O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF) denunciou o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques e outras sete pessoas por fraude na compra de veículos blindados no valor de R$ 94 milhões entre 2019 e 2022. Eles são acusados de favorecer a empresa Combat Armor Defense do Brasil Ltda. em práticas ilícitas que podem configurar corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e formação de associação criminosa.
Para o MPF, as compras dos caveirões, como são chamados os automóveis adquiridos, da empresa Combat Armor, “comprometeram a transparência e a justiça no uso dos recursos públicos”. A organização também é alvo de investigações do Tribunal de Contas da União (TCU), já que foi citada no relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.
De acordo com a CPMI, as compras foram realizadas no quadriênio que coincide com a atuação de Vasques e os maiores valores foram gastos justamente nas superintendências nas quais ele já havia trabalhado: a do Rio de Janeiro, de Santa Catarina e o Departamento de PRF em Brasília. A quebra de sigilo fiscal da empresa ainda revelou pagamentos indevidos à empresa por parte do ex-diretor-geral.
Silvinei Vasques foi preso preventinamente pela Polícia Federal em agosto de 2023 por uma operação que apurava a suposta interferência de agentes públicos nas eleições de 2022.
Para o MPF, os resultados da investigação, que se deu a partir de um “conjunto substancial de evidências” em agosto de 2023, “são de importância crítica” e revelaram “uma complexa rede de atividades ilícitas”. Conduzida pelo procurador da República Eduardo Benones, a apuração inicial se deu meses antes, após o flagrante de 14 blindados novos que não foram utilizados pela PRF por supostas inadequações técnicas.
A suspeita é que a Combat Armor, que tem matriz nos Estados Unidos, se beneficiou com o atestado de adequação dos veículos, já que o presidente da empresa Daniel Beck, apoiador do ex-presidente Donald Trump, controla também a coorporação que emitiu o documento.
Segundo relatório da CPMI, a matriz norte-americana seria uma organização “‘de papel’, sem qualquer atuação no ramo de blindados, cujo propósito de reativação e alteração do seu contrato social foi viabilizar negócios no Brasil, por meio do sr. Maurício Junot”.
Junot é o ex-CEO da empresa, “condenado por fraude em Dubai, figurando, inclusive, em lista de procurados pela Interpol” de acordo com relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e um dos denunciados.
Logo após a “mudança de governo federal”, no início do ano passado, a Combat Armor “fechou as portas no Brasil” deixando, de acordo com o documento da CPMI, “de cumprir contratos firmados com a Polícia Rodoviária Federal e outros órgãos”.
As outras seis pessoas denunciadas são empresários e sócios da Combat Armor, policiais rodoviários responsáveis pelas licitações, o pregoeiro que aprovou a proposta da empresa mesmo sem outros licitantes e o fiscal técnico dos contratos de compra.
O Estadão procurou a PRF e a empresa citada mas não obteve retorno.