 de Julho. Mas foi – segundo o relato dos jornalistas Susan B. Glasser e Peter Baker, publicado pela The New Yorker – logo avisando: “Eu não quero nenhum ferido no desfile. Isso não me parece legal”. Em Paris, o americano testemunhara, ao lado de Emmanuel Macron, os mutilados de guerra descerem a Champs-Élysées, incluindo veteranos em cadeira de rodas.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e sua mulher, Brigitte Macron, acompanham a exibição aérea e o desfile comemorativo à queda da Bastilha ao lado do mandatário americano Donald Trump e a primeira-dama, Melania Trump, em 2017, em Paris Foto: Yves Herman/Reuters

Trump ouviu então de seu chefe de gabinete, o general da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais, John Kelly: “Esses (os feridos) são os heróis. Em nosso meio, há apenas um grupo de pessoas mais heroico do que eles: os que estão enterrados em Arlington”. No cemitério nacional, em Arlington, na Virgínia, estão os mortos em combates travados pelos americanos desde a Guerra da Independência. É ali que o presidente John Kennedy, ele mesmo veterano da luta no Pacífico, durante a 2ª Guerra Mundial, está enterrado. Ali também está o filho de Kelly, morto em combate no Afeganistão.

Mas o general, segundo a revista, não tratou disso com Trump, que insistiu em não ter em seu desfile nenhum ferido de guerra. Kelly e seus colegas buscaram demovê-lo da ideia. Em outra reunião, com a presença do general Paul Selva, vice-chefe do Estado-Maior Conjunto, Trump perguntou o que Selva achava do desfile. Oficial da Aeronáutica, Selva disse: “Não cresci nos Estados Unidos. Cresci em Portugal. Portugal era uma ditadura, e os desfiles serviam para mostrar às pessoas quem detinha as armas. E, neste País, nós não fazemos isso”. Trump insistiu e perguntou se ele não gostava da ideia. “Não. Isso é coisa de ditadores.”

O Brasil tinha 46 mortes por covid-19 quando o general Edson Leal Pujol, então comandante do Exército, publicou um vídeo em 24 de março de 2020. Ele disse: “Uma de nossas responsabilidades com a Nação nesse momento de crise é que nossa tropa deve manter a capacidade operacional para enfrentar o desafio e fazer a diferença. Talvez seja a missão mais importante de nossa geração”. Dias antes, Bolsonaro havia chamado a doença de “gripezinha”. Pujol concluiu: “Os integrantes do sistema de saúde são os nossos combatentes da linha de frente. Esses profissionais estão dando exemplo de coragem e comprometimento contra a doença”.

Solenidade de Passagem do Cargo de Comandante do Exército, do general de Exército Edson Leal Pujol (foto) ao general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.  Foto: Marcos Correa/PR

No memorial da pandemia, um espaço deve ser reservado aos médicos e enfermeiros, civis e militares, que atenderam a população, colocando em risco a sua vida e a de seus familiares. Assim como Trump não queria feridos em seu desfile militar, Bolsonaro não quis ser visto em visita a nenhum hospital. Não levou conforto às vítimas da pandemia ou solidariedade aos profissionais de Saúde. Não lhe agradava a visão dos caídos na mais importante missão cumprida pelos militares de sua geração? Seus adversários não se cansam de lembrar, dia após dia, a sua frase: “Eu não sou coveiro”.

A falta de empatia de Trump e seu desejo de usar as Forças Armadas em atos políticos encontrou a resistência dos oficiais generais americanos. O desfile pretendido pelo republicano não aconteceu. Nem os militares se deixaram enredar na conspiração que buscava desqualificar o resultado das urnas para impedir a posse do presidente eleito, o democrata Joe Biden. Trump não pôde contar com a obediência cega dos generais. Um dia, ele questionou Kelly: “Por que seus generais de merda não podem ser como os generais alemães?” “Quais generais?”, perguntou Kelly. “Os generais alemães da 2.ª Guerra”, respondeu Trump. “O senhor deve saber que eles tentaram matar Hitler três vezes.”

Trump logo mudaria o comando das Forças Armadas – assim como Bolsonaro. Entraria em cena o general Mark Milley, o novo chefe do Estado-Maior Conjunto. “Eu vou ser honesto em tudo o que eu puder. O senhor vai tomar decisões e, desde que elas sejam legais, eu as apoiarei”, disse o general. Em sua presidência, Trump buscou redefinir o papel dos militares nos Estados Unidos. Encontrou diante de seus planos valores que lhe fecharam o caminho do emprego de tropas contra manifestantes. Temendo as conspirações palacianas, Milley advertiu dois assessores do presidente: “A vida parece uma merda atrás das grades”.

