A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, acionou o Ministério da Justiça por causa de ameaças recebidas nas redes sociais e no e-mail institucional desde o episódio da viagem de Brasília para São Paulo no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para assinar ato contra o racismo no esporte na final da Copa do Brasil. Nesta quinta-feira, 28, a pasta pediu proteção pessoal e escolta para a ministra enquanto durarem os ataques.
Segundo o Ministério da Igualdade Racial, as ameaçam ocorreram majoritariamente nos dias 26 e 28 de setembro de 2023. “Os textos dos ataques envolvem xingamentos, ameaças à vida, tentativas de intimidação, prática de racismo e foram reunidos em formato de dossiê contendo os perfis, dias e horas dos envios e postagens, para que municiem a investigação e posterior responsabilização dos autores”, disse, em nota.
A pasta divulgou ainda algumas das mensagens que foram enviadas à ministra: “Piranha…tomara q tenha o msm fim da irmã…aqui é São Paulo sua vaca suja”, disse um internauta que enviou o conteúdo para a ministra por meio de uma conversa privada, em referência a Marielle Franco, ex-vereadora assassinada no Rio de Janeiro, irmã da ministra. “Macaca mamadora do magnífico ex-presidiário, preta lixo”, afirmou outro.
“É muito doloroso receber ameaças de morte e violência por ser uma mulher na política e perceber que desde a minha irmã, nada mudou. Essa investigação é importante para que possamos seguir com o nosso trabalho e a construção das políticas públicas para o povo brasileiro. É para isso que eu trabalho todos os dias”, disse a ministra, em nota.
O aumento dos ataques violentos começaram no domingo, 24, após a ministra viajar de Brasília a São Paulo em um avião da FAB para assinar um protocolo que tem por objetivo combater o racismo no esporte com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ela estava acompanhada de assessoras.
O episódio provocou críticas nas redes sociais de parlamentares da oposição e bolsonaristas que acusaram a ministra de ter usado a aeronave para ver o último jogo da Copa do Brasil, entre São Paulo e Flamengo, no Estádio do Morumbi. Anielle é flamenguista.
Também estiveram presentes na ação do governo o ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania), e André Fufuca (Esporte) – que também usou o avião da FAB para ir ao evento –, e o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
O uso de avião da FAB é regulamentado por um decreto presidencial e prevê uma ordem de prioridade: primeiro, em casos de emergências médicas; segundo, quando há razões de segurança; por fim, viagens a serviço.
Em nota, após a repercussão do caso, a assessoria do Ministério da Igualdade Racial afirmou que “final da Copa do Brasil foi escolhida para a realização da ação de divulgação pelo alto número de pessoas presentes no estádio e pela grande audiência, típica de uma final de campeonato, independente de quais clubes a disputassem”. “O voo da FAB foi utilizado para uma missão institucional, como é praxe em deslocamentos para ações ministeriais e de governo e como uma medida de economia de gastos públicos para locomover as equipes.”
Assessora exonerada
Após o episódio de domingo, Marcelle Decothé da Silva foi demitida do cargo de assessora especial de assuntos estratégicos do ministério. A exoneração ocorreu após divulgação de postagens da assessora debochando e ofendendo a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas.
“Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade... pior de tudo pauliste”, escreveu a assessora nas redes sociais, usando adjetivos em linguagem neutra. Marcelle estava com a ministra no avião da FAB e também assistiu ao jogo.
Além dela, outras funcionárias do Ministério apareceram em publicações debochando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), como mostrou o Estadão. As declarações repercutiram mal e a ministra telefonou para os presidentes do São Paulo e da torcida Independente para pedir desculpas.
Em nota, a pasta disse que “as manifestações públicas da servidora em suas redes estão em evidente desacordo com as políticas e objetivos do ministério” e que a demissão de Marcelle foi para “evitar que atitudes não alinhadas a esse propósito interfiram no cumprimento de nossa missão institucional”.