MBL lança filme com versão do grupo para o impeachment


"Não Vai Ter Golpe", com pré-estreia nesta segunda-feira, 2, é a primeira produção a se contrapor às que reforçam a narrativa do PT para o episódio

Por José Fucs

Na guerra de narrativas relacionadas ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, as esquerdas até agora parecem levar vantagem, com a versão de que o ato foi um “golpe”, apesar da dura derrota sofrida nas urnas em 2018.

Propagada pelo PT e por seus aliados e turbinada por filmes como Democracia em Vertigem, da cineasta Petra Costa, e O Processo, de Maria Ramos, a narrativa do golpe ganhou eco na academia e na arena artística e cultural, no Brasil e no exterior, como se o caso não tivesse seguido todos os ritos institucionais, de acordo com as regras do jogo.

Agora, três anos depois de o Senado aprovar o impeachment, em 31 de agosto de 2016, um novo filme pretende mostrar que não foi bem assim que a coisa aconteceu. Realizado pelo MBL (Movimento Brasil Livre), o documentário Não vai ter golpe mescla a trajetória do grupo e da garotada que o formou, sem qualquer experiência política, com as manifestações pelo impeachment, que começaram no final de 2014, logo após as eleições, e só pararam com a queda definitiva de Dilma.

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“O MBL se tornou uma espécie de ‘infantaria’ da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas”

Com pré-estreia marcada para esta segunda-feira, 2, em São Paulo, e exibição em plataformas de streaming a partir do dia 5 (Net Now, iTunes, Google Play, Vivo Play e Looke), o filme apresenta uma retrospectiva em muitos momentos emocionante dos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas em todo o País, sem apoio da oposição, então capitaneada pelo PSDB, e sob a desconfiança de muitos analistas, que não acreditavam no sucesso do movimento.

Ato na Avenida Paulista em apoio ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Dirigido por Alexandre Santos e Frederico Rauh, cofundadores do MBL, o filme faz referências à Lava Jato e à crise política e econômica da época e expõe o forte sentimento antipetista que proliferava na sociedade. Mostra também os bastidores e os momentos mais difíceis dos protestos, como as divergências com o grupo Revoltados Online, que defendia uma intervenção militar no País, então apoiada também pelo escritor Olavo de Carvalho, e o Vem Pra Rua, que no início abraçava a luta genérica contra a corrupção e resistia a adotar o impeachment como bandeira.

Em algumas passagens, o filme realça o papel desempenhado pelo MBL, que se tornou uma espécie de “infantaria” da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas, com ênfase em ações públicas envolvendo seus seguidores.

Entre os feitos exaltados pelo filme, incluem-se a convocação da primeira manifestação contra Dilma, realizada em 1º de novembro de 2014 em São Paulo, Porto Alegre e Goiânia, e a realização de um acampamento no gramado localizado em frente ao Congresso, em outubro e novembro de 2015, que durou cerca de 40 dias e chegou a ter mais de 70 barracas e a reunir centenas de seguidores.

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“O filme traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País”

Com duração de 2 horas e 15 minutos e custo estimado em R$ 300 mil, o filme se viabilizou, segundo o MBL, por meio de doações feitas ao longo do tempo e contribuições de filiados, sem o uso de dinheiro público. Embora correto do ponto de vista técnico, relativamente bem montado, com qualidade de som razoável e legendas para facilitar o entendimento das falas nas manifestações, trata-se de uma produção semiprofissional, quase caseira, limitada pelos recursos modestos de que dispunha. 

Isso se reflete de forma emblemática nas cenas em que os líderes do MBL aparecem à vontade na casa que abriga o grupo, na Vila Mariana, na zona de sul de São Paulo, onde alguns deles moravam naquele período, mas não chega a comprometer a força do filme.

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No final, o documentário traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País. A autocrítica reforça uma posição anunciada recentemente pelo grupo de ampliar a aproximação com os canais políticos tradicionais e se afastar do presidente Jair Bolsonaro, de quem nunca foi muito próximo, apesar do apoio dado nas eleições.

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Nos últimos tempos, com nova a postura, a polarização atingiu em cheio o MBL, por meio de ataques em série disparados por bolsonaristas nas redes sociais. As hostilidades chegaram às vias de fato durante uma manifestação em defesa do ministro Sergio Moro, da Lava Jato e da reforma da Previdência, realizada na Avenida Paulista, em São Paulo, em 30 de junho, quando um grupo de bolsonaristas agrediu integrantes do MBL, que também estavam lá para dar o seu apoio ao ato.

