Mauro Vieira vai comandar o Itamaraty com desafio de recuperar imagem da diplomacia do País


Chanceler anunciado volta a chefiar Relações Exteriores seis anos e sete meses após impeachment da então presidente Dilma Rousseff

Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta sexta-feira, dia 9, a escolha do embaixador Mauro Vieira para o cargo de ministro das Relações Exteriores. Ex-chanceler no governo Dilma Rousseff, Vieira retornará ao comando do Itamaraty com a missão recuperar a imagem do País no exterior, concluir negociações de acordos em andamento, como entre Mercosul e União Europeia, e retomar posições tradicionais da política externa brasileira, a exemplo do protagonismo na diplomacia verde.

A indicação de Vieira representa uma vitória do grupo do ex-chanceler Celso Amorim, principal conselheiro internacional de Lula, que deverá ocupar cargo no Palácio do Planalto - a Secretaria de Assuntos Estratégicos é uma possibilidade. Uma ala da diplomacia e do PT defendia que o Itamaraty fosse chefiado por um político, algo que jamais ocorreu em governos do partido. O nome na mesa era o do senador Jaques Wagner (PT-BA).

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O embaixador Mauro Vieira foi escolhido como chanceler do futuro governo Lula Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

A indicação de Vieira passou a circular com mais força depois que ele acompanhou a participação de Lula na Cúpula do Clima - COP 27, no Egito. Na ocasião, Lula afirmou que o Brasil estava “de volta” e ofereceu o País para sediar uma conferência climática na Amazônia.

O chanceler anunciado por Lula reassumirá o Itamaraty seis anos e sete meses depois de ter sido o único ministro de Dilma a transferir formalmente o cargo ao sucessor, em 19 de maio de 2016, após o impeachment da ex-presidente. Na ocasião, ouviu seu sucessor, o senador José Serra (PSDB-SP), dizer que o Itamaraty não deveria servir mais aos interesses de um partido.

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Vieira deverá conduzir a reativação e revalorização de instâncias multilaterais, um dos termos que chegou a ser vetado do vocabulário diplomático na era Jair Bolsonaro. O governo eleito quer dar mais protagonismo a mecanismos de coordenação como o BRICS, a Unasul e a Celac, além do Mercosul. E levar adiante a reforma das Nações Unidas e a campanha por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

A equipe de Amorim tinha simpatia por Vieira, e já o considerava o escolhido semanas antes do anúncio. Diplomatas e integrantes do grupo técnico das Relações Exteriores consideram que a escolha de um chanceler da carreira facilitará a retomada rápida de contatos e a reinserção internacional do governo Lula.

O presidente eleito quer viajar o mundo e já tem compromissos em discussão com viagens bilaterais aos Estados Unidos, Argentina e China, sem falar em cúpulas de blocos como os BRICS, na África do Sul, e o G-20,na Índia, que passará a presidência do grupo ao Brasil em 2024. A agenda será construída pela equipe do novo ministro.

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Vieira deverá liderar as negociações para realocar a atual cúpula do ministério em cargos no exterior. O processo foi suspenso, a pedido de Lula, e os nomeações para os principais postos ficou travada no Senado. Em jogo, estão escolhas para Buenos Aires, Paris, Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre outros.

A transição tem sido marcada por uma boa vontade de mão-dupla nos bastidores, com engajamento dos diplomatas da Secretaria de Estado em pedidos feitos pela equipe de Lula e discrição política de parte do gabinete de transição em assuntos sensíveis que poderiam ser explorados e expostos.

Isso ficou patente na divulgação pelo gabinete de transição do volume de recursos devido pelo Brasil a organismos internacionais: R$ 5,5 bilhões. O gabinete fez notar que houve esforços do MRE, mas o Ministério da Economia, responsável pela contas, disse que não honrará nem sequer os pagamentos mínimos (R$ 1 bilhão). Há pendências financeiras com 43 organismos. A coordenação da equipe afirma que é necessário batalhar por verbas para quitar toda a dívida, sob risco de perda de votos e de credibilidade. A transição aposta que uma posição do TCU afirmando que as despesas são obrigatórias pode resolver.

