As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

Exército manda dezenas de mísseis para defesa de Roraima contra ameaça blindada


Em sigilo, foram treinados militares da 1ª Brigada de Infantaria de Selva para usar o novo míssil anticarro fabricado no País; testes mostraram que ele é eficaz contra alvos a até 2 mil m de distância

Por Marcelo Godoy
Atualização:

Na sexta-feira, dia 15, o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou sobre a possibilidade de tropas venezuelanas usarem Roraima como rota para uma invasão da Guiana: “Se for necessário um ‘por aqui não passa’ mais enérgico, nós estamos preparados para isso”. O que estava por trás da frase dita ao Jornal Nacional e da segurança do ministro era um plano sigiloso do Exército: transferir para a 1ª Brigada de Infantaria de Selva dezenas de Mísseis Superfície-Superfície 1.2 AntiCarro (MSS 1.2 AC).

Teste do míssil MSS 1.2 AC; armamento é capaz de perfurar 530 mm de blindagem de açoe é altamente eficaz contra alvos a até 2 mil metros de distância Foto: Reprodução/Instituto Militar de Engenharia

Um dia depois do comunicado no qual Guiana de Mohamed Irfaan Ali e a Venezuela de Nicolás Maduro se comprometeram em não usar a força na crise de Essequibo, a frase de Múcio não tinha como objetivo apenas mandar um recado a Maduro, mas também a potências extrarregionais que pudessem aproveitar a oportunidade para fincar mais uma bota na Amazônia. A presença estrangeira, provocando instabilidade na região e ameaçando a soberania dos países, sempre foi uma preocupação constante dos militares brasileiros.

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O envio dos mísseis mostra assim a clara disposição do Brasil de aumentar seu poder militar na área, com a consequente dissuasão de ameaças externas. Pode parecer ainda pouco, diante dos desafios logísticos de se transportar equipamentos e treinar tropas, vencendo distâncias semelhantes às de Paris a Moscou, sem dispor para tanto de ferrovias como as europeias. Os sinais, no entanto, são claros.

A incorporação do MSS 1.2 AC estava prevista para acontecer em 2024 em unidades específicas antes de distribuição geral, mas, a exemplo do que ocorrera com a transformação do esquadrão de cavalaria de Boa Vista em 18º Regimento de Cavalaria Mecanizada (18.º RCMec), ela foi antecipada e realizada antes mesmo da conclusão do relatório final sobre os testes do equipamento. A medida tem o objetivo de suprir a falta de uma defesa eficaz em Roraima contra carros de combate, como o T-72, de fabricação russa, usados, por exemplo, pelo exército da Venezuela, conforme publicado pela coluna.

O míssil MSS 1.2 AC, da empresa SIATT, que vai equipar duas unidades da 1.ª Brigada de Infantaria de Selva Foto: Exército Brasileiro
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O MSS 1.2 AC estava sendo testado desde 2018 – ele teve seus últimos 30 lançamentos no campo de provas do Exército, no Rio, concluídos em dezembro. Ele é fabricado pela SIATT, empresa com sede em São Paulo. A Força Terrestre já adquiriu cerca de 60 unidades do míssil – o Corpo de Fuzileiros Navais, da Marinha, também deve utilizá-lo – e aproveitou os últimos lançamentos para treinar integrantes do 7º Batalhão de Infantaria de Selva (7.º BIS) e do recém-criado 18º RCMec, ambos com sede em Boa Vista, (RR).

Além disso, nesta semana, representantes do Estado-Maior do Exército vão se reunir com a direção da SIATT em razão das negociações entre ambos para que a Força faça novas encomendas do armamento. Com a conclusão dos testes no Rio, os resultados observados pelos militares foram considerados altamente satisfatórios em razão da efetividade do míssil contra alvos a 2 mil metros de distância – seu alcance pode chegar a até 3 mil metros –, semelhante ao Javelin americano, cuja venda em 2022 foi autorizada ao Brasil.

Os ensaios feitos neste ano no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no campo de provas em Marambaia (RJ), com a participação do Centro Tecnológico do Exército (CTEx), confirmaram ainda que o míssil guiado a laser tem capacidade de perfurar blindagens de até 530 mm. Ele pode ser usado pela infantaria ou em viaturas blindadas leves, como as do regimento de Boa Vista, e atacar, além de carros de combate, casamatas e até helicópteros.

