Está fazendo água o Instituto Brasil 200. Pesos-pesados do empresariado, como Edgard Corona (Bio Ritmo), João Appolinário (Polishop), Sebastião Bomfim (Centauro), Washington Cinel (Gocil) e Alberto Saraiva (Habib's) manifestaram intenção de deixar o grupo, insatisfeitos com os rumos recentemente tomados por Gabriel Kanner, sobrinho de Flávio Rocha, da Riachuelo, e atual presidente do Brasil 200. Os dissidentes acham que o caráter inicial da associação, a defesa dos princípios liberais na economia, foi desvirtuado em detrimento de uma atuação mais voltada para a política.
Em trocas de mensagens às quais a Coluna teve acesso, um desses empresários escreveu: "Sem a nossa anuência e sem sermos consultados, o grupo transformou-se em uma plataforma política que não representa o que pensamos ou acreditamos". A decisão, porém, não significa um afastamento de Jair Bolsonaro e de alguns de seus principais ministros, pelo contrário. Os descontentes continuam apoiando, sobretudo, a agenda econômica do governo.
Alguns dos dissidentes já avisaram a Kanner que estão fora, não pretendem permanecer nem como colaboradores, muito menos em cargos formais. Juntos, os insatisfeitos são responsáveis por cerca de 400 mil empregos diretos. Ou seja, o esvaziamento do grupo é imediato. O Brasil 200, de caráter conservador nos costumes e liberal na economia, é considerado o principal esteio de Jair Bolsonaro no meio empresarial.
Segundo apurou a Coluna, a gota d'água para a debandada, que esvazia o poder do grupo, foi o anúncio de uma live, feito por Kanner, com o vice-presidente Hamilton Mourão, considerado hoje uma alternativa de poder a Bolsonaro. Já havia um desconforto por outros posicionamentos políticos dele, alguns em discordância com posturas adotadas e defendidas por Jair Bolsonaro. Um dos empresários disse no grupo: "Esta live com o Mourão é apenas mais um erro do Gabriel".
A tempestuosa saída do ex-ministro Sérgio Moro do governo também ajudou a conturbar o ambiente. Em linhas gerais, os descontentes acham que, se não for para defender Jair Bolsonaro, o grupo também não existe para atacá-lo nem para dar palanque aos inimigos do presidente e muito menos para contestar as instituições, com comentários sobre ministros do Supremo e figuras do Parlamento.
Para os descontentes, o turbulento cenário político atual exige mais comedimento e menos ruídos, especialmente na relação com o Congresso Nacional, por onde passam muitos interesses do setor privado, obviamente.
Procurado, Gabriel Kanner disse que o Brasil 200 é um grupo "essencialmente político". "Não é que nós estamos nos politizando agora, (o grupo) nasceu dessa forma e sempre atuamos politicamente", disse, citando encontros com ministros e parlamentares. "Ele surgiu exatamente para fazer com que o empresariado, o setor produtivo tivesse maior representatividade na política, porque por muitos anos os empresários foram muitos omissos", afirmou.
Kanner reconheceu que houve "certo desconforto" no grupo em relação às críticas que fizeram na ocasião da saída de Sérgio Moro, mas disse que vai continuar defendendo os ideias do Brasil 200: agenda liberal na economia e conservadora nos costumes.
O empresário nega também as acusações de que estaria utilizando o grupo como plataforma política. Apesar de ter sido candidato em 2018 a deputado federal pelo PRB, diz ainda não saber se sairá para algum cargo em 2022.