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Além da revisão geral, o gabinete de transição apontou a Vieira alguns problemas de ordem administrativa. Entre eles, o fechamento de postos no serviço exterior iniciado no governo Michel Temer e continuado por Jair Bolsonaro, principalmente na América Central e na África. A próxima gestão considera as decisões um “retrocesso”, motivado por alianças circunstanciais e influenciadas por viés ideológico. A reabertura das embaixadas é dada como certa, entre elas a reativação da embaixada em Caracas e a retomada das relações com o governo Nicolás Maduro, uma das primeiras medidas.

Ele assume, porém, com pressão interna do movimento de mulheres na diplomacia, que fez campanha aberta contra seu retorno nas redes sociais e em meios diplomáticos e acadêmicos. Vieira foi acusado de promover um percentual baixo de mulheres quando era ministro. Mas a equipe técnica costuma rebater a crítica por considerar que o embaixador ficou pouco tempo à frente da chancelaria e teria assinado poucas promoções e remoções.

Elas advogavam a inédita nomeação de uma mulher como ministra das Relações Exteriores. Segundo integrantes da equipe de Lula, devem ficar com a Secretaria-Geral das Relações Exteriores, o segundo cargo mais importante do Itamaraty, igualmente jamais exercido por uma mulher. O nome de maior consenso é o da embaixadora Maria Luiza Viotti. Outra opção é a embaixadora Maria Laura da Rocha. Ligadas a Celso Amorim, ambas circularam como opção para comandar a execução da política externa brasileira.

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Também pedem a nomeação de mais mulheres para cargos de destaque, os chamados postos A. A sub-representação de mulheres e pessoas negras na diplomacia vem sendo analisada pela equipe da transição. Uma das determinações nesse âmbito é mudar posições contra direitos reprodutivos das mulheres, que foram adotadas por determinação de Bolsonaro.

Vieira também sofreu críticas por ter passado o cargo a Serra - gesto que desagradou alas mais radicais do PT, mas demonstrou uma referência de institucionalidade internamente no MRE - e foi acusado de falta de empenho na defesa de Dilma, o que o entorno de Amorim nega e assessores internacionais do partido consideram infundado. Por fim, Vieira viu ressurgir a informação de que ele teria ajudado a alavancar a carreira do embaixador Ernesto Araújo, que o assessorou no passado, antes de o primeiro chanceler de Bolsonaro radicalizar como militante conservador.

Mauro Luiz Iecker Vieira tem 71 anos, é formado em Direito e ingressou no Ministério das Relações Exteriores em 1973. Possui bom trânsito político e convivência com parlamentares influentes no Congresso Nacional. Previamente, Vieira desempenhou as funções de introdutor e chefe de gabinete de Amorim. Nos governos do PT, ocupou as duas embaixadas mais prestigiadas, a de Buenos Aires (2004-2010) e a de Washington (2010-2014), até assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores, em 2015, pela primeira vez. A passagem foi curta (durou um ano e cinco meses), interrompida pelo impeachment. Enviado a Nova York, representou o Brasil junto às Nações Unidas e, de 2019 em diante, exerceu a função de embaixador em Zagreb, capital da Croácia.

BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta sexta-feira, dia 9, a escolha do embaixador Mauro Vieira para o cargo de ministro das Relações Exteriores. Ex-chanceler no governo Dilma Rousseff, Vieira retornará ao comando do Itamaraty com a missão recuperar a imagem do País no exterior, concluir negociações de acordos em andamento, como entre Mercosul e União Europeia, e retomar posições tradicionais da política externa brasileira, a exemplo do protagonismo na diplomacia verde.

A indicação de Vieira representa uma vitória do grupo do ex-chanceler Celso Amorim, principal conselheiro internacional de Lula, que deverá ocupar cargo no Palácio do Planalto - a Secretaria de Assuntos Estratégicos é uma possibilidade. Uma ala da diplomacia e do PT defendia que o Itamaraty fosse chefiado por um político, algo que jamais ocorreu em governos do partido. O nome na mesa era o do senador Jaques Wagner (PT-BA).