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O MSS 1.2 AC é uma solução para a defesa de Roraima no momento em que os estoques mundiais desse tipo de armamento estão sendo consumidos na Ucrânia, como o Javelin americano, que ajudou a deter os blindados russos no primeiro ano da guerra. Há fila de até cinco anos para a compra desse tipo de produto, dependendo do fabricante. Ao mesmo tempo, a maioria dos países deixou de ver o míssil russo Kornet como uma opção. Antes mesmo da crise de Essequibo, a expectativa da SIATT era vender centenas de MSS 1.2 AC.

Blindados para Boa Vista

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Antes de decidir o envio de mísseis para as duas unidades da brigada de Boa Vista, o Exército havia anunciado a transferência de 16 blindados multitarefas Guaicurus (reconhecimento e transporte de tropas) para o novo regimento. Eles vão se somar aos blindados Guaranis e EE-9 Cascavel que já equipavam o antigo esquadrão de cavalaria. Nenhum deles, no entanto, dispunha de meios adequados para deter carros de combate como o T-72, com seu canhão de 125 mm, capaz de atingir alvos a mais de 2,5 km de distância.

A conversão dele em regimento estava prevista no Plano Estratégico do Exército (PPEx), mas só deveria acontecer dentro de um ano. A crise desencadeada pelo referendo de 3 de dezembro, em que o ditador Maduro procurou apoio popular para reivindicar a área de Essequibo para a Venezuela, fez com que o Exército apressasse seus planos para a região Amazônica.

Blindados EE-9 Cascavel em Roraima durante exercício da 1ª Brigada de Infantaria de Selva; esquadrão foi transformado em regimento Foto: EXÉRCITO BRASILEIRO
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Além da região em disputa pelos dois países estar na fronteira com o Brasil, diversos fatores geográficos e históricos tornam a crise perigosa para o Brasil. Uma invasão da Guiana pela Venezuela seria impraticável por terra em razão da floresta tropical e da topografia da região. Mais fácil seria passar pelo território brasileiro, em Roraima, onde há estradas e uma vegetação de savanas. Ou invadir pelo mar.

A dissuasão da Guiana está centrada na presença da 1st Security Force Assistance Brigade (1.ª SFAB), os instrutores militares americanos, e em toda a estrutura do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, além da aliança do país com o Reino Unido. A chegada dos mísseis MSS 1.2 AC pode resolver parte do problema do Brasil em Roraima – a dissuasão em relação a forças blindadas –, mas permanece ainda o da defesa antiaérea deficiente para médias e grandes alturas.

E essa é só mais uma das fragilidades de nossa Defesa – a Força Aérea dispõe apenas de oito Gripens, seu principal caça, e a Marinha está aposentando 43% de suas embarcações. E isso tudo em mundo em que os confrontos na Ucrânia e em Gaza e a crise de Essequibo reacenderam velhas disputas e ameaças. Tudo isso mostra que, de fato, os militares brasileiros ainda terão muitas “coisas de soldado” com o que se preocupar no próximo ano.

Na sexta-feira, dia 15, o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou sobre a possibilidade de tropas venezuelanas usarem Roraima como rota para uma invasão da Guiana: “Se for necessário um ‘por aqui não passa’ mais enérgico, nós estamos preparados para isso”. O que estava por trás da frase dita ao Jornal Nacional e da segurança do ministro era um plano sigiloso do Exército: transferir para a 1ª Brigada de Infantaria de Selva dezenas de Mísseis Superfície-Superfície 1.2 AntiCarro (MSS 1.2 AC).

Teste do míssil MSS 1.2 AC; armamento é capaz de perfurar 530 mm de blindagem de açoe é altamente eficaz contra alvos a até 2 mil metros de distância Foto: Reprodução/Instituto Militar de Engenharia

Um dia depois do comunicado no qual Guiana de Mohamed Irfaan Ali e a Venezuela de Nicolás Maduro se comprometeram em não usar a força na crise de Essequibo, a frase de Múcio não tinha como objetivo apenas mandar um recado a Maduro, mas também a potências extrarregionais que pudessem aproveitar a oportunidade para fincar mais uma bota na Amazônia. A presença estrangeira, provocando instabilidade na região e ameaçando a soberania dos países, sempre foi uma preocupação constante dos militares brasileiros.

