Miro Teixeira: 'Não é odiando que se derrota o Bolsonaro'


Ex-deputado está de volta ao PDT para coordenar campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022

Por Caio Sartori

RIO - Político cuja trajetória se confunde com a da Nova República surgida com o fim da ditadura em 1985, o ex-deputado Miro Teixeira está de volta ao PDT após passagens curtas pelos nanicos Rede e PROS. Convidado pelo presidente nacional pedetista, Carlos Lupi, para coordenar a campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022, o carioca de 75 anos topou o desafio. Ressalta, porém, que é sempre o candidato quem assume, na prática, a coordenação da empreitada eleitoral.

Para vencer o presidente Jair Bolsonaro, o ex-constituinte, ex-deputado federal por 11 mandatos e ex-ministro das Comunicações no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prega que a campanha retome símbolos nacionais que considera “sequestrados” pelo bolsonarismo. Também propõe que tenha como mote “o dever da esperança”, expressão retirada do título de um livro lançado recentemente por Ciro.

Miro afirma ainda ser contra o impeachment do presidente. Nos próximos meses e na campanha, segundo ele, o foco deve ser mostrar à população que há um “desgoverno” no País.

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O ex-deputado Miro Teixera, que volta ao PDT para coordenar campanha deCiro Gomes à Presidência em 2022, durante entrevista ao Estadãoem seu escritório no centro do Rio. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

“Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno”, diz o experiente político. Ele foi deputado federal pela primeira vez em 1970, pelo MDB comandado na então Guanabara por Chagas Freitas, e passou pelo PMDB no início dos anos 80, antes de se filiar ao PDT de Leonel Brizola.

Deputado na Assembleia Nacional Constituinte, quando começou a ser formado o grupo que hoje é chamado de Centrão, Miro diz que seria hipocrisia censurar Bolsonaro por se aliar ao bloco execrado como fisiológico por seu apetite por verbas e cargos. “O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo?”.

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Confira abaixo a entrevista ao Estadão:

Por que essa volta ao PDT e qual é o projeto que será tocado?

Tudo atrasou um pouco por causa da pandemia. Todos os grupos de que participo têm sido sobre isso, e as discussões foram sendo travadas. Um dia, o Lupi participou de um desses grupos e começou a dizer que minhas ideias eram muito parecidas com as que o Ciro vinha travando, e falou para eu voltar ao PDT. Alguns deputados e o próprio Ciro começaram a me escrever, mas foi o Lupi quem comandou o processo. Eles usaram, tanto o Lupi quanto o Ciro, a história de coordenar a campanha.

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E vai coordenar? Olha, eu vi todas as campanhas presidenciais desde o fim da ditadura. Quem coordena a campanha à Presidência da República é o candidato, não outra pessoa. Se outra pessoa ficar imaginando que vai coordenar, vai virar um problema.

Então o que acaba sendo na prática? A função é coordenar programa de governo. O Ciro tem isso aqui, ó (mostra um exemplar do livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, de autoria do presidenciável). Acho que “dever da esperança” tem que ser o mote da campanha, em cima de outra discussão que tenho travado: temos de gostar do Brasil. O Bolsonaro está dizendo que ele é quem gosta do Brasil, usa o verde e o amarelo. Nós é que gostamos do Brasil.

O senhor então acha que houve um sequestro de símbolos nacionais por parte do presidente Bolsonaro? Acho que sim. Eu frequento o Maracanã e, em jogo da seleção, escuto “Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Vamos cantar isso aí. O Exército não é do Bolsonaro, é da Pátria. “A Polícia Militar atende ao que o Bolsonaro mandar”. Não, atende ao que a lei manda. Temos que acabar com essas coisas, estão nos dividindo. Estão acabando com a possibilidade de se ter discussões racionais.

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Qual será o Ciro de 2022? Mais à esquerda ou o Ciro “terceira via”? Não acho que vá haver unidade dos partidos. Essa conversa de “No segundo turno todo mundo se junta”... Vamos parar com essa conversa. Isso aí é para quem não é do ramo. É no primeiro turno que se elegem deputados e senadores. Os partidos se juntam ou não se juntam por causa dos fundos partidário e eleitoral. Isso gerou no Brasil empresas partidárias, não partidos políticos. Então acredito que, tirando um ou outro, não vai haver grandes alianças. Vamos correr o Brasil, falar com as pessoas. E vamos de verde e amarelo.