O embaixador Mauro Vieira foi escolhido como chanceler do futuro governo Lula Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

A indicação de Vieira passou a circular com mais força depois que ele acompanhou a participação de Lula na Cúpula do Clima - COP 27, no Egito. Na ocasião, Lula afirmou que o Brasil estava “de volta” e ofereceu o País para sediar uma conferência climática na Amazônia.

O chanceler anunciado por Lula reassumirá o Itamaraty seis anos e sete meses depois de ter sido o único ministro de Dilma a transferir formalmente o cargo ao sucessor, em 19 de maio de 2016, após o impeachment da ex-presidente. Na ocasião, ouviu seu sucessor, o senador José Serra (PSDB-SP), dizer que o Itamaraty não deveria servir mais aos interesses de um partido.

Vieira deverá conduzir a reativação e revalorização de instâncias multilaterais, um dos termos que chegou a ser vetado do vocabulário diplomático na era Jair Bolsonaro. O governo eleito quer dar mais protagonismo a mecanismos de coordenação como o BRICS, a Unasul e a Celac, além do Mercosul. E levar adiante a reforma das Nações Unidas e a campanha por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

A equipe de Amorim tinha simpatia por Vieira, e já o considerava o escolhido semanas antes do anúncio. Diplomatas e integrantes do grupo técnico das Relações Exteriores consideram que a escolha de um chanceler da carreira facilitará a retomada rápida de contatos e a reinserção internacional do governo Lula.

O presidente eleito quer viajar o mundo e já tem compromissos em discussão com viagens bilaterais aos Estados Unidos, Argentina e China, sem falar em cúpulas de blocos como os BRICS, na África do Sul, e o G-20,na Índia, que passará a presidência do grupo ao Brasil em 2024. A agenda será construída pela equipe do novo ministro.

Vieira deverá liderar as negociações para realocar a atual cúpula do ministério em cargos no exterior. O processo foi suspenso, a pedido de Lula, e os nomeações para os principais postos ficou travada no Senado. Em jogo, estão escolhas para Buenos Aires, Paris, Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre outros.

A transição tem sido marcada por uma boa vontade de mão-dupla nos bastidores, com engajamento dos diplomatas da Secretaria de Estado em pedidos feitos pela equipe de Lula e discrição política de parte do gabinete de transição em assuntos sensíveis que poderiam ser explorados e expostos.

Isso ficou patente na divulgação pelo gabinete de transição do volume de recursos devido pelo Brasil a organismos internacionais: R$ 5,5 bilhões. O gabinete fez notar que houve esforços do MRE, mas o Ministério da Economia, responsável pela contas, disse que não honrará nem sequer os pagamentos mínimos (R$ 1 bilhão). Há pendências financeiras com 43 organismos. A coordenação da equipe afirma que é necessário batalhar por verbas para quitar toda a dívida, sob risco de perda de votos e de credibilidade. A transição aposta que uma posição do TCU afirmando que as despesas são obrigatórias pode resolver.

Além da revisão geral, o gabinete de transição apontou a Vieira alguns problemas de ordem administrativa. Entre eles, o fechamento de postos no serviço exterior iniciado no governo Michel Temer e continuado por Jair Bolsonaro, principalmente na América Central e na África. A próxima gestão considera as decisões um “retrocesso”, motivado por alianças circunstanciais e influenciadas por viés ideológico. A reabertura das embaixadas é dada como certa, entre elas a reativação da embaixada em Caracas e a retomada das relações com o governo Nicolás Maduro, uma das primeiras medidas.

Ele assume, porém, com pressão interna do movimento de mulheres na diplomacia, que fez campanha aberta contra seu retorno nas redes sociais e em meios diplomáticos e acadêmicos. Vieira foi acusado de promover um percentual baixo de mulheres quando era ministro. Mas a equipe técnica costuma rebater a crítica por considerar que o embaixador ficou pouco tempo à frente da chancelaria e teria assinado poucas promoções e remoções.