“Vivemos num País dividido e insensato. Parece uma guerra sem trégua, em que os mais barulhentos dão o tom”, diz o locutor no final do filme. “Temos culpa nisso? Em parte, sim. São as dores do crescimento.” Em seguida, ele afirma que o MBL ainda não sabe o que será do futuro, mas já sabe o que não quer ser. É provável, porém, que o futuro do grupo dependa mais de ele saber o que pretende ser do que o que não pretende.

Veja imagens marcantes do impeachment

1 | 29

Manifestos

Foto: CRIS FAGA/FOX PRESS PHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
2 | 29

Policiais fazem revista em protesto

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO
3 | 29

Abraço

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
4 | 29

Paulista

Foto: DIORIO/ESTADÃO CONTE?DO
5 | 29

Rio

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
6 | 29

Brasília

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker
7 | 29

Pixuleco

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
8 | 29

'Tchau, querida'

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
9 | 29

CCJ aprova impeachment

Foto: DIDA SAMPAIO / ESTAD?O
10 | 29

Último voto

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
11 | 29

Janaína Paschoal

Foto: Agência Senado
12 | 29

Renan e Aécio

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
13 | 29

Collor cumprimenta Gleisi

Foto: ANDRE DUSEK / ESTADÃO
14 | 29

Dilma recebe flores

Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
15 | 29

Protestos

Foto: DIEGO EMIR/ESTADAO
16 | 29

Ato contra Temer

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
17 | 29

Vigília

Foto: Dida Sampaio/Estadão
18 | 29

Protesto em Cannes

Foto: REUTERS/Yves Herman
19 | 29

Pronunciamento

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
20 | 29

Paulo Skaf

Foto: RAFAEL ARBEX / ESTAD?O
21 | 29

'Não vou pagar o pato'

Foto: MARCO AMBROSIO/ ESTADÃO CONTEÚDO
22 | 29

A favor da petista

Foto: REUTERS/Roosevelt Cassio
23 | 29

Mortadelão

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
24 | 29

Protestos contra Dilma

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
25 | 29

Protestos contra Dilma

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
26 | 29

Lobão

Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
27 | 29

Selfies

Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
28 | 29

Apoiadores

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
29 | 29

Despedida

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Na guerra de narrativas relacionadas ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, as esquerdas até agora parecem levar vantagem, com a versão de que o ato foi um “golpe”, apesar da dura derrota sofrida nas urnas em 2018.

Propagada pelo PT e por seus aliados e turbinada por filmes como Democracia em Vertigem, da cineasta Petra Costa, e O Processo, de Maria Ramos, a narrativa do golpe ganhou eco na academia e na arena artística e cultural, no Brasil e no exterior, como se o caso não tivesse seguido todos os ritos institucionais, de acordo com as regras do jogo.

Agora, três anos depois de o Senado aprovar o impeachment, em 31 de agosto de 2016, um novo filme pretende mostrar que não foi bem assim que a coisa aconteceu. Realizado pelo MBL (Movimento Brasil Livre), o documentário Não vai ter golpe mescla a trajetória do grupo e da garotada que o formou, sem qualquer experiência política, com as manifestações pelo impeachment, que começaram no final de 2014, logo após as eleições, e só pararam com a queda definitiva de Dilma.

“O MBL se tornou uma espécie de ‘infantaria’ da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas”

Com pré-estreia marcada para esta segunda-feira, 2, em São Paulo, e exibição em plataformas de streaming a partir do dia 5 (Net Now, iTunes, Google Play, Vivo Play e Looke), o filme apresenta uma retrospectiva em muitos momentos emocionante dos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas em todo o País, sem apoio da oposição, então capitaneada pelo PSDB, e sob a desconfiança de muitos analistas, que não acreditavam no sucesso do movimento.

Ato na Avenida Paulista em apoio ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Dirigido por Alexandre Santos e Frederico Rauh, cofundadores do MBL, o filme faz referências à Lava Jato e à crise política e econômica da época e expõe o forte sentimento antipetista que proliferava na sociedade. Mostra também os bastidores e os momentos mais difíceis dos protestos, como as divergências com o grupo Revoltados Online, que defendia uma intervenção militar no País, então apoiada também pelo escritor Olavo de Carvalho, e o Vem Pra Rua, que no início abraçava a luta genérica contra a corrupção e resistia a adotar o impeachment como bandeira.