O envio dos mísseis mostra assim a clara disposição do Brasil de aumentar seu poder militar na área, com a consequente dissuasão de ameaças externas. Pode parecer ainda pouco, diante dos desafios logísticos de se transportar equipamentos e treinar tropas, vencendo distâncias semelhantes às de Paris a Moscou, sem dispor para tanto de ferrovias como as europeias. Os sinais, no entanto, são claros.

A incorporação do MSS 1.2 AC estava prevista para acontecer em 2024 em unidades específicas antes de distribuição geral, mas, a exemplo do que ocorrera com a transformação do esquadrão de cavalaria de Boa Vista em 18º Regimento de Cavalaria Mecanizada (18.º RCMec), ela foi antecipada e realizada antes mesmo da conclusão do relatório final sobre os testes do equipamento. A medida tem o objetivo de suprir a falta de uma defesa eficaz em Roraima contra carros de combate, como o T-72, de fabricação russa, usados, por exemplo, pelo exército da Venezuela, conforme publicado pela coluna.

O míssil MSS 1.2 AC, da empresa SIATT, que vai equipar duas unidades da 1.ª Brigada de Infantaria de Selva Foto: Exército Brasileiro

O MSS 1.2 AC estava sendo testado desde 2018 – ele teve seus últimos 30 lançamentos no campo de provas do Exército, no Rio, concluídos em dezembro. Ele é fabricado pela SIATT, empresa com sede em São Paulo. A Força Terrestre já adquiriu cerca de 60 unidades do míssil – o Corpo de Fuzileiros Navais, da Marinha, também deve utilizá-lo – e aproveitou os últimos lançamentos para treinar integrantes do 7º Batalhão de Infantaria de Selva (7.º BIS) e do recém-criado 18º RCMec, ambos com sede em Boa Vista, (RR).

Além disso, nesta semana, representantes do Estado-Maior do Exército vão se reunir com a direção da SIATT em razão das negociações entre ambos para que a Força faça novas encomendas do armamento. Com a conclusão dos testes no Rio, os resultados observados pelos militares foram considerados altamente satisfatórios em razão da efetividade do míssil contra alvos a 2 mil metros de distância – seu alcance pode chegar a até 3 mil metros –, semelhante ao Javelin americano, cuja venda em 2022 foi autorizada ao Brasil.

Os ensaios feitos neste ano no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no campo de provas em Marambaia (RJ), com a participação do Centro Tecnológico do Exército (CTEx), confirmaram ainda que o míssil guiado a laser tem capacidade de perfurar blindagens de até 530 mm. Ele pode ser usado pela infantaria ou em viaturas blindadas leves, como as do regimento de Boa Vista, e atacar, além de carros de combate, casamatas e até helicópteros.

O MSS 1.2 AC é uma solução para a defesa de Roraima no momento em que os estoques mundiais desse tipo de armamento estão sendo consumidos na Ucrânia, como o Javelin americano, que ajudou a deter os blindados russos no primeiro ano da guerra. Há fila de até cinco anos para a compra desse tipo de produto, dependendo do fabricante. Ao mesmo tempo, a maioria dos países deixou de ver o míssil russo Kornet como uma opção. Antes mesmo da crise de Essequibo, a expectativa da SIATT era vender centenas de MSS 1.2 AC.

Blindados para Boa Vista

Antes de decidir o envio de mísseis para as duas unidades da brigada de Boa Vista, o Exército havia anunciado a transferência de 16 blindados multitarefas Guaicurus (reconhecimento e transporte de tropas) para o novo regimento. Eles vão se somar aos blindados Guaranis e EE-9 Cascavel que já equipavam o antigo esquadrão de cavalaria. Nenhum deles, no entanto, dispunha de meios adequados para deter carros de combate como o T-72, com seu canhão de 125 mm, capaz de atingir alvos a mais de 2,5 km de distância.

A conversão dele em regimento estava prevista no Plano Estratégico do Exército (PPEx), mas só deveria acontecer dentro de um ano. A crise desencadeada pelo referendo de 3 de dezembro, em que o ditador Maduro procurou apoio popular para reivindicar a área de Essequibo para a Venezuela, fez com que o Exército apressasse seus planos para a região Amazônica.