Elas advogavam a inédita nomeação de uma mulher como ministra das Relações Exteriores. Segundo integrantes da equipe de Lula, devem ficar com a Secretaria-Geral das Relações Exteriores, o segundo cargo mais importante do Itamaraty, igualmente jamais exercido por uma mulher. O nome de maior consenso é o da embaixadora Maria Luiza Viotti. Outra opção é a embaixadora Maria Laura da Rocha. Ligadas a Celso Amorim, ambas circularam como opção para comandar a execução da política externa brasileira.

Também pedem a nomeação de mais mulheres para cargos de destaque, os chamados postos A. A sub-representação de mulheres e pessoas negras na diplomacia vem sendo analisada pela equipe da transição. Uma das determinações nesse âmbito é mudar posições contra direitos reprodutivos das mulheres, que foram adotadas por determinação de Bolsonaro.

Vieira também sofreu críticas por ter passado o cargo a Serra - gesto que desagradou alas mais radicais do PT, mas demonstrou uma referência de institucionalidade internamente no MRE - e foi acusado de falta de empenho na defesa de Dilma, o que o entorno de Amorim nega e assessores internacionais do partido consideram infundado. Por fim, Vieira viu ressurgir a informação de que ele teria ajudado a alavancar a carreira do embaixador Ernesto Araújo, que o assessorou no passado, antes de o primeiro chanceler de Bolsonaro radicalizar como militante conservador.

Mauro Luiz Iecker Vieira tem 71 anos, é formado em Direito e ingressou no Ministério das Relações Exteriores em 1973. Possui bom trânsito político e convivência com parlamentares influentes no Congresso Nacional. Previamente, Vieira desempenhou as funções de introdutor e chefe de gabinete de Amorim. Nos governos do PT, ocupou as duas embaixadas mais prestigiadas, a de Buenos Aires (2004-2010) e a de Washington (2010-2014), até assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores, em 2015, pela primeira vez. A passagem foi curta (durou um ano e cinco meses), interrompida pelo impeachment. Enviado a Nova York, representou o Brasil junto às Nações Unidas e, de 2019 em diante, exerceu a função de embaixador em Zagreb, capital da Croácia.

BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta sexta-feira, dia 9, a escolha do embaixador Mauro Vieira para o cargo de ministro das Relações Exteriores. Ex-chanceler no governo Dilma Rousseff, Vieira retornará ao comando do Itamaraty com a missão recuperar a imagem do País no exterior, concluir negociações de acordos em andamento, como entre Mercosul e União Europeia, e retomar posições tradicionais da política externa brasileira, a exemplo do protagonismo na diplomacia verde.

A indicação de Vieira representa uma vitória do grupo do ex-chanceler Celso Amorim, principal conselheiro internacional de Lula, que deverá ocupar cargo no Palácio do Planalto - a Secretaria de Assuntos Estratégicos é uma possibilidade. Uma ala da diplomacia e do PT defendia que o Itamaraty fosse chefiado por um político, algo que jamais ocorreu em governos do partido. O nome na mesa era o do senador Jaques Wagner (PT-BA).

O embaixador Mauro Vieira foi escolhido como chanceler do futuro governo Lula Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

A indicação de Vieira passou a circular com mais força depois que ele acompanhou a participação de Lula na Cúpula do Clima - COP 27, no Egito. Na ocasião, Lula afirmou que o Brasil estava “de volta” e ofereceu o País para sediar uma conferência climática na Amazônia.

O chanceler anunciado por Lula reassumirá o Itamaraty seis anos e sete meses depois de ter sido o único ministro de Dilma a transferir formalmente o cargo ao sucessor, em 19 de maio de 2016, após o impeachment da ex-presidente. Na ocasião, ouviu seu sucessor, o senador José Serra (PSDB-SP), dizer que o Itamaraty não deveria servir mais aos interesses de um partido.