Em algumas passagens, o filme realça o papel desempenhado pelo MBL, que se tornou uma espécie de “infantaria” da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas, com ênfase em ações públicas envolvendo seus seguidores.

Entre os feitos exaltados pelo filme, incluem-se a convocação da primeira manifestação contra Dilma, realizada em 1º de novembro de 2014 em São Paulo, Porto Alegre e Goiânia, e a realização de um acampamento no gramado localizado em frente ao Congresso, em outubro e novembro de 2015, que durou cerca de 40 dias e chegou a ter mais de 70 barracas e a reunir centenas de seguidores.

“O filme traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País”

Com duração de 2 horas e 15 minutos e custo estimado em R$ 300 mil, o filme se viabilizou, segundo o MBL, por meio de doações feitas ao longo do tempo e contribuições de filiados, sem o uso de dinheiro público. Embora correto do ponto de vista técnico, relativamente bem montado, com qualidade de som razoável e legendas para facilitar o entendimento das falas nas manifestações, trata-se de uma produção semiprofissional, quase caseira, limitada pelos recursos modestos de que dispunha. 

Isso se reflete de forma emblemática nas cenas em que os líderes do MBL aparecem à vontade na casa que abriga o grupo, na Vila Mariana, na zona de sul de São Paulo, onde alguns deles moravam naquele período, mas não chega a comprometer a força do filme.

No final, o documentário traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País. A autocrítica reforça uma posição anunciada recentemente pelo grupo de ampliar a aproximação com os canais políticos tradicionais e se afastar do presidente Jair Bolsonaro, de quem nunca foi muito próximo, apesar do apoio dado nas eleições.

Nos últimos tempos, com nova a postura, a polarização atingiu em cheio o MBL, por meio de ataques em série disparados por bolsonaristas nas redes sociais. As hostilidades chegaram às vias de fato durante uma manifestação em defesa do ministro Sergio Moro, da Lava Jato e da reforma da Previdência, realizada na Avenida Paulista, em São Paulo, em 30 de junho, quando um grupo de bolsonaristas agrediu integrantes do MBL, que também estavam lá para dar o seu apoio ao ato.

“Vivemos num País dividido e insensato. Parece uma guerra sem trégua, em que os mais barulhentos dão o tom”, diz o locutor no final do filme. “Temos culpa nisso? Em parte, sim. São as dores do crescimento.” Em seguida, ele afirma que o MBL ainda não sabe o que será do futuro, mas já sabe o que não quer ser. É provável, porém, que o futuro do grupo dependa mais de ele saber o que pretende ser do que o que não pretende.

Veja imagens marcantes do impeachment

1 | 29

Manifestos

Foto: CRIS FAGA/FOX PRESS PHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
2 | 29

Policiais fazem revista em protesto

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO
3 | 29

Abraço

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
4 | 29

Paulista

Foto: DIORIO/ESTADÃO CONTE?DO
5 | 29

Rio

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
6 | 29

Brasília

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker
7 | 29

Pixuleco

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
8 | 29

'Tchau, querida'

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
9 | 29

CCJ aprova impeachment

Foto: DIDA SAMPAIO / ESTAD?O
10 | 29

Último voto

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
11 | 29

Janaína Paschoal

Foto: Agência Senado
12 | 29

Renan e Aécio

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
13 | 29

Collor cumprimenta Gleisi

Foto: ANDRE DUSEK / ESTADÃO
14 | 29

Dilma recebe flores

Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
15 | 29

Protestos

Foto: DIEGO EMIR/ESTADAO
16 | 29

Ato contra Temer

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
17 | 29

Vigília

Foto: Dida Sampaio/Estadão
18 | 29

Protesto em Cannes

Foto: REUTERS/Yves Herman
19 | 29

Pronunciamento

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
20 | 29

Paulo Skaf

Foto: RAFAEL ARBEX / ESTAD?O
21 | 29

'Não vou pagar o pato'

Foto: MARCO AMBROSIO/ ESTADÃO CONTEÚDO
22 | 29

A favor da petista

Foto: REUTERS/Roosevelt Cassio
23 | 29

Mortadelão

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
24 | 29

Protestos contra Dilma

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
25 | 29

Protestos contra Dilma

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
26 | 29

Lobão

Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
27 | 29

Selfies

Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
28 | 29

Apoiadores

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
29 | 29

Despedida

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Na guerra de narrativas relacionadas ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, as esquerdas até agora parecem levar vantagem, com a versão de que o ato foi um “golpe”, apesar da dura derrota sofrida nas urnas em 2018.

