As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

Barroso e o mito de Sísifo


Bolsonaro podia se valer de trecho em que o magistrado elogiou o general Santos Cruz

Por Marcelo Godoy

Há aqueles que se dedicam a interpretar o mundo; outros querem transformá-lo. Luís Roberto Barroso pretende julgá-lo. Ele contou a uma plateia de estudantes sua visão sobre as relações entre civis e militares na República. Acredita que as Forças Armadas no governo Bolsonaro resistiram até aqui às três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. Mas mencionou o risco do que chamou de “retrocesso cucaracha”, a “tradição latino-americana de envolver o Exército na política”.

A despeito de toda civilização antiga e mesmo as suas hierarquias terem se erguido em torno da posse e do uso da palavra, a vida que se criou em Brasília parece desconhecer esse fato. “Platão trata disso em vários diálogos. Dizer as ‘coisas oportunas’ é, por si só, a atividade política, considerada antes de tudo como ‘palavra’”, escreve o filósofo Luciano Canfora.

A prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Foto: Carlos Moura/SCO/STF
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Eis uma lição que Barroso e tantos deviam aprender. O descaso com as palavras trai os protagonistas da República. Não só pelo uso do termo “cucaracha”, impróprio pela carga racista e depreciativa dos povos latino-americanos ou pelas frases impugnadas pelos militares. 

Jair Bolsonaro podia se valer de outro trecho da fala de Barroso para dizer que, se o magistrado pretende agir politicamente, deve se filiar a partido e se submeter às urnas. Trata-se daquele em que o ministro elogiou generais deixados para trás pelo capitão. Citou Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e Fernando Azevedo. Disse que eram “profissionais admirados e respeitadores da Constituição”.

Pode até ser verdade. É possível imaginar a frustração de um espírito voluntarioso diante da confusão atual na Praça dos Três Poderes. Mas Barroso esqueceu que um deles – Santos Cruz – pôs o nome à disposição do Podemos para ser candidato à Presidência. E a prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Nem dar pretextos a quem deseja conturbar o ambiente. 

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O magistrado conhece as letras antigas. Deve saber que muitos em Brasília se imaginam um Sísifo e pensam que é a vontade que cria a liberdade em vez da ação comum na esfera pública. Podia recitar-lhes o verso de Lucrécio: “Imperium quod inane est, nec datur umquam”, esse império que é ilusório e não é jamais concedido. E contar-lhes por que a sua conquista individual é mera aparência, substancialmente nula, daí a imagem de um Sísifo que se debate para obter os símbolos do poder. Barroso aproveitaria a aula para refletir sobre a frustração causada pelo exercício da magistratura. E tomaria mais cuidado com as palavras: elas podem se tornar pedras e rolar montanha abaixo antes da hora.

REPÓRTER ESPECIAL

Há aqueles que se dedicam a interpretar o mundo; outros querem transformá-lo. Luís Roberto Barroso pretende julgá-lo. Ele contou a uma plateia de estudantes sua visão sobre as relações entre civis e militares na República. Acredita que as Forças Armadas no governo Bolsonaro resistiram até aqui às três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. Mas mencionou o risco do que chamou de “retrocesso cucaracha”, a “tradição latino-americana de envolver o Exército na política”.

A despeito de toda civilização antiga e mesmo as suas hierarquias terem se erguido em torno da posse e do uso da palavra, a vida que se criou em Brasília parece desconhecer esse fato. “Platão trata disso em vários diálogos. Dizer as ‘coisas oportunas’ é, por si só, a atividade política, considerada antes de tudo como ‘palavra’”, escreve o filósofo Luciano Canfora.

A prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Eis uma lição que Barroso e tantos deviam aprender. O descaso com as palavras trai os protagonistas da República. Não só pelo uso do termo “cucaracha”, impróprio pela carga racista e depreciativa dos povos latino-americanos ou pelas frases impugnadas pelos militares. 

Jair Bolsonaro podia se valer de outro trecho da fala de Barroso para dizer que, se o magistrado pretende agir politicamente, deve se filiar a partido e se submeter às urnas. Trata-se daquele em que o ministro elogiou generais deixados para trás pelo capitão. Citou Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e Fernando Azevedo. Disse que eram “profissionais admirados e respeitadores da Constituição”.