Vieira deverá conduzir a reativação e revalorização de instâncias multilaterais, um dos termos que chegou a ser vetado do vocabulário diplomático na era Jair Bolsonaro. O governo eleito quer dar mais protagonismo a mecanismos de coordenação como o BRICS, a Unasul e a Celac, além do Mercosul. E levar adiante a reforma das Nações Unidas e a campanha por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

A equipe de Amorim tinha simpatia por Vieira, e já o considerava o escolhido semanas antes do anúncio. Diplomatas e integrantes do grupo técnico das Relações Exteriores consideram que a escolha de um chanceler da carreira facilitará a retomada rápida de contatos e a reinserção internacional do governo Lula.

O presidente eleito quer viajar o mundo e já tem compromissos em discussão com viagens bilaterais aos Estados Unidos, Argentina e China, sem falar em cúpulas de blocos como os BRICS, na África do Sul, e o G-20,na Índia, que passará a presidência do grupo ao Brasil em 2024. A agenda será construída pela equipe do novo ministro.

Vieira deverá liderar as negociações para realocar a atual cúpula do ministério em cargos no exterior. O processo foi suspenso, a pedido de Lula, e os nomeações para os principais postos ficou travada no Senado. Em jogo, estão escolhas para Buenos Aires, Paris, Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre outros.

A transição tem sido marcada por uma boa vontade de mão-dupla nos bastidores, com engajamento dos diplomatas da Secretaria de Estado em pedidos feitos pela equipe de Lula e discrição política de parte do gabinete de transição em assuntos sensíveis que poderiam ser explorados e expostos.

Isso ficou patente na divulgação pelo gabinete de transição do volume de recursos devido pelo Brasil a organismos internacionais: R$ 5,5 bilhões. O gabinete fez notar que houve esforços do MRE, mas o Ministério da Economia, responsável pela contas, disse que não honrará nem sequer os pagamentos mínimos (R$ 1 bilhão). Há pendências financeiras com 43 organismos. A coordenação da equipe afirma que é necessário batalhar por verbas para quitar toda a dívida, sob risco de perda de votos e de credibilidade. A transição aposta que uma posição do TCU afirmando que as despesas são obrigatórias pode resolver.

Além da revisão geral, o gabinete de transição apontou a Vieira alguns problemas de ordem administrativa. Entre eles, o fechamento de postos no serviço exterior iniciado no governo Michel Temer e continuado por Jair Bolsonaro, principalmente na América Central e na África. A próxima gestão considera as decisões um “retrocesso”, motivado por alianças circunstanciais e influenciadas por viés ideológico. A reabertura das embaixadas é dada como certa, entre elas a reativação da embaixada em Caracas e a retomada das relações com o governo Nicolás Maduro, uma das primeiras medidas.

Ele assume, porém, com pressão interna do movimento de mulheres na diplomacia, que fez campanha aberta contra seu retorno nas redes sociais e em meios diplomáticos e acadêmicos. Vieira foi acusado de promover um percentual baixo de mulheres quando era ministro. Mas a equipe técnica costuma rebater a crítica por considerar que o embaixador ficou pouco tempo à frente da chancelaria e teria assinado poucas promoções e remoções.

Elas advogavam a inédita nomeação de uma mulher como ministra das Relações Exteriores. Segundo integrantes da equipe de Lula, devem ficar com a Secretaria-Geral das Relações Exteriores, o segundo cargo mais importante do Itamaraty, igualmente jamais exercido por uma mulher. O nome de maior consenso é o da embaixadora Maria Luiza Viotti. Outra opção é a embaixadora Maria Laura da Rocha. Ligadas a Celso Amorim, ambas circularam como opção para comandar a execução da política externa brasileira.

Também pedem a nomeação de mais mulheres para cargos de destaque, os chamados postos A. A sub-representação de mulheres e pessoas negras na diplomacia vem sendo analisada pela equipe da transição. Uma das determinações nesse âmbito é mudar posições contra direitos reprodutivos das mulheres, que foram adotadas por determinação de Bolsonaro.