Propagada pelo PT e por seus aliados e turbinada por filmes como Democracia em Vertigem, da cineasta Petra Costa, e O Processo, de Maria Ramos, a narrativa do golpe ganhou eco na academia e na arena artística e cultural, no Brasil e no exterior, como se o caso não tivesse seguido todos os ritos institucionais, de acordo com as regras do jogo.

Agora, três anos depois de o Senado aprovar o impeachment, em 31 de agosto de 2016, um novo filme pretende mostrar que não foi bem assim que a coisa aconteceu. Realizado pelo MBL (Movimento Brasil Livre), o documentário Não vai ter golpe mescla a trajetória do grupo e da garotada que o formou, sem qualquer experiência política, com as manifestações pelo impeachment, que começaram no final de 2014, logo após as eleições, e só pararam com a queda definitiva de Dilma.

“O MBL se tornou uma espécie de ‘infantaria’ da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas”

Com pré-estreia marcada para esta segunda-feira, 2, em São Paulo, e exibição em plataformas de streaming a partir do dia 5 (Net Now, iTunes, Google Play, Vivo Play e Looke), o filme apresenta uma retrospectiva em muitos momentos emocionante dos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas em todo o País, sem apoio da oposição, então capitaneada pelo PSDB, e sob a desconfiança de muitos analistas, que não acreditavam no sucesso do movimento.

Ato na Avenida Paulista em apoio ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Dirigido por Alexandre Santos e Frederico Rauh, cofundadores do MBL, o filme faz referências à Lava Jato e à crise política e econômica da época e expõe o forte sentimento antipetista que proliferava na sociedade. Mostra também os bastidores e os momentos mais difíceis dos protestos, como as divergências com o grupo Revoltados Online, que defendia uma intervenção militar no País, então apoiada também pelo escritor Olavo de Carvalho, e o Vem Pra Rua, que no início abraçava a luta genérica contra a corrupção e resistia a adotar o impeachment como bandeira.

Em algumas passagens, o filme realça o papel desempenhado pelo MBL, que se tornou uma espécie de “infantaria” da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas, com ênfase em ações públicas envolvendo seus seguidores.

Entre os feitos exaltados pelo filme, incluem-se a convocação da primeira manifestação contra Dilma, realizada em 1º de novembro de 2014 em São Paulo, Porto Alegre e Goiânia, e a realização de um acampamento no gramado localizado em frente ao Congresso, em outubro e novembro de 2015, que durou cerca de 40 dias e chegou a ter mais de 70 barracas e a reunir centenas de seguidores.

“O filme traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País”

Com duração de 2 horas e 15 minutos e custo estimado em R$ 300 mil, o filme se viabilizou, segundo o MBL, por meio de doações feitas ao longo do tempo e contribuições de filiados, sem o uso de dinheiro público. Embora correto do ponto de vista técnico, relativamente bem montado, com qualidade de som razoável e legendas para facilitar o entendimento das falas nas manifestações, trata-se de uma produção semiprofissional, quase caseira, limitada pelos recursos modestos de que dispunha. 

Isso se reflete de forma emblemática nas cenas em que os líderes do MBL aparecem à vontade na casa que abriga o grupo, na Vila Mariana, na zona de sul de São Paulo, onde alguns deles moravam naquele período, mas não chega a comprometer a força do filme.

No final, o documentário traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País. A autocrítica reforça uma posição anunciada recentemente pelo grupo de ampliar a aproximação com os canais políticos tradicionais e se afastar do presidente Jair Bolsonaro, de quem nunca foi muito próximo, apesar do apoio dado nas eleições.

Nos últimos tempos, com nova a postura, a polarização atingiu em cheio o MBL, por meio de ataques em série disparados por bolsonaristas nas redes sociais. As hostilidades chegaram às vias de fato durante uma manifestação em defesa do ministro Sergio Moro, da Lava Jato e da reforma da Previdência, realizada na Avenida Paulista, em São Paulo, em 30 de junho, quando um grupo de bolsonaristas agrediu integrantes do MBL, que também estavam lá para dar o seu apoio ao ato.