No Brasil, os generais cancelaram o desfile cívico-militar que aconteceria na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, após Bolsonaro querer transferi-lo para Copacabana. O presidente organiza com seus apoiadores uma encenação no 7 de Setembro em que pretende pôr as Forças Armadas ao dispor de sua campanha eleitoral. O objetivo – segundo seus aliados – era mostrar a união entre ambos: militares e a candidatura do PL. Ninguém parece se importar como isso degradaria o Exército, transformando-o em milícia armada a serviço de um governo e não mais uma instituição de Estado.

Todas as capitais do País terão desfiles cívico-militares no dia 7, exceto o Rio. Em São Paulo, pela primeira vez, ele será na avenida d. Pedro I, ao lado do Museu Paulista, no Ipiranga, que será reaberto. Há muito tempo não via na cidade uma comemoração assim. Serão mais de 6 mil homens da Marinha, do Exército e da Força Aérea, além de 1.052 policiais e cerca de 3 mil civis, e ainda117 veículos militares. Eles vão passar pela avenida das 8 horas às 12h30. Soldados da Brigada Paraquedista saltarão na avenida em uma festa que se estenderá à tarde, com a reabertura do museu. Autoridades estarão ali – uma delas, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disputa a reeleição –, mas a nenhuma delas ocorreu transformar a festa em evento partidário.

Só ditadores, disse o general Selva, costumam querer exibir ao povo quem é que detém as armas. Era assim em Portugal, no regime salazarista, com seu lema “Deus, Pátria e Família”. A Marinha e a Força Aérea – e mesmo o Exército – mantiveram as comemorações que vão acontecer na orla do Rio, onde os apoiadores do presidente pretendem se agrupar. A data cívica – um patrimônio de todos – não deve ser prisioneira de quem deseja dividir o País. O quanto o exemplo de Mark Milley serve ou guiará seus colegas do Brasil ainda é incerto para alguns. Mas a maioria do Alto Comando do Exército quer distância da confusão.

Em agosto do ano passado, blindados e taques das Forças Armadas passaram pela praça dos Três Poderes; no mesmo dia, a Câmara rejeitou a PEC que autorizava o voto impresso no País. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Se ninguém esqueceu que a Marinha fez desfilar tanques diante do Congresso no dia da votação da PEC do Voto Impresso, em 2021, é também possível lembrar a recente advertência do general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro e hoje seu crítico, ao comentar a postura dos militares diante de Trump. Ele escreveu: “A firmeza de atitude evitou que a egolatria do mandatário destruísse o país, na longa e tempestuosa noite do governo trumpista.” E completou: “Não cambiaram a temporalidade do poder por um vil rebaixamento de seus padrões morais”. É que no estado democrático de direito, como disse, “generais devem liderar, vestidos dos valores que os acompanham, e agir com a mesma fortaleza de convicções contra tentativas de refutar as regras da democracia”.

Caro leitor,

após assistir ao desfile do 14 de Julho na França, em 2017, o presidente americano Donald Trump voltou a Washington com a ideia de promover uma grande parada no Dia da Independência, o 4 de Julho. Mas foi – segundo o relato dos jornalistas Susan B. Glasser e Peter Baker, publicado pela The New Yorker – logo avisando: “Eu não quero nenhum ferido no desfile. Isso não me parece legal”. Em Paris, o americano testemunhara, ao lado de Emmanuel Macron, os mutilados de guerra descerem a Champs-Élysées, incluindo veteranos em cadeira de rodas.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e sua mulher, Brigitte Macron, acompanham a exibição aérea e o desfile comemorativo à queda da Bastilha ao lado do mandatário americano Donald Trump e a primeira-dama, Melania Trump, em 2017, em Paris Foto: Yves Herman/Reuters

Trump ouviu então de seu chefe de gabinete, o general da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais, John Kelly: “Esses (os feridos) são os heróis. Em nosso meio, há apenas um grupo de pessoas mais heroico do que eles: os que estão enterrados em Arlington”. No cemitério nacional, em Arlington, na Virgínia, estão os mortos em combates travados pelos americanos desde a Guerra da Independência. É ali que o presidente John Kennedy, ele mesmo veterano da luta no Pacífico, durante a 2ª Guerra Mundial, está enterrado. Ali também está o filho de Kelly, morto em combate no Afeganistão.

