As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

Análise|‘Quatro linhas da Constituição é o cacete’: militares golpistas queriam acabar com o Alto Comando


Em conversas, general Mário Fernandes trata de ideia de modificar a organização das Forças Armadas em razão da oposição ao golpe entre oficiais generais, principalmente do Exército, e demonstra ataque à legalidade

Por Marcelo Godoy

A história do golpe bolsonarista ganhou uma nova face: a das mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete. Elas mostram detalhes cruciais para entender a empreitada, como a resistência do Alto-Comando do Exército (ACE).

General Mario Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, foi um dos alvos da operação desta terça-feira Foto: Eduardo Menezes/Secretaria Geral da Presidência

Vieira escreveu a Fernandes, em 19 de dezembro de 2022: “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente.” Ambos reclamavam do Alto Comando. Queriam mudar a forma como as decisões são tomadas no colegiado, estabelecer uma chefia de Estado-Maior Conjunto, como nos EUA, e acabar com o ACE. “A lição que a gente deu para a esquerda é que o Alto Comando tem que acabar. Se cria um general de cinco estrelas (...), mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade.”

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O general Fernandes diz ao subordinado: “Tem o dissidente, tem os filha da p... lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (...) Cara, o presidente tem que decidir e assinar esta m...” Em diálogos anteriores, o coronel havia revelado ao chefe seu estado de ânimo diante da indefinição sobre o golpe: “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o car... Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa.”

Trecho da conversa entre o general Mário Fernandes e o coronel Vieira de Abreu descoberto pela Polícia Federal Foto: Reprodução / Estadão

Em 4 de novembro, Fernandes escreveu ao colega de governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Revelou a ligação entre o Plano Punhal Verde e Amarelo, os acampamentos em frente aos quartéis e os ataques de 8 de janeiro. É que o golpe exigiria clamor popular, como em 1964, para que o Exército o apoiasse.

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“O senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes (então comandante do Exército), com o general Paulo Sérgio, porra (...) Tá na cara que houve fraude, porra. (...). E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez, seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha turma (de 1986, da Academia das Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto.” É preciso acrescentar alguma coisa mais?

Mensagens do coronel Vieira de Abreu para o general Mário Fernandes nas quais ele revela seu estado de espírito no dia 19 de dezembro Foto: Reprodução / Estadão

A história do golpe bolsonarista ganhou uma nova face: a das mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete. Elas mostram detalhes cruciais para entender a empreitada, como a resistência do Alto-Comando do Exército (ACE).

General Mario Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, foi um dos alvos da operação desta terça-feira Foto: Eduardo Menezes/Secretaria Geral da Presidência

Vieira escreveu a Fernandes, em 19 de dezembro de 2022: “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente.” Ambos reclamavam do Alto Comando. Queriam mudar a forma como as decisões são tomadas no colegiado, estabelecer uma chefia de Estado-Maior Conjunto, como nos EUA, e acabar com o ACE. “A lição que a gente deu para a esquerda é que o Alto Comando tem que acabar. Se cria um general de cinco estrelas (...), mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade.”

O general Fernandes diz ao subordinado: “Tem o dissidente, tem os filha da p... lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (...) Cara, o presidente tem que decidir e assinar esta m...” Em diálogos anteriores, o coronel havia revelado ao chefe seu estado de ânimo diante da indefinição sobre o golpe: “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o car... Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa.”

Trecho da conversa entre o general Mário Fernandes e o coronel Vieira de Abreu descoberto pela Polícia Federal Foto: Reprodução / Estadão

Em 4 de novembro, Fernandes escreveu ao colega de governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Revelou a ligação entre o Plano Punhal Verde e Amarelo, os acampamentos em frente aos quartéis e os ataques de 8 de janeiro. É que o golpe exigiria clamor popular, como em 1964, para que o Exército o apoiasse.

“O senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes (então comandante do Exército), com o general Paulo Sérgio, porra (...) Tá na cara que houve fraude, porra. (...). E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez, seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha turma (de 1986, da Academia das Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto.” É preciso acrescentar alguma coisa mais?

Mensagens do coronel Vieira de Abreu para o general Mário Fernandes nas quais ele revela seu estado de espírito no dia 19 de dezembro Foto: Reprodução / Estadão

A história do golpe bolsonarista ganhou uma nova face: a das mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete. Elas mostram detalhes cruciais para entender a empreitada, como a resistência do Alto-Comando do Exército (ACE).

General Mario Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, foi um dos alvos da operação desta terça-feira Foto: Eduardo Menezes/Secretaria Geral da Presidência

Vieira escreveu a Fernandes, em 19 de dezembro de 2022: “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente.” Ambos reclamavam do Alto Comando. Queriam mudar a forma como as decisões são tomadas no colegiado, estabelecer uma chefia de Estado-Maior Conjunto, como nos EUA, e acabar com o ACE. “A lição que a gente deu para a esquerda é que o Alto Comando tem que acabar. Se cria um general de cinco estrelas (...), mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade.”

O general Fernandes diz ao subordinado: “Tem o dissidente, tem os filha da p... lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (...) Cara, o presidente tem que decidir e assinar esta m...” Em diálogos anteriores, o coronel havia revelado ao chefe seu estado de ânimo diante da indefinição sobre o golpe: “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o car... Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa.”

Trecho da conversa entre o general Mário Fernandes e o coronel Vieira de Abreu descoberto pela Polícia Federal Foto: Reprodução / Estadão

Em 4 de novembro, Fernandes escreveu ao colega de governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Revelou a ligação entre o Plano Punhal Verde e Amarelo, os acampamentos em frente aos quartéis e os ataques de 8 de janeiro. É que o golpe exigiria clamor popular, como em 1964, para que o Exército o apoiasse.