“Vivemos num País dividido e insensato. Parece uma guerra sem trégua, em que os mais barulhentos dão o tom”, diz o locutor no final do filme. “Temos culpa nisso? Em parte, sim. São as dores do crescimento.” Em seguida, ele afirma que o MBL ainda não sabe o que será do futuro, mas já sabe o que não quer ser. É provável, porém, que o futuro do grupo dependa mais de ele saber o que pretende ser do que o que não pretende.

Veja imagens marcantes do impeachment

1 | 29

Manifestos

Foto: CRIS FAGA/FOX PRESS PHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
2 | 29

Policiais fazem revista em protesto

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO
3 | 29

Abraço

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
4 | 29

Paulista

Foto: DIORIO/ESTADÃO CONTE?DO
5 | 29

Rio

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
6 | 29

Brasília

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker
7 | 29

Pixuleco

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
8 | 29

'Tchau, querida'

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
9 | 29

CCJ aprova impeachment

Foto: DIDA SAMPAIO / ESTAD?O
10 | 29

Último voto

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
11 | 29

Janaína Paschoal

Foto: Agência Senado
12 | 29

Renan e Aécio

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
13 | 29

Collor cumprimenta Gleisi

Foto: ANDRE DUSEK / ESTADÃO
14 | 29

Dilma recebe flores

Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
15 | 29

Protestos

Foto: DIEGO EMIR/ESTADAO
16 | 29

Ato contra Temer

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
17 | 29

Vigília

Foto: Dida Sampaio/Estadão
18 | 29

Protesto em Cannes

Foto: REUTERS/Yves Herman
19 | 29

Pronunciamento

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
20 | 29

Paulo Skaf

Foto: RAFAEL ARBEX / ESTAD?O
21 | 29

'Não vou pagar o pato'

Foto: MARCO AMBROSIO/ ESTADÃO CONTEÚDO
22 | 29

A favor da petista

Foto: REUTERS/Roosevelt Cassio
23 | 29

Mortadelão

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
24 | 29

Protestos contra Dilma

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
25 | 29

Protestos contra Dilma

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
26 | 29

Lobão

Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
27 | 29

Selfies

Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
28 | 29

Apoiadores

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
29 | 29

Despedida

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Na guerra de narrativas relacionadas ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, as esquerdas até agora parecem levar vantagem, com a versão de que o ato foi um “golpe”, apesar da dura derrota sofrida nas urnas em 2018.

Propagada pelo PT e por seus aliados e turbinada por filmes como Democracia em Vertigem, da cineasta Petra Costa, e O Processo, de Maria Ramos, a narrativa do golpe ganhou eco na academia e na arena artística e cultural, no Brasil e no exterior, como se o caso não tivesse seguido todos os ritos institucionais, de acordo com as regras do jogo.

Agora, três anos depois de o Senado aprovar o impeachment, em 31 de agosto de 2016, um novo filme pretende mostrar que não foi bem assim que a coisa aconteceu. Realizado pelo MBL (Movimento Brasil Livre), o documentário Não vai ter golpe mescla a trajetória do grupo e da garotada que o formou, sem qualquer experiência política, com as manifestações pelo impeachment, que começaram no final de 2014, logo após as eleições, e só pararam com a queda definitiva de Dilma.

“O MBL se tornou uma espécie de ‘infantaria’ da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas”

Com pré-estreia marcada para esta segunda-feira, 2, em São Paulo, e exibição em plataformas de streaming a partir do dia 5 (Net Now, iTunes, Google Play, Vivo Play e Looke), o filme apresenta uma retrospectiva em muitos momentos emocionante dos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas em todo o País, sem apoio da oposição, então capitaneada pelo PSDB, e sob a desconfiança de muitos analistas, que não acreditavam no sucesso do movimento.

Ato na Avenida Paulista em apoio ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Dirigido por Alexandre Santos e Frederico Rauh, cofundadores do MBL, o filme faz referências à Lava Jato e à crise política e econômica da época e expõe o forte sentimento antipetista que proliferava na sociedade. Mostra também os bastidores e os momentos mais difíceis dos protestos, como as divergências com o grupo Revoltados Online, que defendia uma intervenção militar no País, então apoiada também pelo escritor Olavo de Carvalho, e o Vem Pra Rua, que no início abraçava a luta genérica contra a corrupção e resistia a adotar o impeachment como bandeira.