Mas o general, segundo a revista, não tratou disso com Trump, que insistiu em não ter em seu desfile nenhum ferido de guerra. Kelly e seus colegas buscaram demovê-lo da ideia. Em outra reunião, com a presença do general Paul Selva, vice-chefe do Estado-Maior Conjunto, Trump perguntou o que Selva achava do desfile. Oficial da Aeronáutica, Selva disse: “Não cresci nos Estados Unidos. Cresci em Portugal. Portugal era uma ditadura, e os desfiles serviam para mostrar às pessoas quem detinha as armas. E, neste País, nós não fazemos isso”. Trump insistiu e perguntou se ele não gostava da ideia. “Não. Isso é coisa de ditadores.”

O Brasil tinha 46 mortes por covid-19 quando o general Edson Leal Pujol, então comandante do Exército, publicou um vídeo em 24 de março de 2020. Ele disse: “Uma de nossas responsabilidades com a Nação nesse momento de crise é que nossa tropa deve manter a capacidade operacional para enfrentar o desafio e fazer a diferença. Talvez seja a missão mais importante de nossa geração”. Dias antes, Bolsonaro havia chamado a doença de “gripezinha”. Pujol concluiu: “Os integrantes do sistema de saúde são os nossos combatentes da linha de frente. Esses profissionais estão dando exemplo de coragem e comprometimento contra a doença”.

Solenidade de Passagem do Cargo de Comandante do Exército, do general de Exército Edson Leal Pujol (foto) ao general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.  Foto: Marcos Correa/PR

No memorial da pandemia, um espaço deve ser reservado aos médicos e enfermeiros, civis e militares, que atenderam a população, colocando em risco a sua vida e a de seus familiares. Assim como Trump não queria feridos em seu desfile militar, Bolsonaro não quis ser visto em visita a nenhum hospital. Não levou conforto às vítimas da pandemia ou solidariedade aos profissionais de Saúde. Não lhe agradava a visão dos caídos na mais importante missão cumprida pelos militares de sua geração? Seus adversários não se cansam de lembrar, dia após dia, a sua frase: “Eu não sou coveiro”.

A falta de empatia de Trump e seu desejo de usar as Forças Armadas em atos políticos encontrou a resistência dos oficiais generais americanos. O desfile pretendido pelo republicano não aconteceu. Nem os militares se deixaram enredar na conspiração que buscava desqualificar o resultado das urnas para impedir a posse do presidente eleito, o democrata Joe Biden. Trump não pôde contar com a obediência cega dos generais. Um dia, ele questionou Kelly: “Por que seus generais de merda não podem ser como os generais alemães?” “Quais generais?”, perguntou Kelly. “Os generais alemães da 2.ª Guerra”, respondeu Trump. “O senhor deve saber que eles tentaram matar Hitler três vezes.”

Trump logo mudaria o comando das Forças Armadas – assim como Bolsonaro. Entraria em cena o general Mark Milley, o novo chefe do Estado-Maior Conjunto. “Eu vou ser honesto em tudo o que eu puder. O senhor vai tomar decisões e, desde que elas sejam legais, eu as apoiarei”, disse o general. Em sua presidência, Trump buscou redefinir o papel dos militares nos Estados Unidos. Encontrou diante de seus planos valores que lhe fecharam o caminho do emprego de tropas contra manifestantes. Temendo as conspirações palacianas, Milley advertiu dois assessores do presidente: “A vida parece uma merda atrás das grades”.

No Brasil, os generais cancelaram o desfile cívico-militar que aconteceria na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, após Bolsonaro querer transferi-lo para Copacabana. O presidente organiza com seus apoiadores uma encenação no 7 de Setembro em que pretende pôr as Forças Armadas ao dispor de sua campanha eleitoral. O objetivo – segundo seus aliados – era mostrar a união entre ambos: militares e a candidatura do PL. Ninguém parece se importar como isso degradaria o Exército, transformando-o em milícia armada a serviço de um governo e não mais uma instituição de Estado.