Pode até ser verdade. É possível imaginar a frustração de um espírito voluntarioso diante da confusão atual na Praça dos Três Poderes. Mas Barroso esqueceu que um deles – Santos Cruz – pôs o nome à disposição do Podemos para ser candidato à Presidência. E a prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Nem dar pretextos a quem deseja conturbar o ambiente. 

O magistrado conhece as letras antigas. Deve saber que muitos em Brasília se imaginam um Sísifo e pensam que é a vontade que cria a liberdade em vez da ação comum na esfera pública. Podia recitar-lhes o verso de Lucrécio: “Imperium quod inane est, nec datur umquam”, esse império que é ilusório e não é jamais concedido. E contar-lhes por que a sua conquista individual é mera aparência, substancialmente nula, daí a imagem de um Sísifo que se debate para obter os símbolos do poder. Barroso aproveitaria a aula para refletir sobre a frustração causada pelo exercício da magistratura. E tomaria mais cuidado com as palavras: elas podem se tornar pedras e rolar montanha abaixo antes da hora.

REPÓRTER ESPECIAL

Há aqueles que se dedicam a interpretar o mundo; outros querem transformá-lo. Luís Roberto Barroso pretende julgá-lo. Ele contou a uma plateia de estudantes sua visão sobre as relações entre civis e militares na República. Acredita que as Forças Armadas no governo Bolsonaro resistiram até aqui às três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. Mas mencionou o risco do que chamou de “retrocesso cucaracha”, a “tradição latino-americana de envolver o Exército na política”.

A despeito de toda civilização antiga e mesmo as suas hierarquias terem se erguido em torno da posse e do uso da palavra, a vida que se criou em Brasília parece desconhecer esse fato. “Platão trata disso em vários diálogos. Dizer as ‘coisas oportunas’ é, por si só, a atividade política, considerada antes de tudo como ‘palavra’”, escreve o filósofo Luciano Canfora.

A prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Eis uma lição que Barroso e tantos deviam aprender. O descaso com as palavras trai os protagonistas da República. Não só pelo uso do termo “cucaracha”, impróprio pela carga racista e depreciativa dos povos latino-americanos ou pelas frases impugnadas pelos militares. 

Jair Bolsonaro podia se valer de outro trecho da fala de Barroso para dizer que, se o magistrado pretende agir politicamente, deve se filiar a partido e se submeter às urnas. Trata-se daquele em que o ministro elogiou generais deixados para trás pelo capitão. Citou Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e Fernando Azevedo. Disse que eram “profissionais admirados e respeitadores da Constituição”.

Pode até ser verdade. É possível imaginar a frustração de um espírito voluntarioso diante da confusão atual na Praça dos Três Poderes. Mas Barroso esqueceu que um deles – Santos Cruz – pôs o nome à disposição do Podemos para ser candidato à Presidência. E a prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Nem dar pretextos a quem deseja conturbar o ambiente. 

O magistrado conhece as letras antigas. Deve saber que muitos em Brasília se imaginam um Sísifo e pensam que é a vontade que cria a liberdade em vez da ação comum na esfera pública. Podia recitar-lhes o verso de Lucrécio: “Imperium quod inane est, nec datur umquam”, esse império que é ilusório e não é jamais concedido. E contar-lhes por que a sua conquista individual é mera aparência, substancialmente nula, daí a imagem de um Sísifo que se debate para obter os símbolos do poder. Barroso aproveitaria a aula para refletir sobre a frustração causada pelo exercício da magistratura. E tomaria mais cuidado com as palavras: elas podem se tornar pedras e rolar montanha abaixo antes da hora.

REPÓRTER ESPECIAL

Há aqueles que se dedicam a interpretar o mundo; outros querem transformá-lo. Luís Roberto Barroso pretende julgá-lo. Ele contou a uma plateia de estudantes sua visão sobre as relações entre civis e militares na República. Acredita que as Forças Armadas no governo Bolsonaro resistiram até aqui às três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. Mas mencionou o risco do que chamou de “retrocesso cucaracha”, a “tradição latino-americana de envolver o Exército na política”.

A despeito de toda civilização antiga e mesmo as suas hierarquias terem se erguido em torno da posse e do uso da palavra, a vida que se criou em Brasília parece desconhecer esse fato. “Platão trata disso em vários diálogos. Dizer as ‘coisas oportunas’ é, por si só, a atividade política, considerada antes de tudo como ‘palavra’”, escreve o filósofo Luciano Canfora.

A prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Eis uma lição que Barroso e tantos deviam aprender. O descaso com as palavras trai os protagonistas da República. Não só pelo uso do termo “cucaracha”, impróprio pela carga racista e depreciativa dos povos latino-americanos ou pelas frases impugnadas pelos militares. 

Jair Bolsonaro podia se valer de outro trecho da fala de Barroso para dizer que, se o magistrado pretende agir politicamente, deve se filiar a partido e se submeter às urnas. Trata-se daquele em que o ministro elogiou generais deixados para trás pelo capitão. Citou Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e Fernando Azevedo. Disse que eram “profissionais admirados e respeitadores da Constituição”.

Pode até ser verdade. É possível imaginar a frustração de um espírito voluntarioso diante da confusão atual na Praça dos Três Poderes. Mas Barroso esqueceu que um deles – Santos Cruz – pôs o nome à disposição do Podemos para ser candidato à Presidência. E a prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Nem dar pretextos a quem deseja conturbar o ambiente. 

O magistrado conhece as letras antigas. Deve saber que muitos em Brasília se imaginam um Sísifo e pensam que é a vontade que cria a liberdade em vez da ação comum na esfera pública. Podia recitar-lhes o verso de Lucrécio: “Imperium quod inane est, nec datur umquam”, esse império que é ilusório e não é jamais concedido. E contar-lhes por que a sua conquista individual é mera aparência, substancialmente nula, daí a imagem de um Sísifo que se debate para obter os símbolos do poder. Barroso aproveitaria a aula para refletir sobre a frustração causada pelo exercício da magistratura. E tomaria mais cuidado com as palavras: elas podem se tornar pedras e rolar montanha abaixo antes da hora.

REPÓRTER ESPECIAL

Há aqueles que se dedicam a interpretar o mundo; outros querem transformá-lo. Luís Roberto Barroso pretende julgá-lo. Ele contou a uma plateia de estudantes sua visão sobre as relações entre civis e militares na República. Acredita que as Forças Armadas no governo Bolsonaro resistiram até aqui às três tentações de Brasília: dinheiro, poder e privilégio. Mas mencionou o risco do que chamou de “retrocesso cucaracha”, a “tradição latino-americana de envolver o Exército na política”.

A despeito de toda civilização antiga e mesmo as suas hierarquias terem se erguido em torno da posse e do uso da palavra, a vida que se criou em Brasília parece desconhecer esse fato. “Platão trata disso em vários diálogos. Dizer as ‘coisas oportunas’ é, por si só, a atividade política, considerada antes de tudo como ‘palavra’”, escreve o filósofo Luciano Canfora.

A prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Eis uma lição que Barroso e tantos deviam aprender. O descaso com as palavras trai os protagonistas da República. Não só pelo uso do termo “cucaracha”, impróprio pela carga racista e depreciativa dos povos latino-americanos ou pelas frases impugnadas pelos militares. 

Jair Bolsonaro podia se valer de outro trecho da fala de Barroso para dizer que, se o magistrado pretende agir politicamente, deve se filiar a partido e se submeter às urnas. Trata-se daquele em que o ministro elogiou generais deixados para trás pelo capitão. Citou Santos Cruz, Maynard Santa Rosa e Fernando Azevedo. Disse que eram “profissionais admirados e respeitadores da Constituição”.

Pode até ser verdade. É possível imaginar a frustração de um espírito voluntarioso diante da confusão atual na Praça dos Três Poderes. Mas Barroso esqueceu que um deles – Santos Cruz – pôs o nome à disposição do Podemos para ser candidato à Presidência. E a prudência diz não ser de bom tom um ministro do STF elogiar um candidato em detrimento de outro. Nem dar pretextos a quem deseja conturbar o ambiente. 

O magistrado conhece as letras antigas. Deve saber que muitos em Brasília se imaginam um Sísifo e pensam que é a vontade que cria a liberdade em vez da ação comum na esfera pública. Podia recitar-lhes o verso de Lucrécio: “Imperium quod inane est, nec datur umquam”, esse império que é ilusório e não é jamais concedido. E contar-lhes por que a sua conquista individual é mera aparência, substancialmente nula, daí a imagem de um Sísifo que se debate para obter os símbolos do poder. Barroso aproveitaria a aula para refletir sobre a frustração causada pelo exercício da magistratura. E tomaria mais cuidado com as palavras: elas podem se tornar pedras e rolar montanha abaixo antes da hora.

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