O jogo duro feito pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo Milton Leite (União) para o União Brasil confirmar o apoiar ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) na reeleição e aceitar o coronel da reserva Mello Araújo (PL) como vice do emedebista aumentou as chances dele emplacar sucessores na Câmara Municipal e deve ser passaporte para manter influência tanto na Prefeitura de São Paulo como no Legislativo municipal.
Depois de quase três décadas como vereador, Leite não disputará a reeleição. Mas lançou dois candidatos: Silvão Leite, seu chefe de gabinete que pegou o sobrenome “emprestado”, e Silvinho Ricardo, chefe de gabinete na Subprefeitura de M’Boi Mirim, reduto eleitoral do presidente da Câmara.
Mesmo aliados de Leite projetam que apenas um dos dois deve ser eleito inicialmente enquanto o outro ficaria como suplente. A aposta é que Silvão, presidente da escola de samba Terceiro Milênio e nome mais conhecido, tem mais chances de conseguir uma cadeira do que Silvinho.
Segundo correligionários, o desejo do líder do grupo seria expandir cada vez mais a atuação, poder e influência para as esferas estadual e nacional, a exemplo do que fez Gilberto Kassab (PSD), ex-prefeito de São Paulo que se tornou um dos principais dirigentes partidários do País ao comandar o PSD, uma secretária no Governo do Estado e arregimentar prefeitos no interior. O União Brasil lançará 197 candidatos a prefeito espalhados pelo Estado.
A projeção no União Brasil é que o partido sairá dos atuais sete vereadores para oito na próxima eleição. Na negociação com o prefeito, Milton Leite pediu que o partido mantenha os espaços que já têm na máquina pública, como o controle da Secretaria de Mobilidade e Trânsito, e que sejam criadas as secretarias de Defesa Animal e de Proteção aos Mananciais.
Segundo aliados ouvidos pelo Estadão, o plano, que depende do resultado nas urnas, é que o União Brasil indique vereadores eleitos como secretários das pastas, abrindo espaço para que os suplentes tomem posse. Milton Leite nega. “Isso não existe. Pelo União Brasil, ainda falo eu”, declarou ao ser questionado sobre o assunto pela reportagem.
O presidente do Legislativo, que é um dos homens mais influentes na política paulistana, realizou um evento no sábado, 3, no coração de sua base eleitoral na zona sul para declarar o apoio do União Brasil ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição. Ao discursar, disse que, ao contrário do publicado por parte da “imprensa marrom”, ele não pediu cargos ao prefeito.
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Leite já havia dito anteriormente que a sigla apenas pleiteia a criação das duas secretarias, mas que o comando das pastas não era uma condição para o acordo ser fechado. Nunes, por sua vez, responde apenas que as sugestões serão encaminhadas ao grupo responsável por elaborar seu plano de governo.
“Se um dia o senhor decidir que quer escolher um quadro técnico do União Brasil, será discricionário de vossa excelência, mas nós não vamos pedir nada, como nunca pedimos para João Doria e Bruno Covas. As opções técnicas foram deles, nunca minhas”, disse o vereador se dirigindo a Nunes.
Candidata a vereadora, a ativista Luisa Mell é cotada para ser uma das indicadas pelo partido para ser secretária de Defesa Animal, conforme revelado pelo jornal Folha de S.Paulo e confirmado pelo Estadão. A Secretaria de Mobilidade e Trânsito já foi comandada pelo vereador Ricardo Teixeira (União Brasil) na gestão Nunes, mas ele deixou o cargo no ano passado para se dedicar ao mandato e à reeleição.
A criação das secretarias reforçariam a estratégia política do União Brasil e do próprio Leite. O partido tem tentado se firmar como defensor da causa animal, bandeira já levantada pelo deputado estadual Rafael Saraiva (União) e o deputado federal Felipe Becari (União), atual secretário de Esportes da capital paulista.
A proposta de dar status de secretaria à atual secretaria-executiva do programa Mananciais daria mais peso à iniciativa que abrange as regiões das represas Billings e Guarapiranga — as áreas são base eleitoral do grupo de Milton Leite. O programa promove ações de urbanização, regularização fundiária e reassentamento de famílias que moram em áreas de risco.
Na corrida da eleição municipal de outubro, o presidente da Câmara Municipal tentou ser vice de Ricardo Nunes, mas acabou preterido por Mello Araújo, indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) concretizada pelas mãos do governador Tarcísio de Freitas. Apesar do revés, Leite conseguiu o apoio do PL para eleger um vereador do União Brasil como seu sucessor no comando do Legislativo paulistano em 2025. Nos bastidores, o nome mais comentado é o de Rubinho Nunes (União).
O acordo entre os dois partidos foi fechado um dia antes de Mello Araújo ser oficializado como vice na chapa do prefeito e também envolveria o apoio de outras siglas da coligação do prefeito.
“Meu desejo era de que ele [Milton] fosse o vice e seria um vice muito bom. Esse desejo eu não posso esconder. A gente sonha até que um dia esse sonho possa virar realidade. Mas até lá, nós temos muito trabalho pela frente e, se Deus quiser, vamos vencer essas eleições todos juntos e unidos”, disse o deputado federal Alexandre Leite (União), filho de Milton e presidente do diretório estadual do partido. O irmão dele, Milton Leite Filho (União), é deputado estadual.
Quando anunciou que não iria se candidatar à reeleição, Milton Leite disse que a decisão representava o fim de sua vida pública, mas no sábado afirmou que ficará “mais um tempo no partido” antes de se voltar para a vida privada de “onde veio”. “A Família Leite continuará”, resume um vereador aliado, citando o nome pelo qual o grupo político é conhecido.