Todas as capitais do País terão desfiles cívico-militares no dia 7, exceto o Rio. Em São Paulo, pela primeira vez, ele será na avenida d. Pedro I, ao lado do Museu Paulista, no Ipiranga, que será reaberto. Há muito tempo não via na cidade uma comemoração assim. Serão mais de 6 mil homens da Marinha, do Exército e da Força Aérea, além de 1.052 policiais e cerca de 3 mil civis, e ainda117 veículos militares. Eles vão passar pela avenida das 8 horas às 12h30. Soldados da Brigada Paraquedista saltarão na avenida em uma festa que se estenderá à tarde, com a reabertura do museu. Autoridades estarão ali – uma delas, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disputa a reeleição –, mas a nenhuma delas ocorreu transformar a festa em evento partidário.

Só ditadores, disse o general Selva, costumam querer exibir ao povo quem é que detém as armas. Era assim em Portugal, no regime salazarista, com seu lema “Deus, Pátria e Família”. A Marinha e a Força Aérea – e mesmo o Exército – mantiveram as comemorações que vão acontecer na orla do Rio, onde os apoiadores do presidente pretendem se agrupar. A data cívica – um patrimônio de todos – não deve ser prisioneira de quem deseja dividir o País. O quanto o exemplo de Mark Milley serve ou guiará seus colegas do Brasil ainda é incerto para alguns. Mas a maioria do Alto Comando do Exército quer distância da confusão.

Em agosto do ano passado, blindados e taques das Forças Armadas passaram pela praça dos Três Poderes; no mesmo dia, a Câmara rejeitou a PEC que autorizava o voto impresso no País. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Se ninguém esqueceu que a Marinha fez desfilar tanques diante do Congresso no dia da votação da PEC do Voto Impresso, em 2021, é também possível lembrar a recente advertência do general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro e hoje seu crítico, ao comentar a postura dos militares diante de Trump. Ele escreveu: “A firmeza de atitude evitou que a egolatria do mandatário destruísse o país, na longa e tempestuosa noite do governo trumpista.” E completou: “Não cambiaram a temporalidade do poder por um vil rebaixamento de seus padrões morais”. É que no estado democrático de direito, como disse, “generais devem liderar, vestidos dos valores que os acompanham, e agir com a mesma fortaleza de convicções contra tentativas de refutar as regras da democracia”.

Caro leitor,

após assistir ao desfile do 14 de Julho na França, em 2017, o presidente americano Donald Trump voltou a Washington com a ideia de promover uma grande parada no Dia da Independência, o 4 de Julho. Mas foi – segundo o relato dos jornalistas Susan B. Glasser e Peter Baker, publicado pela The New Yorker – logo avisando: “Eu não quero nenhum ferido no desfile. Isso não me parece legal”. Em Paris, o americano testemunhara, ao lado de Emmanuel Macron, os mutilados de guerra descerem a Champs-Élysées, incluindo veteranos em cadeira de rodas.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e sua mulher, Brigitte Macron, acompanham a exibição aérea e o desfile comemorativo à queda da Bastilha ao lado do mandatário americano Donald Trump e a primeira-dama, Melania Trump, em 2017, em Paris Foto: Yves Herman/Reuters

Trump ouviu então de seu chefe de gabinete, o general da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais, John Kelly: “Esses (os feridos) são os heróis. Em nosso meio, há apenas um grupo de pessoas mais heroico do que eles: os que estão enterrados em Arlington”. No cemitério nacional, em Arlington, na Virgínia, estão os mortos em combates travados pelos americanos desde a Guerra da Independência. É ali que o presidente John Kennedy, ele mesmo veterano da luta no Pacífico, durante a 2ª Guerra Mundial, está enterrado. Ali também está o filho de Kelly, morto em combate no Afeganistão.

Mas o general, segundo a revista, não tratou disso com Trump, que insistiu em não ter em seu desfile nenhum ferido de guerra. Kelly e seus colegas buscaram demovê-lo da ideia. Em outra reunião, com a presença do general Paul Selva, vice-chefe do Estado-Maior Conjunto, Trump perguntou o que Selva achava do desfile. Oficial da Aeronáutica, Selva disse: “Não cresci nos Estados Unidos. Cresci em Portugal. Portugal era uma ditadura, e os desfiles serviam para mostrar às pessoas quem detinha as armas. E, neste País, nós não fazemos isso”. Trump insistiu e perguntou se ele não gostava da ideia. “Não. Isso é coisa de ditadores.”

