As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

Análise|Coronel afirma que decisão de Tarcísio só ‘interessa para quem faz coisa errada’ na PM


Decisão de permitir aos policiais desligar a câmera não afeta os bons policiais, mas, ao diminuir o comando e o controle na PM, ela afeta a sua eficiência e favorece a banda podre da polícia

Por Marcelo Godoy
Atualização:

O coronel José Alexander de Albuquerque Freixo concluiu 33 dias de caminhada até Santiago de Compostela. Deve ter ido procurar respostas. Ex-subcomandante da PM paulista, ele foi destituído pelo governador Tarcísio de Freitas quando este preparava o fim das gravações contínuas das câmeras corporais da polícia.

Policiais Militares portando câmera no uniforme realizam ronda na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Uma primeira resposta foi dada por Albert Camus em Réflexion sur la peine capitale. Ele contava que o pai, ao assistir à execução de um facínora na guilhotina, vomitou. E concluía: “A Justiça que faz vomitar o homem justo não é Justiça”. Há quem acredite combater o crime só com a força. A autorização para os PMs desligarem as câmeras vai além dessa dimensão; ela afeta a eficiência policial. Esta não existe sem comando e controle.

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Há décadas, coronéis sabem que polícia eficiente é legalista. Deve estar presente no território e seguir procedimentos operacionais padrão (POPs). Mas políticos insistem no formato Rambo de operações especiais. Multiplicam-se fardas camufladas e boinas. Aposta-se na Operação Escudo. Para o coronel José Vicente, a PM havia aprendido a lição. Ele não tem dúvida: a decisão de Tarcísio só interessa a quem faz coisa errada.

Pode-se perguntar: se o disparo da gravação se der só no despacho da viatura para uma ocorrência – minoria do tempo de trabalho –, toda abordagem ocasional deixará de ser gravada? O comando deixará de verificar em mais de 90% do turno policial se os POPs foram cumpridos? Um policial que não coloca a arma na posição sul em uma abordagem arrisca matar um inocente com um disparo acidental. Também não se vai coibir quem pega o “arrego” do tráfico, essa minoria que envergonha a farda? O mesmo se dará com quem faz olho de vidro e não atende a população ou abusa do poder ou faz segurança privada? Em suma, desligar a câmera é tudo o que o mau policial, o que a banda podre quer.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acompanhado de seu Secretario da Segurança, Guilherme Derrite Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO
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O bom policial – a grande maioria – não teme as câmeras. Ele a tem como aliada para sua proteção. Por fim, o botão de desligar pode arruinar a cadeia de custódia das provas, pois advogados vão dizer que os vídeos foram editados pelo PM, tornando o instrumento imprestável.

Tarcísio diz querer uma solução mais barata pois a atual gasta muito e grava mal. Devia achar um sistema que funcionasse. Audiências judiciais são gravadas. Se é assim para juiz, por que ser diferente com o policial fardado? O populismo vê na frouxidão do controle uma forma de conquistar votos. José Vicente conclui com um exemplo: “Foi testada 289 vezes a estratégia de operações especiais para pacificar a favela do Jacarezinho (Rio), entre 2007 e 2020, com 186 mortos. Se funcionasse, não bastariam 15 ou 63 ou 150?” Tarcísio não precisa ir a Compostela para obter as suas respostas.

O coronel José Alexander de Albuquerque Freixo concluiu 33 dias de caminhada até Santiago de Compostela. Deve ter ido procurar respostas. Ex-subcomandante da PM paulista, ele foi destituído pelo governador Tarcísio de Freitas quando este preparava o fim das gravações contínuas das câmeras corporais da polícia.

Policiais Militares portando câmera no uniforme realizam ronda na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Uma primeira resposta foi dada por Albert Camus em Réflexion sur la peine capitale. Ele contava que o pai, ao assistir à execução de um facínora na guilhotina, vomitou. E concluía: “A Justiça que faz vomitar o homem justo não é Justiça”. Há quem acredite combater o crime só com a força. A autorização para os PMs desligarem as câmeras vai além dessa dimensão; ela afeta a eficiência policial. Esta não existe sem comando e controle.

Há décadas, coronéis sabem que polícia eficiente é legalista. Deve estar presente no território e seguir procedimentos operacionais padrão (POPs). Mas políticos insistem no formato Rambo de operações especiais. Multiplicam-se fardas camufladas e boinas. Aposta-se na Operação Escudo. Para o coronel José Vicente, a PM havia aprendido a lição. Ele não tem dúvida: a decisão de Tarcísio só interessa a quem faz coisa errada.

