Políticos condenaram o comentário feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em tom de deboche, a respeito das práticas de tortura sofridas pela jornalista Miriam Leitão durante a ditadura militar. A maioria das reações veio do campo da esquerda, mas também houve comentários de nomes mais ligados à direita, como do presidente do partido Novo, Eduardo Ribeiro. O assunto foi um dos mais comentados nas redes sociais durante o fim de semana.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou solidariedade à jornalista e disse que a tortura é "indefensável". Ele e Miriam Leitão já demonstraram divergências no passado, sobretudo quanto à política econômica do PT. "Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade", escreveu o petista.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede) classificou o tuíte de Eduardo como “nojento, covarde e asqueroso”, o que, segundo ele, reflete as características da família do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Está chegando a hora de mandar esses bichos escrotos de volta para o esgoto”, publicou ele.
Ex-pré-candidato à Presidência, o senador Alessandro Vieira (PSDB) afirmou que o “deboche” feito pelo deputado é uma estratégia do bolsonarismo para redirecionar a atenção dos eleitores. Ele descreveu Miriam Leitão como uma “profissional com histórico impecável”. “ A estratégia dos Bolsonaro é clara: usar falas polêmicas para desviar a atenção da fome, da miséria e dos casos de corrupção que vêm surgindo no noticiário”, escreveu.
A deputada Natália Bonavides (PT-RN) pediu que a Câmara dos Deputados tome providências contra o filho do presidente. “A solidariedade a Miriam Leitão, torturada aos 19 anos e grávida, precisa ser a punição de Eduardo Bolsonaro. Apresentaremos denúncia ao Conselho de Ética!”, disse.
Eduardo Ribeiro, presidente do Novo, defendeu que o mandato de Eduardo Bolsonaro seja cassado. “Covarde! Não tem caráter, decência nem dignidade para ocupar uma cadeira de parlamentar. Num país decente já teria tido seu mandato cassado”, escreveu.
Ex-candidato à Presidência em 2018, João Amoêdo (Novo) foi às redes lamentar o episódio e afirmou que “o respeito ao cidadão está acima de qualquer ideologia e é o mínimo que se espera de um parlamentar”. A publicação foi compartilhada pelo ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil).
Ex-candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT) em 2018, Manuela d’Ávila afirmou que o comentário do parlamentar fere não apenas a jornalista, mas o País como um todo. “Ele debocha do Brasil, de nossas instituições e da incapacidade quetemos de educar sobre a ditadura e punir quem a exalta.”
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) disse sentir “nojo” da fala do colega parlamentar, digna, segundo ele, de “delinquente”. Já a vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) classificou o comentário como “covarde e vil”.
Também do PSOL, o deputado Ivan Valente (SP) disse que a fala foi repugnante. “Eduardo Bolsonaro, em tuíte, faz alusão à cobra que foi colocada na cela em que Mirian Leitão estava presa, na ditadura, sob tortura. Na ocasião estava grávida. É absurda a violência do tuíte, que exalta a tortura e a violência contra mulher sob o arbítrio ditatorial”, publicou.
Cerca de 300 pessoas, entre elas jornalistas, acadêmicos, cientistas e artistas escreveram um abaixo-assinado nesta segunda-feira, 4, em solidariedade a Miriam Leitão e em repúdio ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) após a publicação do parlamentar no domingo, em que ele debocha da tortura sofrida pela jornalista na ditadura militar.
“Miriam tinha 19 anos, estava grávida e sob a tutela do Estado autoritário quando foi submetida aos horrores da tortura e teve seus direitos humanos violados. Apologia à tortura é crime e quem a pratica deve se submeter aos rigores da Legislação”, diz o documento. “Miriam, estamos do seu lado”, conclui o texto, publicado no blog de Juca Kfouri, no UOL.
Entre os signatários, estão a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo,o escritor e líder dos povos indígenas Ailton Krenak, a historiadora Lilia Schwarcz, o escritor e colunista do Estadão Ignácio de Loyola Brandão, a atriz Malu Mader e o cartunista Ziraldo.
Segundo relatos de Miriam Leitão, durante a ditadura militar ela foi presa e torturada com tapas, chutes e golpes que abriram sua cabeça. Além disso, teve de ficar nua em frente a dez soldados e três agentes de repressão e passar horas trancada em uma sala com uma jiboia. Ontem, reagindo a uma postagem da jornalista nas redes sociais, o deputado Eduardo Bolsonaro disse ter “pena da cobra”.