O Brasil tinha 46 mortes por covid-19 quando o general Edson Leal Pujol, então comandante do Exército, publicou um vídeo em 24 de março de 2020. Ele disse: “Uma de nossas responsabilidades com a Nação nesse momento de crise é que nossa tropa deve manter a capacidade operacional para enfrentar o desafio e fazer a diferença. Talvez seja a missão mais importante de nossa geração”. Dias antes, Bolsonaro havia chamado a doença de “gripezinha”. Pujol concluiu: “Os integrantes do sistema de saúde são os nossos combatentes da linha de frente. Esses profissionais estão dando exemplo de coragem e comprometimento contra a doença”.

Solenidade de Passagem do Cargo de Comandante do Exército, do general de Exército Edson Leal Pujol (foto) ao general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.  Foto: Marcos Correa/PR

No memorial da pandemia, um espaço deve ser reservado aos médicos e enfermeiros, civis e militares, que atenderam a população, colocando em risco a sua vida e a de seus familiares. Assim como Trump não queria feridos em seu desfile militar, Bolsonaro não quis ser visto em visita a nenhum hospital. Não levou conforto às vítimas da pandemia ou solidariedade aos profissionais de Saúde. Não lhe agradava a visão dos caídos na mais importante missão cumprida pelos militares de sua geração? Seus adversários não se cansam de lembrar, dia após dia, a sua frase: “Eu não sou coveiro”.

A falta de empatia de Trump e seu desejo de usar as Forças Armadas em atos políticos encontrou a resistência dos oficiais generais americanos. O desfile pretendido pelo republicano não aconteceu. Nem os militares se deixaram enredar na conspiração que buscava desqualificar o resultado das urnas para impedir a posse do presidente eleito, o democrata Joe Biden. Trump não pôde contar com a obediência cega dos generais. Um dia, ele questionou Kelly: “Por que seus generais de merda não podem ser como os generais alemães?” “Quais generais?”, perguntou Kelly. “Os generais alemães da 2.ª Guerra”, respondeu Trump. “O senhor deve saber que eles tentaram matar Hitler três vezes.”

Trump logo mudaria o comando das Forças Armadas – assim como Bolsonaro. Entraria em cena o general Mark Milley, o novo chefe do Estado-Maior Conjunto. “Eu vou ser honesto em tudo o que eu puder. O senhor vai tomar decisões e, desde que elas sejam legais, eu as apoiarei”, disse o general. Em sua presidência, Trump buscou redefinir o papel dos militares nos Estados Unidos. Encontrou diante de seus planos valores que lhe fecharam o caminho do emprego de tropas contra manifestantes. Temendo as conspirações palacianas, Milley advertiu dois assessores do presidente: “A vida parece uma merda atrás das grades”.

No Brasil, os generais cancelaram o desfile cívico-militar que aconteceria na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, após Bolsonaro querer transferi-lo para Copacabana. O presidente organiza com seus apoiadores uma encenação no 7 de Setembro em que pretende pôr as Forças Armadas ao dispor de sua campanha eleitoral. O objetivo – segundo seus aliados – era mostrar a união entre ambos: militares e a candidatura do PL. Ninguém parece se importar como isso degradaria o Exército, transformando-o em milícia armada a serviço de um governo e não mais uma instituição de Estado.

Todas as capitais do País terão desfiles cívico-militares no dia 7, exceto o Rio. Em São Paulo, pela primeira vez, ele será na avenida d. Pedro I, ao lado do Museu Paulista, no Ipiranga, que será reaberto. Há muito tempo não via na cidade uma comemoração assim. Serão mais de 6 mil homens da Marinha, do Exército e da Força Aérea, além de 1.052 policiais e cerca de 3 mil civis, e ainda117 veículos militares. Eles vão passar pela avenida das 8 horas às 12h30. Soldados da Brigada Paraquedista saltarão na avenida em uma festa que se estenderá à tarde, com a reabertura do museu. Autoridades estarão ali – uma delas, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disputa a reeleição –, mas a nenhuma delas ocorreu transformar a festa em evento partidário.

Só ditadores, disse o general Selva, costumam querer exibir ao povo quem é que detém as armas. Era assim em Portugal, no regime salazarista, com seu lema “Deus, Pátria e Família”. A Marinha e a Força Aérea – e mesmo o Exército – mantiveram as comemorações que vão acontecer na orla do Rio, onde os apoiadores do presidente pretendem se agrupar. A data cívica – um patrimônio de todos – não deve ser prisioneira de quem deseja dividir o País. O quanto o exemplo de Mark Milley serve ou guiará seus colegas do Brasil ainda é incerto para alguns. Mas a maioria do Alto Comando do Exército quer distância da confusão.

