As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

O que o general disse a Lula para evitar uma tragédia no 8 de janeiro; militar depõe à PF


Gustavo Henrique Dutra vai relatar diálogo que teve com o presidente: ‘Vai morrer gente’

Por Marcelo Godoy
Atualização:

O comandante do Exército, Tomás Ribeiro de Paiva, se esforça para afastar a política da Força e curar as feridas causadas pela intentona de 8 de janeiro. Ele e seus colegas do Alto-Comando sabem que, se havia militares de prontidão para retomar as sedes dos Poderes invadidas por bolsonaristas, isso se devia à decisão do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes de manter a tropa pronta para a ação.

O reforço do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) enviado por Dutra no dia 6 à sede do Executivo havia sido dispensado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), um dia antes da confusão. Dutra era o comandante militar do Planalto. Alvo de desconfianças e afastado do cargo, ele vai prestar hoje esclarecimentos à PF no inquérito que apura a participação de militares na baderna.

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro fazem as malas ao deixarem acampamento do lado de fora do Quartel General do Exército em Brasília, um dia após os atos golpistas Foto: Amanda Perobelli/REUTERS
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Após mandar a tropa retomar o Planalto, Dutra se encontrou com o interventor da Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, que queria a prisão imediata dos acampados na frente do QG do Exército. O general alertou que todos estavam cansados, gaseados e nervosos, que uma operação ali poderia terminar em morte. Dutra telefonou para o general G. Dias, chefe do GSI, e avisou: “Vai dar merda”. “O presidente está aqui do meu lado. Fala você para ele”, respondeu G. Dias.

Lula estava irritado. “Presidente, aqui é o general Dutra.” “General, são todos criminosos e têm de ser presos!” Dutra retorquiu: “Concordo plenamente com o senhor, mas essa é uma operação complexa, que precisa de planejamento”. Lula repetiu duas vezes sua frase até que o general disse: “Concordo com o senhor, mas, até o momento, nós só lamentamos danos materiais, ao passo que, se entrarmos sem planejamento, vai morrer gente”. Lula então respondeu: “Isso seria uma tragédia, general. Cerque todo mundo. Não deixe ninguém sair e prenda todo mundo amanhã. O Múcio (ministro da Defesa) está aí com o senhor?”. “Não senhor.” “Pois devia estar.” Pouco depois, o ministro da Defesa chegou ao Comando do Exército. O diálogo de Dutra com o presidente será relatado pelo general hoje pela primeira vez à PF. Ele disse a colegas que vai entregar documentos mostrando o que o Exército fez para desarmar o acampamento bolsonarista, desmentindo versões da Segurança do DF.

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Os colegas de Dutra o defendem e dizem que, sem a prudência do general, o desmonte do acampamento terminaria em tragédia. E questionam a razão de a PM não ter prendido os vândalos quando voltavam da Esplanada para o QG. Todos têm certeza de que é preciso apurar os fatos. Mas também é preciso fazer isso com Justiça. A intentona do dia 8 já fez muitas vítimas. Não pode fazer mais uma.

O comandante do Exército, Tomás Ribeiro de Paiva, se esforça para afastar a política da Força e curar as feridas causadas pela intentona de 8 de janeiro. Ele e seus colegas do Alto-Comando sabem que, se havia militares de prontidão para retomar as sedes dos Poderes invadidas por bolsonaristas, isso se devia à decisão do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes de manter a tropa pronta para a ação.

O reforço do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) enviado por Dutra no dia 6 à sede do Executivo havia sido dispensado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), um dia antes da confusão. Dutra era o comandante militar do Planalto. Alvo de desconfianças e afastado do cargo, ele vai prestar hoje esclarecimentos à PF no inquérito que apura a participação de militares na baderna.

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro fazem as malas ao deixarem acampamento do lado de fora do Quartel General do Exército em Brasília, um dia após os atos golpistas Foto: Amanda Perobelli/REUTERS

Após mandar a tropa retomar o Planalto, Dutra se encontrou com o interventor da Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, que queria a prisão imediata dos acampados na frente do QG do Exército. O general alertou que todos estavam cansados, gaseados e nervosos, que uma operação ali poderia terminar em morte. Dutra telefonou para o general G. Dias, chefe do GSI, e avisou: “Vai dar merda”. “O presidente está aqui do meu lado. Fala você para ele”, respondeu G. Dias.