Mas para que lado Ciro deve ir mais? Não estou falando do Ciro, e sim do meu pensamento. O Ciro tem as ideias dele publicadas. Acho que essa divisão esquerda-direita atualmente é muito criada por uma extrema-direita que se organizou no mundo todo para separar as pessoas, dividi-las, e criar uma radicalização que afasta a racionalidade. O cidadão está desesperado pensando em emprego, em comida. Essa questão toda (de ódio) foi criada por grupos que não são de uma direita democrática.

Nessa linha, o senhor acha que Bolsonaro configura uma ameaça à democracia? Ameaça à democracia acho que não existe. A democracia está garantida aqui (mostra um exemplar da Constituição). Essa história de dizer que a democracia é o que as Forças Armadas querem… Não. Elas estão submetidas à Constituição. Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro (ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade. Acho que alimentar a exceção é um erro brutal. A democracia veio para ficar, e isso é uma virtude da Constituição.

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'Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro(ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade', diz Miro Teixeira. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

Mas vê movimentos nesse sentido por parte do presidente Bolsonaro? Acho que o Bolsonaro cria factoides. A oposição não cria problemas para o Bolsonaro, então ele cria problemas para ficar debatendo com ele mesmo. Cria o problema, tem a repercussão na mídia, ele responde a mídia, depois volta atrás. É deliberado. Não vamos achar que estamos diante de um idiota. Não estamos diante de um idiota. É uma pessoa preparada para viver na adversidade física.

Como o senhor analisa eleitoralmente o presidente para 2022? Ele é, muito provavelmente, o único garantido no segundo turno. Tem público. Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno. O que está sendo feito para gerar emprego? E para desatar os nós do desenvolvimento brasileiro? Por que, com nossa capacidade industrial, estamos registrando perdas enormes?

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Quanto à composição política, como o senhor avalia essa aproximação dele com o Centrão? O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo? O Centrão é algo que precisa ser mais bem explicado. Existia um centro, ali na Constituinte, que todo mundo procurava de alguma forma convencer - porque, se convencesse, ganharia. Teve um dia que o Roberto Cardoso Alves chegou ao microfone e deu um grito: “É dando que se recebe, o presidente da República precisa entender isso.” Aquilo gerou uma perplexidade. Ali começa a surgir essa organização que virou o Centrão como se conhece hoje. Censurar o Bolsonaro por causa do Centrão, que estaria sendo aplaudido se aprovasse um impeachment, é hipocrisia.

Do ponto de vista dos crimes de responsabilidade, acha que Rodrigo Maia devia ter aberto um processo de impeachment? Eu fui contra no início (cita um debate do qual participou em 2020, antes dos acontecimentos mais recentes). Hoje, você pode encontrar razões para requerer o impeachment do presidente, em função da pandemia. Aquela ordem, por exemplo, que deu a aliados para invadirem hospitais. Estava violentando a Constituição, expondo a vida das pessoas, violando o Código Penal. Mas acho que o objetivo não pode ser buscar o impeachment do Bolsonaro nem de qualquer um. O impeachment, ou existe na sua face ou não existe. No momento, as pessoas não estão clamando pelo impeachment.

Então para o senhor o foco é derrotá-lo nas urnas? Sim. Analisando o desgoverno dele. O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo. É perder o ódio e analisar. Eu não assinaria o impeachment do Bolsonaro.

Mas, na prática, como derrotá-lo? Como o senhor defende que o Ciro chegue para 2022? Com as propostas que ele tem. Mostrando como o Brasil é rico, tem potencial.

Teixeira defende derrota de Bolsonaro nas urnas: 'O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo'. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

E quem buscar para formar uma aliança? Isso vai surgir no curso do processo. Eu acredito que ele conseguirá um apoio da população para que candidaturas sejam retiradas ainda no primeiro turno. Essa história de combinar segundo turno é para quem não conhece o processo eleitoral. Creio que o Ciro vai empolgar no primeiro turno.

Acha que alguma das forças que já estão colocadas poderiam se unir a ele? Acho difícil. O PT, por exemplo, não renuncia a uma candidatura própria.

O episódio envolvendo o segundo turno de 2018, quando Ciro foi para Paris, não atrapalha ele no eleitorado de esquerda e com o PT? Acho que não. Eu nem me lembrava disso até você falar. No segundo turno, as pessoas dizem que vão apoiar uma pessoa ou outra, mas o eleitorado não fica esperando quem o seu candidato vai apoiar. Já se decide logo para onde vai quando acaba o primeiro turno.

