As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

A metamorfose de Moro


Ação com Dallagnol causa mal-estar entre procuradores e defensores da luta contra a corrupção

Por Marcelo Godoy

Gherardo Colombo, ex-juiz da Suprema Corte da Itália, recebeu uma mensagem em 7 de novembro de 2018. Era um pedido de entrevista sobre a decisão de Sérgio Moro de aceitar ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Sem nenhuma quarentena, o juiz da Lava Jato, que se dizia inspirado pela Operação Mãos Limpas, da qual Colombo fora um dos artífices, ia trabalhar com o adversário de um de seus réus: Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu não teria tomado essa decisão. Estaria traindo a minha independência de magistrado, colocando em dúvida a minha imparcialidade com a qual desenvolvi meu trabalho”, disse Colombo.

Moro se tornou ministro. Após 16 meses, rompeu com Bolsonaro, a quem acusou de tentar interferir na PF. Filiou-se ao Podemos do senador Alvaro Dias e, depois, trocou de partido. Saiu candidato, derrotou Dias e se elegeu senador. Valeu-se para isso de uma reaproximação com Bolsonaro. Como na novela de Kafka, acordou de sonhos intranquilos e descobriu que se transformara em uma nova criatura: um político. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente, assim como o ex-procurador e deputado eleito Deltan Dallagnol.

O que não pode é o juiz parecer Caifás e, cada vez mais, dar a impressão de que vale sacrificar o princípio da Justiça em nome da política. Foto: Ascom/PRPR
continua após a publicidade

A metamorfose dos doutores não passou despercebida da Transparência Internacional, organização que patrocinou, em 2018, as 70 medidas contra a corrupção. Era uma época em que os petistas comparavam Moro a Caifás. E conseguiam despertar pouco mais do que risos, além dos gritos de “bom dia, presidente Lula”. Uma das 70 medidas era a quarentena. Um ministro de Estado devia cumpri-la se pretendesse uma vaga no Supremo.

Tudo agora é passado. A reconciliação do ex-juiz com Bolsonaro despertou uma tempestade no lavajatismo. Há desilusão entre quem trabalhou com Moro e Dallagnol. Cita-se a manifestação da Transparência contra a ação da dupla: “Associar a luta contra a corrupção ao apoio ao candidato Jair Bolsonaro é prestar imenso desserviço à causa e desvirtuar o que ela fundamentalmente representa.”

O que incomoda os procuradores é a “questão institucional”. Ouvidos pela coluna, dois subprocuradores-gerais da República temem as consequências do caso para a credibilidade do combate à corrupção. Dizem que muitos só agora perceberam que a dupla se comporta como políticos dentro do espectro por eles escolhido: a direita. Não se discute se Lula foi pego para Cristo ou se era Barrabás. O que não pode é o juiz parecer Caifás e, cada vez mais, dar a impressão de que vale sacrificar o princípio da Justiça em nome da política.

continua após a publicidade

Não é demais lembrar que Colombo concluiu a entrevista em 2018 com um pedido: “Eu seria muito grato se, no futuro, as pessoas fossem mais prudentes ao estabelecer paralelos entre a Lava Jato e as Mãos Limpas.”

Gherardo Colombo, ex-juiz da Suprema Corte da Itália, recebeu uma mensagem em 7 de novembro de 2018. Era um pedido de entrevista sobre a decisão de Sérgio Moro de aceitar ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Sem nenhuma quarentena, o juiz da Lava Jato, que se dizia inspirado pela Operação Mãos Limpas, da qual Colombo fora um dos artífices, ia trabalhar com o adversário de um de seus réus: Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu não teria tomado essa decisão. Estaria traindo a minha independência de magistrado, colocando em dúvida a minha imparcialidade com a qual desenvolvi meu trabalho”, disse Colombo.

Moro se tornou ministro. Após 16 meses, rompeu com Bolsonaro, a quem acusou de tentar interferir na PF. Filiou-se ao Podemos do senador Alvaro Dias e, depois, trocou de partido. Saiu candidato, derrotou Dias e se elegeu senador. Valeu-se para isso de uma reaproximação com Bolsonaro. Como na novela de Kafka, acordou de sonhos intranquilos e descobriu que se transformara em uma nova criatura: um político. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente, assim como o ex-procurador e deputado eleito Deltan Dallagnol.

