O Exército Brasileiro anunciou que vai comprar um carregamento de uma centena de mísseis americanos FGM-148 Javelin, fabricados pela Raytheon e pela Lockheed Martin. A chegada do armamento deve ocorrer depois de quase quatro anos que o Brasil fez o primeiro pedido de aquisição do equipamento, que foi fundamental para a Ucrânia parar a ofensiva russa no começo da guerra, em 2022. “Estamos em tratativas. O Javelin chega no ano que vem ou no próximo”, afirmou o comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro de Paiva.
O novo míssil deve equipar a 1.ª Companhia Anticarro Mecanizada (1.ª Cia AC Mec), inaugurada no último dia 16 pelo general Tomás, que fez o anúncio da aquisição do novo armamento. Ele também informou que a Força Terrestre deve, após ter concluído os testes com dois protótipos, fechar o contrato para aquisição de 98 caça-tanques Centauro II-BR.
Tomás estava acompanhado na sede da unidade pelo então comandante militar do Sudeste, general Guido Amin Naves, e pelo seu sucessor, o general Pedro Celso Coelho Montenegro. “Estávamos perseguindo há muito tempo essa capacidade anticarro e conseguimos obter agora com três tipos de material”, contou Tomás.
Ele elencou os mísseis FGM-148 Javelin, o Spike LR2 e Max 1.2 AC. O produto americano é um míssil portátil anticarro com orientação por infravermelho – ele usa o sistema fire and forget ou atire e esqueça, em português – que pode alcançar alvos a até 4 mil metros. O Brasil havia apresentado o primeiro pedido de compra em 2021. Mas só no fim de 2022 o governo americano autorizou a venda.
Com isso, o Exército acabou adquirindo primeiro o míssil israelense Spike LR-2, cuja entrega também atrasou – a chegada ao País aconteceu apenas neste ano. O equipamento usa o chamado sistema fire, observe and update (disparar, observar e atualizar) com auxílio de inteligência artificial. Por meio dele, seu operador pode optar pelo controle manual do início ao fim do voo ou travar o alvo por meio da IA. Neste caso, ainda é possível fazer ajustes no voo até o impacto.
O Spike LR-2 equipa dois pelotões da 1.ª CIA AC Mec, com duas seções cada. Cada seção tem duas peças para disparar o míssil de 13 quilos, o que pode ser feito do solo por uma equipe de soldados ou a partir de viaturas blindadas multitarefas leves sobre rodas Guaicurus, fabricadas pela Iveco Defense Vehicles (IDV). O alcance do Spike LR-2 é de 5,5 mil metros.
O outro míssil citado por Tomás é o brasileiro Max 1.2 AC, fabricado pela SIATT, no Vale do Paraíba. Os ensaios feitos no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no campo de provas em Marambaia (RJ), com a participação do Centro Tecnológico do Exército (CTEx), confirmaram que o míssil guiado a laser tem capacidade de perfurar blindagens de até 530 mm. Ele pode ser usado pela infantaria ou também em viaturas blindadas leves, assim como o Spike LR-2.
“Esse três tipos de equipamento nos dão capacidade de proteção contra carros, algo muito importante para qualquer tropa convencional do mundo”, afirmou o comandante. Agregada à 11.ª Brigada de Infantaria Mecanizada, a 1.ª CIA AC Mec deve ter a capacidade de ser transportada para qualquer parte do território nacional por meio dos aviões KC-390, da Força Aérea Brasileira.
No próximo ano, sua tropa será deslocada para Roraima para conhecer posições de defesa do Estado onde está a maior ameaça geopolítica ao País: a disputa entre a Venezuela e a Guiana pelo território de Essequibo. Há o receio de que o regime de Nicolás Maduro tente passar tropas pelo território brasileiro para se apropriar do território em disputa com a Guiana. Por isso, já foram enviados cerca de 60 mísseis Max 1.2 AC à 1.ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Boa Vista (RR), cuja tropa permanece em prontidão máxima.
A nova unidade faz parte do programa de mudança da 11.ª Brigada de Infantaria Mecanizada. “A brigada está voltando às suas origens, da 11.ª Brigada de Infantaria Blindada. Ela volta ao seu local de origem, a usar a boina preta (símbolo das tropas blindadas)”, disse Tomás.
De acordo com ele, a brigada agora é a principal brigada mecanizada do Exército Brasileiro e com uma capacidade única: a companhia anticarro. “Estamos vendo aqui o estado da arte com material de 5ª geração, que é o míssil Spike. Com satisfação que será incorporado aqui o míssil brasileiro Max MSS 1.2 AC. E está vindo para cá o míssil Javelin”, afirmou.
Além dos mísseis, a brigada deve receber ainda os futuros blindados Centauro II-BR. Fabricado pelos italianos do Consórcio Iveco-OTO Melara (CIO), a torre do Centauro II-BR é equipada com um canhão de 120 mm. Trata-se de um Veículo Blindado de Combate de Cavalaria (VBC Cav), cuja compra faz parte do projeto de modernização das forças blindadas do País. Quando entrar em operação, ele será o mais poderoso veículo do tipo na América do Sul.
Também deve ganhar uma bateria antiaérea. “Essa brigada é uma brigada expedicionária. A gente tem a brigada aeromóvel e uma brigada mecanizada pronta para atuar em qualquer ponto do território nacional”, afirmou. Tomás acrescentou que os primeiros centauros devem chegar em 2027 ao Brasil.
A compra do Centauro II-BR só podia ser fechada depois que todos os testes com o blindado italiano fosse concluídos. Isso aconteceu entre os dias 2 e 13 de dezembro, quando o Exército concluiu a última etapa de avaliação técnica operacional da VBC Cav sobre Rodas 8 x 8 no Campo de Instrução Barão de São Borja (Saicã), em Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul. Os militares passaram ainda por capacitação técnica e por familiarização com o Centauro II-BR, no Centro de Instrução de Blindados (CIBld), em Santa Maria (RS). Ao todo, o cronograma teve dez semanas de duração.