Vieira também sofreu críticas por ter passado o cargo a Serra - gesto que desagradou alas mais radicais do PT, mas demonstrou uma referência de institucionalidade internamente no MRE - e foi acusado de falta de empenho na defesa de Dilma, o que o entorno de Amorim nega e assessores internacionais do partido consideram infundado. Por fim, Vieira viu ressurgir a informação de que ele teria ajudado a alavancar a carreira do embaixador Ernesto Araújo, que o assessorou no passado, antes de o primeiro chanceler de Bolsonaro radicalizar como militante conservador.

Mauro Luiz Iecker Vieira tem 71 anos, é formado em Direito e ingressou no Ministério das Relações Exteriores em 1973. Possui bom trânsito político e convivência com parlamentares influentes no Congresso Nacional. Previamente, Vieira desempenhou as funções de introdutor e chefe de gabinete de Amorim. Nos governos do PT, ocupou as duas embaixadas mais prestigiadas, a de Buenos Aires (2004-2010) e a de Washington (2010-2014), até assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores, em 2015, pela primeira vez. A passagem foi curta (durou um ano e cinco meses), interrompida pelo impeachment. Enviado a Nova York, representou o Brasil junto às Nações Unidas e, de 2019 em diante, exerceu a função de embaixador em Zagreb, capital da Croácia.

BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta sexta-feira, dia 9, a escolha do embaixador Mauro Vieira para o cargo de ministro das Relações Exteriores. Ex-chanceler no governo Dilma Rousseff, Vieira retornará ao comando do Itamaraty com a missão recuperar a imagem do País no exterior, concluir negociações de acordos em andamento, como entre Mercosul e União Europeia, e retomar posições tradicionais da política externa brasileira, a exemplo do protagonismo na diplomacia verde.

A indicação de Vieira representa uma vitória do grupo do ex-chanceler Celso Amorim, principal conselheiro internacional de Lula, que deverá ocupar cargo no Palácio do Planalto - a Secretaria de Assuntos Estratégicos é uma possibilidade. Uma ala da diplomacia e do PT defendia que o Itamaraty fosse chefiado por um político, algo que jamais ocorreu em governos do partido. O nome na mesa era o do senador Jaques Wagner (PT-BA).

O embaixador Mauro Vieira foi escolhido como chanceler do futuro governo Lula Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

A indicação de Vieira passou a circular com mais força depois que ele acompanhou a participação de Lula na Cúpula do Clima - COP 27, no Egito. Na ocasião, Lula afirmou que o Brasil estava “de volta” e ofereceu o País para sediar uma conferência climática na Amazônia.

O chanceler anunciado por Lula reassumirá o Itamaraty seis anos e sete meses depois de ter sido o único ministro de Dilma a transferir formalmente o cargo ao sucessor, em 19 de maio de 2016, após o impeachment da ex-presidente. Na ocasião, ouviu seu sucessor, o senador José Serra (PSDB-SP), dizer que o Itamaraty não deveria servir mais aos interesses de um partido.

Vieira deverá conduzir a reativação e revalorização de instâncias multilaterais, um dos termos que chegou a ser vetado do vocabulário diplomático na era Jair Bolsonaro. O governo eleito quer dar mais protagonismo a mecanismos de coordenação como o BRICS, a Unasul e a Celac, além do Mercosul. E levar adiante a reforma das Nações Unidas e a campanha por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

A equipe de Amorim tinha simpatia por Vieira, e já o considerava o escolhido semanas antes do anúncio. Diplomatas e integrantes do grupo técnico das Relações Exteriores consideram que a escolha de um chanceler da carreira facilitará a retomada rápida de contatos e a reinserção internacional do governo Lula.

O presidente eleito quer viajar o mundo e já tem compromissos em discussão com viagens bilaterais aos Estados Unidos, Argentina e China, sem falar em cúpulas de blocos como os BRICS, na África do Sul, e o G-20,na Índia, que passará a presidência do grupo ao Brasil em 2024. A agenda será construída pela equipe do novo ministro.

Vieira deverá liderar as negociações para realocar a atual cúpula do ministério em cargos no exterior. O processo foi suspenso, a pedido de Lula, e os nomeações para os principais postos ficou travada no Senado. Em jogo, estão escolhas para Buenos Aires, Paris, Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre outros.