Em agosto do ano passado, blindados e taques das Forças Armadas passaram pela praça dos Três Poderes; no mesmo dia, a Câmara rejeitou a PEC que autorizava o voto impresso no País. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Se ninguém esqueceu que a Marinha fez desfilar tanques diante do Congresso no dia da votação da PEC do Voto Impresso, em 2021, é também possível lembrar a recente advertência do general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro e hoje seu crítico, ao comentar a postura dos militares diante de Trump. Ele escreveu: “A firmeza de atitude evitou que a egolatria do mandatário destruísse o país, na longa e tempestuosa noite do governo trumpista.” E completou: “Não cambiaram a temporalidade do poder por um vil rebaixamento de seus padrões morais”. É que no estado democrático de direito, como disse, “generais devem liderar, vestidos dos valores que os acompanham, e agir com a mesma fortaleza de convicções contra tentativas de refutar as regras da democracia”.

Caro leitor,

após assistir ao desfile do 14 de Julho na França, em 2017, o presidente americano Donald Trump voltou a Washington com a ideia de promover uma grande parada no Dia da Independência, o 4 de Julho. Mas foi – segundo o relato dos jornalistas Susan B. Glasser e Peter Baker, publicado pela The New Yorker – logo avisando: “Eu não quero nenhum ferido no desfile. Isso não me parece legal”. Em Paris, o americano testemunhara, ao lado de Emmanuel Macron, os mutilados de guerra descerem a Champs-Élysées, incluindo veteranos em cadeira de rodas.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e sua mulher, Brigitte Macron, acompanham a exibição aérea e o desfile comemorativo à queda da Bastilha ao lado do mandatário americano Donald Trump e a primeira-dama, Melania Trump, em 2017, em Paris Foto: Yves Herman/Reuters

Trump ouviu então de seu chefe de gabinete, o general da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais, John Kelly: “Esses (os feridos) são os heróis. Em nosso meio, há apenas um grupo de pessoas mais heroico do que eles: os que estão enterrados em Arlington”. No cemitério nacional, em Arlington, na Virgínia, estão os mortos em combates travados pelos americanos desde a Guerra da Independência. É ali que o presidente John Kennedy, ele mesmo veterano da luta no Pacífico, durante a 2ª Guerra Mundial, está enterrado. Ali também está o filho de Kelly, morto em combate no Afeganistão.

Mas o general, segundo a revista, não tratou disso com Trump, que insistiu em não ter em seu desfile nenhum ferido de guerra. Kelly e seus colegas buscaram demovê-lo da ideia. Em outra reunião, com a presença do general Paul Selva, vice-chefe do Estado-Maior Conjunto, Trump perguntou o que Selva achava do desfile. Oficial da Aeronáutica, Selva disse: “Não cresci nos Estados Unidos. Cresci em Portugal. Portugal era uma ditadura, e os desfiles serviam para mostrar às pessoas quem detinha as armas. E, neste País, nós não fazemos isso”. Trump insistiu e perguntou se ele não gostava da ideia. “Não. Isso é coisa de ditadores.”

O Brasil tinha 46 mortes por covid-19 quando o general Edson Leal Pujol, então comandante do Exército, publicou um vídeo em 24 de março de 2020. Ele disse: “Uma de nossas responsabilidades com a Nação nesse momento de crise é que nossa tropa deve manter a capacidade operacional para enfrentar o desafio e fazer a diferença. Talvez seja a missão mais importante de nossa geração”. Dias antes, Bolsonaro havia chamado a doença de “gripezinha”. Pujol concluiu: “Os integrantes do sistema de saúde são os nossos combatentes da linha de frente. Esses profissionais estão dando exemplo de coragem e comprometimento contra a doença”.

Solenidade de Passagem do Cargo de Comandante do Exército, do general de Exército Edson Leal Pujol (foto) ao general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.  Foto: Marcos Correa/PR

No memorial da pandemia, um espaço deve ser reservado aos médicos e enfermeiros, civis e militares, que atenderam a população, colocando em risco a sua vida e a de seus familiares. Assim como Trump não queria feridos em seu desfile militar, Bolsonaro não quis ser visto em visita a nenhum hospital. Não levou conforto às vítimas da pandemia ou solidariedade aos profissionais de Saúde. Não lhe agradava a visão dos caídos na mais importante missão cumprida pelos militares de sua geração? Seus adversários não se cansam de lembrar, dia após dia, a sua frase: “Eu não sou coveiro”.