Pode-se perguntar: se o disparo da gravação se der só no despacho da viatura para uma ocorrência – minoria do tempo de trabalho –, toda abordagem ocasional deixará de ser gravada? O comando deixará de verificar em mais de 90% do turno policial se os POPs foram cumpridos? Um policial que não coloca a arma na posição sul em uma abordagem arrisca matar um inocente com um disparo acidental. Também não se vai coibir quem pega o “arrego” do tráfico, essa minoria que envergonha a farda? O mesmo se dará com quem faz olho de vidro e não atende a população ou abusa do poder ou faz segurança privada? Em suma, desligar a câmera é tudo o que o mau policial, o que a banda podre quer.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acompanhado de seu Secretario da Segurança, Guilherme Derrite Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO

O bom policial – a grande maioria – não teme as câmeras. Ele a tem como aliada para sua proteção. Por fim, o botão de desligar pode arruinar a cadeia de custódia das provas, pois advogados vão dizer que os vídeos foram editados pelo PM, tornando o instrumento imprestável.

Tarcísio diz querer uma solução mais barata pois a atual gasta muito e grava mal. Devia achar um sistema que funcionasse. Audiências judiciais são gravadas. Se é assim para juiz, por que ser diferente com o policial fardado? O populismo vê na frouxidão do controle uma forma de conquistar votos. José Vicente conclui com um exemplo: “Foi testada 289 vezes a estratégia de operações especiais para pacificar a favela do Jacarezinho (Rio), entre 2007 e 2020, com 186 mortos. Se funcionasse, não bastariam 15 ou 63 ou 150?” Tarcísio não precisa ir a Compostela para obter as suas respostas.

O coronel José Alexander de Albuquerque Freixo concluiu 33 dias de caminhada até Santiago de Compostela. Deve ter ido procurar respostas. Ex-subcomandante da PM paulista, ele foi destituído pelo governador Tarcísio de Freitas quando este preparava o fim das gravações contínuas das câmeras corporais da polícia.

Policiais Militares portando câmera no uniforme realizam ronda na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Uma primeira resposta foi dada por Albert Camus em Réflexion sur la peine capitale. Ele contava que o pai, ao assistir à execução de um facínora na guilhotina, vomitou. E concluía: “A Justiça que faz vomitar o homem justo não é Justiça”. Há quem acredite combater o crime só com a força. A autorização para os PMs desligarem as câmeras vai além dessa dimensão; ela afeta a eficiência policial. Esta não existe sem comando e controle.

Há décadas, coronéis sabem que polícia eficiente é legalista. Deve estar presente no território e seguir procedimentos operacionais padrão (POPs). Mas políticos insistem no formato Rambo de operações especiais. Multiplicam-se fardas camufladas e boinas. Aposta-se na Operação Escudo. Para o coronel José Vicente, a PM havia aprendido a lição. Ele não tem dúvida: a decisão de Tarcísio só interessa a quem faz coisa errada.

Pode-se perguntar: se o disparo da gravação se der só no despacho da viatura para uma ocorrência – minoria do tempo de trabalho –, toda abordagem ocasional deixará de ser gravada? O comando deixará de verificar em mais de 90% do turno policial se os POPs foram cumpridos? Um policial que não coloca a arma na posição sul em uma abordagem arrisca matar um inocente com um disparo acidental. Também não se vai coibir quem pega o “arrego” do tráfico, essa minoria que envergonha a farda? O mesmo se dará com quem faz olho de vidro e não atende a população ou abusa do poder ou faz segurança privada? Em suma, desligar a câmera é tudo o que o mau policial, o que a banda podre quer.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acompanhado de seu Secretario da Segurança, Guilherme Derrite Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO

O bom policial – a grande maioria – não teme as câmeras. Ele a tem como aliada para sua proteção. Por fim, o botão de desligar pode arruinar a cadeia de custódia das provas, pois advogados vão dizer que os vídeos foram editados pelo PM, tornando o instrumento imprestável.

Tarcísio diz querer uma solução mais barata pois a atual gasta muito e grava mal. Devia achar um sistema que funcionasse. Audiências judiciais são gravadas. Se é assim para juiz, por que ser diferente com o policial fardado? O populismo vê na frouxidão do controle uma forma de conquistar votos. José Vicente conclui com um exemplo: “Foi testada 289 vezes a estratégia de operações especiais para pacificar a favela do Jacarezinho (Rio), entre 2007 e 2020, com 186 mortos. Se funcionasse, não bastariam 15 ou 63 ou 150?” Tarcísio não precisa ir a Compostela para obter as suas respostas.

O coronel José Alexander de Albuquerque Freixo concluiu 33 dias de caminhada até Santiago de Compostela. Deve ter ido procurar respostas. Ex-subcomandante da PM paulista, ele foi destituído pelo governador Tarcísio de Freitas quando este preparava o fim das gravações contínuas das câmeras corporais da polícia.

Policiais Militares portando câmera no uniforme realizam ronda na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Uma primeira resposta foi dada por Albert Camus em Réflexion sur la peine capitale. Ele contava que o pai, ao assistir à execução de um facínora na guilhotina, vomitou. E concluía: “A Justiça que faz vomitar o homem justo não é Justiça”. Há quem acredite combater o crime só com a força. A autorização para os PMs desligarem as câmeras vai além dessa dimensão; ela afeta a eficiência policial. Esta não existe sem comando e controle.

