As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

Lula, a oposição e a sabedoria


O Brasil permanece ‘longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível’

Por Marcelo Godoy
Atualização:

Quando o socialista Sandro Pertini foi eleito presidente da Itália, em 1978, o jornalista Indro Montanelli desejou ao ex-partigiano que se tornaria o mais popular chefe de Estado italiano do pós-guerra: “Tenha a coragem de fazer as coisas que devem e podem ser feitas; a humildade de renunciar àquelas que devem, mas não podem e às que podem, mas não devem ser realizadas. E sabedoria para distinguir uma das outras”.

Retomava, assim, a famosa oração do teólogo protestante Reinhold Niebuhr, que foi lembrada por aqui pelo economista Roberto Campos, no último discurso que fez na Câmara, em 1999, quando se despedia do Parlamento, após 16 anos de mandatos consecutivos. Campos deixou aos colegas congressistas esses mesmos votos após reconhecer “o fracasso de uma geração em promover o desenvolvimento sustentável do Brasil”.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
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Assim como todo governo que se inicia pede aos eleitores paciência para ser julgado pela consequência de seus atos e não pela pressa dos que pretendem lhe fazer oposição, seria interessante que Luiz Inácio Lula da Silva prestasse atenção às palavras de Campos. É que ali está um caminho para sua gestão, desde que o mandatário não caia na tentação de ser um novo Messias, como o que deixou o Brasil para se refugiar nos Estados Unidos. Reconstruir o País não significa reinventá-lo e uni-lo é diferente de impor uma visão de mundo não hegemônica.

Se quiser aproveitar oportunidades em que o consenso entre as forças políticas pode favorecer seu governo e promover o desenvolvimento pretendido por Campos, Lula deve concentrar esforços na reforma tributária, na educação básica e no desbloqueio da pauta ambiental. Há trilhões de dólares em fundos de investimentos no exterior que só financiarão o desenvolvimento no Brasil caso o País abrace a vocação para se tornar uma potência verde. Até o partido Novo apoiaria essas pautas.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. E defende o compromisso com a democracia para isolar os elementos iliberais, conforme disse o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Trata-se de reconstruir a aduana da respeitabilidade republicana, barrando os extremistas. A defesa da democracia exige a postura de Angela Merkel, quando ordenou a seu partido desfazer o acordo com os liberais que resolveram se aliar aos ultradireitistas do AfD, na Turíngia, em 2020.

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Nem é preciso tanta sabedoria para distinguir essas coisas em um País que continua – como disse Campos em seu último discurso – “longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível”.

Quando o socialista Sandro Pertini foi eleito presidente da Itália, em 1978, o jornalista Indro Montanelli desejou ao ex-partigiano que se tornaria o mais popular chefe de Estado italiano do pós-guerra: “Tenha a coragem de fazer as coisas que devem e podem ser feitas; a humildade de renunciar àquelas que devem, mas não podem e às que podem, mas não devem ser realizadas. E sabedoria para distinguir uma das outras”.

Retomava, assim, a famosa oração do teólogo protestante Reinhold Niebuhr, que foi lembrada por aqui pelo economista Roberto Campos, no último discurso que fez na Câmara, em 1999, quando se despedia do Parlamento, após 16 anos de mandatos consecutivos. Campos deixou aos colegas congressistas esses mesmos votos após reconhecer “o fracasso de uma geração em promover o desenvolvimento sustentável do Brasil”.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Assim como todo governo que se inicia pede aos eleitores paciência para ser julgado pela consequência de seus atos e não pela pressa dos que pretendem lhe fazer oposição, seria interessante que Luiz Inácio Lula da Silva prestasse atenção às palavras de Campos. É que ali está um caminho para sua gestão, desde que o mandatário não caia na tentação de ser um novo Messias, como o que deixou o Brasil para se refugiar nos Estados Unidos. Reconstruir o País não significa reinventá-lo e uni-lo é diferente de impor uma visão de mundo não hegemônica.

Se quiser aproveitar oportunidades em que o consenso entre as forças políticas pode favorecer seu governo e promover o desenvolvimento pretendido por Campos, Lula deve concentrar esforços na reforma tributária, na educação básica e no desbloqueio da pauta ambiental. Há trilhões de dólares em fundos de investimentos no exterior que só financiarão o desenvolvimento no Brasil caso o País abrace a vocação para se tornar uma potência verde. Até o partido Novo apoiaria essas pautas.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. E defende o compromisso com a democracia para isolar os elementos iliberais, conforme disse o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Trata-se de reconstruir a aduana da respeitabilidade republicana, barrando os extremistas. A defesa da democracia exige a postura de Angela Merkel, quando ordenou a seu partido desfazer o acordo com os liberais que resolveram se aliar aos ultradireitistas do AfD, na Turíngia, em 2020.

Nem é preciso tanta sabedoria para distinguir essas coisas em um País que continua – como disse Campos em seu último discurso – “longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível”.

Quando o socialista Sandro Pertini foi eleito presidente da Itália, em 1978, o jornalista Indro Montanelli desejou ao ex-partigiano que se tornaria o mais popular chefe de Estado italiano do pós-guerra: “Tenha a coragem de fazer as coisas que devem e podem ser feitas; a humildade de renunciar àquelas que devem, mas não podem e às que podem, mas não devem ser realizadas. E sabedoria para distinguir uma das outras”.

Retomava, assim, a famosa oração do teólogo protestante Reinhold Niebuhr, que foi lembrada por aqui pelo economista Roberto Campos, no último discurso que fez na Câmara, em 1999, quando se despedia do Parlamento, após 16 anos de mandatos consecutivos. Campos deixou aos colegas congressistas esses mesmos votos após reconhecer “o fracasso de uma geração em promover o desenvolvimento sustentável do Brasil”.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Assim como todo governo que se inicia pede aos eleitores paciência para ser julgado pela consequência de seus atos e não pela pressa dos que pretendem lhe fazer oposição, seria interessante que Luiz Inácio Lula da Silva prestasse atenção às palavras de Campos. É que ali está um caminho para sua gestão, desde que o mandatário não caia na tentação de ser um novo Messias, como o que deixou o Brasil para se refugiar nos Estados Unidos. Reconstruir o País não significa reinventá-lo e uni-lo é diferente de impor uma visão de mundo não hegemônica.

Se quiser aproveitar oportunidades em que o consenso entre as forças políticas pode favorecer seu governo e promover o desenvolvimento pretendido por Campos, Lula deve concentrar esforços na reforma tributária, na educação básica e no desbloqueio da pauta ambiental. Há trilhões de dólares em fundos de investimentos no exterior que só financiarão o desenvolvimento no Brasil caso o País abrace a vocação para se tornar uma potência verde. Até o partido Novo apoiaria essas pautas.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. E defende o compromisso com a democracia para isolar os elementos iliberais, conforme disse o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Trata-se de reconstruir a aduana da respeitabilidade republicana, barrando os extremistas. A defesa da democracia exige a postura de Angela Merkel, quando ordenou a seu partido desfazer o acordo com os liberais que resolveram se aliar aos ultradireitistas do AfD, na Turíngia, em 2020.

Nem é preciso tanta sabedoria para distinguir essas coisas em um País que continua – como disse Campos em seu último discurso – “longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível”.

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