A falta de empatia de Trump e seu desejo de usar as Forças Armadas em atos políticos encontrou a resistência dos oficiais generais americanos. O desfile pretendido pelo republicano não aconteceu. Nem os militares se deixaram enredar na conspiração que buscava desqualificar o resultado das urnas para impedir a posse do presidente eleito, o democrata Joe Biden. Trump não pôde contar com a obediência cega dos generais. Um dia, ele questionou Kelly: “Por que seus generais de merda não podem ser como os generais alemães?” “Quais generais?”, perguntou Kelly. “Os generais alemães da 2.ª Guerra”, respondeu Trump. “O senhor deve saber que eles tentaram matar Hitler três vezes.”

Trump logo mudaria o comando das Forças Armadas – assim como Bolsonaro. Entraria em cena o general Mark Milley, o novo chefe do Estado-Maior Conjunto. “Eu vou ser honesto em tudo o que eu puder. O senhor vai tomar decisões e, desde que elas sejam legais, eu as apoiarei”, disse o general. Em sua presidência, Trump buscou redefinir o papel dos militares nos Estados Unidos. Encontrou diante de seus planos valores que lhe fecharam o caminho do emprego de tropas contra manifestantes. Temendo as conspirações palacianas, Milley advertiu dois assessores do presidente: “A vida parece uma merda atrás das grades”.

No Brasil, os generais cancelaram o desfile cívico-militar que aconteceria na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, após Bolsonaro querer transferi-lo para Copacabana. O presidente organiza com seus apoiadores uma encenação no 7 de Setembro em que pretende pôr as Forças Armadas ao dispor de sua campanha eleitoral. O objetivo – segundo seus aliados – era mostrar a união entre ambos: militares e a candidatura do PL. Ninguém parece se importar como isso degradaria o Exército, transformando-o em milícia armada a serviço de um governo e não mais uma instituição de Estado.

Todas as capitais do País terão desfiles cívico-militares no dia 7, exceto o Rio. Em São Paulo, pela primeira vez, ele será na avenida d. Pedro I, ao lado do Museu Paulista, no Ipiranga, que será reaberto. Há muito tempo não via na cidade uma comemoração assim. Serão mais de 6 mil homens da Marinha, do Exército e da Força Aérea, além de 1.052 policiais e cerca de 3 mil civis, e ainda117 veículos militares. Eles vão passar pela avenida das 8 horas às 12h30. Soldados da Brigada Paraquedista saltarão na avenida em uma festa que se estenderá à tarde, com a reabertura do museu. Autoridades estarão ali – uma delas, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disputa a reeleição –, mas a nenhuma delas ocorreu transformar a festa em evento partidário.

Só ditadores, disse o general Selva, costumam querer exibir ao povo quem é que detém as armas. Era assim em Portugal, no regime salazarista, com seu lema “Deus, Pátria e Família”. A Marinha e a Força Aérea – e mesmo o Exército – mantiveram as comemorações que vão acontecer na orla do Rio, onde os apoiadores do presidente pretendem se agrupar. A data cívica – um patrimônio de todos – não deve ser prisioneira de quem deseja dividir o País. O quanto o exemplo de Mark Milley serve ou guiará seus colegas do Brasil ainda é incerto para alguns. Mas a maioria do Alto Comando do Exército quer distância da confusão.

Em agosto do ano passado, blindados e taques das Forças Armadas passaram pela praça dos Três Poderes; no mesmo dia, a Câmara rejeitou a PEC que autorizava o voto impresso no País. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Se ninguém esqueceu que a Marinha fez desfilar tanques diante do Congresso no dia da votação da PEC do Voto Impresso, em 2021, é também possível lembrar a recente advertência do general Otávio Rêgo Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro e hoje seu crítico, ao comentar a postura dos militares diante de Trump. Ele escreveu: “A firmeza de atitude evitou que a egolatria do mandatário destruísse o país, na longa e tempestuosa noite do governo trumpista.” E completou: “Não cambiaram a temporalidade do poder por um vil rebaixamento de seus padrões morais”. É que no estado democrático de direito, como disse, “generais devem liderar, vestidos dos valores que os acompanham, e agir com a mesma fortaleza de convicções contra tentativas de refutar as regras da democracia”.

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