RIO - Político cuja trajetória se confunde com a da Nova República surgida com o fim da ditadura em 1985, o ex-deputado Miro Teixeira está de volta ao PDT após passagens curtas pelos nanicos Rede e PROS. Convidado pelo presidente nacional pedetista, Carlos Lupi, para coordenar a campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022, o carioca de 75 anos topou o desafio. Ressalta, porém, que é sempre o candidato quem assume, na prática, a coordenação da empreitada eleitoral.

Para vencer o presidente Jair Bolsonaro, o ex-constituinte, ex-deputado federal por 11 mandatos e ex-ministro das Comunicações no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prega que a campanha retome símbolos nacionais que considera “sequestrados” pelo bolsonarismo. Também propõe que tenha como mote “o dever da esperança”, expressão retirada do título de um livro lançado recentemente por Ciro.

Miro afirma ainda ser contra o impeachment do presidente. Nos próximos meses e na campanha, segundo ele, o foco deve ser mostrar à população que há um “desgoverno” no País.

O ex-deputado Miro Teixera, que volta ao PDT para coordenar campanha deCiro Gomes à Presidência em 2022, durante entrevista ao Estadãoem seu escritório no centro do Rio. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

“Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno”, diz o experiente político. Ele foi deputado federal pela primeira vez em 1970, pelo MDB comandado na então Guanabara por Chagas Freitas, e passou pelo PMDB no início dos anos 80, antes de se filiar ao PDT de Leonel Brizola.

Deputado na Assembleia Nacional Constituinte, quando começou a ser formado o grupo que hoje é chamado de Centrão, Miro diz que seria hipocrisia censurar Bolsonaro por se aliar ao bloco execrado como fisiológico por seu apetite por verbas e cargos. “O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo?”.

Confira abaixo a entrevista ao Estadão:

Por que essa volta ao PDT e qual é o projeto que será tocado?

Tudo atrasou um pouco por causa da pandemia. Todos os grupos de que participo têm sido sobre isso, e as discussões foram sendo travadas. Um dia, o Lupi participou de um desses grupos e começou a dizer que minhas ideias eram muito parecidas com as que o Ciro vinha travando, e falou para eu voltar ao PDT. Alguns deputados e o próprio Ciro começaram a me escrever, mas foi o Lupi quem comandou o processo. Eles usaram, tanto o Lupi quanto o Ciro, a história de coordenar a campanha.

E vai coordenar? Olha, eu vi todas as campanhas presidenciais desde o fim da ditadura. Quem coordena a campanha à Presidência da República é o candidato, não outra pessoa. Se outra pessoa ficar imaginando que vai coordenar, vai virar um problema.

Então o que acaba sendo na prática? A função é coordenar programa de governo. O Ciro tem isso aqui, ó (mostra um exemplar do livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, de autoria do presidenciável). Acho que “dever da esperança” tem que ser o mote da campanha, em cima de outra discussão que tenho travado: temos de gostar do Brasil. O Bolsonaro está dizendo que ele é quem gosta do Brasil, usa o verde e o amarelo. Nós é que gostamos do Brasil.

O senhor então acha que houve um sequestro de símbolos nacionais por parte do presidente Bolsonaro? Acho que sim. Eu frequento o Maracanã e, em jogo da seleção, escuto “Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Vamos cantar isso aí. O Exército não é do Bolsonaro, é da Pátria. “A Polícia Militar atende ao que o Bolsonaro mandar”. Não, atende ao que a lei manda. Temos que acabar com essas coisas, estão nos dividindo. Estão acabando com a possibilidade de se ter discussões racionais.

Qual será o Ciro de 2022? Mais à esquerda ou o Ciro “terceira via”? Não acho que vá haver unidade dos partidos. Essa conversa de “No segundo turno todo mundo se junta”... Vamos parar com essa conversa. Isso aí é para quem não é do ramo. É no primeiro turno que se elegem deputados e senadores. Os partidos se juntam ou não se juntam por causa dos fundos partidário e eleitoral. Isso gerou no Brasil empresas partidárias, não partidos políticos. Então acredito que, tirando um ou outro, não vai haver grandes alianças. Vamos correr o Brasil, falar com as pessoas. E vamos de verde e amarelo.

Mas para que lado Ciro deve ir mais? Não estou falando do Ciro, e sim do meu pensamento. O Ciro tem as ideias dele publicadas. Acho que essa divisão esquerda-direita atualmente é muito criada por uma extrema-direita que se organizou no mundo todo para separar as pessoas, dividi-las, e criar uma radicalização que afasta a racionalidade. O cidadão está desesperado pensando em emprego, em comida. Essa questão toda (de ódio) foi criada por grupos que não são de uma direita democrática.