O que não pode é o juiz parecer Caifás e, cada vez mais, dar a impressão de que vale sacrificar o princípio da Justiça em nome da política. Foto: Ascom/PRPR

A metamorfose dos doutores não passou despercebida da Transparência Internacional, organização que patrocinou, em 2018, as 70 medidas contra a corrupção. Era uma época em que os petistas comparavam Moro a Caifás. E conseguiam despertar pouco mais do que risos, além dos gritos de “bom dia, presidente Lula”. Uma das 70 medidas era a quarentena. Um ministro de Estado devia cumpri-la se pretendesse uma vaga no Supremo.

Tudo agora é passado. A reconciliação do ex-juiz com Bolsonaro despertou uma tempestade no lavajatismo. Há desilusão entre quem trabalhou com Moro e Dallagnol. Cita-se a manifestação da Transparência contra a ação da dupla: “Associar a luta contra a corrupção ao apoio ao candidato Jair Bolsonaro é prestar imenso desserviço à causa e desvirtuar o que ela fundamentalmente representa.”

O que incomoda os procuradores é a “questão institucional”. Ouvidos pela coluna, dois subprocuradores-gerais da República temem as consequências do caso para a credibilidade do combate à corrupção. Dizem que muitos só agora perceberam que a dupla se comporta como políticos dentro do espectro por eles escolhido: a direita. Não se discute se Lula foi pego para Cristo ou se era Barrabás. O que não pode é o juiz parecer Caifás e, cada vez mais, dar a impressão de que vale sacrificar o princípio da Justiça em nome da política.

Não é demais lembrar que Colombo concluiu a entrevista em 2018 com um pedido: “Eu seria muito grato se, no futuro, as pessoas fossem mais prudentes ao estabelecer paralelos entre a Lava Jato e as Mãos Limpas.”

Gherardo Colombo, ex-juiz da Suprema Corte da Itália, recebeu uma mensagem em 7 de novembro de 2018. Era um pedido de entrevista sobre a decisão de Sérgio Moro de aceitar ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Sem nenhuma quarentena, o juiz da Lava Jato, que se dizia inspirado pela Operação Mãos Limpas, da qual Colombo fora um dos artífices, ia trabalhar com o adversário de um de seus réus: Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu não teria tomado essa decisão. Estaria traindo a minha independência de magistrado, colocando em dúvida a minha imparcialidade com a qual desenvolvi meu trabalho”, disse Colombo.

Moro se tornou ministro. Após 16 meses, rompeu com Bolsonaro, a quem acusou de tentar interferir na PF. Filiou-se ao Podemos do senador Alvaro Dias e, depois, trocou de partido. Saiu candidato, derrotou Dias e se elegeu senador. Valeu-se para isso de uma reaproximação com Bolsonaro. Como na novela de Kafka, acordou de sonhos intranquilos e descobriu que se transformara em uma nova criatura: um político. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente, assim como o ex-procurador e deputado eleito Deltan Dallagnol.

O que não pode é o juiz parecer Caifás e, cada vez mais, dar a impressão de que vale sacrificar o princípio da Justiça em nome da política. Foto: Ascom/PRPR

A metamorfose dos doutores não passou despercebida da Transparência Internacional, organização que patrocinou, em 2018, as 70 medidas contra a corrupção. Era uma época em que os petistas comparavam Moro a Caifás. E conseguiam despertar pouco mais do que risos, além dos gritos de “bom dia, presidente Lula”. Uma das 70 medidas era a quarentena. Um ministro de Estado devia cumpri-la se pretendesse uma vaga no Supremo.

Tudo agora é passado. A reconciliação do ex-juiz com Bolsonaro despertou uma tempestade no lavajatismo. Há desilusão entre quem trabalhou com Moro e Dallagnol. Cita-se a manifestação da Transparência contra a ação da dupla: “Associar a luta contra a corrupção ao apoio ao candidato Jair Bolsonaro é prestar imenso desserviço à causa e desvirtuar o que ela fundamentalmente representa.”

O que incomoda os procuradores é a “questão institucional”. Ouvidos pela coluna, dois subprocuradores-gerais da República temem as consequências do caso para a credibilidade do combate à corrupção. Dizem que muitos só agora perceberam que a dupla se comporta como políticos dentro do espectro por eles escolhido: a direita. Não se discute se Lula foi pego para Cristo ou se era Barrabás. O que não pode é o juiz parecer Caifás e, cada vez mais, dar a impressão de que vale sacrificar o princípio da Justiça em nome da política.

Não é demais lembrar que Colombo concluiu a entrevista em 2018 com um pedido: “Eu seria muito grato se, no futuro, as pessoas fossem mais prudentes ao estabelecer paralelos entre a Lava Jato e as Mãos Limpas.”

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.