O que a Marinha não conseguiu com um desfile de tanques, em agosto de 2021, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, espera obter com o relatório de um coronel, alegando supostas fragilidades das urnas eletrônicas: a retomada do voto impresso. O general arrumou uma desculpa para incluir, nas eleições deste ano, a proposta que foi rejeitada pelo Congresso.
A ideia de três urnas em uma seção eleitoral para que o eleitor seja convidado a testar o equipamento, depositando o seu voto em cada uma delas, é um convite à bagunça. Bastará uma pessoa mal-intencionada votar no presidente uma vez e e em outros candidatos – Lula, talvez – de propósito nas outras urnas para criar a baderna a fim de que a turma que não tem voto possa rejeitar a derrota nas urnas.
O feitiço que o general quer lançar sobre a democracia é antigo. No Império cercavam-se as igrejas, despachavam-se capoeiras e capangas para garantir o resultado da eleição dos candidatos dos poderosos. No Brasil de então, quem desejava embrulhar a eleição podia sempre recorrer à cabala. Na República Velha, fazia-se o voto de bico de pena. Nos anos 1980, havia o milagre do sumiço dos votos em branco, transformados em cédulas devidamente preenchidas durante os longos e sinuosos escrutínios.
E, assim, diante das novas inovações apresentadas pelos militares ao Congresso, é cada vez maior a certeza entre a oposição de que se conspira contra a vontade popular. Falta pouco para alguém propor a substituição das urnas eletrônicas pelo saco e pelas bolas das aranhas de A Sereníssima República. As ideias do general encantariam Machado de Assis. Ele talvez as incluísse em seu famoso conto, como obra do Cônego Vargas, o personagem que o Bruxo do Cosme Velho fez dizer: “O comentário da lei é a eterna malícia”.