Em algumas passagens, o filme realça o papel desempenhado pelo MBL, que se tornou uma espécie de “infantaria” da direita no País, ao adotar um modus operandi até então exclusivo dos militantes mais aguerridos das esquerdas, com ênfase em ações públicas envolvendo seus seguidores.

Entre os feitos exaltados pelo filme, incluem-se a convocação da primeira manifestação contra Dilma, realizada em 1º de novembro de 2014 em São Paulo, Porto Alegre e Goiânia, e a realização de um acampamento no gramado localizado em frente ao Congresso, em outubro e novembro de 2015, que durou cerca de 40 dias e chegou a ter mais de 70 barracas e a reunir centenas de seguidores.

“O filme traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País”

Com duração de 2 horas e 15 minutos e custo estimado em R$ 300 mil, o filme se viabilizou, segundo o MBL, por meio de doações feitas ao longo do tempo e contribuições de filiados, sem o uso de dinheiro público. Embora correto do ponto de vista técnico, relativamente bem montado, com qualidade de som razoável e legendas para facilitar o entendimento das falas nas manifestações, trata-se de uma produção semiprofissional, quase caseira, limitada pelos recursos modestos de que dispunha. 

Isso se reflete de forma emblemática nas cenas em que os líderes do MBL aparecem à vontade na casa que abriga o grupo, na Vila Mariana, na zona de sul de São Paulo, onde alguns deles moravam naquele período, mas não chega a comprometer a força do filme.

No final, o documentário traz uma espécie de mea culpa do MBL sobre a sua contribuição para a polarização política do País. A autocrítica reforça uma posição anunciada recentemente pelo grupo de ampliar a aproximação com os canais políticos tradicionais e se afastar do presidente Jair Bolsonaro, de quem nunca foi muito próximo, apesar do apoio dado nas eleições.

Nos últimos tempos, com nova a postura, a polarização atingiu em cheio o MBL, por meio de ataques em série disparados por bolsonaristas nas redes sociais. As hostilidades chegaram às vias de fato durante uma manifestação em defesa do ministro Sergio Moro, da Lava Jato e da reforma da Previdência, realizada na Avenida Paulista, em São Paulo, em 30 de junho, quando um grupo de bolsonaristas agrediu integrantes do MBL, que também estavam lá para dar o seu apoio ao ato.

“Vivemos num País dividido e insensato. Parece uma guerra sem trégua, em que os mais barulhentos dão o tom”, diz o locutor no final do filme. “Temos culpa nisso? Em parte, sim. São as dores do crescimento.” Em seguida, ele afirma que o MBL ainda não sabe o que será do futuro, mas já sabe o que não quer ser. É provável, porém, que o futuro do grupo dependa mais de ele saber o que pretende ser do que o que não pretende.

Veja imagens marcantes do impeachment

1 | 29

Manifestos

Foto: CRIS FAGA/FOX PRESS PHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
2 | 29

Policiais fazem revista em protesto

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO
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Abraço

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
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Paulista

Foto: DIORIO/ESTADÃO CONTE?DO
5 | 29

Rio

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
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Brasília

Foto: REUTERS/Paulo Whitaker
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Pixuleco

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
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'Tchau, querida'

Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO
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CCJ aprova impeachment

Foto: DIDA SAMPAIO / ESTAD?O
10 | 29

Último voto

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
11 | 29

Janaína Paschoal

Foto: Agência Senado
12 | 29

Renan e Aécio

Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
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Collor cumprimenta Gleisi

Foto: ANDRE DUSEK / ESTADÃO
14 | 29

Dilma recebe flores

Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
15 | 29

Protestos

Foto: DIEGO EMIR/ESTADAO
16 | 29

Ato contra Temer

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
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Vigília

Foto: Dida Sampaio/Estadão
18 | 29

Protesto em Cannes

Foto: REUTERS/Yves Herman
19 | 29

Pronunciamento

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
20 | 29

Paulo Skaf

Foto: RAFAEL ARBEX / ESTAD?O
21 | 29

'Não vou pagar o pato'

Foto: MARCO AMBROSIO/ ESTADÃO CONTEÚDO
22 | 29

A favor da petista

Foto: REUTERS/Roosevelt Cassio
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Mortadelão

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
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Protestos contra Dilma

Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
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Protestos contra Dilma

Foto: RAFAEL ARBEX/ESTADAO
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Lobão

Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
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Selfies

Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
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Apoiadores

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO
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Despedida

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

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