Tomemos como exemplo a questão síria. Vários países retiraram seus embaixadores de Damasco para demonstrar insatisfação com a crescente crueldade do regime ditatorial sírio na repressão aos dissidentes. O Brasil não. O Brasil decidiu manter seu embaixador lá sob alegação de que não poderia "fechar as portas ao diálogo". No Paraguai, no entanto, o Itamaraty considerou adequado dificultar o contato diplomático num momento em que o diálogo com um parceiro de longa data, com empreendimentos conjuntos cruciais, como é o caso de Itaipu, era absolutamente necessário.
Outro exemplo relevante é Cuba. O Brasil defendeu o ingresso de Cuba na Organização dos Estados Americanos a despeito do fato de que a entidade, assim como o Mercosul, tem uma cláusula democrática. Mais do que isso: o então presidente Lula chegou a dizer que a OEA devia "desculpas" a Cuba por tê-la excluído. Ou seja: uma notória ditadura ganha apoio de Brasília para entrar num organismo multilateral, mas uma democracia - que, ademais, reitere-se, é parceira relevante do Brasil, diferentemente do desimportante regime cubano - é ameaçada de suspensão e de expulsão.
Não se espera que o Brasil tome a democracia como condição primária para escolher com quem deve fazer diplomacia; por outro lado, preterir democracias por causa de eventuais rupturas, enquanto mantém intactos os canais diplomáticos com ditadores, é pelo menos estranho.
É fato que o processo que resultou no impeachment de Lugo merece ser estudado, porque houve um insólito rito sumário para a destituição, mais próximo do que ocorre no parlamentarismo. Mas não é alinhando-se ao cinismo dos afilhados do chavismo - que criticam a suposta ruptura democrática no Paraguai enquanto são, eles mesmos, ameaças à democracia, ao concentrar poder e perseguir a imprensa - que o Brasil fará justiça a seu histórico de bons serviços prestados à diplomacia regional.