BRASÍLIA - A população que assistiu atônita ao crescimento da greve dos caminhoneiros e passou o fim de semana acompanhando seus reflexos na televisão, foi apresentada à figura do ministro Carlos Marun. Grandalhão, de fala contundente, ele apareceu em horário nobre exercendo sua especialidade: trombar de frente com os problemas do governo, razão pela qual é conhecido como "pit bull" do presidente Michel Temer.
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Desde que chegou ao Palácio do Planalto, em dezembro passado, Marun tem atuado como uma espécie de porta-voz para temas difíceis. Por exemplo: em março, ele ameaçou apresentar um pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, alegando atuação político-partidária do magistrado. Barroso revogou um decreto de indulto natalino assinado por Temer. Ele também autorizou a operação da Polícia Federal que levou à prisão pessoas muito próximas do presidente.
Com a chegada de Marun, o presidente dispensou até mesmo o porta-voz oficial do Planalto, o embaixador Alexandre Parola, que foi transferido para o comando da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Na crise dos caminhoneiros, Marun apareceu em todas as entrevistas. Não raro, atropelou colegas ministros para dar sua versão. E, às vezes, mais confundiu do que explicou.
Na noite de domingo, 27, passava das dez quando ele deu uma entrevista, logo após pronunciamento de Temer. Marun informou que o pacote de concessões feitas aos caminhoneiros teria impacto de R$ 10 bilhões aos cofres públicos, quando a conta é de R$ 13,5 bilhões.
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Perto da meia-noite de sábado, após uma reunião no Palácio dos Bandeirantes para tratar do fim da cobrança de pedágio por eixo suspenso dos caminhões, ele deixou pouco espaço para o anfitrião, o governador de São Paulo, Márcio França.
Com as ações da Petrobrás duramente afetadas pela suspeita de intervenção do governo na política de preços, Marun colocou lenha na fogueira ontem ao negar que haveria reajuste no preço da gasolina. "O reajuste que existia, não existe mais", afirmou. Sua assessoria correu para esclarecer que ele buscava desmentir uma notícia falsa.
Ele também afirmou que a questão do preço da gasolina "está no radar" do governo. A gasolina não era pauta de reivindicação dos caminhoneiros, e sim de movimentos que pegaram carona na paralisação, como os motoboys. Mas conter o preço do diesel já vai custar uma dezena de bilhões ao governo federal só neste resto de ano.
Trajetória no governo O agora ministro fez uma carreira muito rápida na política em Brasília. Ele chegou ao Congresso em 2015 e logo passou a integrar a "tropa de choque" do então presidente da Casa, Eduardo Cunha (MDB-RJ). Nessa condição, engrossou as fileiras pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
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Depois, tornou-se um aguerrido defensor do atual governo na Câmara até ser levado ao Palácio do Planalto. Mesmo com o governo mergulhado na impopularidade, ele optou por permanecer na equipe de Temer. Não saiu para concorrer a um cargo eletivo.
O ministro, que foi o defensor mais feroz do presidente nas articulações para barrar as denúncias contra Temer na Câmara por suspeitas de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa, chegou a ser punido com "advertência" pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República por ter dado declaração no final do ano passado, condicionando empréstimos de bancos públicos a governadores ao apoio à reforma da Previdência.