Nessa linha, o senhor acha que Bolsonaro configura uma ameaça à democracia? Ameaça à democracia acho que não existe. A democracia está garantida aqui (mostra um exemplar da Constituição). Essa história de dizer que a democracia é o que as Forças Armadas querem… Não. Elas estão submetidas à Constituição. Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro (ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade. Acho que alimentar a exceção é um erro brutal. A democracia veio para ficar, e isso é uma virtude da Constituição.

'Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro(ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade', diz Miro Teixeira. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

Mas vê movimentos nesse sentido por parte do presidente Bolsonaro? Acho que o Bolsonaro cria factoides. A oposição não cria problemas para o Bolsonaro, então ele cria problemas para ficar debatendo com ele mesmo. Cria o problema, tem a repercussão na mídia, ele responde a mídia, depois volta atrás. É deliberado. Não vamos achar que estamos diante de um idiota. Não estamos diante de um idiota. É uma pessoa preparada para viver na adversidade física.

Como o senhor analisa eleitoralmente o presidente para 2022? Ele é, muito provavelmente, o único garantido no segundo turno. Tem público. Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno. O que está sendo feito para gerar emprego? E para desatar os nós do desenvolvimento brasileiro? Por que, com nossa capacidade industrial, estamos registrando perdas enormes?

Quanto à composição política, como o senhor avalia essa aproximação dele com o Centrão? O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo? O Centrão é algo que precisa ser mais bem explicado. Existia um centro, ali na Constituinte, que todo mundo procurava de alguma forma convencer - porque, se convencesse, ganharia. Teve um dia que o Roberto Cardoso Alves chegou ao microfone e deu um grito: “É dando que se recebe, o presidente da República precisa entender isso.” Aquilo gerou uma perplexidade. Ali começa a surgir essa organização que virou o Centrão como se conhece hoje. Censurar o Bolsonaro por causa do Centrão, que estaria sendo aplaudido se aprovasse um impeachment, é hipocrisia.

Do ponto de vista dos crimes de responsabilidade, acha que Rodrigo Maia devia ter aberto um processo de impeachment? Eu fui contra no início (cita um debate do qual participou em 2020, antes dos acontecimentos mais recentes). Hoje, você pode encontrar razões para requerer o impeachment do presidente, em função da pandemia. Aquela ordem, por exemplo, que deu a aliados para invadirem hospitais. Estava violentando a Constituição, expondo a vida das pessoas, violando o Código Penal. Mas acho que o objetivo não pode ser buscar o impeachment do Bolsonaro nem de qualquer um. O impeachment, ou existe na sua face ou não existe. No momento, as pessoas não estão clamando pelo impeachment.

Então para o senhor o foco é derrotá-lo nas urnas? Sim. Analisando o desgoverno dele. O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo. É perder o ódio e analisar. Eu não assinaria o impeachment do Bolsonaro.

Mas, na prática, como derrotá-lo? Como o senhor defende que o Ciro chegue para 2022? Com as propostas que ele tem. Mostrando como o Brasil é rico, tem potencial.

Teixeira defende derrota de Bolsonaro nas urnas: 'O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo'. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

E quem buscar para formar uma aliança? Isso vai surgir no curso do processo. Eu acredito que ele conseguirá um apoio da população para que candidaturas sejam retiradas ainda no primeiro turno. Essa história de combinar segundo turno é para quem não conhece o processo eleitoral. Creio que o Ciro vai empolgar no primeiro turno.

Acha que alguma das forças que já estão colocadas poderiam se unir a ele? Acho difícil. O PT, por exemplo, não renuncia a uma candidatura própria.

O episódio envolvendo o segundo turno de 2018, quando Ciro foi para Paris, não atrapalha ele no eleitorado de esquerda e com o PT? Acho que não. Eu nem me lembrava disso até você falar. No segundo turno, as pessoas dizem que vão apoiar uma pessoa ou outra, mas o eleitorado não fica esperando quem o seu candidato vai apoiar. Já se decide logo para onde vai quando acaba o primeiro turno.

RIO - Político cuja trajetória se confunde com a da Nova República surgida com o fim da ditadura em 1985, o ex-deputado Miro Teixeira está de volta ao PDT após passagens curtas pelos nanicos Rede e PROS. Convidado pelo presidente nacional pedetista, Carlos Lupi, para coordenar a campanha de Ciro Gomes à Presidência em 2022, o carioca de 75 anos topou o desafio. Ressalta, porém, que é sempre o candidato quem assume, na prática, a coordenação da empreitada eleitoral.

