BRASÍLIA - O coronel Reginaldo Vieira de Abreu, também conhecido pelo codinome “Velame”, e o general Mário Fernandes trocaram uma série de mensagens no final de 2022 nas quais propunham apresentar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) relatórios sabidamente falsos que atestariam uma suposta fraude nas eleições daquele ano.
Nos diálogos interceptados pela Polícia Federal (PF) no âmbito da operação Contragolpe, deflagrada na última terça-feira, 19, os dois militares afirmam que Bolsonaro deveria se reunir com “a rataria” para obter informações sobre a “apresentação da Argentina”, que apresentaria provas sobre a fraude nas eleições brasileiras e “decidir o que fazer”. Fernandes está entre os presos da operação. Segundo o militar, “pessoal acima da linha da ética” não poderia participar.
Bolsonaro sempre negou participação em qualquer golpista. Sobre a operação desta semana, o ex-presidente não se manifestou até o momento após ser procurado por meio de sua assessoria. Velame não foi encontrado para se manifestar, assim como a defesa de Mário Fernandes.
“Kid Preto, o presidente, ele tem que fazer uma reunião Petit comité. O pessoal ia fazer uma reunião essa semana, o comandante do exército, aí chegou Paulo Guedes, chegou o pessoal da TCU, da AGU, aí não pode, tem esse pessoal, é... Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião, tem que ser Petit comité, pô. Tem que ser a rataria, ele e a rataria”, disse Velame a Mario Fernandes no dia 4 de novembro de 2022.
A apresentação da Argentina mencionada pelos militares é, na verdade, uma transmissão ao vivo realizado pelo argentino Fernando Cerimedo naquele mesmo dia 4 de novembro de 2022, na qual foram propagandas diversas informações falsas sobre o processo eleitoral brasileiro.
Velame afirmou em mensagem enviada a Mario Fernandes que “essa apresentação do pessoa da Argentina” tem que estar “no mínimo” alinhado com o relatório de fiscalização das urnas que seria apresentado pelas Forças Armadas naquele ano. O militar afirmou que o documento elaborado pelo Ministério da Defesa deveria estar alinhado com o discurso de Cerimedo “para dar veracidade” aos argumentos que seriam apresentados à Justiça Eleitoral.
“Não pode estar...não pode estar dizendo que não tem nada. No mínimo tem que ser igual ao dos caras pra... ser o batom na cueca, se nada aparecer até lá”, disse Velame. Em resposta, Mario Fernandes disse que o a apresentação da Argentina está “bem alinhada” com as discussões de um grupo de militares em São Paulo que produziria um relatório.
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Velame, por sua vez, respondeu que deveriam unir os dois relatórios “tem que montar uma narrativa em cima disso tudo e botar pra f...”. O militar ainda afirmou que o governo Bolsonaro deveria “usar os adidos militares nas embaixadas para fazer propaganda e cooptar a população lá fora” por meio da mídia internacional.
Mário Fernandes ainda encaminhou um áudio do general Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que menciona novamente a live de Cerimedo como forma de propagar o discurso de que as eleições de 2022 teriam sido fraudadas. “Quem diria que, porra, um reforço à solução do nosso país viesse dos hermanos”, afirmou Ramos.