A transição tem sido marcada por uma boa vontade de mão-dupla nos bastidores, com engajamento dos diplomatas da Secretaria de Estado em pedidos feitos pela equipe de Lula e discrição política de parte do gabinete de transição em assuntos sensíveis que poderiam ser explorados e expostos.

Isso ficou patente na divulgação pelo gabinete de transição do volume de recursos devido pelo Brasil a organismos internacionais: R$ 5,5 bilhões. O gabinete fez notar que houve esforços do MRE, mas o Ministério da Economia, responsável pela contas, disse que não honrará nem sequer os pagamentos mínimos (R$ 1 bilhão). Há pendências financeiras com 43 organismos. A coordenação da equipe afirma que é necessário batalhar por verbas para quitar toda a dívida, sob risco de perda de votos e de credibilidade. A transição aposta que uma posição do TCU afirmando que as despesas são obrigatórias pode resolver.

Além da revisão geral, o gabinete de transição apontou a Vieira alguns problemas de ordem administrativa. Entre eles, o fechamento de postos no serviço exterior iniciado no governo Michel Temer e continuado por Jair Bolsonaro, principalmente na América Central e na África. A próxima gestão considera as decisões um “retrocesso”, motivado por alianças circunstanciais e influenciadas por viés ideológico. A reabertura das embaixadas é dada como certa, entre elas a reativação da embaixada em Caracas e a retomada das relações com o governo Nicolás Maduro, uma das primeiras medidas.

Ele assume, porém, com pressão interna do movimento de mulheres na diplomacia, que fez campanha aberta contra seu retorno nas redes sociais e em meios diplomáticos e acadêmicos. Vieira foi acusado de promover um percentual baixo de mulheres quando era ministro. Mas a equipe técnica costuma rebater a crítica por considerar que o embaixador ficou pouco tempo à frente da chancelaria e teria assinado poucas promoções e remoções.

Elas advogavam a inédita nomeação de uma mulher como ministra das Relações Exteriores. Segundo integrantes da equipe de Lula, devem ficar com a Secretaria-Geral das Relações Exteriores, o segundo cargo mais importante do Itamaraty, igualmente jamais exercido por uma mulher. O nome de maior consenso é o da embaixadora Maria Luiza Viotti. Outra opção é a embaixadora Maria Laura da Rocha. Ligadas a Celso Amorim, ambas circularam como opção para comandar a execução da política externa brasileira.

Também pedem a nomeação de mais mulheres para cargos de destaque, os chamados postos A. A sub-representação de mulheres e pessoas negras na diplomacia vem sendo analisada pela equipe da transição. Uma das determinações nesse âmbito é mudar posições contra direitos reprodutivos das mulheres, que foram adotadas por determinação de Bolsonaro.

Vieira também sofreu críticas por ter passado o cargo a Serra - gesto que desagradou alas mais radicais do PT, mas demonstrou uma referência de institucionalidade internamente no MRE - e foi acusado de falta de empenho na defesa de Dilma, o que o entorno de Amorim nega e assessores internacionais do partido consideram infundado. Por fim, Vieira viu ressurgir a informação de que ele teria ajudado a alavancar a carreira do embaixador Ernesto Araújo, que o assessorou no passado, antes de o primeiro chanceler de Bolsonaro radicalizar como militante conservador.

Mauro Luiz Iecker Vieira tem 71 anos, é formado em Direito e ingressou no Ministério das Relações Exteriores em 1973. Possui bom trânsito político e convivência com parlamentares influentes no Congresso Nacional. Previamente, Vieira desempenhou as funções de introdutor e chefe de gabinete de Amorim. Nos governos do PT, ocupou as duas embaixadas mais prestigiadas, a de Buenos Aires (2004-2010) e a de Washington (2010-2014), até assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores, em 2015, pela primeira vez. A passagem foi curta (durou um ano e cinco meses), interrompida pelo impeachment. Enviado a Nova York, representou o Brasil junto às Nações Unidas e, de 2019 em diante, exerceu a função de embaixador em Zagreb, capital da Croácia.

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