“O senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes (então comandante do Exército), com o general Paulo Sérgio, porra (...) Tá na cara que houve fraude, porra. (...). E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez, seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha turma (de 1986, da Academia das Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto.” É preciso acrescentar alguma coisa mais?

Mensagens do coronel Vieira de Abreu para o general Mário Fernandes nas quais ele revela seu estado de espírito no dia 19 de dezembro Foto: Reprodução / Estadão

A história do golpe bolsonarista ganhou uma nova face: a das mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete. Elas mostram detalhes cruciais para entender a empreitada, como a resistência do Alto-Comando do Exército (ACE).

General Mario Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, foi um dos alvos da operação desta terça-feira Foto: Eduardo Menezes/Secretaria Geral da Presidência

Vieira escreveu a Fernandes, em 19 de dezembro de 2022: “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente.” Ambos reclamavam do Alto Comando. Queriam mudar a forma como as decisões são tomadas no colegiado, estabelecer uma chefia de Estado-Maior Conjunto, como nos EUA, e acabar com o ACE. “A lição que a gente deu para a esquerda é que o Alto Comando tem que acabar. Se cria um general de cinco estrelas (...), mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade.”

O general Fernandes diz ao subordinado: “Tem o dissidente, tem os filha da p... lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (...) Cara, o presidente tem que decidir e assinar esta m...” Em diálogos anteriores, o coronel havia revelado ao chefe seu estado de ânimo diante da indefinição sobre o golpe: “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o car... Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa.”

Trecho da conversa entre o general Mário Fernandes e o coronel Vieira de Abreu descoberto pela Polícia Federal Foto: Reprodução / Estadão

Em 4 de novembro, Fernandes escreveu ao colega de governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Revelou a ligação entre o Plano Punhal Verde e Amarelo, os acampamentos em frente aos quartéis e os ataques de 8 de janeiro. É que o golpe exigiria clamor popular, como em 1964, para que o Exército o apoiasse.

“O senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes (então comandante do Exército), com o general Paulo Sérgio, porra (...) Tá na cara que houve fraude, porra. (...). E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez, seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha turma (de 1986, da Academia das Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto.” É preciso acrescentar alguma coisa mais?

Mensagens do coronel Vieira de Abreu para o general Mário Fernandes nas quais ele revela seu estado de espírito no dia 19 de dezembro Foto: Reprodução / Estadão

A história do golpe bolsonarista ganhou uma nova face: a das mensagens entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete. Elas mostram detalhes cruciais para entender a empreitada, como a resistência do Alto-Comando do Exército (ACE).

General Mario Fernandes, ex-ministro interino de Bolsonaro, foi um dos alvos da operação desta terça-feira Foto: Eduardo Menezes/Secretaria Geral da Presidência

Vieira escreveu a Fernandes, em 19 de dezembro de 2022: “Cinco (generais) não querem, três querem muito e os outros, zona de conforto. É isso. Infelizmente.” Ambos reclamavam do Alto Comando. Queriam mudar a forma como as decisões são tomadas no colegiado, estabelecer uma chefia de Estado-Maior Conjunto, como nos EUA, e acabar com o ACE. “A lição que a gente deu para a esquerda é que o Alto Comando tem que acabar. Se cria um general de cinco estrelas (...), mexe na promoção dos generais e só se promove, nos próximos oito anos, só um general quatro estrelas. Aí acaba essa palhaçada de unanimidade.”

O general Fernandes diz ao subordinado: “Tem o dissidente, tem os filha da p... lá, tem, já tá comprovado. Mas nós sabemos que é um colegiado, cara. Cinco caras não iam interferir tanto assim. (...) Cara, o presidente tem que decidir e assinar esta m...” Em diálogos anteriores, o coronel havia revelado ao chefe seu estado de ânimo diante da indefinição sobre o golpe: “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o car... Quatro linhas da Constituição é o cacete. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa.”

Trecho da conversa entre o general Mário Fernandes e o coronel Vieira de Abreu descoberto pela Polícia Federal Foto: Reprodução / Estadão

Em 4 de novembro, Fernandes escreveu ao colega de governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Revelou a ligação entre o Plano Punhal Verde e Amarelo, os acampamentos em frente aos quartéis e os ataques de 8 de janeiro. É que o golpe exigiria clamor popular, como em 1964, para que o Exército o apoiasse.

“O senhor tem que dar uma forçada de barra com o Alto Comando, cara. Com o general Freire Gomes (então comandante do Exército), com o general Paulo Sérgio, porra (...) Tá na cara que houve fraude, porra. (...). E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas e aí, sim, talvez, seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não ‘tá’ muito disposto, né? Ou não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela sociedade. Pô, general, reforça isso aí. Eu tô fazendo meu trabalho junto à Brigada (de Operações Especiais) e ao pessoal de divisão (generais) da minha turma (de 1986, da Academia das Agulhas Negras), cara. Força, Kid Preto.” É preciso acrescentar alguma coisa mais?

Mensagens do coronel Vieira de Abreu para o general Mário Fernandes nas quais ele revela seu estado de espírito no dia 19 de dezembro Foto: Reprodução / Estadão
Análise por Marcelo Godoy

Repórter especial do Estadão e escritor. É autor do livro A Casa da Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015). É jornalista formado pela Casper Líbero.

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