Blindados EE-9 Cascavel em Roraima durante exercício da 1ª Brigada de Infantaria de Selva; esquadrão foi transformado em regimento Foto: EXÉRCITO BRASILEIRO

Além da região em disputa pelos dois países estar na fronteira com o Brasil, diversos fatores geográficos e históricos tornam a crise perigosa para o Brasil. Uma invasão da Guiana pela Venezuela seria impraticável por terra em razão da floresta tropical e da topografia da região. Mais fácil seria passar pelo território brasileiro, em Roraima, onde há estradas e uma vegetação de savanas. Ou invadir pelo mar.

A dissuasão da Guiana está centrada na presença da 1st Security Force Assistance Brigade (1.ª SFAB), os instrutores militares americanos, e em toda a estrutura do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, além da aliança do país com o Reino Unido. A chegada dos mísseis MSS 1.2 AC pode resolver parte do problema do Brasil em Roraima – a dissuasão em relação a forças blindadas –, mas permanece ainda o da defesa antiaérea deficiente para médias e grandes alturas.

E essa é só mais uma das fragilidades de nossa Defesa – a Força Aérea dispõe apenas de oito Gripens, seu principal caça, e a Marinha está aposentando 43% de suas embarcações. E isso tudo em mundo em que os confrontos na Ucrânia e em Gaza e a crise de Essequibo reacenderam velhas disputas e ameaças. Tudo isso mostra que, de fato, os militares brasileiros ainda terão muitas “coisas de soldado” com o que se preocupar no próximo ano.

Na sexta-feira, dia 15, o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou sobre a possibilidade de tropas venezuelanas usarem Roraima como rota para uma invasão da Guiana: “Se for necessário um ‘por aqui não passa’ mais enérgico, nós estamos preparados para isso”. O que estava por trás da frase dita ao Jornal Nacional e da segurança do ministro era um plano sigiloso do Exército: transferir para a 1ª Brigada de Infantaria de Selva dezenas de Mísseis Superfície-Superfície 1.2 AntiCarro (MSS 1.2 AC).

Teste do míssil MSS 1.2 AC; armamento é capaz de perfurar 530 mm de blindagem de açoe é altamente eficaz contra alvos a até 2 mil metros de distância Foto: Reprodução/Instituto Militar de Engenharia

Um dia depois do comunicado no qual Guiana de Mohamed Irfaan Ali e a Venezuela de Nicolás Maduro se comprometeram em não usar a força na crise de Essequibo, a frase de Múcio não tinha como objetivo apenas mandar um recado a Maduro, mas também a potências extrarregionais que pudessem aproveitar a oportunidade para fincar mais uma bota na Amazônia. A presença estrangeira, provocando instabilidade na região e ameaçando a soberania dos países, sempre foi uma preocupação constante dos militares brasileiros.

O envio dos mísseis mostra assim a clara disposição do Brasil de aumentar seu poder militar na área, com a consequente dissuasão de ameaças externas. Pode parecer ainda pouco, diante dos desafios logísticos de se transportar equipamentos e treinar tropas, vencendo distâncias semelhantes às de Paris a Moscou, sem dispor para tanto de ferrovias como as europeias. Os sinais, no entanto, são claros.

A incorporação do MSS 1.2 AC estava prevista para acontecer em 2024 em unidades específicas antes de distribuição geral, mas, a exemplo do que ocorrera com a transformação do esquadrão de cavalaria de Boa Vista em 18º Regimento de Cavalaria Mecanizada (18.º RCMec), ela foi antecipada e realizada antes mesmo da conclusão do relatório final sobre os testes do equipamento. A medida tem o objetivo de suprir a falta de uma defesa eficaz em Roraima contra carros de combate, como o T-72, de fabricação russa, usados, por exemplo, pelo exército da Venezuela, conforme publicado pela coluna.

O míssil MSS 1.2 AC, da empresa SIATT, que vai equipar duas unidades da 1.ª Brigada de Infantaria de Selva Foto: Exército Brasileiro

O MSS 1.2 AC estava sendo testado desde 2018 – ele teve seus últimos 30 lançamentos no campo de provas do Exército, no Rio, concluídos em dezembro. Ele é fabricado pela SIATT, empresa com sede em São Paulo. A Força Terrestre já adquiriu cerca de 60 unidades do míssil – o Corpo de Fuzileiros Navais, da Marinha, também deve utilizá-lo – e aproveitou os últimos lançamentos para treinar integrantes do 7º Batalhão de Infantaria de Selva (7.º BIS) e do recém-criado 18º RCMec, ambos com sede em Boa Vista, (RR).

