BRASÍLIA – Ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm utilizado agendas oficiais para postar autoelogios em redes sociais. As publicações, realizadas a partir de compromissos relacionados às pastas, ressaltam as habilidades atléticas do ministro do Esporte, André Fufuca, o aniversário do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, e as qualidades pessoais do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, enquanto os temas governamentais ficam em segundo plano.
De acordo com especialistas ouvidos pelo Estadão, as publicações buscam construir a imagem dos políticos por meio de vídeos virais, com foco no entretenimento, em detrimento de informações sobre feitos do Executivo.
No último dia 6, Alexandre Silveira postou um vídeo no Instagram com imagens de participações em agendas oficiais do Ministério de Minas e Energia, com a música “Piloto”, da cantora Flora Matos, ao fundo. A publicação faz parte da trend (vídeos que se tornam tendências nas redes sociais) da canção, em que são apresentados elogios pessoais como “caprichoso”, “cuidadoso”, “amoroso” e “um bom moço”.
Entre os comentários na publicação do ministro, há cobranças sobre a atuação do chefe da pasta e a relação do vídeo com o trabalho no ministério. “Acho que, na verdade, está mais para uma propaganda eleitoral antecipada, né?”, questionou um internauta.
Fufuca posta vídeos lutando jiu-jitsu e levantando peso
Desde que se tornou ministro dos Esportes em 6 de setembro, ao substituir Ana Moser, Fufuca aproveitou as agendas oficiais da pasta para postar em rede social suas habilidades atléticas. No último dia 9, após visita ao Centro de Treinamento Barreto de Jiu-Jitsu, em Brasília, o ministro do Esporte publicou um vídeo aplicando golpes para relembrar “os velhos tempos de judoca”.
No dia 25 de setembro, Fufuca postou outro vídeo, em que aparece levantando uma barra com pesos na abertura de um evento do Comitê Olímpico do Brasil, em São Paulo. Nas imagens, um rapaz simula tentar levantar a barra, sem sucesso. Fufuca, então, consegue elevar os pesos acima da sua cabeça. Na legenda, o ministro brincou: “Isso porque estou sem treinar”.
Juscelino diz que é ‘privilégio’ ter agenda ministerial no seu aniversário
No último dia 6, quando completou 39 anos, Juscelino Filho postou um vídeo no seu perfil no Instagram informando que estava a caminho do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Maranhão. O ministro destacou a importância pessoal da data e afirmou que participar da agenda no seu aniversário era um “privilégio”.
“Pessoal, um dia especial. No dia do meu aniversário, estou tendo um privilégio, uma agenda intensa de trabalho lançando o novo PAC, investimentos do governo federal, do presidente Lula, no meu querido Estado do Maranhão”, afirmou.
O Estadão entrou em contato com os ministérios do Esporte, de Minas e Energia e de Comunicações, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.
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Ministros usam rede social para construir imagem pessoal
Especialistas ouvidos pelo Estadão observam que as publicações têm o intuito de construir uma imagem de “pessoa comum” para os ministros de Estado com o foco no próprio legado, e não nas realizações das pastas. De olho no potencial das redes sociais, os políticos tentam se aproximar dos eleitores com conteúdos de entretenimento, mas, muitas vezes, pecam na estratégia.
Para Patrícia Rossini, professora em Comunicação, Mídia e Democracia na Universidade de Glasgow, a rede social escolhida para essa finalidade é o Instagram, ambiente no qual os usuários não têm tanto o hábito de consultar notícias e informações sobre resultados governamentais.
“São oportunidades que costumamos chamar de ‘personalização da política’. A pessoa tenta se tornar mais próxima, mais palatável, mais identificável pelo eleitor, em vez de ser vista apenas como aquela pessoa distante e que não é ‘gente como a gente’. Ou seja, aquilo que a gente sempre teve nas campanhas eleitorais do político ir à feira e comer um pastel ou um pão de queijo, agora ocorre 24 horas por dia e sete dias por semana”, explicou.
Patrícia Rossini, professora em Comunicação, Mídia e Democracia na Universidade de Glasgow
De acordo com Maria Carolina Lopes, cientista política, especialista em Democracia e Comunicação Digital, ao utilizar tendências das redes sociais os ministros buscam ter mais visibilidade, com publicações que “surfam” nos assuntos consumidos pelos internautas.
“Na Grécia antiga, política era retórica e mídia era teatro. Em algum momento, os políticos tiveram que adaptar seus discursos enormes para se encaixar no tempo da televisão, aprender a soltar frases feitas, chamar a atenção dos repórteres de redação e ensaiar aspas voltadas para as manchetes dos jornais. Quando o smartphone se popularizou e, junto, as redes sociais, eles entenderam que precisavam gerar cliques para os portais. Em seguida, likes, comentários e compartilhamentos”, disse.
Apesar das adaptações registradas, o consultor de marketing político Marcelo Victorino aponta que ainda há o problema de os políticos entenderem como se usa a comunicação nas redes sociais de forma profissional. “O que acaba fazendo com que não invistam em profissionais com conhecimento aprofundado no uso da comunicação.”
“Muitos desperdiçam o potencial das redes sociais, de gerar conexões emocionais, e acabam, muitas vezes, até virando motivo de chacota nos grupos de eleitores”, afirmou o consultor.