Lula estava irritado. “Presidente, aqui é o general Dutra.” “General, são todos criminosos e têm de ser presos!” Dutra retorquiu: “Concordo plenamente com o senhor, mas essa é uma operação complexa, que precisa de planejamento”. Lula repetiu duas vezes sua frase até que o general disse: “Concordo com o senhor, mas, até o momento, nós só lamentamos danos materiais, ao passo que, se entrarmos sem planejamento, vai morrer gente”. Lula então respondeu: “Isso seria uma tragédia, general. Cerque todo mundo. Não deixe ninguém sair e prenda todo mundo amanhã. O Múcio (ministro da Defesa) está aí com o senhor?”. “Não senhor.” “Pois devia estar.” Pouco depois, o ministro da Defesa chegou ao Comando do Exército. O diálogo de Dutra com o presidente será relatado pelo general hoje pela primeira vez à PF. Ele disse a colegas que vai entregar documentos mostrando o que o Exército fez para desarmar o acampamento bolsonarista, desmentindo versões da Segurança do DF.

Os colegas de Dutra o defendem e dizem que, sem a prudência do general, o desmonte do acampamento terminaria em tragédia. E questionam a razão de a PM não ter prendido os vândalos quando voltavam da Esplanada para o QG. Todos têm certeza de que é preciso apurar os fatos. Mas também é preciso fazer isso com Justiça. A intentona do dia 8 já fez muitas vítimas. Não pode fazer mais uma.

O comandante do Exército, Tomás Ribeiro de Paiva, se esforça para afastar a política da Força e curar as feridas causadas pela intentona de 8 de janeiro. Ele e seus colegas do Alto-Comando sabem que, se havia militares de prontidão para retomar as sedes dos Poderes invadidas por bolsonaristas, isso se devia à decisão do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes de manter a tropa pronta para a ação.

O reforço do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) enviado por Dutra no dia 6 à sede do Executivo havia sido dispensado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), um dia antes da confusão. Dutra era o comandante militar do Planalto. Alvo de desconfianças e afastado do cargo, ele vai prestar hoje esclarecimentos à PF no inquérito que apura a participação de militares na baderna.

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro fazem as malas ao deixarem acampamento do lado de fora do Quartel General do Exército em Brasília, um dia após os atos golpistas Foto: Amanda Perobelli/REUTERS

Após mandar a tropa retomar o Planalto, Dutra se encontrou com o interventor da Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, que queria a prisão imediata dos acampados na frente do QG do Exército. O general alertou que todos estavam cansados, gaseados e nervosos, que uma operação ali poderia terminar em morte. Dutra telefonou para o general G. Dias, chefe do GSI, e avisou: “Vai dar merda”. “O presidente está aqui do meu lado. Fala você para ele”, respondeu G. Dias.

Lula estava irritado. “Presidente, aqui é o general Dutra.” “General, são todos criminosos e têm de ser presos!” Dutra retorquiu: “Concordo plenamente com o senhor, mas essa é uma operação complexa, que precisa de planejamento”. Lula repetiu duas vezes sua frase até que o general disse: “Concordo com o senhor, mas, até o momento, nós só lamentamos danos materiais, ao passo que, se entrarmos sem planejamento, vai morrer gente”. Lula então respondeu: “Isso seria uma tragédia, general. Cerque todo mundo. Não deixe ninguém sair e prenda todo mundo amanhã. O Múcio (ministro da Defesa) está aí com o senhor?”. “Não senhor.” “Pois devia estar.” Pouco depois, o ministro da Defesa chegou ao Comando do Exército. O diálogo de Dutra com o presidente será relatado pelo general hoje pela primeira vez à PF. Ele disse a colegas que vai entregar documentos mostrando o que o Exército fez para desarmar o acampamento bolsonarista, desmentindo versões da Segurança do DF.

Os colegas de Dutra o defendem e dizem que, sem a prudência do general, o desmonte do acampamento terminaria em tragédia. E questionam a razão de a PM não ter prendido os vândalos quando voltavam da Esplanada para o QG. Todos têm certeza de que é preciso apurar os fatos. Mas também é preciso fazer isso com Justiça. A intentona do dia 8 já fez muitas vítimas. Não pode fazer mais uma.

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