Além disso, nesta semana, representantes do Estado-Maior do Exército vão se reunir com a direção da SIATT em razão das negociações entre ambos para que a Força faça novas encomendas do armamento. Com a conclusão dos testes no Rio, os resultados observados pelos militares foram considerados altamente satisfatórios em razão da efetividade do míssil contra alvos a 2 mil metros de distância – seu alcance pode chegar a até 3 mil metros –, semelhante ao Javelin americano, cuja venda em 2022 foi autorizada ao Brasil.

Os ensaios feitos neste ano no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no campo de provas em Marambaia (RJ), com a participação do Centro Tecnológico do Exército (CTEx), confirmaram ainda que o míssil guiado a laser tem capacidade de perfurar blindagens de até 530 mm. Ele pode ser usado pela infantaria ou em viaturas blindadas leves, como as do regimento de Boa Vista, e atacar, além de carros de combate, casamatas e até helicópteros.

O MSS 1.2 AC é uma solução para a defesa de Roraima no momento em que os estoques mundiais desse tipo de armamento estão sendo consumidos na Ucrânia, como o Javelin americano, que ajudou a deter os blindados russos no primeiro ano da guerra. Há fila de até cinco anos para a compra desse tipo de produto, dependendo do fabricante. Ao mesmo tempo, a maioria dos países deixou de ver o míssil russo Kornet como uma opção. Antes mesmo da crise de Essequibo, a expectativa da SIATT era vender centenas de MSS 1.2 AC.

Blindados para Boa Vista

Antes de decidir o envio de mísseis para as duas unidades da brigada de Boa Vista, o Exército havia anunciado a transferência de 16 blindados multitarefas Guaicurus (reconhecimento e transporte de tropas) para o novo regimento. Eles vão se somar aos blindados Guaranis e EE-9 Cascavel que já equipavam o antigo esquadrão de cavalaria. Nenhum deles, no entanto, dispunha de meios adequados para deter carros de combate como o T-72, com seu canhão de 125 mm, capaz de atingir alvos a mais de 2,5 km de distância.

A conversão dele em regimento estava prevista no Plano Estratégico do Exército (PPEx), mas só deveria acontecer dentro de um ano. A crise desencadeada pelo referendo de 3 de dezembro, em que o ditador Maduro procurou apoio popular para reivindicar a área de Essequibo para a Venezuela, fez com que o Exército apressasse seus planos para a região Amazônica.

Blindados EE-9 Cascavel em Roraima durante exercício da 1ª Brigada de Infantaria de Selva; esquadrão foi transformado em regimento Foto: EXÉRCITO BRASILEIRO

Além da região em disputa pelos dois países estar na fronteira com o Brasil, diversos fatores geográficos e históricos tornam a crise perigosa para o Brasil. Uma invasão da Guiana pela Venezuela seria impraticável por terra em razão da floresta tropical e da topografia da região. Mais fácil seria passar pelo território brasileiro, em Roraima, onde há estradas e uma vegetação de savanas. Ou invadir pelo mar.

A dissuasão da Guiana está centrada na presença da 1st Security Force Assistance Brigade (1.ª SFAB), os instrutores militares americanos, e em toda a estrutura do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, além da aliança do país com o Reino Unido. A chegada dos mísseis MSS 1.2 AC pode resolver parte do problema do Brasil em Roraima – a dissuasão em relação a forças blindadas –, mas permanece ainda o da defesa antiaérea deficiente para médias e grandes alturas.

E essa é só mais uma das fragilidades de nossa Defesa – a Força Aérea dispõe apenas de oito Gripens, seu principal caça, e a Marinha está aposentando 43% de suas embarcações. E isso tudo em mundo em que os confrontos na Ucrânia e em Gaza e a crise de Essequibo reacenderam velhas disputas e ameaças. Tudo isso mostra que, de fato, os militares brasileiros ainda terão muitas “coisas de soldado” com o que se preocupar no próximo ano.

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