Há décadas, coronéis sabem que polícia eficiente é legalista. Deve estar presente no território e seguir procedimentos operacionais padrão (POPs). Mas políticos insistem no formato Rambo de operações especiais. Multiplicam-se fardas camufladas e boinas. Aposta-se na Operação Escudo. Para o coronel José Vicente, a PM havia aprendido a lição. Ele não tem dúvida: a decisão de Tarcísio só interessa a quem faz coisa errada.

Pode-se perguntar: se o disparo da gravação se der só no despacho da viatura para uma ocorrência – minoria do tempo de trabalho –, toda abordagem ocasional deixará de ser gravada? O comando deixará de verificar em mais de 90% do turno policial se os POPs foram cumpridos? Um policial que não coloca a arma na posição sul em uma abordagem arrisca matar um inocente com um disparo acidental. Também não se vai coibir quem pega o “arrego” do tráfico, essa minoria que envergonha a farda? O mesmo se dará com quem faz olho de vidro e não atende a população ou abusa do poder ou faz segurança privada? Em suma, desligar a câmera é tudo o que o mau policial, o que a banda podre quer.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acompanhado de seu Secretario da Segurança, Guilherme Derrite Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO

O bom policial – a grande maioria – não teme as câmeras. Ele a tem como aliada para sua proteção. Por fim, o botão de desligar pode arruinar a cadeia de custódia das provas, pois advogados vão dizer que os vídeos foram editados pelo PM, tornando o instrumento imprestável.

Tarcísio diz querer uma solução mais barata pois a atual gasta muito e grava mal. Devia achar um sistema que funcionasse. Audiências judiciais são gravadas. Se é assim para juiz, por que ser diferente com o policial fardado? O populismo vê na frouxidão do controle uma forma de conquistar votos. José Vicente conclui com um exemplo: “Foi testada 289 vezes a estratégia de operações especiais para pacificar a favela do Jacarezinho (Rio), entre 2007 e 2020, com 186 mortos. Se funcionasse, não bastariam 15 ou 63 ou 150?” Tarcísio não precisa ir a Compostela para obter as suas respostas.

O coronel José Alexander de Albuquerque Freixo concluiu 33 dias de caminhada até Santiago de Compostela. Deve ter ido procurar respostas. Ex-subcomandante da PM paulista, ele foi destituído pelo governador Tarcísio de Freitas quando este preparava o fim das gravações contínuas das câmeras corporais da polícia.

Policiais Militares portando câmera no uniforme realizam ronda na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Uma primeira resposta foi dada por Albert Camus em Réflexion sur la peine capitale. Ele contava que o pai, ao assistir à execução de um facínora na guilhotina, vomitou. E concluía: “A Justiça que faz vomitar o homem justo não é Justiça”. Há quem acredite combater o crime só com a força. A autorização para os PMs desligarem as câmeras vai além dessa dimensão; ela afeta a eficiência policial. Esta não existe sem comando e controle.

Há décadas, coronéis sabem que polícia eficiente é legalista. Deve estar presente no território e seguir procedimentos operacionais padrão (POPs). Mas políticos insistem no formato Rambo de operações especiais. Multiplicam-se fardas camufladas e boinas. Aposta-se na Operação Escudo. Para o coronel José Vicente, a PM havia aprendido a lição. Ele não tem dúvida: a decisão de Tarcísio só interessa a quem faz coisa errada.

Pode-se perguntar: se o disparo da gravação se der só no despacho da viatura para uma ocorrência – minoria do tempo de trabalho –, toda abordagem ocasional deixará de ser gravada? O comando deixará de verificar em mais de 90% do turno policial se os POPs foram cumpridos? Um policial que não coloca a arma na posição sul em uma abordagem arrisca matar um inocente com um disparo acidental. Também não se vai coibir quem pega o “arrego” do tráfico, essa minoria que envergonha a farda? O mesmo se dará com quem faz olho de vidro e não atende a população ou abusa do poder ou faz segurança privada? Em suma, desligar a câmera é tudo o que o mau policial, o que a banda podre quer.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acompanhado de seu Secretario da Segurança, Guilherme Derrite Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO

O bom policial – a grande maioria – não teme as câmeras. Ele a tem como aliada para sua proteção. Por fim, o botão de desligar pode arruinar a cadeia de custódia das provas, pois advogados vão dizer que os vídeos foram editados pelo PM, tornando o instrumento imprestável.

Tarcísio diz querer uma solução mais barata pois a atual gasta muito e grava mal. Devia achar um sistema que funcionasse. Audiências judiciais são gravadas. Se é assim para juiz, por que ser diferente com o policial fardado? O populismo vê na frouxidão do controle uma forma de conquistar votos. José Vicente conclui com um exemplo: “Foi testada 289 vezes a estratégia de operações especiais para pacificar a favela do Jacarezinho (Rio), entre 2007 e 2020, com 186 mortos. Se funcionasse, não bastariam 15 ou 63 ou 150?” Tarcísio não precisa ir a Compostela para obter as suas respostas.

Análise por Marcelo Godoy

Repórter especial do Estadão e escritor. É autor do livro A Casa da Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015). É jornalista formado pela Casper Líbero.

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