Para vencer o presidente Jair Bolsonaro, o ex-constituinte, ex-deputado federal por 11 mandatos e ex-ministro das Comunicações no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prega que a campanha retome símbolos nacionais que considera “sequestrados” pelo bolsonarismo. Também propõe que tenha como mote “o dever da esperança”, expressão retirada do título de um livro lançado recentemente por Ciro.

Miro afirma ainda ser contra o impeachment do presidente. Nos próximos meses e na campanha, segundo ele, o foco deve ser mostrar à população que há um “desgoverno” no País.

O ex-deputado Miro Teixera, que volta ao PDT para coordenar campanha deCiro Gomes à Presidência em 2022, durante entrevista ao Estadãoem seu escritório no centro do Rio. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

“Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno”, diz o experiente político. Ele foi deputado federal pela primeira vez em 1970, pelo MDB comandado na então Guanabara por Chagas Freitas, e passou pelo PMDB no início dos anos 80, antes de se filiar ao PDT de Leonel Brizola.

Deputado na Assembleia Nacional Constituinte, quando começou a ser formado o grupo que hoje é chamado de Centrão, Miro diz que seria hipocrisia censurar Bolsonaro por se aliar ao bloco execrado como fisiológico por seu apetite por verbas e cargos. “O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo?”.

Confira abaixo a entrevista ao Estadão:

Por que essa volta ao PDT e qual é o projeto que será tocado?

Tudo atrasou um pouco por causa da pandemia. Todos os grupos de que participo têm sido sobre isso, e as discussões foram sendo travadas. Um dia, o Lupi participou de um desses grupos e começou a dizer que minhas ideias eram muito parecidas com as que o Ciro vinha travando, e falou para eu voltar ao PDT. Alguns deputados e o próprio Ciro começaram a me escrever, mas foi o Lupi quem comandou o processo. Eles usaram, tanto o Lupi quanto o Ciro, a história de coordenar a campanha.

E vai coordenar? Olha, eu vi todas as campanhas presidenciais desde o fim da ditadura. Quem coordena a campanha à Presidência da República é o candidato, não outra pessoa. Se outra pessoa ficar imaginando que vai coordenar, vai virar um problema.

Então o que acaba sendo na prática? A função é coordenar programa de governo. O Ciro tem isso aqui, ó (mostra um exemplar do livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, de autoria do presidenciável). Acho que “dever da esperança” tem que ser o mote da campanha, em cima de outra discussão que tenho travado: temos de gostar do Brasil. O Bolsonaro está dizendo que ele é quem gosta do Brasil, usa o verde e o amarelo. Nós é que gostamos do Brasil.

O senhor então acha que houve um sequestro de símbolos nacionais por parte do presidente Bolsonaro? Acho que sim. Eu frequento o Maracanã e, em jogo da seleção, escuto “Sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Vamos cantar isso aí. O Exército não é do Bolsonaro, é da Pátria. “A Polícia Militar atende ao que o Bolsonaro mandar”. Não, atende ao que a lei manda. Temos que acabar com essas coisas, estão nos dividindo. Estão acabando com a possibilidade de se ter discussões racionais.

Qual será o Ciro de 2022? Mais à esquerda ou o Ciro “terceira via”? Não acho que vá haver unidade dos partidos. Essa conversa de “No segundo turno todo mundo se junta”... Vamos parar com essa conversa. Isso aí é para quem não é do ramo. É no primeiro turno que se elegem deputados e senadores. Os partidos se juntam ou não se juntam por causa dos fundos partidário e eleitoral. Isso gerou no Brasil empresas partidárias, não partidos políticos. Então acredito que, tirando um ou outro, não vai haver grandes alianças. Vamos correr o Brasil, falar com as pessoas. E vamos de verde e amarelo.

Mas para que lado Ciro deve ir mais? Não estou falando do Ciro, e sim do meu pensamento. O Ciro tem as ideias dele publicadas. Acho que essa divisão esquerda-direita atualmente é muito criada por uma extrema-direita que se organizou no mundo todo para separar as pessoas, dividi-las, e criar uma radicalização que afasta a racionalidade. O cidadão está desesperado pensando em emprego, em comida. Essa questão toda (de ódio) foi criada por grupos que não são de uma direita democrática.

Nessa linha, o senhor acha que Bolsonaro configura uma ameaça à democracia? Ameaça à democracia acho que não existe. A democracia está garantida aqui (mostra um exemplar da Constituição). Essa história de dizer que a democracia é o que as Forças Armadas querem… Não. Elas estão submetidas à Constituição. Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro (ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade. Acho que alimentar a exceção é um erro brutal. A democracia veio para ficar, e isso é uma virtude da Constituição.

'Pode ser que passe pela cabeça do Bolsonaro(ameaçar a democracia), mas não podemos normalizar isso como realidade', diz Miro Teixeira. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

Mas vê movimentos nesse sentido por parte do presidente Bolsonaro? Acho que o Bolsonaro cria factoides. A oposição não cria problemas para o Bolsonaro, então ele cria problemas para ficar debatendo com ele mesmo. Cria o problema, tem a repercussão na mídia, ele responde a mídia, depois volta atrás. É deliberado. Não vamos achar que estamos diante de um idiota. Não estamos diante de um idiota. É uma pessoa preparada para viver na adversidade física.

Como o senhor analisa eleitoralmente o presidente para 2022? Ele é, muito provavelmente, o único garantido no segundo turno. Tem público. Não se vai derrotar o Bolsonaro odiando o Bolsonaro. É analisando, mostrando isso às pessoas, não caindo nesses factoides que ele cria. O que precisa ser cobrado do Bolsonaro é governo. É preciso racionalizar esse desgoverno. O que está sendo feito para gerar emprego? E para desatar os nós do desenvolvimento brasileiro? Por que, com nossa capacidade industrial, estamos registrando perdas enormes?

Quanto à composição política, como o senhor avalia essa aproximação dele com o Centrão? O Centrão serviria para votar o impeachment do Bolsonaro, não é? Então você vai censurar o Bolsonaro por ter levado o Centrão para apoiá-lo? O Centrão é algo que precisa ser mais bem explicado. Existia um centro, ali na Constituinte, que todo mundo procurava de alguma forma convencer - porque, se convencesse, ganharia. Teve um dia que o Roberto Cardoso Alves chegou ao microfone e deu um grito: “É dando que se recebe, o presidente da República precisa entender isso.” Aquilo gerou uma perplexidade. Ali começa a surgir essa organização que virou o Centrão como se conhece hoje. Censurar o Bolsonaro por causa do Centrão, que estaria sendo aplaudido se aprovasse um impeachment, é hipocrisia.

Do ponto de vista dos crimes de responsabilidade, acha que Rodrigo Maia devia ter aberto um processo de impeachment? Eu fui contra no início (cita um debate do qual participou em 2020, antes dos acontecimentos mais recentes). Hoje, você pode encontrar razões para requerer o impeachment do presidente, em função da pandemia. Aquela ordem, por exemplo, que deu a aliados para invadirem hospitais. Estava violentando a Constituição, expondo a vida das pessoas, violando o Código Penal. Mas acho que o objetivo não pode ser buscar o impeachment do Bolsonaro nem de qualquer um. O impeachment, ou existe na sua face ou não existe. No momento, as pessoas não estão clamando pelo impeachment.

Então para o senhor o foco é derrotá-lo nas urnas? Sim. Analisando o desgoverno dele. O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo. É perder o ódio e analisar. Eu não assinaria o impeachment do Bolsonaro.

Mas, na prática, como derrotá-lo? Como o senhor defende que o Ciro chegue para 2022? Com as propostas que ele tem. Mostrando como o Brasil é rico, tem potencial.

Teixeira defende derrota de Bolsonaro nas urnas: 'O fundamental é mostrar que ele não está governando, que não tem governo'. Foto: Wilton Júnior/ Estadão

E quem buscar para formar uma aliança? Isso vai surgir no curso do processo. Eu acredito que ele conseguirá um apoio da população para que candidaturas sejam retiradas ainda no primeiro turno. Essa história de combinar segundo turno é para quem não conhece o processo eleitoral. Creio que o Ciro vai empolgar no primeiro turno.

Acha que alguma das forças que já estão colocadas poderiam se unir a ele? Acho difícil. O PT, por exemplo, não renuncia a uma candidatura própria.

O episódio envolvendo o segundo turno de 2018, quando Ciro foi para Paris, não atrapalha ele no eleitorado de esquerda e com o PT? Acho que não. Eu nem me lembrava disso até você falar. No segundo turno, as pessoas dizem que vão apoiar uma pessoa ou outra, mas o eleitorado não fica esperando quem o seu candidato vai apoiar. Já se decide logo para onde vai quando acaba o primeiro turno.

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